sábado, 30 de janeiro de 2010

Ele não é o filho de José?


Estamos na sequência do episódio que a liturgia de domingo passado nos apresentou. Jesus foi a Nazaré, entrou na sinagoga, foi convidado a ler um trecho dos Profetas e a fazer o respectivo comentário… Leu uma citação de Is 61,1-2 e “atualizou-o”, aplicando o que o profeta dizia, a Si próprio e à sua missão: “cumpriu-se hoje mesmo este trecho da Escritura que acabais de ouvir”. O Evangelho de hoje apresenta a reação dos habitantes de Nazaré à ação e às palavras de Jesus. 

Admiração e Fúria – Não é fácil entender o desfecho da visita de Jesus a Nazaré, logo após o seu batismo. É muito violenta a mudança de atitude dos nazarenos: eles vão da admiração à fúria. Talvez Lucas tenha unido dois acontecimentos numa só história, mas, seja como for, alguns pontos importantes saltam aos olhos.  

Aprovação – Em primeiro lugar "todos aprovavam Jesus, admirados com as palavras cheias de encanto que saíam da sua boca". Com certeza esta reação não foi causada pela oratória de Jesus, nem porque soubesse usar "artifícios para seduzir os ouvintes", como fazem tantos pregadores e políticos hoje. Não, foram palavras cheias de encanto porque brotaram da sua intimidade com o Pai, da sua espiritualidade profunda, da sua capacidade de compaixão, da coerência entre a sua fala e a sua vivência.  

Palavra – Aqui há um desafio para todos nós: deixar que sejamos tomados pela Palavra de Deus, de tal maneira que a nossa palavra não seja mais a nossa, mas a manifestação do Espírito que habita em nós. Só assim as nossas palestras e pregações surtirão efeito. Do contrário, por mais eloqüente que possa ser a nossa fala, seremos "sinos ruidosos ou címbalos estridentes": poderemos até chamar a atenção, mas não deixaremos frutos! 

Comparando os textos – Este episódio é relatado nos três Evangelhos sinóticos, porém, Lucas muda a frase central de Jesus. Em Marcos Jesus diz que: "Um profeta só não é estimado em sua própria pátria, entre seus parentes e em sua família" (Mc 6,3). Mateus fala: "Um profeta só não é estimado em sua própria pátria e em sua família" (Mt 13,57). Lucas diz: "Nenhum profeta é bem recebido na sua pátria" (Lc 4,24), sem qualquer referência a uma rejeição por parte da família ou dos parentes.  

Maria em Lucas – Sem dúvida, atrás desta mudança está a crescente veneração por Maria na comunidade de Lucas, bem como a lembrança da liderança dos parentes de Jesus, na Igreja primitiva. Segundo os estudiosos, a Igreja de Jerusalém foi dirigida por membros do clã de Jesus até 135 d.C.: Tiago, "o irmão do Senhor", era o chefe da Igreja-Mãe, considerado uma das "colunas da Igreja", junto com Pedro e João, como nos diz Paulo em Gálatas 2, 9.  

Rejeição – A reação dos vizinhos de Nazaré encontra eco, muitas vezes, nas comunidades de hoje. É o pobre que não acredita no pobre! Jesus é rejeitado por ser considerado o filho de José, um simples carpinteiro de Nazaré. Quantas vezes, hoje, acontece que, em lugar de incentivar as nossas lideranças das bases, os próprios companheiros de comunidade os rejeitam por não serem "doutores", por não saberem "falar bonito" como sabem muito bem os nossos exploradores!!  

Caminhada – Jesus nos dá o exemplo de como enfrentar esses problemas. Ele "continuou o seu caminho" (Lc 4,20) e nos ensinou que apesar das críticas, da não-aceitação, das gozações, o cristão tem que "continuar o seu caminho". Jesus sofreu com isso, mas não se abalou, pois a sua convicção não se baseava na opinião, aprovação e aceitação dos outros, mas na oração, na interiorização da Palavra. Oxalá todos nós cresçamos neste sentido, seguindo o exemplo do Mestre!

sábado, 23 de janeiro de 2010

Hoje se cumpriu a Escritura


O Evangelho deste domingo (Lc 1,1-4; 4,14-21) relata a primeira experiência da vida pública de Jesus. Aconteceu em maio/junho do ano 28 d.C., na cidade de Nazaré, onde Jesus foi criado. Jesus iniciava a sua vida pública com 34 anos de idade. Em dois anos, ele fará toda a sua pregação, sendo crucificado e morto em abril do ano 30. 

Sinagoga – Era um sábado e Jesus foi à sinagoga para participar do culto semanal. O culto de então consistia do canto de um salmo, a recitação do Shema Israel e as Dezoito Bênçãos, uma primeira leitura do Torá e uma segunda dos Profetas, uma homilia sobre as leituras, a benção do presidente da assembléia e a benção sacerdotal de Nm 6,24-27. Segundo muitas autoridades, a primeira leitura era prescrita, a segunda à escolha do leitor. Qualquer judeu adulto (masculino) podia tomar a palavra, mas as autoridades sinagogais habitualmente confiavam esta incumbência aos que eram considerados versados nas escrituras. Jesus foi convidado a fazer a segunda leitura. 

Isaías – Jesus buscou a passagem do livro de Isaías. A citação de Lucas não é exatamente como está no Antigo Testamento, mas uma combinação de Is 61,1-2 e 58.6, omitindo 61,1c e 61,2b-3a. Nós, cristãos, discípulos de Jesus e continuadores da sua missão no mundo atual, temos aqui os elementos essenciais para a vivência da nossa vocação. Olhemos esses elementos: 

a) "Anunciar a Boa-Notícia aos pobres" – O Evangelho é "Boa Notícia"- não uma série de leis, nem uma lista de práticas rituais, mas uma experiência de Deus que traz alegria, felicidade – para os pobres! 

b) "Proclamar a libertação aos presos" – Não somente aos presos da cadeia, mas aos que estão sem a liberdade dos filhos de Deus – presos pelas conseqüências trágicas do neoliberalismo, do desemprego, do salário mínimo; presos pelas correntes de racismo, machismo, clericalismo e todos os "ismos" que oprimem! Também os presos pelo próprio egoísmo, pois assumir os valores evangélicos liberta, através de uma mudança radical na nossa visão e maneira de viver. Nós somos convidados a rever se nós não estamos presos por estruturas antiquadas e sem importância, que impedem que sejamos realmente instrumentos de libertação para os oprimidos que estão próximos a nós. 

c) "Aos cegos a recuperação da vista" – Quanta gente cega hoje! Não só por problemas de vista, mas cegas por não verem a realidade do mundo e dos pobres; tornadas cegas pelas falsas utopias da televisão – que cria um mundo de fantasia, totalmente alienante –; pela manipulação de informação pelos meios de comunicação, controlados pelas elites; pelo incentivo ao consumo, que induz a ter sempre mais, especialmente aqueles que carecem de um senso crítico mais apurado. 

d) "Libertar os oprimidos" – Essa frase evoca o eixo fundamental da Bíblia – o Êxodo, como processo permanente de libertação. No livro do Êxodo, Deus se identificou como o Deus que liberta os oprimidos (Ex 3,7-10). E Jesus se coloca – e coloca todos os seus seguidores – neste mesmo compromisso. Hoje a época é diferente, mas a opressão continua, e Deus nos convoca para que todos nos empenhemos nesta luta permanente de concretizar a libertação dos oprimidos. O texto originalmente se referia aos presos por dívidas (cf. Lc 6,35.37; Nm 5,1-5). Aqui há a lembrança do Ano Jubilar. Atrás desta citação está a convicção de que as estruturas da vida social e econômica devem refletir o Reinado de Deus. 

e) "Proclamar o Ano de Graça do Senhor" – O Ano de Graça – o Ano Jubilar! Memória da proposta de Lev. 25, o ano do perdão das dívidas, da libertação dos escravos, da devolução das terras aos seus donos originais! Um ano de alegria e graça, especialmente para o povo pobre e oprimido! Como concretizar esta visão, na realidade atual do Brasil? Júbilo e alegria, não podem ser decretados – têm que brotar de algum motivo profundo: o crescimento real da vivência do Reino de Deus entre nós, através de mudanças reais nas estruturas e relacionamentos, no nível pessoal, social, familiar e eclesial.  

Hoje – Hoje continua o desafio de deixar bem claro o que significa para nós, no lugar onde nos achamos, "pregar a Boa Notícia aos pobres", "libertar os presos", "recuperar a vista dos cegos", "libertar os oprimidos" e "pregar o Ano da Graça do Senhor". E nós podemos enfrentar esse desafio com coragem, pois, como Jesus, todos nós fomos "consagrados com a unção", para esta missão e o Espírito que sustentou Jesus na sua missão não falhará no sustento de quem realmente se lança no seguimento de Jesus, para que o Reino de Deus realize-se entre nós.

sábado, 16 de janeiro de 2010

O Primeiro Sinal


O Evangelho das missas deste domingo (Jo 2,1-11) apresenta Jesus, Maria e os Apóstolos participando de um casamento na cidade de Caná. 

Sinais – No texto, João declara explicitamente, que o episódio pertence à categoria dos “signos” (sinais, “semeiôn”): trata-se de sinais indicadores, que nos convidam a compreender além da história narrada.  Muito mais do que narrar que Jesus transformou a água em vinho, apresenta o programa de Jesus: trazer à relação entre Deus e o homem o vinho da alegria, do amor e da festa. 

Mais sinais – Por esta razão, a primeira parte do Quarto Evangelho é chamada "O Livro dos Sinais", pois o evangelista relata uma série de sete sinais que, passo a passo, revelam quem é Jesus e qual é a sua missão (algumas bíblias traduzem o termo grego por "milagre", mas a tradução mais acertada é "Sinal"). O primeiro desses sinais aconteceu no contexto das bodas de Caná. Como quase todo o evangelho de João, o relato está carregado de simbolismo: pessoas, números e eventos tem uma função simbólica e para nos levar além da superfície das coisas, numa caminhada de descoberta sobre a pessoa de Jesus.  

Hora – Um dos temas centrais do quarto evangelho é o da "hora" de Jesus. A "hora" não se refere à cronometria, mas à hora de glorificação de Jesus, por sua morte e ressurreição. A resposta ao pedido feito por Maria traz de uma maneira um tanto estranha o termo “mulher”: João quer indicar que Jesus rejeita uma esfera meramente humana de ação para Maria, reservando a ela um papel muito mais rico, ou seja, o de mãe dos discípulos. Maria somente vai aparecer mais uma vez, neste evangelho, ao pé da cruz, onde ela e o Discípulo Amado (João) assumem um relacionamento de Filho e Mãe. E devemos lembrar que o Discípulo Amado simboliza a comunidade dos discípulos do Senhor. 

Maria – Não devemos reduzir a ação de Maria somente à de uma incomparável intercessora. Maria, aqui, é a imagem do discípulo exemplar, pois embora a resposta de Jesus indique um distanciamento entre a expectativa de Maria e a visão dele sobre o que seria adequado naquele momento, ela continua com confiança Nele e leva outros a acreditarem também. 

Água e Vinho – A água tornada vinho não era qualquer água: era a água da purificação dos judeus. Na sua narrativa, João deixa claro que, doravante, os ritos judaicos de purificação estavam superados, pois a verdadeira purificação vem através de Jesus. Podemos entender isso como uma grande mudança: de uma prática religiosa baseada no medo do pecado, uma prática que excluía muita gente, para uma nova relação entre Deus e a humanidade, a partir de Jesus. Assim, em Caná, Jesus começa a substituir as práticas do judaísmo do Templo, o que vai continuar ao longo do Evangelho de João. 

Muito Vinho – A quantidade de vinho chama a atenção – 600 litros! O vinho em abundância era símbolo dos tempos messiânicos e, na tradição rabínica, a chegada do Messias seria marcada por uma colheita abundante de uvas. Assim, a expectativa messiânica se realiza em Jesus e as talhas transbordantes simbolizam a graças abundante que Ele traz. 

Origem do Vinho – A figura do mestre-sala é carregada de simbolismos também, bem como a dos serventes. O primeiro, que devia saber a origem do vinho da festa, não sabia, enquanto os últimos sim. O mestre-sala representa os chefes do Templo, que não sabiam a origem de Jesus, enquanto os servos representam os discípulos, que acreditaram nele. 

Vinho Novo e Velho – Fazendo uma comparação entre o vinho antigo e o novo, João quer reconhecer que a Antiga Aliança era boa, mas a Nova a superou. Os ritos e práticas judaicas ligados à purificação e ao sacrifício não têm mais sentido, pois uma nova era de relacionamento entre a humanidade e Deus começou em Jesus. “É certamente bom o vinho do Antigo Testamento, mas o do Novo é melhor. O Antigo Testamento, que os judeus observam, dilui-se nas letras; o Novo, que seguimos, tem o sabor da vida da graça” (São Fausto de Riez, bispo). 

Sinais – O ponto culminante do relato está no versículo 11: "Foi em Caná que Jesus começou os seus sinais, e os seus discípulos acreditaram nele". E a fé deles não é intelectual ou teórica, mas, o seguimento concreto do Mestre na formação de novos relacionamentos de amor. Pouco a pouco, o autor vai revelando Jesus através de sinais, para que nós, os leitores, possamos "acreditar que Jesus é o Messias, o Filho de Deus. E para que, acreditando, tenhamos a vida em seu nome" (Jo 20,31).

sábado, 9 de janeiro de 2010

O Batismo de Jesus


No primeiro domingo depois da Epifania, celebra-se tradicionalmente a Festa do Batismo do Senhor. Assim, o Evangelho (Lc 3,15-16.21-22) apresenta o encontro entre Jesus e João Baptista, nas margens do rio Jordão. Na circunstância, Jesus foi batizado por João Baptista, um guia carismático de um movimento que anunciava a proximidade do “juízo de Deus”. 

Problema – O batismo de Jesus no Rio Jordão é tão importante teologicamente, que é tratado por cada um dos quatro evangelistas de maneira diferente, de acordo com a situação de suas comunidades e dos seus interesses teológicos. A narração do batizado de Jesus logo se tornou um problema para os primeiros cristãos, pois levantava a questão de como Jesus, sem pecado, podia ter sido batizado num ritual de purificação dos pecados.  

O batismo nos evangelhos – Por isso, Mateus deixa de fora a referência que Marcos (1, 4) faz ao perdão dos pecados (“E foi assim que João Batista apareceu no deserto, pregando um batismo de conversão para o perdão dos pecados”) e adiciona os versículos 14 e 15 (“João procurava impedi-lo, dizendo: ‘Sou eu que devo ser batizado por ti, e tu vens a mim?’ Jesus, porém, lhe respondeu: ‘Por enquanto deixe como está! Porque devemos cumprir toda a justiça’. E João concordou.”). Para o evangelista João, o batismo era tão difícil de ser harmonizado com a sua cristologia, que omite qualquer referência ao batismo e, no seu lugar, faz com que João Batista aponte Jesus como o "Cordeiro de Deus" (cf Jo 1, 29-34).  

Batismo de conversão – Toda a mensagem que João Batista anunciava estava centrada na urgência da conversão e incluía um rito de purificação pela água. O “batismo” proposto por ele não era, na verdade, uma novidade. O judaísmo conhecia ritos diversos de imersão na água, sempre ligados a contextos de purificação ou de mudança de vida. O “mergulhar na água” era, inclusive, um rito usado na integração dos pagãos que aderiam ao judaísmo, na comunidade do Povo de Deus.  Nessa perspectiva, quem aceitava esse “batismo” renunciava ao pecado, convertia-se a uma vida nova e passava a integrar a comunidade do Messias. 

O que é que Jesus tem a ver com isto? – Que sentido faz, Ele apresentar-se a João para receber este “batismo” de purificação, de arrependimento e de perdão dos pecados? O aparecimento de Jesus na cena significa o começo de um novo tempo, o tempo em que o próprio Deus vem ao mundo, feito pessoa humana, para oferecer, à humanidade escravizada, a vida e a salvação. No episódio do “batismo” revela-se, a missão e a verdadeira identidade de Jesus. 

Quem é o Messias – A cena do “batismo” identifica claramente o messias anunciado por João com o próprio Jesus (vers. 21-22). O Espírito Santo, que desce sobre Jesus “como uma pomba”, leva-nos a essa figura de “Servo de Jahwéh” apresentada na primeira leitura, que recebe o Espírito de Deus para levar “a justiça às nações”. Por outro lado, a “voz vinda do céu” apresenta Jesus como “o Filho muito amado” de Deus (vers. 22). A missão de Jesus será, como a do “Servo”, “abrir os olhos aos cegos, tirar do cárcere os prisioneiros e da prisão os que habitam nas trevas” (Is 42,7); para concretizar esse projeto, Ele irá “batizar no Espírito” e inserir os homens numa dinâmica de vida nova – a vida no Espírito. Na cena, o testemunho de Deus acerca de Jesus é acompanhado por três fatos estranhos que, no entanto, devem ser entendidos em referência a fatos e símbolos do Antigo Testamento.  

A abertura do céu - A imagem significa a união da Terra e do Céu e inspira-se, provavelmente, em Is 63,19. Com ela, Lucas anuncia que a atividade de Jesus vai reconciliar o Céu e a Terra, vai refazer a comunhão entre Deus e os homens.  

A pomba – O símbolo da pomba não é imediatamente claro… Provavelmente, não se trata de uma alusão à pomba que Noé libertou e que retornou à arca (cf. Gn 8,8-12); é mais provável que a pomba (em certas tradições judaicas, símbolo do Espírito de Deus que, no início, pairava sobre as águas – cf. Gn 1,2) evoque a nova criação que terá lugar a partir da atividade que Jesus vai iniciar. A missão de Jesus é, portanto, fazer aparecer um Homem Novo, animado pelo Espírito de Deus.  

A voz do céu. Trata-se de uma forma muito usada pelos rabbis para expressar a opinião de Deus acerca de uma pessoa ou de um acontecimento. Essa voz declara que Jesus é o Filho de Deus; e faz isso com uma fórmula usada no cântico do “Servo de Jahwéh” (primeira leitura, cf. Is 42,1). Essa referência sugere que a missão de Jesus, o Filho de Deus, não se desenrolará no triunfalismo, mas na obediência total ao Pai; não se cumprirá com poder e prepotência, mas na suavidade, na simplicidade, no respeito pelos homens (“não gritará, nem levantará a voz; não quebrará a cana fendida, nem apagará a torcida que ainda fumega” – Is 42,2-3).  

Porque é que Jesus quis ser batizado por João? – Ao receber este batismo de penitência e de perdão dos pecados (do qual não precisava, porque Ele não conheceu o pecado), Jesus solidarizou-Se com o homem limitado e pecador, assumiu a sua condição, colocou-Se ao lado dos homens para ajudá-los a sair dessa situação e para percorrer com eles o caminho da libertação, o caminho da vida plena. Esse era o projeto do Pai, que Jesus cumpriu integralmente. 

Revelação – A cena do batismo de Jesus revela, essencialmente, que Jesus é o Filho de Deus, que o Pai envia ao mundo a fim de cumprir um projeto de libertação em favor dos homens. Como verdadeiro Filho, Ele obedece ao Pai e cumpre o plano salvador do Pai; por isso, vem ao encontro dos homens, solidariza-Se com eles, assume as suas fragilidades, caminha com eles, refaz a comunhão entre Deus e os homens que o pecado havia interrompido e conduz os homens ao encontro da vida em plenitude. Da atividade de Jesus, o Filho de Deus que cumpre a vontade do Pai, resultará uma nova criação, uma nova humanidade.

sábado, 2 de janeiro de 2010

O quarto Rei Mago


Os magos – O Evangelho de Mateus descreve a visita dos magos a Jesus em Belém, guiados por uma estrela. As antigas comunidades cristãs adicionaram à história do Evangelho o título de “reis”, o número de “três” e os seus “nomes” (Baltazar, Melchior e Gaspar). O texto de Mateus também conta que os magos vieram adorar o Menino e entregar seus presentes: ouro, incenso e mirra. 

A Lenda – Uma antiga história conta que existia um quarto rei mago, que se chamava Artabam. Os quatro magos venderam tudo o que tinham e compraram os presentes.  Artabam escolheu como presentes pedras preciosas: um rubi, uma esmeralda e diamantes.

Artabam – Quando estava a caminho de Belém, Artabam escutou gemidos que um homem, assaltado à beira do caminho, emitia de maneira intermitente. Comovido, colocou-o no seu camelo, levou- o para uma pousada próxima, cuidando dele até que se recuperasse o suficiente. O dono da pousada exigiu o pagamento pelos serviços prestados. Artabam, sem pestanejar, pegou o rubi dentro de sua bolsa e entregou ao dono da pousada. 

Perdeu-se – Artabam procurou a trilha dos outros reis magos, mas a estrela já tinha desaparecido do céu. Dormiu, morto de cansaço. Ao acordar, partiu de novo sem os amigos, sem a estrela para orientá-lo e continuou seu caminho. No fundo do coração, ele sabia que, algum dia, iria encontrar seu Rei. 

A Caravana – A certa altura da caminhada, avistou uma caravana vindo em sua direção. Quando se aproximaram, viu que se tratava de um comboio de escravos sendo levados para a morte.  Artabam olhou para eles e sentiu compaixão e amor. Pegou as esmeraldas e os diamantes e comprou os escravos, libertando-os em seguida.  Quando todos já haviam partido, ficou sozinho. 

Desespero – O sol se pôs e a escuridão tomou conta do deserto. Entre lágrimas, Artabam olhou para o céu estrelado.  Não tinha mais presentes para oferecer, não havia mais a estrela guia, tinha perdido o contato com seus três amigos. 

Final da lenda – Existem dois finais para esta lenda.  Vamos a eles: 

Primeiro final – A estrela de Belém apareceu novamente para Artabam, mas ele desistiu de segui-la, pois nada mais tinha a oferecer ao Menino.  De repente, uma voz misteriosa lhe disse: – Não é tarde, não, Artabam. Você chegou na hora certa. Quero que saiba que seus presentes foram os primeiros que recebi quando nasci. Você foi o primeiro a encontrar-me, o primeiro a me homenagear e o primeiro a me presentear. 

Segundo final – Uma segunda versão conta que Artabam foi assaltado e saqueado por ladrões, perambulando pela região da Palestina por muitos anos.  Nunca desistiu de encontrar o seu Rei.  Um dia, passando próximo a Jerusalém, encontrou três homens crucificados.  Um deles lhe perguntou o que procurava.  Artabam respondeu que há mais de 30 anos buscava o Rei dos Judeus.  O homem lhe disse: “Pois acaba de encontrar!”.