sábado, 26 de março de 2011

DIMAS: O BOM LADRÃO

Nesta sexta-feira (25 de março) comemoramos a festa de São Dimas. Dimas, o bom ladrão, como é chamado, também morreu pregado em uma cruz, ao lado de Jesus. Eram então três condenados: Jesus e os dois ladrões. 

Quem era – Pouco sabemos sobre a vida real ou lendária de São Dimas. Conta-se que era filho de casal piedoso, mas perdeu a mãe quando era pequeno e foi criado pelo pai com muito carinho, temor a Deus e acreditando que tinha um espírito que continuaria vivendo após a morte deste corpo. Acreditava que essa vida espiritual dependia dos bálsamos, mortalha, sepultura digna, tudo o que fosse dispensado aos corpos após a morte, pois todo corpo abandonado e insepulto teria seu espírito vagando sem nunca conseguir o repouso eterno. 

Vingança – Dimas estava com 18 anos quando seu pai morreu e surgiu um cobrador confiscando todos os seus bens.  Não deixou nem o suficiente para o sepultamento, ficando o corpo insepulto durante seis dias, sendo depois atirado numa vala comum, destinada aos leprosos, que eram os proscritos da sociedade. Dimas, arrasado, jurou vingar-se. 

Ladrão – Precisou implorar uma arma a um vendedor, prometendo que voltaria algum dia para pagá-lo. Após matar o cobrador do pai, tornando-se um fora da lei, passou a roubar viajantes e caravanas. Conseguindo dinheiro, pagou o punhal comprado, mas, agora, era um assassino e ladrão, assim, passou a viver nas montanhas e chefiou bandidos dos Montes da Samaria. 

José e Maria – Diz a lenda que, apesar de bandido, acolhia e ajudava os pobres viajantes e certa vez deu pernoite a viajantes que fugiam para o Egito: José, Maria e o Menino Jesus, abrigando-os de uma tempestade. 

Jesus – Os anos foram passando, Dimas escutou algumas pregações e milagres de Jesus e resolveu abandonar a vida de criminoso. Enquanto Dimas estava foragido, Barrabás, um assassino feroz que estava preso, em troca de melhor comida na prisão, delatou Dimas, que foi preso e condenado à crucificação. 

No Paraíso – Na Bíblia, encontramos Jesus crucificado entre dois ladrões. Enquanto um blasfema, o outro fala a Jesus: ”Senhor, lembra-te de mim quando estiveres no Teu reino” (Lc 23,40). Jesus, além do perdão, promete-lhe a vida eterna: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,43). A Tradição afirma que o agraciado com a promessa do paraíso, ainda naquele mesmo dia, é Dimas. 

No calvário – Na cena do Calvário, enquanto Jesus agonizava na cruz, temos diversas atitudes diferentes: o povo olhava de longe, em silêncio, talvez decepcionado com o Profeta de Nazaré; os chefes judeus zombavam de Jesus; os soldados faziam brincadeiras de mau gosto; até um dos criminosos crucificados a seu lado o insultava; mas, um acreditou nele: o Bom Ladrão. E com sua atitude de humildade, reconhecendo-se criminoso, e com sua profissão de fé, “Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado”, “roubou” o Paraíso, tornando-se o primeiro herdeiro dos que sofrem e choram. 

Da cruz ao paraíso – Jesus quer realizar o seu reino numa sociedade de irmãos e filhos de Deus. Até o momento de sua morte, vemos o que foi a constante de Sua vida: a preferência pelos pecadores, marginalizados e pobres. Por isso mesmo, até no último momento, oferece o Paraíso ao Bom Ladrão que se arrependeu e acreditou nele. Da humilhação e fraqueza suprema da cruz, Cristo Jesus aparece como rei vencedor do pecado e da morte. 

Ressurreição – A promessa que faz a Dimas revela esta vitória e é a garantia de nossa esperança cristã. A partir da morte e ressurreição de Jesus, que é também a sua glorificação, estão abertas as portas do Paraíso, que Adão nos tinha fechado. Fica inaugurado o reino da Ressurreição dos mortos. Jesus quer reinar a partir da cruz e não a partir do poder, e quer realizar seu reino numa sociedade de irmãos entre si e de filhos de Deus. 

Dimas em Bauru – Em nossa cidade existe uma paróquia que tem Dimas como padroeiro. É a Paróquia de São Judas Tadeu e São Dimas, localizada nos altos da cidade.

sábado, 19 de março de 2011

Este é o meu Filho Amado

O Evangelho deste domingo (Mt 17,1-9) relata a transfiguração de Jesus, uma catequese cheia de a elementos simbólicos do Antigo Testamento, que apresenta-nos Jesus, como o Filho amado de Deus, Aquele que vai concretizar o projeto libertador do Pai, em favor dos homens, pelo dom da vida. 

Desânimo – O relato da transfiguração de Jesus é precedido pelo primeiro anúncio da paixão (Mt 16,21-23) e de uma instrução sobre as atitudes que discípulo deve ter (convidado a renunciar a si mesmo, a tomar a sua cruz e a seguir Jesus no seu caminho de amor e de entrega da vida – Mt 16,24-28). Depois de terem ouvido falar do “caminho da cruz” e de terem constatado aquilo que Jesus pede aos que O querem seguir, os discípulos estão desanimados e frustrados, pois a aventura em que apostaram parece caminhar para um rotundo fracasso; eles veem desaparecer, pouco a pouco – nessa cruz que irá ser plantada numa colina de Jerusalém – os seus sonhos de glória, de honras, de triunfos e se perguntam se vale a pena seguir um mestre que nada mais tem a oferecer do que a morte na cruz. 

Projeto – É nesse contexto que Mateus coloca o episódio da transfiguração. A cena representa uma palavra de ânimo para os discípulos (e para os crentes, em geral), pois nela manifesta-se a glória de Jesus e atesta-se que Ele é – apesar da cruz que se aproxima – o Filho amado de Deus. Os discípulos recebem, assim, a garantia de que o projeto que Jesus apresenta é um projeto que vem de Deus e, apesar das suas próprias dúvidas, recebem um complemento de esperança que lhes permite “embarcar” e apostar nele. 

Teofania – A narração da transfiguração é uma teofania – quer dizer, uma manifestação de Deus. Portanto, o autor do relato coloca no quadro que descreve todos os ingredientes que, no imaginário judaico, acompanham as manifestações de Deus (e que encontramos quase sempre presentes nos relatos teofânicos do Antigo Testamento): o monte, a voz do céu, as aparições, as vestes brilhantes, a nuvem e mesmo o medo e a perturbação daqueles que presenciam o encontro com o divino. Isso quer dizer: não estamos diante de um acontecimento real, mas de uma catequese construída de acordo com o imaginário judaico. 

Catequese – Esta catequese, destinada a ensinar que Jesus é o Filho amado de Deus e que traz aos homens um projeto que vem de Deus, está construída sobre elementos simbólicos tirados do Antigo Testamento. Que elementos são esses? 

O monte: situa-nos num contexto de revelação; é sempre num monte que Deus Se revela e, em especial, é no cimo de um monte que Ele faz uma Aliança com o seu Povo. A mudança do rosto e das vestes – de brancura resplandecente – recordam o resplendor de Moisés, ao descer do Sinai (Ex 34,29), depois de se encontrar com Deus e de ter as Tábuas da Lei. 

A nuvem: indica a presença de Deus; era na nuvem que Deus manifestava a sua presença, quando conduzia o seu Povo pelo deserto (Ex 40,35). Moisés e Elias representam a Lei e os Profetas (que anunciam Jesus e que permitem entender Jesus); são personagens que, de acordo com a catequese judaica, deviam aparecer no “Dia do Senhor”, quando se manifestasse a salvação definitiva (Dt 18,15-18). 

Reação: o temor e a perturbação dos discípulos são a reação lógica de qualquer homem ou mulher diante da manifestação da grandeza, da onipotência e da majestade de Deus (Ex 19,16). As tendas parecem aludir à “Festa das Tendas”, em que se celebrava o tempo do êxodo, quando o Povo de Deus habitou em “tendas”, no deserto. 

Filho amado – A mensagem fundamental pretende dizer quem é Jesus. Recorrendo a simbologias do Antigo Testamento, o autor deixa claro que Jesus é o Filho amado de Deus, em quem se manifesta a glória do Pai. Ele é também, esse Messias libertador e salvador esperado por Israel, anunciado pela Lei (Moisés) e pelos Profetas (Elias). Mais ainda: ele é um novo Moisés – isto é, aquele por meio de quem o próprio Deus dá ao seu Povo a Nova Lei e através de quem Deus propõe aos homens uma nova aliança.

sábado, 12 de março de 2011

O caminho batismal da Quaresma

Transcrevemos hoje os principais trechos da mensagem do Papa na abertura da Quaresma. 

Caminho – A Quaresma é um caminho, é acompanhar Jesus que sobe a Jerusalém, lugar do cumprimento do seu mistério de paixão, morte e ressurreição; ela nos recorda que a vida cristã é um "caminho" a ser percorrido, que consiste não tanto em uma lei a ser observada, mas na própria pessoa de Cristo, a quem vamos encontrar, acolher, seguir.  

Cruz – Jesus, de fato, fala: "Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz, cada dia, e siga-me" (Lc 9,23). Em outras palavras, diz-nos que, para chegar com Ele à luz e à alegria da ressurreição, à vitória da vida, do amor, do bem, também nós devemos carregar a cruz de cada dia, como nos exorta uma bela página da "Imitação de Cristo": "Toma, pois, a tua cruz, segue a Jesus e entrarás na vida eterna. O Senhor foi adiante, com a cruz às costas, e nela morreu por teu amor, para que tu também leves a tua cruz e nela desejes morrer. Porquanto, se com Ele morreres, também com Ele viverás. E, se fores seu companheiro na pena, também o serás na glória".  

Batismo – Nos domingos da Quaresma somos introduzidos a viver um itinerário batismal, percorrendo quase o caminho dos catecúmenos, daqueles que se preparam para receber o Batismo. No 1º Domingo, chamado "Domingo da tentação", pois apresenta as tentações de Jesus no deserto, convida-nos a renovar nossa decisão definitiva por Deus e a enfrentar com coragem a luta que nos espera para permanecermos fiéis a Ele.  

Abraão – O 2º Domingo é chamado "de Abraão e da Transfiguração". O Batismo é o sacramento da fé e da filiação divina; como Abraão, pai dos crentes, também nós somos convidados a partir, a sair da nossa terra, a deixar as seguranças que construímos para colocar nossa confiança novamente em Deus; a meta pode ser vislumbrada na transfiguração de Cristo, o Filho amado, em quem também nós nos tornamos "filhos de Deus". Nos domingos sucessivos, apresenta-se o Batismo nas imagens da água, da luz e da vida.  

Água da vida – O 3º Domingo nos faz encontrar a Samaritana (cf. Jo 4, 5-42). Como Israel no Êxodo, também nós, no Batismo, recebemos a água que salva; Jesus, como diz à Samaritana, tem uma água da vida, que sacia toda sede; e esta água é seu próprio Espírito. A Igreja, neste Domingo, marca o primeiro exame dos catecúmenos e, durante a semana, entrega-lhes o Símbolo: a Profissão da fé, o Credo.  

Luz – O 4º Domingo nos faz refletir sobre a experiência do "cego de nascimento" (cf. Jo 9,1-41). No Batismo, somos libertados das trevas do mal e recebemos a luz de Cristo para viver como filhos da luz. Também nós devemos aprender a ver a presença de Deus no rosto de Cristo e, assim, a luz. No caminho dos catecúmenos, celebra-se o segundo exame.  

Da morte à vida – Finalmente, o 5º Domingo nos apresenta a ressurreição de Lázaro (cf. Jo 11,1-45). No Batismo, passamos da morte à vida e nos tornamos capazes de agradar Deus, de fazer o homem velho morrer, para viver do Espírito do Ressuscitado. Para os catecúmenos, celebra-se o terceiro exame, e durante a semana recebem a Oração do Senhor, o Pai Nosso. 

Práticas – Este itinerário que somos convidados a percorrer na Quaresma é caracterizado, na tradição da Igreja, por algumas práticas: o jejum, a esmola e a oração. Jejuar significa abster-se de comida, mas inclui outras formas de privação que visam a uma vida mais sóbria. Ao santo jejum, não se pode acrescentar um trabalho mais útil do que a esmola, que, sob a denominação única de ‘misericórdia', inclui muitas obras boas. A Quaresma é também um momento privilegiado para a oração. Por isso a Igreja ela nos convida a uma oração mais fiel e intensa, e a uma meditação prolongada sobre a Palavra de Deus. 

Convite – Fiquemos atentos para acolher o convite de Cristo a segui-lo de maneira mais determinada e coerente, renovando a graça e os compromissos do nosso Batismo, para abandonar o homem velho que está em nós e revestir-nos de Cristo, para, renovados, chegar à Páscoa e poder dizer [junto] com São Paulo: "Eu vivo, mas não eu: é Cristo que vive em mim".

sábado, 5 de março de 2011

Construir sobre a rocha, fazendo a vontade do Pai

No Evangelho deste domingo (Mt 7,21-27) estamos concluindo o “Sermão da Montanha”. Jesus alerta para falsos profetas: “Nem todo aquele que me diz ‘Senhor, Senhor’ entrará no reino dos Céus, mas só aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos Céus”, e nos convida para construir a vida de acordo com os ensinamentos e propostas apresentados por Jesus no “Sermão da Montanha”.  

Ambiente – Estamos ainda no cenário do “Sermão da Montanha”. No cimo de um monte, Jesus continua oferecendo, a sua comunidade, a Lei que deve guiar o novo Povo de Deus ao longo da sua marcha pela história (como outrora Deus ofereceu ao Povo de Israel, na montanha do Sinai, a Lei que guiou o Povo na sua caminhada histórica). 

História do texto – A redação final do Evangelho segundo Mateus aconteceu na década de 80, dez anos após a destruição de Jerusalém. A tão esperada segunda vinda de Jesus ainda não ocorrera. Os discípulos estavam desanimados e desiludidos. A sua vivência cristã entrava numa fase de desleixo, de rotina, de instalação, de conformismo; a sua fé tornava-se “morna” e sem grandes exigências. Por outro lado, era a época em que começam a aparecer falsos profetas, que se apresentavam como enviados de Deus, que reivindicavam a estima e a admiração da comunidade, mas que tinham comportamento pouco cristão e ensinavam doutrinas estranhas. É neste contexto que Mateus compôs a reflexão que o Evangelho deste domingo nos apresenta. 

Coerência – O texto apresenta duas partes, com dois temas distintos. No entanto, tanto uma como outra apelam para uma vida de coerência com a Palavra de Deus e com as propostas de Jesus. 

Critérios – Na primeira parte, Mateus oferece à sua comunidade critérios para identificar os falsos profetas, os falsos discípulos. A descrição de Mateus é bastante real. Eles dizem “Senhor, Senhor”, mas não fazem a vontade de Deus; profetizam, expulsam demônios, fazem milagres em nome de Deus, mas não mantêm com Deus uma relação de comunhão e de intimidade; têm Deus nos lábios, mas o seu coração está cheio de iniquidade… Falam muito e bem, mas as suas obras denunciam a sua falsidade. O verdadeiro profeta, o verdadeiro discípulo, é aquele que, para além das palavras que diz, faz a vontade do Pai que está nos céus. 

Rocha – Na segunda parte, temos a parábola das duas casas – uma construída sobre a areia e outra construída sobre a rocha. Na perspectiva de Mateus, o que é construir a casa sobre a rocha? A situação do texto é clara: construir a vida de acordo com os ensinamentos e propostas apresentados por Jesus no “Sermão da Montanha”. Esse é o caminho seguro para encontrar um sentido para a própria existência. As dificuldades da caminhada não impedirão o homem de alcançar a vida plena, se a sua vida estiver construída sobre a Palavra de Jesus. 

Areia – Na perspectiva de Mateus, o que é construir a casa sobre a areia? É seguir o caminho do próprio egoísmo e da própria autossuficiência, à margem das propostas apresentadas por Jesus. Nessas circunstâncias, a “casa” irá desmoronar rapidamente e não dará qualquer garantia de eternidade, de vida plena e definitiva. 

Mensagem – O Evangelho deste domingo convida a comunidade de Mateus e as comunidades cristãs de todos os tempos, a enraizar a sua vida na Palavra de Jesus e a traduzir essa adesão em ações concretas. A Palavra de Jesus tem de ser, realmente, assumida, interiorizada, transformada em vida concreta pelo cristão. Não basta invocar o Senhor ou ter gestos externos de piedade – mesmo que esses gestos sejam espetaculares: é preciso viver dia a dia, momento a momento, com fidelidade e constância, as propostas de Jesus.