sábado, 28 de março de 2015

A SEMANA SANTA


A Semana Santa precede a Páscoa e é também chamada de "grande semana". Tem início no Domingo de Ramos e termina no Sábado Santo.

Semana Dolorosa – Na Idade Média essa semana era chamada de "Semana Dolorosa", porque a Paixão de Cristo era dramatizada pelo povo, pondo em destaque os aspectos do sofrimento e da compaixão emotiva, talvez com prejuízo do aspecto salvífico e da vitória da ressurreição sobre a morte.  Mesmo atualmente, muitas igrejas locais gostam dessa tradição dramática, que se desenrola com ricas procissões itinerantes, representativas das pessoas e dos eventos que acompanharam a Paixão de Jesus.

Domingo de Ramos – celebra a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, poucos dias antes de sua paixão: "a numerosa multidão que viera para a festa (páscoa hebraica) ouviu dizer que Jesus estava chegando a Jerusalém. Saíram-lhe ao encontro com ramos de palmeiras, exclamando: Hosana! Bendito quem vem em nome do Senhor, o rei de Israel!" (Jo 12,12-13). Na cerimônia, nós reproduzimos os gestos daquelas pessoas; nós também levantamos nossos ramos e dizemos: "Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito seja o reino que vem, o reino de nosso pai Davi! Hosana no mais alto dos céus!"

Tríduo Pascal – são os três dias dedicados a celebrações e orações especiais: a quinta-feira, sexta-feira e sábado que antecedem imediatamente a celebração da Páscoa da Ressurreição.

Quinta-feira – é o início do Tríduo Pascal com a celebração da missa na qual se comemora a Última Ceia da páscoa hebraica que Jesus fez com os doze apóstolos antes de ser preso e levado à morte na cruz. Durante essa ceia "Ele instituiu a eucaristia e o sacerdócio cristão", prefigurando o evento novo da Páscoa cristã que haveria de se realizar dois dias depois. O cordeiro pascal é Ele próprio, que se oferece num voluntário sacrifício de louvor e de agradecimento ao Pai.

Ainda na Quinta-feira – Duas celebrações marcam a quinta-feira santa: a Missa Crismal e a Missa da Ceia do Senhor. A Missa Crismal reúne o clero da diocese (padres e diáconos) e todo o povo de Deus, em torno do Bispo. Nesta missa são abençoados os óleos dos catecúmenos (os que se preparam para o batismo) e dos enfermos, e consagrado o Santo Óleo do Crisma. Por motivos pastorais, esta celebração pode ser antecipada para Quarta-feira Santa. Na Quinta-feira Santa também acontece a cerimônia do lava-pés, realizada por quem preside a liturgia, para significar que o serviço é fundamento do amor.

Sexta-feira – é o segundo dia do Tríduo Pascal: nele se recorda a morte de Jesus na cruz, após um hipócrita processo noturno em que Ele virou um joguete entre o poder religioso judeu do Sinédrio e o poder jurídico romano. A liturgia celebra esse evento, não como dia de luto e de choro, mas na contemplação do sacrifício de Jesus. Por antiqüíssima tradição, a Igreja não celebra a Eucaristia nesse dia; toda a liturgia do dia gira em torno da proclamação da Palavra.

A Celebração – A celebração da sexta-feira compõe-se de três partes: a liturgia da Palavra, a adoração da cruz, a comunhão. Na liturgia da Palavra são lidos trechos do Antigo Testamento e o relato da morte de Jesus segundo o Evangelho de João. Às quinze horas tem início a liturgia da cruz, com leituras do profeta Isaías, Lamentações e do Evangelho de Lucas. Segue-se a leitura da Paixão segundo João, que mostra Jesus como rei que percorre livremente o caminho da paixão e da cruz.  Depois vem o descobrimento da cruz para a contemplação pessoal e silenciosa de cada fiel até as vésperas do dia seguinte. Em seguida, proclama-se a grande oração universal: pela Igreja, por todos os ministros do povo de Deus, pelos catecúmenos, pela unidade das Igrejas, pelo povo de Israel, pelos que acreditam em Deus, pelos que não acreditam em Deus, pelos governantes, pelos que sofrem, por todos os mortos. Não há consagração e oferendas nesta cerimônia. A comunhão acontece com partículas consagradas anteriormente.


Sábado – é o último dia do Tríduo Pascal, em que acontece a Vigília da Páscoa da Ressurreição. A liturgia do dia continua sendo a parada junto ao sepulcro do Senhor, com a meditação de sua paixão e morte, sem celebrar nenhum rito litúrgico por todo o dia. No final das Vésperas ou à noite, segundo as tradições locais, celebram-se os ritos da ressurreição com a Solene Vigília Pascal. O Tríduo Pascal termina com as Vésperas do Domingo da Ressurreição.

sábado, 21 de março de 2015

Uma carta escrita por Jesus?


O historiador (e bispo) Eusébio de Cesaréia escreveu, no século IV, um dos mais importantes textos históricos sobre a Igreja: trata-se do livro “História Eclesiástica”, que conta o desenvolvimento da Igreja nos três primeiros séculos (Editora Paulus, Coleção Patrística). Uma das histórias mais intrigantes é sobre o Rei Abgar (ou Abgaro), que é tratada como verdadeira por Eusébio, mas considerada como lenda por outros historiadores (H.E 1,12).

A história – Abgaro Ukkama Toparca V foi rei da cidade de Edessa (Síria), entre 4 a.C. e 7 d.C., quando foi destronado por seu irmão Mahanu IV. Diz a lenda que, por volta do ano 32 d.C., sofrendo de terrível lepra, Abgaro teria escrito uma carta a Jesus pedindo para que Ele fosse até Edessa, para curá-lo. A carta escrita por Abgaro teria sido levada a Jesus por seu emissário, Hannan.

A Carta – “Abgaro Ukkama a Jesus, o Bom Médico que apareceu na terra de Jerusalém, saudações. Escutei falar de Ti e de Tuas curas: que Tu não fazes uso de remédios nem raízes; que, por Tua palavra, abriste os olhos de um cego, fizeste o aleijado andar, limpaste o leproso, fizeste o surdo ouvir; que por Tua palavra Tu também expulsaste espíritos daqueles que eram atormentados por demônios imundos; que, outra vez, Tu ressuscitaste o morto, trazendo-o para a vida. E, conhecendo as maravilhas que Tu fazes, concluí que das duas uma: ou Tu desceste do céu, ou mais: Tu és o Filho de Deus e por isso fizeste todas essas coisas. Por esse motivo, escrevo para Ti e rezo para que venhas até mim, que Te adoro, e cure toda a doença que carrego, de acordo com a fé que tenho em Ti. Também soube que os judeus murmuram contra Ti e Te perseguem; que buscam crucificar-Te e destruir-Te. Eu não possuo mais que uma pequena cidade, mas é bela e grande o suficiente para que nós dois vivamos em paz”.

Resposta de Jesus – Não se sabe se a resposta de Jesus teria sido passada verbalmente a Hannan ou escrita pelo próprio Jesus. A pretensa resposta de Jesus foi fartamente difundida, chegando a ser usada como escapulário por supersticiosos. Em sua resposta, Jesus não aceita o convite, mas promete enviar um mensageiro dotado de Seu poder.

A Resposta – “Feliz és tu que acreditaste em Mim não tendo Me visto, porque está escrito sobre Mim que 'aqueles que me verão não acreditarão em Mim, e aqueles que não me verão acreditarão em Mim'. Quanto ao que escreveste, que eu deveria ir até ti, devo cumprir todas as coisas para as quais fui enviado aqui; quando eu ascender outra vez para o Meu Pai que me enviou, e quando eu tiver ido ter com Ele, Eu te enviarei um dos meus discípulos, que curará todos os teus sofrimentos, e eu te darei saúde outra vez, e converterei todos os que estão contigo para a vida eterna. E tua cidade será abençoada para sempre, e os teus inimigos nunca a dominarão.”

Visita de Tadeu – Depois da ascensão de Jesus, Tadeu, um dos setenta discípulos, foi enviado à Edessa, encontrando-se com o rei Abgaro e curando-o.  Tadeu também curou muitos doentes e pregou o Evangelho de Jesus Cristo.

Lenda ou verdade – Esta lenda teve grande popularidade, tanto no oriente como no ocidente, durante a Idade Média.  A carta de Jesus era copiada em pergaminho, mármore ou metal e usada como amuleto. Na época de Eusébio, acreditava-se que as cartas originais estavam guardadas em Edessa.  Hoje, existem nos museus uma cópia na língua Síria, uma em armênio e duas versões em grego. Também, existem várias inscrições da carta de Jesus esculpidas em pedra. Uma versão completa da carta aparece no livro apócrifo “Ensinamentos de Adai” (Adai = Tadeu), que alguns estudiosos afirmam ter sido escrito na época apostólica. 

QUER SABER MAIS?

          Se você se interessou pela lenda de Abgar e quer ler o texto completo, escrito por Eusébio, solicite por E-mail que lhe enviaremos a história inteira. 

sábado, 14 de março de 2015

Pilatos: obstinado, leviano, autoritário, covarde e ... santo?


Quem era? Pilatos foi governador da Judéia e Samaria do ano 26 a 36 d.C., em substituição a Arquelau (filho de Herodes, o Grande). Governava com base na cidade de Cesaréia, com 5600 soldados. Quando viajava para Jerusalém, residia na fortaleza Antonia, ao lado do Templo. Tinha aversão aos judeus e seus sacerdotes. O historiador Flavio Josefo (no livro Guerra dos Judeus) conta dois episódios entre Pilatos e os judeus: logo que chegou à Jerusalém, Pilatos distribuiu imagens (bustos) do imperador Tibério pela cidade, causando uma grande revolta; depois, Pilatos se apropriou (usando violência) dos tesouros do Templo para financiar um aqueduto (de 50 km) para trazer água para a cidade.

Julgamento de Jesus – Na leitura da Paixão de Cristo, nos Evangelhos, Pilatos recebe a comitiva dos chefes dos sacerdotes judeus (do Sinédrio), pedindo a condenação à morte de Jesus. Fica clara a postura de Pilatos em absolver o condenado (não que nutria alguma admiração por Jesus), mas via uma boa oportunidade de se opor aos sacerdotes judaicos.

Ainda o julgamento – Usou três estratégias na tentativa da absolvição: primeiro, enviou o prisioneiro a Herodes Antipas, o rei da Galiléia. Fracassou, pois Herodes mandou Jesus de volta. A segunda tentativa (já que nem ele nem Herodes não viam culpa em Jesus) foi dar como pena o açoite, para colocá-lo em liberdade. Também não deu certo, pois os judeus continuavam pedindo para crucificá-lo.  A terceira tentativa foi colocar Jesus junto com Barrabás, para o povo escolher quem teria a liberdade. Também não deu certo.

Ameaça – Com o povo gritando: "Só temos um rei, que é César", Pilatos não tinha mais saída. A sua obediência (e temor) ao Imperador Tibério bloqueavam as suas ações. Num gesto inusitado (e até teatral), mostrando que conhecia as tradições judaicas, pediu uma bacia com água e lavou as mãos, livrando-se de qualquer responsabilidade do que viria a acontecer com Jesus. Cabe lembrar que “lavar as mãos” era uma maneira judaica (não romana) de expressar a não-participação em derramamento de sangue (Deuteronômio 21,6-7).

Cristãos – O último evento registrado da carreira de Pilatos foi uma intervenção militar no Monte Garizim (ano 36), onde muitos Samaritanos foram mortos. Após este conflito, Pilatos foi chamado a Roma para explicar suas ações ao imperador (Tibério faleceu antes de ouvir Pilatos). Segundo os autores cristãos Tertuliano (autor cristão, padre apostólico, viveu entre 160 e 220 d.C) e Eusébio de Cesaréia (bispo de Cesaréia e pai da história da Igreja, viveu entre 263 e 339), o imperador Tibério, baseado no relatório de Pilatos sobre Jesus, apresentou ao Senado Romano os fatos que haviam acontecido na Palestina, que revelavam a divindade de Cristo, propondo o reconhecimento da religião cristã. O Senado rejeitou a proposta, adiando em 300 anos a proclamação, que viria com Constantino.

Santo? – Existem três hipóteses para a morte de Pilatos: foi punido e exilado pelo imperador Calígula; suicidou-se no exílio (na Gália); converteu-se, com a cumplicidade da esposa, ao cristianismo. Se essa história contada por Tertuliano e Eusébio for verdadeira, a figura do Governador da Judéia merece ser revisitada; aquela manhã de 7 de abril do ano 30 (julgamento de Jesus) realmente mudou a sua vida. Por estes fatos, as igrejas Ortodoxa e Ortodoxa Etíope promoveram a canonização de Pilatos e de sua esposa (Cláudia Prócula).

Pilatos – Há uma densa escuridão sobre o destino desse homem que veio a fazer parte inclusive do Credo. Como conclusão, podemos citar o personagem Pilatos no filme Jesus Cristo Superstar, que canta angustiado: "Sonhei que milhares de pessoas, por milhares de anos, repetirão todos os dias o meu nome. E também dirão que foi culpa minha".


Quer ler mais? – Gostou da história de Pilatos? Podemos lhe oferecer por E-mail os seguintes textos apócrifos: Cartas de Pilatos ao imperador, com as respostas; Cartas de Pilatos a Herodes, com respostas; Relatório de Pilatos ao imperador sobre a morte de Jesus; Julgamento, condenação e morte de Pilatos; Sentença de condenação de Jesus emitida por Pilatos; Evangelho de Nicodemus. Outros textos: “Encontros com Jesus” de autoria de Stefano Zurlo (4 pág); “Diante de seus juízes” de autoria de Yann Le Bohec (4 pag); “Guerra Judaica” de Flavio Josefo (1627 pag). Todos os textos em Português.

sábado, 7 de março de 2015

São Longuinho: o soldado que perfurou Jesus com a lança


Na leitura da Paixão de Cristo, todos os cristãos devem se lembrar, ao ser retirado o corpo da cruz, um soldado perfurou Jesus com uma lança e sangue e água verteram do seu lado (Jo 19, 34). Vamos detalhar o que aconteceu.

Via Crucis – Após a condenação de Jesus à morte, por crucificação (na Fortaleza Antônia), foi designado um soldado (centurião), chamado Longinus, para comandar a caminhada dos três condenados até o local da crucificação (monte Gólgota ou Calvário).

Após a morte – Como era uma tarde de sexta-feira, véspera da Páscoa, os judeus pediram a Pilatos para que mandasse quebrar as pernas dos crucificados. Desta forma, a morte seria mais rápida e eles poderiam ser tirados da cruz antes do sábado. Os soldados quebraram as pernas dos dois ladrões, mas, chegando a Jesus, viram que estava morto. Por isso, não lhe quebraram as pernas; entretanto, para comprovar o óbito, um soldado golpeou-lhe o lado com uma lança, e imediatamente saiu sangue e água (Jo 19,31-34). Este soldado é identificado com Longinus.

Cura – A Tradição diz que essa água que saiu do lado de Cristo, respingou em Longinus e ele ficou curado de um problema que tinha nos olhos. Longinus também é identificado como o soldado que reconheceu Jesus como "Verdadeiramente este homem era Filho de Deus", logo após a morte do Mestre. Ele é citado pelos evangelistas São Mateus 27,54, São Lucas 23,47 e São Marcos 15,39.

Conversão – Tocado pela graça de Deus, ele se converteu, passou a acreditar em Jesus, e abandonou o exército romano. São Longuinho é uma prova do poder do amor e da misericórdia de Deus. Jesus mudou a vida de um soldado que o matava.

Perseguido – Após abandonar o exército romano por causa de sua conversão, Longinus fugiu para Cesárea e Capadócia (hoje Turquia). Mas foi descoberto pelo Governador da Capadócia e denunciado a Pôncio Pilatos. No processo, foi acusado de desertor e condenado a pena de morte. Se ele renunciasse à sua fé em Jesus Cristo seria perdoado. Mas ele se manteve firme e não renegou Jesus Cristo. Por isso, foi torturado, teve seus dentes arrancados e sua língua cortada. Depois, foi decapitado. O soldado que ajudara a crucificação e morte de Jesus, tempos depois dava sua vida por causa do mesmo Senhor.

Lendas – Conta-se que Longinus era um soldado de baixa estatura que servia na alta corte de Roma antes de ser destacado para servir na Palestina. Servindo na corte de Roma, ele vivia nas festas dos romanos. Por causa de sua baixa estatura, ele conseguia ver tudo o que se passava por baixo das mesas. Com isso ele achava vários pertences das pessoas e sempre devolvia os achados para seus donos. Daí surgiu sua fama de bom soldado e de sempre encontrar coisas perdidas.

Canonização – Longinus foi canonizado pelo Papa Silvestre II, quase mil anos depois, no ano de 999. O processo de canonização já tinha caminhado bastante conforme os trâmites exigidos pela Igreja. Porém, vários documentos que faziam parte do processo, ficaram perdidos ao longo de anos. Então, o Papa pediu a intercessão do próprio Longinus para que o ajudasse a encontrar os documentos perdidos. E aconteceu que, pouco tempo depois, os documentos foram encontrados e a canonização aconteceu conforme a lei da Igreja manda que seja.

De Longinus para São Longuinho – Por causa da fama do soldado Longinus, espalhou-se a devoção de se rezar para São Longuinho pedindo para ele ajudar a encontrar objetos perdidos. No Brasil há uma crença popular de que São Longuinho auxilia a encontrar objetos perdidos. É só repetir: “São Longuinho, São Longuinho, se eu achar (nome do objeto perdido) dou três pulinhos. Quando a pessoa encontra o objeto precisa cumprir a promessa em devoção ao santo. O importante é a fé e o belíssimo testemunho de vida de São Longuinho. Sua festa é comemorada no dia 15 de março.


Quer saber mais? – O Evangelho apócrifo de Nicodemus apresenta vários detalhes sobre a crucificação. Se você se interessa pelo assunto, solicite pelo E-mail.