sexta-feira, 27 de maio de 2016

CORPUS CHRISTI



Corpus Christi – A festa de Corpus Christi é a expressão religiosa pública do núcleo central da fé católica, a Eucaristia, celebrada sessenta dias após a Páscoa. Sempre celebrado numa quinta-feira, este ano, no dia 26 de maio. O acontecimento recorda a instituição da Eucaristia, acontecida na Última Ceia da Quinta-feira Santa (Mc 14,12s).

Eucaristia – A Eucaristia sempre ocupou um lugar proeminente na vida da Igreja. Os cristãos vivem continuamente na certeza de que Cristo, nela, permanece presente e atuante, pela graça do Espírito Santo. A Igreja acredita na realização da promessa do Senhor: "Estarei convosco até a consumação dos séculos" (Mt 28,20) e o tesouro da Eucaristia continua a ocupar nossa melhor atenção, passados anos de sua instituição.

História – A Festa de Corpus Christi foi instituída pelo Papa Urbano IV, para ser celebrada na quinta-feira após a Festa da Santíssima Trindade, que acontece no domingo depois de Pentecostes. Dois acontecimentos ajudaram o papa a tomar a decisão de instituir esta festa: a visão de Santa Juliana de Cornillon, na qual Jesus pedia uma festa para testemunhar de um modo mais forte o significado da Eucaristia para a vida do cristão; e o milagre Eucarístico de Orvieto-Bolsena (Itália), no ano de 1263, em Bolsena, quando um sacerdote celebrando a santa missa, foi atormentando pela dúvida da presença real de Jesus na Eucaristia. No momento da fração da hóstia, viu em suas mãos um pedacinho de carne, de onde caia gotas de sangue no corporal.

Instituição da Festa – Em 1264, com a bula "Transiturus", o Papa Urbano IV prescreveu essa solenidade para toda a Igreja. Era uma época em que a cristandade estava sendo profundamente agitada por uma polêmica que questionava a presença real de Cristo na Eucaristia. Desde então, a data foi marcada por concentrações, procissões e outras práticas religiosas, de acordo com o modo de ser e de viver de cada localidade.


Procissão – A procissão lembra a caminhada do povo de Deus, que é peregrino, em busca da Terra Prometida. No Antigo Testamento, esse povo foi alimentado com o maná, no deserto. Hoje, ele é alimentado com o próprio Corpo de Cristo. Os enfeites trazidos com ramos de árvores e flores, os vários altares colocados ao longo do percurso começaram a aparecer em algumas partes da Alemanha. Contudo, foi no período barroco que a procissão ganhou os ares de um cortejo triunfal e pomposo. Nesta época, verdadeiros carros alegóricos com personagens do Antigo e do Novo Testamento, relacionando-os ao mistério da Eucaristia, já se faziam presentes. Depois, estes motivos passaram aos tapetes que cobriam a rua por onde Jesus Eucarístico deveria passar.

sábado, 14 de maio de 2016

O Início da Igreja


Este domingo é uma grande festa missionária. Marca a transformação da Igreja de uma seita judaica para uma comunidade universal, missionária, comprometida com a construção do Reino de Deus "até os confins da Terra". A liturgia deste final de semana nos apresenta a descida do Espírito Santo sobre a comunidade dos discípulos, em duas tradições: a de Lucas (Atos 2,1-11) e a de João (João 20, 19-23).

Diferença – Uma leitura fundamentalista da Bíblia leva a gente a um beco sem saída, pois, em João, a Ressurreição, a Ascensão e a descida do Espírito se deram no mesmo dia (domingo de Páscoa, dia 9 de abril do ano 30), enquanto Lucas descreve a ascensão e a descida do Espírito cinquenta dias depois. Assim, devemos ler os textos dentro dos interesses teológicos dos dois autores: os 50 dias de Lucas, por exemplo, entre a Ressurreição e a Ascensão, correspondem aos 40 dias da preparação de Jesus no deserto, para a sua missão. Da mesma maneira que Jesus ficou "repleto do Espírito Santo" e se lançou na sua missão "com a força do Espírito", a comunidade cristã se preparou durante um período semelhante e, na festa judaica de Pentecostes, também experimentou que "todos ficaram repletos do Espírito Santo".

Atos – “Atos dos Apóstolos” descreve o dia de Pentecostes, quando os discípulos estavam reunidos e veio do céu um barulho, como se fosse uma forte ventania, que encheu a casa onde eles se encontravam. Então apareceram línguas como de fogo, que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios de Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava.

Catequese – Não podemos tomar o texto de Lucas (Atos) como uma reportagem jornalística de acontecimentos históricos. O texto que descreve os acontecimentos do dia do Pentecostes é uma construção, com uma evidente intenção teológica. Para apresentar a sua catequese, Lucas recorre às imagens, aos símbolos, à linguagem poética das metáforas. Precisamos entender estes símbolos, para chegarmos à interpelação essencial que a catequese primitiva quis transmitir.

Símbolos – Nos primeiros versículos, o ambiente é o de uma casa, onde os discípulos se reuniram. Lembra que estavam reunidos três grupos distintos: os Onze, as mulheres (entre as quais Maria, a mãe de Jesus) e os irmãos do Senhor. A expressão externa da descida do Espírito é o "falar em outras línguas" (não o "falar em línguas" – glossolalia – tão valorizado por muitos grupos de cunho neopentecostal).

Ouvir e compreender – No meio do texto o ambiente muda: da casa para um lugar público, provavelmente o pátio do Templo. O sinal visível da presença do Espírito não é mais o falar em outras línguas, mas o fato de que todos os presentes – destacado por três vezes – pudessem "ouvir os discípulos falarem, na sua própria língua". O termo "ouvir" implica também "compreender". Lucas quer enfatizar que o dom do Espírito Santo tem um objetivo missionário e profético. O texto é uma releitura da Torre de Babel, em que a língua única era o instrumento de um projeto de dominação (uma torre até o céu), que foi destruído por Deus, pela diversidade de línguas.

Missão – O Pentecostes de “Atos” é uma página programática da Igreja e anuncia aquilo que será o resultado da ação das “testemunhas” de Jesus: a humanidade nova, a anti-Babel, nascida da ação do Espírito, onde todos serão capazes de comunicar e de se relacionar como irmãos, porque o Espírito reside no coração de todos como lei suprema, como fonte de amor e de liberdade.

Evangelho – O Evangelho de João descreve o anoitecer, o primeiro da semana. É um quadro que reproduz a situação de uma comunidade desamparada no meio de um ambiente hostil e, portanto, desorientada e insegura. É uma comunidade que perdeu as suas referências e a sua identidade e que não sabe, agora, a que se agarrar. Quando estavam reunidos com as portas fechadas, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: "A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio. Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos".

Evangelho de João – Em João é o próprio Jesus que aparece aos Apóstolos e doa o Espírito Santo. O evangelista quer destacar que os discípulos, fazendo a experiência do encontro com Jesus ressuscitado, redescobriram o seu centro, o seu ponto de referência, à volta do qual a comunidade se constrói e toma consciência da sua identidade. A comunidade cristã só existe consistentemente se está centrada em Jesus ressuscitado. Duas vezes o Cristo proclama o seu desejo para os seus discípulos: "A paz esteja com vocês". Na verdade, Jesus usou o termo hebraico “Shalom!” que tem um significado bem mais amplo que a palavra paz. O "Shalom" é a paz que vem da presença de Deus, da justiça do Reino. Envia os seus discípulos na missão árdua em favor do Reino e promete o “shalom”, pois Ele nunca abandonará aquele que procura viver, na fidelidade, o projeto de Deus.


Reino – Que a celebração de Pentecostes nos anime a buscar um mundo onde o Shalom realmente possa reinar; não a paz falsa da opressão e injustiça, mas, do Reino de Deus, fruto de justiça, solidariedade e fraternidade. Jesus nos deu o Espírito Santo – agora depende de nós usarmos essa força que temos, na construção do mundo que Deus quer.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Ascensão de Jesus



O Evangelho das missas deste domingo descreve as últimas instruções de Jesus aos Apóstolos e a sua ascensão.

Aparição – Acontece durante a aparição de Jesus aos apóstolos, no domingo seguinte à Paixão. Ele se dirige aos apóstolos, dizendo que o Messias tinha de sofrer e ressuscitar e que, em nome dele, a mensagem sobre o arrependimento e o perdão dos pecados seria anunciada a todas as nações, começando em Jerusalém. Pede que eles fiquem em Jerusalém, que ele vai mandar o que o Pai prometeu. Em seguida, levou os apóstolos para fora da cidade, até o povoado de Betânia. Ali levantou as mãos e os abençoou. Enquanto os estava abençoando, Jesus se afastou deles e foi levado para o céu. Eles o adoraram e voltaram para Jerusalém cheios de alegria. E passavam o tempo todo no pátio do Templo, louvando a Deus.

Os textos de Lucas – O Evangelho de Lucas e o Livro de Atos dos Apóstolos formavam, possivelmente, uma única obra. Posteriormente as narrativas de Lucas sobre a vida e o ministério de Jesus foram separadas, formando, com Marcos, Mateus e João, o conjunto dos Evangelhos. A parte sobre as narrativas das primeiras missões formaram o Livro de Atos. Estes dois textos, que apresentam semelhanças e divergências entre si, estão presentes nas leituras deste domingo: o início de Atos, na primeira leitura e a conclusão do Evangelho de Lucas.

Jerusalém – Na conclusão do Evangelho, após a memória da paixão e ressurreição, redigida em forma de querigma paulino, Jesus orienta os discípulos para a missão: o anúncio da conversão à justiça para o perdão dos pecados. Este é o mesmo anúncio de João Batista. Enquanto nos Evangelhos de Marcos, Mateus e João, Jesus e os discípulos retornam para a Galiléia, Lucas, no seu Evangelho, narra como se tivessem permanecido em Jerusalém: "voltaram para Jerusalém e estavam sempre no Templo".

Espírito Santo – Esta interpretação corresponde à teologia de Lucas, que apresenta o movimento de Jesus como a continuidade das doze tribos de Israel, e sua missão partindo de Jerusalém, capital do Judaísmo de seu tempo. Neste mesmo sentido, no Evangelho de João, enquanto Jesus comunica o Espírito Santo, soprando sobre os discípulos no dia da ressurreição, Lucas, em Atos, apresenta a vinda do Espírito, cinquenta dias após a ressurreição, com uma teofania na festa judaica de Pentecostes.

Missão – Os discípulos, que fizeram a experiência do encontro pessoal com Jesus ressuscitado, são agora convocados para a missão: Jesus os envia, como testemunhas, a pregar a conversão e o perdão dos pecados. Para essa enorme tarefa, os discípulos contam com a ajuda e a assistência do Espírito. A partir de Jerusalém, esta proposta deve ser anunciada a todas as nações.


Ascensão – Lucas descreve que a ascensão acontece em Betânia. Fica claro a semelhança com a subida do profeta Elias. Há duas indicações de Lucas, que importa realçar. A primeira é a bênção que Jesus dá aos discípulos antes de ir para junto do Pai: essa bênção sugere um dom que vem de Deus e que afeta positivamente toda a vida e toda a ação dos discípulos, capacitados para a missão pela força de Deus. A segunda é a alegria dos discípulos: a alegria é o grande sinal messiânico e escatológico; indica que o mundo novo já começou, pois o projeto salvador e libertador de Deus está em marcha.