sábado, 30 de abril de 2011

JESUS APARECE AOS DISCÍPULOS

No Evangelho deste domingo (Jo 20, 19-31) Jesus aparece aos discípulos reunidos no domingo da ressurreição. É a comunidade de homens novos, que nasce da cruz e da ressurreição de Jesus: a Igreja. A sua missão consiste em revelar aos homens a vida nova que brota da ressurreição. 

Jesus é o centro – O texto que nos é proposto divide-se em duas partes bem distintas. Na primeira parte (v. 19-23), descreve-se uma “aparição” de Jesus aos discípulos. Depois de sugerir a situação de insegurança e de fragilidade em que a comunidade estava (o “anoitecer”, as “portas fechadas”, o “medo”), o autor deste texto apresenta Jesus “no centro” da comunidade (v. 19b).  

Jesus é a referência – Ao aparecer “no meio deles”, Jesus assume-se como ponto de referência, fator de unidade, videira à volta da qual se enxertam os ramos. A comunidade está reunida à Sua volta, pois Ele é o centro onde todos vão beber essa vida que lhes permite vencer o “medo” e a hostilidade do mundo.  

Jesus Vencedor – A esta comunidade fechada, com medo, mergulhada nas trevas de um mundo hostil, Jesus transmite duplamente a paz (“shalom” hebraico, no sentido de harmonia, serenidade, tranquilidade, confiança, vida plena). Assegura-se, assim, aos discípulos que Jesus venceu aquilo que os assustava (a morte, a opressão, a hostilidade do mundo) e que, doravante, eles não tinham qualquer razão para ter medo.

Jesus Vivo – Depois (v. 20a), Jesus revela a sua “identidade”: nas mãos e no lado trespassado estão os sinais do seu amor e da sua entrega. Nesses sinais de amor e de doação é que a comunidade reconhece Jesus vivo e presente no seu meio. A permanência desses “sinais” indica a permanência do amor de Jesus: Ele será sempre o Messias que ama e do qual brotarão a água e o sangue que constituem e alimentam a comunidade.

Jesus dá vida nova – Em seguida (v. 22), Jesus “soprou” sobre os discípulos reunidos à sua volta. O verbo aqui utilizado é o mesmo do texto grego de Gn 2,7 (quando se diz que Deus soprou sobre o homem de argila, infundindo-lhe a vida de Deus). Com o “sopro” de Gn 2,7, o homem tornou-se um ser vivente; com este “sopro”, Jesus transmite aos discípulos a vida nova que fará deles homens novos. Agora, os discípulos possuem o Espírito, a vida de Deus, para poderem – como Jesus – dar-se generosamente aos outros. É este Espírito que constitui e anima a comunidade de Jesus.

Experiência de fé – Como é que se chega à fé em Cristo ressuscitado? Na segunda parte do texto, o evangelista João responde, contando o episódio de Tomé.

Tomé – Tomé representa aqueles que vivem fechados em si próprios (ele está fora) e que não faz caso do testemunho da comunidade, nem percebe os sinais de vida nova que nela se manifestam. Em lugar de se integrar e participar da mesma experiência, pretende obter (apenas para si próprio) uma demonstração particular de Deus.
Tomé acaba, no entanto, por fazer a experiência de Cristo vivo no interior da comunidade. Por quê? Porque no “Dia do Senhor” volta a estar com a sua comunidade.
 

Domingo – É uma alusão clara ao Domingo, ao dia em que a comunidade é convocada para celebrar a Eucaristia: é no encontro com o amor fraterno, com o perdão dos irmãos, com a Palavra proclamada, com o pão de Jesus partilhado, que se descobre Jesus ressuscitado. A experiência de Tomé não é exclusiva das primeiras testemunhas; todos os cristãos de todos os tempos podem fazer esta mesma experiência.

sábado, 23 de abril de 2011

RESSURREIÇÃO E VIDA ETERNA

Felicidade a todo custo - Hoje em dia existe, mesmo entre os cristãos, uma forte tendência a esquecer de que a nossa realização definitiva não pode acontecer nesta vida. Todo mundo quer ser feliz aqui e agora. A promessa da vida eterna, depois da morte, não diz nada à maioria das pessoas. Para muitos, na prática, não existe outra vida e, por isso, entendem que é preciso aproveitar esta o mais possível. São até pessoas ‘religiosas’ e pedem favores a Deus, para serem felizes, sem perceber que Deus mesmo é a nossa felicidade: sentem falta de tudo, menos de Deus. Procuram com muito esforço subir na vida, melhorar sua situação, garantir o futuro, coisas, aliás, que não são erradas. Mas não buscam em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça. Por isso, sempre estão insatisfeitos, porque só Ele pode saciar o coração humano. 

Felicidade autêntica - Justamente por causa dessa mentalidade materialista é que a mensagem da ressurreição de Jesus é plenamente atual. É muito triste contentar-se com ser bem sucedido aqui na terra, ter uma vida próspera e sossegada. Mesmo os gestos de solidariedade, a luta por uma sociedade mais justa, se não são envolvidos pela esperança da vida eterna, não são capazes de dar sentido à nossa existência. A morte destrói todos os sonhos ou realizações humanas. É preciso abrir os olhos das pessoas para um horizonte mais largo, para o horizonte infinito das promessas de Deus. No fundo, todos aspiramos por uma felicidade sem limites, mas ela é inatingível nas condições da vida presente. É impossível transformar esse mundo num paraíso. 

Ressurreição - A fé na ressurreição de Jesus nos orienta para o mundo novo. Mostra que a vida não acaba com a morte. É apenas o caminho para chegar a nosso destino eterno. Quem crê na ressurreição compreende que Deus é o nosso verdadeiro destino. Só o encontro final com ele, para além da morte, vai libertar-nos das limitações da existência atual. Como Jesus, também nós somos chamados a viver para sempre em companhia Daquele que é a verdade, a beleza, o amor infinito. O amor que une o Pai e o Filho numa comunhão total é a fonte de sua felicidade eterna. E é esta alegria sem fim que ele promete a todos que acreditam na sua ressurreição. 

Resignação? Será que pondo a esperança na ressurreição, os cristãos não acabam se resignando com as misérias e injustiças desta vida, em vez de procurar melhorar o mundo? A idéia de uma salvação depois da morte levou muitas vezes os cristãos a aceitar passivamente as dificuldades desta vida. Alguns pensavam mesmo que quanto mais sofressem nesta vida, mais méritos teriam para a vida eterna. Não sabiam dar valor aos bens deste mundo, vendo neles um impedimento para chegar a Deus. Mas esta resignação e suspeita em relação às coisas deste mundo é uma deformação da mensagem de Jesus. 

O mundo material é limitado - O mundo criado por Deus é bom: cabe a nós a responsabilidade de utilizar os recursos da natureza e organizar as relações sociais, para que todos possam sentir-se bem e conviver pacificamente na Terra. As coisas materiais, porém, jamais poderão saciar completamente o nosso coração. É para esta limitação que Jesus aponta quando diz: Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder a sua alma? O que faz a grandeza e a felicidade do homem não é ter mais, mas ser mais, pela doação de si mesmo ao outro no amor. Tudo o que podemos possuir aqui na terra termina com a morte. Só o amor permanece para sempre. Por isso as coisas desta vida só adquirem um valor definitivo à medida que são postas a serviço do amor. 

Fé na ressurreição - É a fé na ressurreição de Jesus que permite viver o amor: a esperança na vida eterna liberta do apego aos bens. Não se trata de desprezá-los, pois são um dom precioso de Deus, mas o próprio Deus vale muito mais que os seus dons. Por isso, quem crê na ressurreição está disposto, como Jesus, a qualquer sacrifício para ser fiel ao amor. Longe de afastar o cristão de sua responsabilidade para com o mundo presente, esta certeza lhe dá a força de comprometer-se, tornando-o capaz de partilhar, de renunciar a qualquer privilégio, a entregar a própria vida para ajudar os outros a viver mais plenamente. O cristão valoriza a vida presente, mas sabe que ela é apenas o caminho para chegar a nosso destino eterno. 

A vida eterna começa com a morte? "Nisso consiste a vida eterna, em conhecer a ti, verdadeiro e único Deus, e a Jesus Cristo, teu enviado". "Quem escuta a minha palavra e acredita naquele que me enviou tem a vida eterna e não será julgado, mas passou da morte à vida". A vida eterna para aqueles que crêem em Jesus, assim, não começa depois da morte, mas agora. O termo "eterna" não significa, portanto, uma duração infinita, mas o valor e qualidade da vida, que Jesus oferece: uma vida como a do próprio Deus, uma vida de amor. Jesus ressuscitado nos comunica esta vida divina com o dom de seu Espírito de Amor. Quem aceita o oferecimento de Jesus e acredita Nele e na sua Palavra começa a viver desde já esta vida nova.  

Ao crer, já estamos na vida eterna? Por enquanto esta vida eterna ainda não desenvolveu todas as suas potencialidades. O amor não penetrou em todas as dimensões de nosso ser. Não conseguimos realizar todo o bem que desejamos por causa das resistências que encontramos em nós mesmos e no mundo que nos cerca. Mas quem persevera na fé e no amor até o fim, viverá para sempre em comunhão com Deus: ele, que é amor e eternamente fiel, não pode abandonar quem se entregou inteiramente em suas mãos. A nossa existência terrestre acabará com a morte. Mas o Espírito de amor, que enchia o nosso coração, renovará todo o nosso ser, para que possamos viver eternamente a plenitude do amor e da felicidade na comunhão com Deus e com todos os que o amam.

sábado, 16 de abril de 2011

Os últimos dias de vida de Jesus

Apresentamos hoje, em preparação à semana que antecede a Páscoa, os acontecimentos que marcaram a última semana e a Paixão de Jesus.  

Março do ano 30 – No final de março do ano 30, Jesus fez a sua última viagem para Jerusalém. Ele e seus discípulos viajaram da Galiléia, passando pela Peréia (além Jordão), evitando a região da Samaria. Durante essa viagem, curou dez leprosos (Lc 17,11), discutiu com os fariseus sobre o casamento (Mt 19,3) e ensinou os companheiros com as parábolas da viúva e do juiz, do fariseu e do publicano (Lc 18,9) e dos operários da vinha. Falou sobre o juízo final, recebeu as crianças e conversou com o jovem rico (Lc 18, 15-30). 

Em Betânia – Jesus chegou a Betânia na sexta-feira (Jo 12,1), dia 31 de março do ano 30, e foi jantar na casa de seu amigo Lázaro (que havia revivido) e das irmãs Marta e Maria. Betânia era uma aldeia a Leste do monte das Oliveiras, a cerca de três quilômetros de Jerusalém. Nesta noite, Maria lavou os pés de Jesus com um perfume caro e os enxugou com os cabelos; foi repreendida por Judas Iscariotes. Nesta mesma noite, Jesus fez (pela terceira vez) a predição de sua Paixão, recebeu o pedido dos filhos de Zebedeu e contou a parábola das minas e dos talentos. 

Sábado – 1º de abril – No sábado, Jesus e seus discípulos seguiram de Betânia para Jerusalém. Quando passavam por Betfagé, perto do Monte das Oliveiras, Jesus pediu que dois discípulos fossem ao povoado e trouxessem um jumentinho que estava amarrado. Montado no jumentinho, Jesus fez a entrada triunfal em Jerusalém, aclamado pelo povo, que o saudava com ramos. Neste mesmo sábado, Jesus visitou o Templo, expulsando os vendedores, derrubando as mesas e cadeiras dos cambistas. Voltou para Betânia, onde passou a noite (Mt, 21,17). No domingo (2 de abril), Jesus descansou. Em uma de suas caminhadas, encontrou uma figueira estéril e proclamou o ensinamento sobre a fé (Mt 21,18). 

3 e 4 de abril – Na segunda e terça-feira, Jesus voltou a Jerusalém. No Templo, foi interrogado pelos fariseus sobre a sua missão, sobre a sua autoridade (Mt 21,23) e sobre o tributo a César (Mt 22,15). Conversando com os discípulos, Jesus contou as parábolas dos dois filhos (Mt 21,28) e dos vinhateiros (Mt 21,33) e apresentou a oferta da viúva pobre (Mc 12,41). Ao sair, mostrou a grandiosa obra do Templo, fazendo um discurso (conhecido como Apocalipse sinótico) sobre a sua destruição, a grande tribulação e a vigília (Mt 24). A quarta-feira (5 de abril) foi marcada pela traição de Judas (Mt 26,14; Lc 22,1). 

Quinta-feira – O dia 6 de abril começou com a preparação para a Páscoa (Mt 26,17). Os discípulos foram até a cidade e prepararam a Páscoa na casa de um conhecido deles. Ao cair da tarde, Jesus se reuniu com os doze apóstolos e, enquanto comiam, anunciou que seria traído. Judas deixou o cenáculo (Mt 26,20). Em seguida, Jesus lavou os pés dos apóstolos (Jo 13,1), instituiu a Eucaristia e o Sacerdócio (Mt 26,28), entregou o novo mandamento (Jo 13,33), predisse as negações de Pedro (Mt 26,31) e fez o sermão da despedida (Jo 14,16). Em seguida, Jesus e os apóstolos saíram do Cenáculo, deixando a cidade, em direção a Betânia, até um horto chamado Getsêmani. Ali Jesus agonizou, enquanto os apóstolos dormiam (Mt 26,36). 

Sexta-feira, 7 de abril – De madrugada, no Getsêmani, Jesus foi preso e conduzido ao palácio de Caifás (Sumo Sacerdote). Em seguida, Jesus foi conduzido ao Sinédrio (tribunal religioso judaico, composto de 71 membros), onde os escribas e anciãos estavam reunidos. Pedro negou conhecer Jesus (Mt 26,47). Na manhã, como o Sinédrio não tinha o poder de condenar as pessoas, levaram Jesus para Pilatos (governador da Judéia, representante do Império Romano), pedindo a sua condenação à morte. 

Indecisão – Pilatos interrogou Jesus e não encontrou nenhuma causa de condenação. Sabendo que Jesus era galileu, Pilatos encaminhou-o para Herodes Antipas, que se encontrava na cidade. Herodes também, não encontrou nenhuma causa para condenação de Jesus (Lc 23,6). Novamente foi levado para Pilatos que, lavou as mãos, condenando Jesus e soltando Barrabás. Jesus recebeu uma coroa de espinhos e foi condenado à crucificação, caminhando até um lugar chamado Gólgota.  

Crucificação – Ao meio-dia do dia 7 de abril do ano 30, Jesus foi crucificado ao lado de dois ladrões: Dimas e Gestas (Lc 23,23). Em sua cruz foi escrita a causa da condenação (INRI): “Yehoshuah Nazoreus, Rex Youdeus” (Jesus Nazareno, rei dos Judeus). Jesus morreu às 3 horas da tarde (Mt 27,45) e, antes do pôr do sol, foi sepultado por José de Arimatéia (Mt 27,57). No sábado (8 de abril) nada acontece, pois era o dia de Páscoa dos Judeus. 

Domingo – No domingo, 9 de abril do ano 30, Maria Madalena (e outras pessoas) foram ao túmulo de Jesus e encontraram a pedra rolada. Voltaram e contaram para os apóstolos. Pedro e João foram ao túmulo e encontraram apenas faixas e panos (Jo 20). No mesmo dia Jesus apareceu para os apóstolos (sem Tomé) e para os discípulos de Emaús (Lc 24,13).

sábado, 9 de abril de 2011

Eu sou a Ressurreição e a Vida

O Evangelho das missas deste domingo nos apresenta a ressurreição de Lázaro (capítulo 11 do Evangelho de João).  

Família – A cena acontece em Betânia, uma aldeia a Leste do monte das Oliveiras, a cerca de três quilômetros de Jerusalém. O autor da catequese coloca-nos diante de um triste episódio familiar: a morte de um homem. A família mencionada, constituída por três pessoas (Marta, Maria e Lázaro), parece conhecida de Jesus. A visita de Jesus a casa desta família é, aliás, mencionada em Lc 10,38-42; o texto observa que a Maria, aqui referenciada, é a mesma que tinha ungido o Senhor com perfume e lhe tinha enxugado os pés com os cabelos. 

A história – A catequese se resume em: a família de Betânia é formada por Maria, Marta e Lázaro (não há pai, nem mãe, nem filhos). Trata-se de uma família amiga de Jesus. Um fato abala a vida desta família: um irmão (Lázaro) está gravemente doente. As “irmãs”, preocupadas, informam Jesus. Jesus não vai imediatamente ao seu encontro. Depois de dois dias, Jesus resolve dirigir-se à Judéia ao encontro do “amigo”. Ao chegar a Betânia, Jesus encontrou o “amigo” sepultado há quatro dias. De acordo com a mentalidade judaica, a morte era considerada definitiva a partir do terceiro dia.  

As irmãs – Por esta altura, entram em cena as “irmãs” de Lázaro. Marta é a primeira. Vem ao encontro de Jesus e insinua a sua reprovação: Jesus podia ter evitado a morte do amigo, se tivesse estado presente, pois onde Ele está reina a vida. Maria, a outra irmã, tinha ficado em casa. Está imobilizada, paralisada pela dor sem esperança. Marta convida a irmã a sair da sua dor e ir ao encontro de Jesus. Maria vai rapidamente, sem dar explicações a ninguém: ela tem consciência de que só em Jesus encontrará uma solução para o sofrimento que lhe enche o coração.  

Catequese – Jesus inicia a sua catequese dizendo-lhe: “teu irmão ressuscitará”. Marta pensa que as palavras de Jesus são uma consolação banal e que Ele se refere à crença farisaica, segundo a qual os mortos haveriam de reviver, no final dos tempos, quando se registrasse a última intervenção de Deus na história humana. Isso ela já sabe; mas não chega: esse último dia ainda está tão longe…  

Amigo – Jesus, no entanto, não fala da ressurreição no final dos tempos. O que Ele diz é que, para quem é amigo de Jesus, não há morte, sequer. Jesus é “a ressurreição e a vida”. Para os seus amigos, a morte física é apenas a passagem desta vida para a vida plena. Jesus não evita a morte física; mas Ele oferece ao homem essa vida que se prolonga para sempre. Para que essa vida definitiva possa chegar ao homem é necessário, no entanto, que o homem adira a Jesus e O siga, num caminho de amor e de dom da vida (“todo aquele que vive e acredita em mim, nunca morrerá”).  

A pedra – A cena da ressurreição de Lázaro começa com Jesus chorando. Não é pranto ruidoso, mas sereno… Jesus chega junto do sepulcro de Lázaro. A entrada da gruta onde Lázaro está sepultado está fechada com uma pedra (como era costume, entre os judeus). A pedra é, aqui, símbolo da definitividade da morte. Separa o mundo dos vivos do mundo dos mortos, cortando qualquer relação entre um e outro. Jesus, no entanto, manda tirar essa “pedra”: para os crentes, não se trata de duas realidades sem qualquer relação. Jesus, ao oferecer a vida plena, abate as barreiras criadas pela morte física. A morte física não afasta o homem da vida.  

Dar Vida – A ação de dar vida a Lázaro representa a concretização da missão que o Pai confiou a Jesus: dar vida plena e definitiva ao homem. É por isso que Jesus, antes de mandar Lázaro sair do sepulcro, ergue os olhos ao céu e dá graças ao Pai: a sua oração demonstra a sua comunhão com o Pai e a sua obediência na concretização do plano do Pai. Depois, Jesus mostra Lázaro vivo na morte, provando à comunidade dos crentes que a morte física não interrompe a vida plena do discípulo que ama Jesus e O segue.  

Comunidade – A família de Betânia representa a comunidade cristã, formada por irmãos e irmãs. Todos eles conhecem Jesus, são amigos de Jesus, acolhem Jesus na sua casa e na sua vida. Essa família também faz a experiência da morte física. Como é que deve lidar com ela? Com o desespero de quem acha que tudo acabou? Com a tristeza de quem acha que a morte venceu, por algum tempo, até que Deus ressuscite o “irmão” morto, no final dos tempos (perspectiva dos fariseus da época de Jesus)? Não; de forma alguma. 

Vida Plena – Ser amigo de Jesus é saber que Ele é a ressurreição e a vida em todos os momentos. Ele não evita a morte física; mas a morte física é, para os que aderiram a Jesus, apenas a passagem (imediata) para a vida verdadeira e definitiva. Para os “amigos” de Jesus – para aqueles que acolhem a sua proposta e fazem da sua vida uma entrega a Deus e um dom aos irmãos – não há morte… Podemos chorar a saudade pela partida de um irmão, mas temos de saber que, ao deixar este mundo, ele encontrou a vida plena, na glória de Deus.

sábado, 2 de abril de 2011

A Luz do Mundo

No Evangelho deste domingo (Jo 9,1-41) Jesus apresenta-se como “a luz do mundo”; a sua missão é libertar os homens das trevas do egoísmo, do orgulho e da autossuficiência.

Luz – Continuando a série de leituras evangélicas que procuram ensinar verdades sobre a pessoa e a missão de Jesus, a catequese sobre a “luz” é colocada no contexto da festa das colheitas (Sukkot). Um dos ritos mais populares dessa festa era, exatamente, a iluminação dos quatro grandes candelabros do átrio das mulheres, no Templo de Jerusalém. 

Pecado – No Novo Testamento, esse é o único texto que traz o relato da cura de um cego de nascença. Os “cegos” faziam parte do grupo dos excluídos da sociedade palestina de então. As deficiências físicas eram consideradas pelos judeus como resultado do pecado. Os rabis da época chegavam a discutir de onde vinha o pecado de alguém que nascia com uma deficiência: se o defeito era o resultado de um pecado dos pais ou se era o resultado de um pecado cometido pela criança no ventre da mãe. 

Castigo – Segundo a concepção da época, Deus castigava de acordo com a gravidade da culpa. A cegueira era considerada o resultado de um pecado especialmente grave: uma doença que impedisse o homem de estudar a Lei era considerada uma maldição de Deus por excelência. Pela sua condição de impureza notória, os cegos eram impedidos de servir de testemunhas no tribunal e de participar nas cerimônias religiosas no Templo. 

História – O autor do quarto Evangelho usa símbolos para criar os quadros da história: Jesus é apresentado como a “luz” que veio iluminar o caminho dos homens. O “cego” da nossa história é um símbolo de todos os homens e mulheres que vivem na escuridão, privados da “luz”, impedidos de chegar à plenitude da vida. É enfatizado o nome da piscina onde ocorre a cura – Silóe, que significa “enviado”. Em mais uma alusão à liturgia batismal, João insiste que a cura da cegueira mortal ocorre através de Jesus – O Enviado do Pai. 

Homem, profeta e Messias – Analisando as etapas da história, podemos encontrar uma progressão na fé do cego, nos três interrogatórios: inicialmente ele é interrogado pelos vizinhos, depois pelos fariseus e, finalmente, pelo próprio Jesus. A cada passo ele aprofunda o seu conhecimento de Jesus. Aos vizinhos ele responde que Jesus é simplesmente um homem. Diante dos fariseus, ele reconhece que Jesus é um profeta. No diálogo com Jesus ele chega a proclamar que Jesus é o Filho do Homem, o Messias. 

Catequese – A análise da história deixa claro que se trata de um texto criado para catequese, no final do primeiro século. Isso se explica pelo fato de que no tempo de Jesus ninguém era expulso da comunidade judaica por acreditar no seu messianismo. Isso passou a acontecer após 85 d.C., com a reconstituição do judaísmo na sua forma farisaica e rabínica, após a destruição de Jerusalém. Por isso, a confissão de fé do cego em Jesus custa-lhe a perseguição, situação vivida na última década do primeiro século. Mas, se custou a expulsão da comunidade judaica, também lhe trouxe a verdadeira luz da vida, a vida plena em Jesus. 

Ironia – No final do texto, os fariseus ironizam a declaração de Jesus de que a cegueira não é causada pelo pecado, perguntando cinicamente, se ele os considera cegos. Ele retruca que a situação deles é muito pior – não é que não possam ver, é que não querem ver! Termina afirmando que a cegueira pior, a espiritual, realmente é conseqüência do pecado. A missão de Jesus no mundo causa uma inversão de situações: os que estão cegos e que chegam à fé, são curados e recebem a revelação da Luz do mundo, enquanto aqueles que se envaidecem de ser os esclarecidos, se fecham nos seus sistemas religiosos e ideológicos, mergulhando cada vez mais nas trevas e na perdição. 

Luz do Mundo – O nosso encontro com Cristo tem que iluminar os olhos da nossa mente e espírito, para que vejamos o mundo com os olhos de Jesus e tornemos a nossa fé um seguimento Dele, continuando a Sua missão: “enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo”.