sexta-feira, 27 de novembro de 2020

A história do Nascimento de Jesus


Ao iniciarmos a preparação para o Natal (advento), inúmeras vezes ouviremos falar de Maria Santíssima, nossa Mãe e Mãe da Igreja. Como os Evangelhos Canônicos trazem poucas informações sobre Maria e José, fomos buscar mais detalhes (histórias, nomes, datas, etc.) em outras fontes, como a tradição judaica, fontes históricas e textos apócrifos (Proto-evangelho de Tiago, a História de José o Carpinteiro). A Igreja Católica aceita alguns destes fatos na sua liturgia (os nomes dos pais de Maria, a cerimônia de apresentação de Maria no Templo, Imaculada Conceição, José idoso, o bastão de José) mesmo não constando nos Evangelhos.

 O pai de Maria Joaquim era um homem muito rico que vivia atormentado por não ter filhos. Para o povo hebreu era muito importante gerar descendentes. Estava tão angustiado que se retirou para o deserto e jejuou quarenta dias e quarenta noites para que suas preces fossem atendidas.

 A mãe de Maria – Ana era uma mulher que lamentava a sua esterilidade. Apresentou-se a ela um anjo de Deus dizendo que o Senhor ouviu seus pedidos e que ela daria à luz uma criança. A concepção imaculada de Maria é aceita pela Igreja Católica como dogma de fé (instituído pelo Papa Pio IX em 1854) e comemorada como a festa da Imaculada Conceição de Maria.

 Apresentação no Templo – Ana prometeu que entregaria seu filho (ou filha) como oferenda ao Senhor, para que ele servisse seu Deus todos os dias de sua vida. Nove meses depois, Ana deu à luz uma menina, dando-lhe o nome de Maria. Era, aproximadamente, o ano 20 a.C. Quando completou três anos, Maria foi conduzida ao templo e entregue ao sacerdote. Permaneceu lá até os doze anos, se ocupando com os afazeres diários do templo.

 Aos doze anos – Quando Maria completou doze anos (aprox. 9 a.C.), os sacerdotes se reuniram e deliberaram que o Sumo Sacerdote deveria decidir o destino de Maria. Este, orando no aposento chamado ‘santo dos santos’, indicou que fossem reunidos 12 viúvos (um de cada tribo de Israel). Cada viúvo deveria vir ao templo com um bastão e aquele que recebesse um sinal singular do Senhor seria o esposo de Maria.

 Os viúvos – José, atendendo o chamado do Sumo Sacerdote, se dirigiu de Belém ao templo, entregando o seu bastão. O Sumo Sacerdote, após orar, devolveu os bastões aos viúvos. Ao entregar o bastão a José, uma pomba passou a voar sobre sua cabeça, indicando que José deveria ser o esposo de Maria.

 Contestação – José replicou que já era velho e tinha filhos (Judas, Josetos, Tiago, Simão Lígia e Lídia), enquanto que Maria era uma menina; argumentando ainda que seria objeto de zombarias por parte do povo. O sacerdote convenceu-o, dizendo que deveria aceitar o casamento como desejo divino.

 A tradição da época – Na palestina não havia diferença entre noivado e casamento. Por isso que em Mt 1,18 nós encontramos que Maria estava desposada de José. Desposada quer dizer noiva. O noivado já tinha o valor de casamento; por isto, em Mt 1,19, José é chamado de esposo. A tradição mandava que após a festa de noivado, a noiva (ou esposa) continuava na casa de seus pais, e o noivo (esposo) ia construir a casa. Pronta a casa, o noivo ia buscar a noiva, geralmente em procissão luminosa, da qual participavam também outras moças do lugar (veja a parábola das dez virgens em Mt 25, 1-13).

 José e Maria Como Maria vivia no templo (e não na casa dos seus pais), José levou-a para sua casa e saiu em viagem de trabalho com os dois filhos maiores. José era carpinteiro e trabalhava na construção de casas. Maria cuidou do pequeno Tiago (filho de José) com carinho e dedicação. Maria viveu como noiva de José perto de dois anos.

 Um certo anjo ... – Um certo dia, no início do ano 7 a.C., Maria pegou um cântaro e foi enchê-lo de água. Mas eis que ouviu uma voz que lhe dizia: "Deus te salve, cheia de graça, o Senhor está contigo ..." Bem, mas este é assunto para a próxima semana.

 GOSTOU DO ASSUNTO? – Se você quer ler mais sobre o assunto, podemos lhe oferecer os Evangelhos apócrifos citados (Protoevangelho de Tiago, a História de José) e a Cronologia da vida de Jesus. Solicite por E-mail.

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

O Juízo Final

  


Hoje encerramos as celebrações dominicais do ano litúrgico com a festa de Cristo Rei. O evangelho de hoje é o famoso texto de Mateus 25 sobre o Juízo Final. Nesse texto, enfatiza-se a sorte eterna dos que optaram ou não pela vivência da "justiça do Reino dos Céus".

 O primeiro discurso do evangelho – o Sermão da Montanha - enfatizou que quem vivesse essa justiça seria perseguido (5,12); o segundo discurso, o Missionário, insistiu que os discípulos não deveriam ter medo diante dessas perseguições, sofrimentos e rejeição (10,23.28.31); o terceiro - as parábolas do Reino - ensinou a paciência e perseverança diante do lento crescimento do Reino e da fraqueza da comunidade (13); o quarto - o Discurso Eclesiológico - traçou as características da comunidade dos que procuram essa justiça.

 Agora, o último discurso – o Escatológico - mostra que a vivência dessa justiça será o critério de Deus para o julgamento final. Ilustra-se, de uma maneira viva, o sentido da frase lapidar do Sermão da Montanha: "Se a justiça de vocês não for superior à dos doutores da lei e dos fariseus, não entrarão no Reino do Céu"(5, 20).

 O Critério do Juízo Final – Jesus - o Rei - não pergunta sobre o cumprimento de leis de ritual e de pureza, tão caras aos doutores da lei e fariseus, mas sobre a prática da justiça do Reino, diante do sofrimento de tanta gente - famintos, sedentos, migrantes, esfarrapados, doentes e presos. A prática de solidariedade com os oprimidos é a única prova duma verdadeira fé em Jesus, e do seguimento fiel dele.

 Sociedade – Esse texto não pode deixar de nos questionar, vivendo como estamos numa sociedade cada vez mais excludente. Celebramos hoje Jesus como "Rei do Universo". Mas ele se torna rei das nossas vidas somente na medida em que fazemos essa opção real pelos oprimidos, e vivenciamos "a justiça do Reino do Céu", tema central do Evangelho de Mateus. Num mundo que nos apresenta tantas outras opções "régias" - ou seja, opções que regem as nossas vidas e manifestam o que são os nossos valores últimos, o texto nos leva a verificar se realmente Jesus é o Rei das nossas vidas - se é o Evangelho dele que as rege, ou se o título não passa de mais um dos rótulos vazios, sem consequências práticas, tão queridos dos arautos de uma religião intimista, sentimentalista e individual, tanto em voga nos nossos tempos.

 Rei – Será que a utopia do Reino de Deus, o seguimento de Jesus até a Cruz, a prática da Justiça do Reino são os elementos que norteiam as nossas práticas, individuais e comunitárias? Se não, então Jesus Cristo ainda não se tornou Rei do nosso universo pessoal e eclesial. É o questionamento do texto de hoje, que nos lembra que Jesus não é Rei conforme os padrões deste mundo, mas o Rei pobre e justo, tão esperado pelos oprimidos de todos os tempos.

sábado, 14 de novembro de 2020

Os talentos

 


 No Evangelho das missas deste domingo (Mt 25,14-30), Jesus apresenta a parábola dos talentos.

 Ambiente – Mais uma vez, o Evangelho apresenta-nos o tema da segunda vinda de Jesus. A catequese que Mateus apresenta neste discurso tem em conta as necessidades da sua comunidade cristã. O texto foi escrito no final do séc. I (década de 80). Os cristãos, fartos de esperar a segunda vinda de Jesus, esqueceram o seu entusiasmo inicial… Instalaram-se na mediocridade, na rotina, no comodismo, na facilidade. As perseguições que se adivinham provocam o desânimo e a deserção… Por esta razão, Mateus encoraja a todos, para que se lembrem de que a segunda vinda do Senhor acontecerá no final da história humana; e que, até lá, os crentes devem “colocar os seus talentos para render”. A parábola fala de “talentos” que um senhor distribuiu entre os servos. Um “talento” corresponde a 36 quilos de prata e ao salário de aproximadamente 3.000 dias de trabalho de um operário não qualificado.

 A “parábola dos talentos” – Conta que um “senhor” partiu em viagem e deixou a sua fortuna nas mãos dos seus servos. A um, deixou cinco talentos, a outro dois e a outro um. Quando voltou, chamou os servos e pediu-lhes contas do que haviam feito com o que tinham recebido. Os dois primeiros duplicaram a soma recebida; mas o terceiro tinha escondido cuidadosamente o talento que lhe fora confiado, pois conhecia a exigência do “senhor” e tinha medo. Os dois primeiros servos foram louvados pelo “senhor”, ao passo que o terceiro foi severamente criticado e condenado.

 O Reino – Provavelmente a parábola, tal como saiu da boca de Jesus, era uma “parábola do Reino”. O “senhor” exigente seria Deus, que reclama para Si uma lealdade a toda a prova e que não aceita meios tons e situações de acomodação e de preguiça. Os servos a quem Ele confia os valores do Reino devem acolher os seus dons e fazer com que eles rendam, a fim de que o Reino seja uma realidade. No Reino, ou se está completamente comprometido, ou não se está.

 Dons – No texto de Mateus, o “senhor” é Jesus que, antes de deixar este mundo, entregou bens consideráveis aos seus “servos” (os discípulos). Os “bens” são os dons que Deus, através de Jesus, ofereceu aos homens. Os discípulos de Jesus são os depositários desses “bens”. A questão é, portanto, esta: como devem ser utilizados estes “bens”? Eles devem dar frutos, ou devem ser cuidadosamente conservados enterrados? Os discípulos de Jesus podem – por medo, por comodismo, por desinteresse – deixar que esses “bens” fiquem infrutíferos? Na perspectiva da parábola, os “bens” que Jesus deixou aos seus discípulos têm de dar frutos.

 Comodismo – Através desta parábola, Mateus incentiva a sua comunidade a estar alerta e vigilante, sem se deixar vencer pelo comodismo e pela rotina. Esquecer os compromissos assumidos com Jesus e com o Reino, demitir-se das suas responsabilidades, deixar na gaveta os dons de Deus, aceitar passivamente que o mundo se construa de acordo com valores que não são os de Jesus, instalar-se na passividade e no comodismo é privar os irmãos, a Igreja e o mundo dos frutos a que têm direito.

 Construir – O discípulo de Jesus não pode esperar o Senhor de mãos erguidas e de olhos postos no céu, alheio aos problemas do mundo e preocupado em não se contaminar com as questões do mundo… O discípulo de Jesus espera o Senhor profundamente envolvido e empenhado no mundo, ocupado em distribuir a todos os homens, seus irmãos, os “bens” de Deus e em construir o Reino.

sábado, 7 de novembro de 2020

 

A Bíblia passaria no teste de Bechdel?

 


 Recentemente, um amigo me perguntou qual seria o resultado se aplicássemos o Teste de Bechdel à Bíblia. Ele me pediu que eu usasse as minhas habilidades de programação e buscas no texto bíblico para verificar se a Bíblia seria aprovada no teste.

 O que é o Teste de Bechdel – Se você não está familiarizado com ele, o teste de Bechdel “é uma medida da representação das mulheres” em eventos (filmes, livros e peças teatrais, etc.). O teste se tornou famoso quando foi usado por atrizes de Hollywood ao protestarem contra os produtores de filmes pela pequena representatividade de mulheres em espetáculos.

 Como funciona? – O teste sugere que (para que haja representatividade feminina) uma obra deve conter pelo menos uma cena que atenda a três critérios específicos: (1) pelo menos duas mulheres identificadas pelo nome que (2) conversem entre si (3) sobre algo que não seja um homem.

 Reprovados – Inúmeros clássicos do cinema foram reprovados no teste. Entre eles estão “Guerra nas Estrelas”, “Avatar”, “Harry Poter”, “De volta para o futuro”, “O planeta dos Macacos”, “Procurando Nemo”, “O Senhor dos Anéis”, “Toy Story” e “Homem de Ferro”. Um pesquisador americano analisou 4.500 filmes, sendo que apenas 56% foi aprovado no teste.

 E a Bíblia? – Embora a Bíblia não seja uma obra de ficção, tenha sido escrita por inúmeros autores, em épocas totalmente diversas da atual, qual seria o resultado se aplicássemos o teste de Bechdel aos 72 livros da Bíblia? Qual seria a representatividade da mulher na Bíblia?

 Fizemos o teste – Usamos um conjunto de dados de código aberto e um banco de dados que inclui pessoas, lugares e eventos na Bíblia gerado pelo John Dyer, reitor e professor do Seminário Teológico de Dallas. Aqui está um resumo do que encontramos: os 72 livros (45 do AT e 27 do NT) da Bíblia Católica têm 3.070 pessoas identificadas pelos nomes, e 202 delas são mulheres (para efeito de comparação, o Alcorão tem apenas uma mulher chamada Maria). Estreitando a pesquisa, há 147 cenas com duas ou mais mulheres (teste de Bechdel 1), 261 cenas em que mulheres falam, 14 em que as mulheres estão falando entre si (teste de Bechdel 2) e 6 cenas em que as mulheres estão falando sobre algo que não seja sobre um homem (teste de Bechdel 3).

 Encontre na Bíblia – As 6 cenas que atendem ao teste de Bechdel estão em apenas 3 livros da Bíblia. São elas: Rute 1, 6-22 – Rute conversa com suas noras; Rute 2,1-23 – Rute e Booz conversam com Noemi. Marcos 16,1-8 - Maria Madalena, Maria, a mãe de Tiago, e Salomé discutem sobre a pedra removida do túmulo de Jesus; Marcos 16, 9-20 – Maria Madalena anuncia que viu Jesus. Lucas 1, 39-56 - Discussão de Isabel e Maria sobre suas futuras gestações; Lucas 2, 22-40 – A profetiza Ana conversa com Maria na apresentação de Jesus no Templo.

 Então, a Bíblia passa no teste de Bechdel? – Essa resposta é sim; há várias cenas em que duas mulheres nomeadas conversam e não sobre um homem. Portanto, quando você encontrar pessoas afirmando que a Bíblia é machista, composta apenas de personagens masculinos, você agora tem argumentos para contestar tais afirmações. Embora haja menos personagens femininos na Bíblia do que personagens masculinos e muito poucas cenas que passam no teste de Bechdel, quando lemos as passagens centradas na mulher com cuidado, descobrimos que elas se encontram em passagens decisivas da história bíblica.

 VOCÊ QUER MAIS INFORMAÇÕES SOBRE O TEXTO? – Se você gostou do texto e quer mais informações, podemos lhe oferecer a tabela desenvolvida por John Dyer (18 páginas em Inglês) com os principais versículos da Bíblia que atendem (parcial ou plenamente) o teste de Bechdel. Solicite por E-mail.