domingo, 31 de dezembro de 2000

Jesus no Templo com os Doutores

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 31/12/2000


O Evangelho das missas deste domingo (31/12) descreve a viagem da Sagrada Família a Jerusalém por ocasião da Páscoa. Terminadas as festividades, Jesus permanece no Templo com os Doutores da Lei. Vamos detalhar este episódio.

Tradição da Páscoa – Por ocasião da Páscoa, a principal festa do povo de Deus, milhares de peregrinos acorriam para a capital, Jerusalém. No ano em que Jesus completava 12 anos, Ele, com José e Maria, foram fazer a peregrinação anual ao templo de Jerusalém. A Sagrada Família partiu de Nazaré, onde moravam, e subiram até Jerusalém, numa viagem de 150 km, percorridos em 3 ou 4 dias. Por segurança, os romeiros viajavam em grandes caravanas, junto com os parentes. Supõe-se que os peregrinos de Nazaré acampavam num jardim chamado Getsêmani, no pé do Monte das Oliveiras.

A época – Era o ano 6 de nossa era. O rei Arquelau (filho de Herodes) já havia sido deposto, sendo a Judéia governada pelo procurador romano Coponius. Nesta época, Jesus, com 12 anos, já era considerado adulto, com maturidade religiosa no judaismo (Filho da Lei ou Bar-mizwah), membro do povo de Israel, passando a fazer leituras nas sinagogas. Falava o aramaico (no dia-a-dia) e o hebraico (idioma culto e religioso da época). Algumas perícopes dos Evangelhos dão a entender que Jesus soubesse a língua grega.

No fim da festa – Terminada a Páscoa, os romeiros se reuniam, formando as caravanas e voltavam para casa. Os homens formavam um grupo separado das mulheres. Os filhos podiam ir com o pai, ou com a mãe, ou com os parentes. Conforme a tradição, o local de encontro das caravanas era em El-Birê, 16 km ao norte de Jerusalém, de onde as caravanas partiam, cada uma para sua cidade.

Jesus fica em Jerusalém – José imaginava que Jesus estivesse com Maria e esta, por sua vez, pensava que o menino estivesse na caravana dos homens. Perceberam que Ele não estava na caravana no fim do primeiro dia de viagem. Já estavam a cerca de 15 km de Jerusalém. Voltaram para lá e depois de 3 dias de buscas, encontraram Jesus no Templo.

Jesus no Templo – José e Maria encontraram Jesus no meio dos mestres, ouvindo-os e interrogando-os. Os mestres da lei eram profundos conhecedores da Lei Judaica (os 5 primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), que ensinavam nos átrios do templo, como Jesus o faria em sua vida pública. O ensinamento dos mestres era em forma de diálogo.

Diálogo com os mestres – Pela descrição do Evangelho de Lucas, parece que estava ocorrendo uma aula, com todos os mestres e Jesus sentados em círculo, como era a tradição. A admiração dos mestres estava em Jesus não saber os trechos da Sagrada Escritura (Antigo Testamento) de maneira decorada, como era normal, mas discutia com conhecimento.

"Meu filho, por que agiste assim conosco?" – Maria deve ter dito esta frase mais em tom de alívio do que de repreensão. Depois de tão profunda aflição e tão grande susto, Maria, mãe amorosa que era, deve ter sentido uma grande alegria e alívio ao reencontrar Jesus.

"Não sabíeis que eu devo estar na casa do meu Pai?" – A tradução ao pé da letra (do grego) desta frase de Jesus é: " ... que eu devia estar ocupado com os negócios de meu Pai?". É a primeira palavra de Jesus citada nos Evangelhos; notar que, como na última frase de Jesus, ele se refere ao Pai.

Jesus crescia em idade, em sabedoria e em graça diante de Deus – Jesus se preparava para sua missão. Vinte anos depois (ano 27 d.C.), iniciava sua vida pública, fazendo com que ele superasse os laços familiares. Deixou sua cidade de origem (Nazaré) e elegeu a cidade de Carfanaum como centro de seu apostolado. A casa de Pedro (em Carfanaum) se tornaria o novo ponto de referência e os 12 apóstolos a sua nova família.

sábado, 23 de dezembro de 2000

Glória a Deus no mais alto dos céus e sobre a Terra paz para os seus bem-amados!

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade, 23/12/2000

A voz dos anjos em Belém ainda ecoa no ar até nossos ouvidos! É o anúncio a pleno pulmões, do mistério sublime da encarnação da segunda Pessoa da Santíssima Trindade, que insere de maneira indissolúvel no coração de Deus, por toda a eternidade, a nossa natureza humana. É o mistério que vai muito além da nossa razão e imaginação: Deus em sua segunda Pessoa, não será jamais separado da natureza humana em Jesus!

Quão grande é o amor de Deus por nós! O seu amor nos envolveu de tal modo, que inspirou a Trindade Santíssima a enviar o Filho de Deus feito homem, para que nossa breve caminhada terrestre fosse iluminada pela Luz que não se apaga e para que, o absurdo da morte se transformasse em simples passagem para a vida mais plena e eterna!

Nesta véspera de Natal, quando nos preocupamos tanto com a perfeição da decoração, com os detalhes dos presentes e a gostosura das comidas, lembremo-nos antes daquilo que é o principal e de quem é o Aniversariante...

Lembremo-nos, primeiro, de dar graças a Deus, louvando e agradecendo o seu infinito amor por nós. Lembremo-nos que Ele, desde toda a eternidade, pensou em cada um de nós em particular e nos chamou à vida...

Lembremo-nos de que o Natal é a festa que celebra o nascimento do Nosso Salvador, Jesus Cristo e que, por Ele é que nos reunimos e com Ele deve ser nossa comemoração.

Por essas razões, neste sábado propomos a cada leitor que, ao reunir seus familiares, antes da troca de presentes e da ceia natalina, faça primeiro a sua oração a Deus.

Para aqueles que tem dificuldade de fazer uma prece espontânea, propomos uma pequena celebração, para ser feita em grupo:

Animador: O Natal tem para nós, cristãos, um gosto e um sabor todo especial: lembra-nos algo maravilhoso, quando o próprio Deus se fez fisicamente presente no meio de suas criaturas. Hoje, estamos reunidos para revivermos este alegre momento. Iniciemos a nossa celebração em nome do Pai, que nos enviou seu Filho, em nome de Cristo que veio até nós e do Espírito Santo que santifica o nosso lar. Glorifiquemos a Deus.

Todos: Glória a Deus nas alturas, glória a Jesus nosso Salvador.

Animador: Jesus está entre nós! Peçamos as bênçãos de Deus sobre nossos lares, pois a maior benção que a raça humana já recebeu de Deus, veio de um lugar pobre e humilde: o presépio!

Leitor 1: O lugar em que Jesus nasceu não era o mais digno ou o mais adequado para o nascimento de um Rei, o Filho de Deus. Mas, esse local pode perfeitamente significar o Coração humano, tão cheio de impurezas, tão levado por atos irracionais, pela falta de perdão, pela ausência do Amor, pela infidelidade, pela malícia, pelo orgulho, pelo egoísmo e por tantas vaidades... Quantos corações não são indignos de Deus se instalar neles ?

Leitor 2: Por isso que, Jesus no presépio, com sua mensagem de amor a todos os homens, é um sinal de esperança! E o maravilhoso é que, em vez do local contaminá-Lo, Ele é que o santificou, fazendo deste presépio um símbolo de pureza, de simplicidade e de humildade!

Leitor 3: Esta é a razão da nossa esperança: mesmo que os nossos corações não sejam totalmente dignos de acolher Jesus, Ele não se importa, como não se importou em nascer num simples presépio. Basta que a gente O acolha, que Ele virá, se instalará e nos purificará com sua misericórdia, resgatando nossa dignidade de filhos de Deus.

Todos: Senhor, que neste Natal, cada coração manchado pelo pecado seja transformado num presépio santificado por Jesus!

Animador: No Natal, Jesus retorna criança para nos dizer que Deus não está longe. O anjos ainda cantam: Paz aos homens que Ele ama.

Todos: Lhe pedimos, Senhor, que seja arrancado o ódio de todos os corações e que seja injetado neles, o amor. Que nenhuma nação se lembre mais do que é a guerra.

Leitor 1: É Natal! O Verbo fez-se homem e acendeu o amor na Terra. Gostaríamos que esse dia jamais findasse!

Todos: Senhor, ensina-nos a perpetuar a Sua presença entre os homens. Que o Seu Amor aceso na Terra arda em nossos corações e nos amemos, como é da Sua Vontade.

Leitor 2: Ajuda-nos, Pai, pois se nos amarmos, então estarás entre nós e todo dia poderá ser Natal.

Todos: Senhor, neste Natal nós Lhe confiamos, sobretudo, os que não possuem uma crença e Lhe pedimos que um raio da Sua Luz penetre em seus corações, para que eles possam experimentar ao menos por algum momento, quão grande é a alegria de quem O conhece e O ama.

Animador: Que por nós renasçam as esperanças, se fortaleçam as relações humanas fraternas e se renovem as pessoas e a sociedade, amém!
Todos: Pai Nosso...

Você sabia que ...

... a primeira descrição do nascimento de Cristo num presépio foi de Justino (mártir, filósofo e teólogo que viveu entre os anos 100 e 165) e de Orígenes (teólogo que viveu entre 185 e 254)? Elas se encontram nos livros ‘Diálogo com Trifon’ (Justino) e ‘Contra Celsum’ (Orígenes). Se você quer mais detalhes sobre o assunto, os textos poderão ser recebidos gratuitamente pelo E-mail abaixo.

sábado, 16 de dezembro de 2000

Como aconteceu o nascimento de Jesus

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 16/12/2000

Seguindo a descrição do capítulo 2 (versículos de 1 a 7) do Evangelho de Lucas, vamos detalhar os fatos que aconteceram no nascimento de Jesus.

"Ora, naquele tempo, foi publicado um edito de César Augusto, mandando recensear o mundo inteiro. Esse primeiro recenseamento teve lugar na época em que Quirino era governador da Síria."

Ao que parece, o evangelista teve a intenção de localizar o nascimento de Jesus no tempo, sem qualquer precisão cronológica. Os únicos registros históricos sobre um recenseamento na Palestina indicam o ano de 6 d.C., exatamente por ocasião da mudança do reino (de Arquelau) para a administração direta de Roma. Para este recenseamento foi convocado o funcionário romano Publius Sulpicius Quirinus, que foi governador da Síria entre 6 e 8 d.C. Portanto, existe uma lacuna de mais de 10 anos entre o nascimento de Jesus e o recenseamento. Sabemos que o nascimento de Cristo se deu quando Herodes Magno era o rei da Judéia e que este morreu dias depois de um eclipse lunar (12 de março de 4 a.C.), cerca de 10 dias antes da Páscoa (11 de abril de 4 a.C.), conforme o historiador Flavius Josephus.

"Todos iam se fazer recensear, cada qual em sua própria cidade; José também subiu da cidade de Nazaré, na Galiléia, à cidade de David, que se chama Belém, na Judéia, porque era da família e da descendência de Davi, para se fazer recensear com Maria, sua esposa, que estava grávida."

O evangelista também nos informa que o edito do imperador Otávio obrigava todos a se recensear em sua própria cidade, fazendo com que José e Maria, descendentes de Davi, viajassem de Nazaré para Belém (150 km em 4 dias de viagem). Historicamente é bastante estranho esta obrigatoriedade, pois o recenseamento era uma atualização de cadastro para pagamento de impostos para o império (taxa de pessoa física e impostos sobre propriedades). Visto que José não morava na Judéia, nem tinha propriedades ou parentes em Belém (foi obrigado a ficar numa hospedaria), não havia razão para o credenciamento. Também não têm respaldo na História os fatos de José (um cidadão de Nazaré, na Galiléia, reino governado por Antipas) ser convocado para um cadastro na Judéia (província governada diretamente por Roma) e a obrigatoriedade da presença de Maria. Existem documentos do império que mostram que um morador podia declarar os bens de seus dependentes. Quanto à citação de Lucas de que Belém é a cidade de Davi, existem algumas controvérsias: como sabemos, a cidade de Davi é Jerusalém (e não Belém); talvez Lucas tenha feito um interpretação própria de Mq 5,1, atribuindo o título a Belém.

"Ora, enquanto lá estavam, chegou o dia em que ela devia dar à luz; ela deu à luz seu filho primogênito..."

Primogênito era uma expressão jurídica e sagrada da lei judaica (veja em Ex 13,2 e Nm, 3,11). Mesmo que a família tivesse um único filho, esse receberia o ‘título jurídico’ de primogênito, que obrigava os pais a consagrá-lo a Deus.


"... envolveu-o em faixas e o deitou em uma manjedoura, porque não havia lugar para eles na sala dos hóspedes."

José e Maria estavam num abrigo para caravanas (caravançarai): se tratava de um grande abrigo para hospedagem gratuita de caravanas, normalmente formado de quatro pavilhões em volta de um pátio. Como não havia lugar na sala principal (a cidade deveria estar repleta de viajantes por causa do recenseamento), Maria deve ter levado o Menino para o pátio onde ficavam os animais. É importante lembrar que Lucas não descreve uma hospedaria, mas apenas uma sala; o termo (em grego) usado pelo evangelista é o mesmo usado para designar a sala da última ceia.

Portanto, não existe qualquer descrição de nascimento em uma gruta, com bois e carneiros ao redor. Esta tradição surgiu alguns séculos depois com Justino e Orígenes.


Você sabia que ...

... a primeira descrição do nascimento de Cristo num presépio foi de Justino (mártir, filósofo e teólogo que viveu entre os anos 100 e 165) e de Orígenes (teólogo que viveu entre 185 e 254)? Elas se encontram nos livros ‘Diálogo com Trifon’ (Justino) e ‘Contra Celsum’ (Orígenes). Se você quer mais detalhes sobre o assunto, os textos poderão ser recebidos gratuitamente pelo E-mail abaixo.

sábado, 9 de dezembro de 2000

Situação política na época do nascimento de Jesus

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 09/12/2000


Como vimos na semana passada, São Paulo, na carta aos Gálatas (4,4), refere-se à plenitude dos tempos para descrever a época em que Cristo veio. Vamos hoje enfocar aspectos históricos sobre a época descrita, conhecendo um pouco mais sobre a situação política em que vivia o povo judeu.

Jesus nasceu e viveu na região da Palestina (hoje Israel). Na época em que ele nasceu, a Palestina era dominada pelo Império Romano (desde o ano 31 a.C.), cujo imperador era Otávio Augusto. Desde 37 a.C. a região formava um "reino cliente", com alguma independência de Roma, sendo administrado pelo rei Herodes Magno ("O Grande"). Portanto, na época do nascimento de Jesus, mais da metade do mundo conhecido era dominada pelo Império Romano (toda a região do Mar Mediterrâneo, a Palestina, norte da África e Egito), sendo a Palestina um reino parcialmente independente, cedido pelo imperador romano a Herodes. Nesta região viviam os judeus, um povo com língua (hebraico ou aramaico), religião e costumes próprios.

Herodes (Magno) era um Idumeu (povo que havia invadido a Palestina e assumido a religião judaica, porém excluído pelos judeus), casado com Mariana (judia), com a qual teve 2 filhos (Alexandre e Aristóbulo), além de outros filhos de casamentos anteriores.

Administrativamente Herodes era um político hábil: trouxe paz para a região, reconstruiu Jerusalém (com obras pagãs como teatros e anfiteatros, inaceitáveis para os judeus), instituiu os jogos atléticos em homenagem ao imperador (os jovens competiam nus) e reconstruiu o templo dos judeus com o dobro do tamanho.

Era, porém, obcecado pelo poder. Para mantê-lo, tornou-se um tirano e criminoso: mandou matar dois cunhados, 45 aristocratas, os dois filhos que teve com Mariana (depois de deixá-los presos por um ano), mandou afogar seu cunhado no rio Jordão, mandou matar a sogra, mandou queimar vivo dois sábios; cinco dias antes de morrer (aos 70 anos) mandou matar seu filho Antipater. Também é atribuído a Herodes a morte de sua mulher Mariana.

Em 36 anos de reinado, não se passou um só dia sem execução de inocentes. Enciumado com o nascimento de Jesus (Mt 2,1-12), mandou matar todos os meninos com menos de 2 anos nascidos em Belém.

Herodes morreu entre março ou abril do ano -4 (aproximadamente dois anos após o nascimento de Jesus), sendo seu reino dividido entre seus filhos: Herodes Antipas, que ficou com a Galiléia e Peréia (norte); Herodes Filipe, que ficou com as 5 províncias ao leste do rio Jordão; Herodes Arquelau, ficou com a Judéia e Samaria (ao sul). Arquelau se mostrou mais tirano que o pai. Nos primeiros dias de sua posse matou muitos judeus. Num só dia foram mortas 3.000 pessoas.

O Evangelho de Mateus deixa bem claro a situação de opressão do povo (Mt 2,16-23) por ocasião do nascimento do Messias: José, Maria e Jesus se refugiaram no Egito com medo de Herodes e, depois da morte deste, retornaram para a Galiléia, com medo de Arquelau (que reinava na Judéia e Samaria, apenas).

Em razão de inúmeros protestos dos judeus, em 6 d.C. Arquelau foi destituído do cargo pelo Imperador Otávio, passando a Judéia a ter administração direta de Roma, através de procuradores. Trinta anos depois, Poncius Pilatus se tornaria o mais famoso dos procuradores.

Herodes Antipas, muito ambicioso, casou-se com a filha do rei da Arábia, ao mesmo tempo que conquistava a estima e confiança do imperador romano. Numa viagem a Roma, hospedou-se na casa do irmão, Herodes Filipe, apaixonando-se por Herodíades, mulher do irmão. Algum tempo depois, Herodíades foi morar na Palestina com Herodes Antipas e levou junto a sua filha Salomé. A situação de adultério foi denunciada por João Batista, que foi decapitado por vingança de Herodíades.

Como se vê, a plenitude dos tempos, ocasião escolhida por Deus para o nascimento de seu Filho, foi uma época sombria da história de judeus e pagãos. O que nos leva a refletir sobre uma frase de São Tomás de Aquino: "Deus não ama o homem porque o homem seja bom, mas o homem é bom porque Deus o ama".

Você sabia que ...

... hoje a população de Belém é de 19 mil habitantes, mas na época do nascimento de Cristo era estimada em 3 mil pessoas. Considerando-se uma taxa de natalidade de 40 nascimentos por ano (metade de meninos) e um terço de mortalidade infantil, podemos calcular que Herodes tenha assassinado por volta de 80 crianças com até 2 anos de idade.

sábado, 2 de dezembro de 2000

"Na plenitude dos tempos Deus enviou seu Filho à Terra" (Gl 4,4)

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 02/12/2000


Dentro do Ano Litúrgico, estamos no tempo do Advento (vinda, chegada), que é o período de quatro semanas que antecedem o Natal, em que a Igreja Católica faz a preparação espiritual para a celebração do nascimento de Cristo. Esta coluna também dedicará as próximas semanas para a festa do Natal.

"Na plenitude dos tempos Deus enviou seu Filho à Terra" (Gl 4,4)

O Advento chegou! Começamos a partir de agora, com maior intensidade, a nos prepararmos para o nascimento de Jesus, o Filho de Deus, Aquele que na plenitude dos tempos nos foi enviado pelo Pai para a nossa salvação.

"Plenitude dos tempos" é uma expressão que surgiu a partir do uso do relógio de água ou de areia: um cilindro cheio de água ou de areia deixava pingar regularmente, por um pequeno orifício, o seu conteúdo dentro de outro cilindro vazio. Quando este ficava cheio, dizia-se que o tempo estava preenchido ou que havia chegado a plenitude do tempo. São Paulo lança mão da mesma expressão para designar o tempo preparado pela Providência Divina para a vinda do Salvador do mundo.

A expressão, contudo, não quer significar que havia chegado o tempo em que a humanidade estava a tal ponto aperfeiçoada e em ótimas condições éticas para receber o Messias. Muito pelo contrário.

As cartas Paulinas e o próprio Evangelho, em diversas passagens, demonstram como era triste o cenário pelo qual passava a humanidade: o mundo greco-romano estava voltado à idolatria, entregue a todo tipo de perversão moral (Veja Rm 1, 23-27); o povo judeu, por outro lado, não era idólatra, mas se engrandecia frente aos pagãos, julgando-se "condutor de cegos", quando ele mesmo estava sujeito a graves faltas (cf. Rom 2, 17-24). Além disso, dividia-se em vários partidos: fariseus, saduceus, herodianos, zelotes, sicários... Enfim, a humanidade encontrava-se em baixo nível moral e filosófico, presa a erros doutrinários, ecleticismo, ceticismo e vícios morais.

E foi exatamente tal época que o Senhor Deus quis escolher para enviar seu Filho ao mundo: não para ser o "verniz" de uma humanidade bem estruturada e auto-satisfeita, mas para preencher o vazio dos homens, cansados de procurar uma resposta para os seus anseios. Jesus Cristo veio para responder aos anseios mais profundos do ser humano, desejoso de Verdade, Amor, Felicidade, Vida.

Dezembro nos faz reviver a celebração do Natal e esse tempo de espera deve nos impulsionar a procurar o significado mais profundo de todo aquele aparato visível que cerca a celebração do nascimento do Menino Jesus: os presentes, a árvore, o presépio...

Celebrar o Natal é muito mais do que folclore: é um evento fundamental da história da humanidade, no qual celebramos o Amor que primeiro nos amou (1Jo 4, 19) e que nos criou para fazer-nos companheiros da Sua vida bem-aventurada. No Natal celebramos o mesmo Amor que, recriando-nos pelo mistério da Encarnação, santificou a nossa existência cotidiana fazendo da morte a passagem para a VIDA.

Talvez seja muito difícil ou quase impossível para nós, hoje, avaliarmos todo o alcance da mensagem trazida por Jesus. Talvez até, depois de vinte séculos, ela possa ter ficado empalidecida...

Contudo, o tempo do Advento é o momento oportuno para tomar nova consciência do seu imenso valor, que ultrapassa qualquer expectativa humana, por mais ousada que seja.

Advento é tempo de preparação para renascer espiritualmente no Natal, recomeçando com mais maturidade a nossa vida na fé e aproveitando mais uma preciosa oportunidade oferecida pela graça de Deus.

Advento é tempo de refletir que somos caminheiros, chamados por Alguém (que não falha) para a Vida e a Vida plena.

Seja Maria Santíssima nosso modelo de esperança, de serviço, de entrega total a Deus: "Faça-se em mim, segundo a Vossa Vontade".

Sejamos como uma semente que vai desabrochando aos poucos, até atingir a sua grande estatura. Aproveitemos o tempo de preparação, pois o Senhor vem!

sábado, 25 de novembro de 2000

Como era o rosto de Cristo ?

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 25/11/2000


Vimos nas semanas anteriores que Jesus Cristo viveu na Palestina entre os anos – 6 (ou –7 antes de nossa era) e abril do ano 30. Não apenas existem registros bíblicos, mas também históricos sobre sua vida na terra. Uma questão, porém, pode residir na cabeça dos cristãos: qual teria sido a aparência de Jesus?

A imagem mais comum de Jesus, é aquela representada nas obras de arte, ou seja, um homem moreno, alto, magro, de longos cabelos castanhos, olhos claros, barba (às vezes longa, etc.). O Santo Sudário confirma as mesmas características. Os Evangelhos não fazem qualquer referência ao biótipo de Jesus e, historicamente, também não existem documentos que descrevam a figura de Jesus.

Vamos citar um texto datado do século V, conhecido como Carta a Lêntulo, em que o autor quer passar por testemunha ocular, descrevendo assim a figura humana de Jesus:



"Apareceu nestes tempos, e ainda existe, um homem (se é lícito considerá-lo homem) de grande virtude, chamado Jesus Cristo. É tido pelos povos como profeta da verdade; os seus discípulos chamam-no Filho de Deus; ressuscita mortos e cura todas as doenças. É homem de estatura elevada, moderado e respeitável. Tem semblante venerável, cabelos cor de avelã não plenamente madura, quase lisos até os ouvidos, crespos dos ouvidos para baixo, um tanto brilhantes, caindo sobre os ombros. A cabeleira se reparte ao meio de sua cabeça, como é de costume entre os Nazarenos. A sua testa é lisa e muito serena, as faces sem ruga. Nenhuma falha traz no nariz e na boca. Tem barba densa, da cor dos cabelos, não longa, levemente bifurcada na altura do queixo. Seu olhar é simples e maduro; os olhos são claros e esverdeados. Quando repreende, é terrível; quando admoesta, é manso e amável; é alegre, ao mesmo tempo sério. Chorou algumas vezes, mas nunca riu. Tem estatura bem erecta, as mãos e os braços bem configurados. É ponderado ao falar, sóbrio, modesto, de tal modo que o Profeta bem pôde dizer: ‘É o mais belo dos filhos dos homens’".



Existe também um trecho do livro "A História Eclesiástica" (escrito por Eusébius, que viveu entre 260 e 340, foi bispo de Cesaréia) que descreve o discípulo Tiago, irmão (primo) de Jesus. Cabe lembrar que Inácio (bispo da Antioquia na Síria) diz que "Tiago é muito parecido com Jesus, como se fosse um irmão gêmeo". Vamos portanto, ver a descrição que Eusébius faz de Tiago, para podermos ter uma visão difusa da aparência de Jesus:



"... ele não bebia vinho nem qualquer comida animal; nunca se barbeou, nem se ungiu com óleo nem tomava banho. Só lhe foi permitido entrar no Lugar Santo do Templo, porque seu vestuário não era de lã, mas de linho [isto é, batas sacerdotais]. Ele entrava no Santuário só, e sempre se encontrava de joelhos pedindo perdão pelas pessoas, a ponto que seus joelhos ficaram calejados como os de camelos. Por causa de seu comportamento correto, ele foi chamado de ‘Integro’ ..." (A História da Eclesiástica, livro II, XVIII, 4).

sábado, 18 de novembro de 2000

A Unidade dos Cristãos

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 18/11/2000


A leitura da carta de Pantanaeus (150 d.C.), conhecida como "Epístola para Diognetus", publicada no artigo anterior (14/11; se você não leu, solicite pelo E-mail), nos trouxe uma bela descrição sobre como vivam os primeiros cristãos. Trouxe-nos, também, uma grande reflexão ao confrontar aquela realidade vivida com tanto amor e partilha, com a que vivemos hoje, especialmente no que se refere à Igreja fundada por Cristo Jesus.

Infelizmente, hoje ela encontra-se dividida, partida em tantos pedaços...

Será essa a vontade do seu Divino Fundador?

São Paulo, dirigindo-se aos cristãos de Éfeso, assim escreveu: Mantenham entre vocês laços de paz, para conservar a unidade do Espírito. Há um só corpo e um só Espírito, assim como a vocação de vocês os chamou a uma só esperança: há um só Senhor, uma só fé, um só batismo. Há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, que age por meio de todos e está presente em todos. (Ef. 4, 3-6)

Foi por isso que o Concílio Vaticano II preocupou-se do começo ao fim, com a unidade das Igrejas. Nele, a renovação interna da Igreja foi um esforço para, no dizer do Papa João XXIII, "limpar a casa", a fim de que os irmãos separados, quando quisessem voltar para a Igreja, encontrassem a "casa limpa" e não os mesmos defeitos que um dia motivaram a sua saída.

Isso não quer dizer que uma parte quer convencer a outra, mas trata-se, fundamentalmente, de todos se deixarem converter pelo Espírito de Deus: "Se dizemos que não temos pecado, enganamos a nós mesmos, e a Verdade não está em nós" (1Jo, 1, 8). Por isso diz o Concílio: "Pedimos humildemente perdão a Deus e aos irmãos separados, assim como nós perdoamos aos que nos têm ofendido"(UR7)

È de se lamentar que, em nome de Deus, os homens estejam divididos e até se agredindo, pois isso dificulta a salvação daqueles que se dizem estar com Deus. Na verdade, isso é um verdadeiro escândalo para todos os que estão fora de qualquer igreja.

E Cristo não quer essa divisão, apesar de tê-la previsto: "Pai Santo, guarda-os em teu nome, o nome que tu me deste, para que eles sejam um, assim como nós somos um. ... Eu não te peço só por estes, mas também por aqueles que vão acreditar em mim por causa da palavra deles, para que todos seja um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti. E para que também eles estejam em nós, a fim de que o mundo acredite que tu e enviaste. Eu mesmo dei a eles a glória que tu me deste, para que eles sejam um, como nós somos um. Eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade e para que o mundo reconheça que tu me enviaste e que os amaste, como amaste a mim". (Jo 17, 11.20-23)

Esta oração de Jesus, saída do seu coração, com certeza será atendida pelo Pai um dia. Quando será, nós não o sabemos, mas será ouvida. Porque a Igreja de Jesus não pode ficar despedaçada, dividida até o fim dos tempos: foi por ela que Ele derramou seu Sangue e não é essa a Sua vontade.

O que parece impossível aos homens não é impossível a Deus, e a nós, cristãos, cabe:

a) orar, para que a unidade se restabeleça: a oração sincera será capaz de mostrar a cada um dos cristãos a vergonha que é o escândalo da divisão e, com certeza, mostrará que deve haver renúncia nos pontos de vista errados, para abrir-nos aos impulsos da Graça.

b) praticar a caridade, pois "Se vocês tiverem amor uns para com os outros, todos reconhecerão que vocês são meus discípulos" (Jo 13, 35).

c) dialogar no plano da fé. Na oração e na caridade, guiados pelo Espírito Santo, conseguiremos chegar à reconciliação e à unidade.

E então "haverá um só rebanho e um só Pastor" (Jo 10,16).

Possamos, pois, estar preparados, para que o Senhor, quando vier, nos encontre com a luz da fé acesa e unidos no seu amor.

"Eis que venho em breve, e a minha recompensa está comigo, para dar a cada um conforme as suas obras. Eu sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o último, o começo e o fim. Felizes aqueles que lavam as suas vestes para terem direito à árvore da vida e poderem entrar na cidade pelas portas" (Ap 22, 12-14)

Você sabia que ...

... a grande divisão dos cristãos (cisma) ocorreu em 1517, com a publicação das 95 teses de Martinho Lutero, dando início ao protestantismo? O texto de Lutero pregava que a salvação seria conquistada apenas com fé (sem obras e sem a mediação da Igreja), atacava a autoridade do Papa, rejeitava o celibato sacerdotal e recomendava o estudo individual da Bíblia (interpretação livre). Se você quer receber as 95 teses de Lutero com comentários sobre o cisma, peça pelo E-mail abaixo.

sábado, 11 de novembro de 2000

Como viviam os cristãos

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 11/11/2000

No século II o cristianismo se expandia por todo mundo. Os cristão eram considerados pessoas diferentes, pois viviam em comunidade, desprezavam os bens e não tinham pátria. Assim, todos tinham grande curiosidade em saber como eles viviam.

Em uma carta datada do ano de 150 d.C. conhecida como "Epístola para Diognetus", provavelmente escrita por Pantanaeus (mestre de Clemente de Alexandria), o autor faz uma impressionante descrição do estilo de vida dos cristãos. O final da carta deve ter se perdido, pois a cópia que chegou até nossos dias termina abruptamente. Note que o autor louva a beleza da vida cristã, inserida neste mundo e compartilhando o que a sociedade tem de honesto, não perdendo de vista os valores definitivos. Será que os cristãos de hoje (após 850 anos) continuamos a viver no mesmo estilo das primeiras comunidades cristãs? Vejamos a carta:



"Meu caro Diognetus, desde que o conheço você se mostra ansioso para entender a religião dos cristãos. Eles confiam em Deus e o adoram, têm um desprezo pelos bens e menosprezam a morte, não acreditam nos deuses gregos nem na superstição dos judeus, e dão grande importância ao afeto entre eles.

Os cristãos não diferem dos demais homens pela terra, pela língua, ou pelos costumes. Não habitam cidades próprias, não se distinguem por idiomas estranhos, não levam vida extraordinária. Além disso, sua doutrina, não a encontraram em pensamento ou cogitação de homens desorientados. Também não patrocinam, como fazem alguns, dogmas humanos. Mas, habitando, conforme a sorte de cada um, cidades gregas e bárbaras, é acompanhando os usos locais em matéria de roupa, alimentação e costumes, que manifestam a admirável natureza de sua vida, a qual todos reputam extraordinária.

Habitam suas pátrias, mas como estrangeiros. Participam de tudo como cidadãos, mas tudo suportam corno estrangeiros. Qualquer terra estranha é pátria para eles; qualquer pátria, terra estranha. Casam-se e procriam, mas nunca lançam fora o que geraram. Têm a mesa em comum, não o leito. Existindo na carne, não vivem segundo a carne. Na terra vivem, participando da cidadania do céu. Obedecem às leis, mas as ultrapassam em sua vida. Amam a todos, sendo por todos perseguidos. Desconhecidos, são assim mesmo condenados. Mas quando entregues à morte, são vivificados. Na pobreza, enriquecem a muitos; desprovidos de tudo, sobram-lhes os bens. São desprezados, mas no meio das desonras sentem-se glorificados. Difamados, mas justos; ultrajados, mas benditos. Injuriados, prestam honra. Fazendo o bem, são punidos como malfeitores; castigados, rejubilam-se como revivificados. Os judeus hostilizam-nos como alienígenas, os gregos os perseguem, mas nenhum de seus inimigos pode dizer a causa de seu ódio.

Para resumir numa palavra, o que é a alma no corpo, são os cristãos no mundo: como por todos os membros do corpo está difundida a alma, assim os cristãos por todas as cidades do universo. Habita a alma no corpo, mas não procede do corpo; assim os cristãos habitam no mundo, mas não são do mundo. A alma invisível é enclausurada num corpo visível; os cristãos, conhecidos enquanto estão no mundo, têm uma religião que permanece invisível. A carne odeia a alma sem ter recebido injúria, mas apenas porque não a deixa gozar os prazeres; aos cristãos odeia o mundo sem ter sido injuriado por eles e só porque renunciam aos prazeres. A alma ama o corpo e os membros que a odeiam; também os cristãos amam os que os odeiam.

A alma está encerrada no corpo, mas é ela que o sustenta. Os cristãos, por sua vez, estão encerrados no mundo como num cárcere; mas são eles que o sustentam. A alma habita um tabernáculo mortal. Os cristãos peregrinam através de bens corruptíveis, na expectativa da celeste incorruptibilidade.

Maltratada quanto a alimentos e bebidas, a alma se aperfeiçoa; também os cristãos, afligidos por castigo, cada dia mais aumentam em número. Deus colocou-os num posto tal que não lhes é lícito desertar.

Não foi, como já disse, invenção terrestre o que se lhes transmitiu; nem julgam ter sob sua vigilante guarda uma concepção mortal. Não lhes foi confiada a dispensação de mistérios humanos.

Mas foi o próprio Deus invisível, verdadeiramente Senhor e Criador de tudo, que do alto dos céus colocou entre os homens a Verdade, o Logos santo e incompreensível, e o inseriu firmemente nos seus corações".

sábado, 4 de novembro de 2000

São Judas Tadeu

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 04/11/2000

Atendendo a alguns pedidos de leitores desta coluna, apresentaremos os dados bibliográficos de São Judas Tadeu, santo da Igreja Católica comemorado no dia 28 de outubro. As informações foram colhidas junto ao Santuário de São Judas Tadeu em São Paulo.

São Judas Tadeu era natural de Caná da Galiléia, na Palestina. Sua família era constituída do pai, Alfeu (ou Cléofas) e a mãe, Maria Cléofas, parentes de Jesus. O pai, Alfeu, era irmão de São José e a mãe, Maria Cléofas, prima irmã de Maria Santíssima, portanto, Judas Tadeu era primo-irmão de Jesus. O irmão de Judas Tadeu, Tiago, chamado o Menor, também foi discípulo de Jesus.

A Bíblia trata pouco de Judas Tadeu, mas aponta o importante: ele foi escolhido por Jesus, para apóstolo (Mt 10,4). É citado explicitamente nas Escrituras pelo evangelista João (Jo 14,22), na última ceia, quando perguntou a Jesus: "Mestre, por que razão hás de manifestar-te só a nós e não ao mundo?" Jesus lhe respondeu afirmando que teriam manifestação dele todo aquele que guardasse sua palavra e permanecesse fiel a seu amor.

Após ter recebido o dom do Espírito Santo, Judas Tadeu iniciou sua pregação na Galiléia, passando pela Samaria, Iduméria e outras populações judaicas. Pelo ano 50, tomou parte no primeiro Concílio, o de Jerusalém. Em seguida, foi evangelizar a Mesopotâmia, Síria, Armênia e Pérsia. Neste país recebeu a companhia de outro apóstolo, Simão.

A pregação e o testemunho de Judas Tadeu impressionaram os pagãos que se convertiam. Isto provocou a inveja e fúria contra o apóstolo, que foi trucidado, com pauladas, lanças e machados, pelo ano 70. Dessa maneira, tornou-se mártir, ou seja, mostrou que sua adesão a Jesus era tal, que testemunhou a fé com a doação da própria vida. Os seus restos mortais, após terem sido guardados no Oriente Médio e na França, foram definitivamente transferidos para Roma, na Basílica de São Pedro.

A brevíssima Carta de São Judas, que está na Bíblia, é uma severa advertência contra os falsos mestres e um convite a manter a pureza da fé. Nos versículos 22-23 propõe pontos fundamentais de um programa de vida cristã: fé, oração, auxílio mútuo, confiança na misericórdia de Jesus Cristo.


Você sabia que ...

... os exegetas (estudiosos da Bíblia) modernos fazem distinção entre os três Judas citados no texto acima? Os biblistas consideram que o Judas Tadeu (apóstolo), o Judas (primo de Jesus e irmão de Tiago) e o Judas (autor da Epístola) são três pessoas diferentes. Não confundir nenhum deles com o Judas Iscariotes (apóstolo), que traiu Jesus. Se você quer saber mais sobre os Judas do Novo Testamento, solicite pelo E-mail abaixo.

... no Santuários de São Judas Tadeu, no bairro de Jabaquara, em São Paulo, existe um pedaço de osso do santo, usado para dar a bênção nos dias 28 de cada mês? A relíquia chegou ao Brasil em 1945 ou 1946 por meio de um padre capelão militar que, durante a guerra, serviu a um convento de religiosas, na Itália. Finda a guerra, o padre recebeu de presente das religiosas, a relíquia de São Judas, que foi, posteriormente, doada ao Santuário São Judas Tadeu. Com a relíquia, existe um documento garantindo sua autenticidade.

... A imagem de São Judas possui um livro numa das mãos e uma machadinha na outra, porque representam respectivamente a Palavra que ele pregou e a arma com a qual foi morto?

sábado, 28 de outubro de 2000

Jesus e a História (II)

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 28/10/2000

Inúmeras vezes nós, cristãos, somos questionados sobre a pessoa de Jesus Cristo. Alguns, mais extremados, chegam até a afirmar que Jesus nunca existiu, e que tudo não passa de pura invenção dos primeiros cristãos. Existem ainda os professores de História Geral que ensinam a seus alunos não haver provas extra-bíblicas sobre a existência de Jesus.

Vamos continuar o artigo da semana anterior, citando mais alguns documentos históricos sobre Jesus.

O primeiro texto é do historiador romano Tácito (55 – 120), intitulado "Anais", escrito em 64 d.C., relatando a origem do nome "cristãos", responsabilizados pelo imperador Nero pelo incêndio de Roma. Notar que o historiador confirma a morte (crucificação) sob as ordens de Pôncio Pilatos: "Nero firmou a culpabilidade e infligiu as torturas mais primorosas a uma classe odiada por suas abominações, os chamados cristãos. Este nome vem de Cristo, que o Imperador Pôncio Pilatos condenou à morte, sob o reinado de Tibério. Esta odiosa superstição, reprimida durante algum tempo, se propagou de novo não somente na Judéia, onde nasceu esse mal, mas também em Roma, para onde aflui tudo o que o mundo produz de detestável e desonroso, aí encontrando numerosos adeptos. A repressão foi primeiro aos que se confessaram culpados .. ." (Anais, 15, 44).

É importante não confundir Tácito, o historiador romano (autor do texto acima), com o imperador romano de mesmo nome, que viveu entre os anos 200 e 276, sendo imperador entre 275 e 276.

O segundo documento (datado de 112 d.C.) trata-se de uma carta de Plínio (61-112 d.C.), aristocrata, governador da Ásia Menor, ao imperador romano Trajano (viveu entre 53 e 117, sendo imperador entre 98 e 117), onde relata algumas particularidades dos cristãos. Nesta carta, Plínio pede a Trajano que legalize os cristãos. Eis um trecho da carta: "... os cristãos se reuniam em dias fixos, antes do nascer do sol, e cantavam um hino a Cristo, como se fosse um deus." (Cartas 10,96).

Cabe aqui uma explicação importante: o governador Plínio (autor do texto acima) não deve ser confundido com o historiador e naturalista romano Plínio (o Velho), que viveu entre os anos 23 e 79 d.C.

Existem ainda outros textos que comprovam a existência de Jesus como personagem histórico: Tallus, no seu livro de história escrito entre 50 e 70 d.C.; Suetonius, em ‘Vidas dos Caesars’ escrito em 125 d.C.; Galen, em vários textos datados de 150 d.C.; Celsus (filósofo pagão), em ‘Verdadeiro Discurso’, escrito em 170 d.C.; Mara Bar Serapion, em 73 d.C.; Julius Africanus, no livro ‘História do Mundo’ escrito no 3º século.

sábado, 21 de outubro de 2000

Jesus e a História (Parte 1)

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 21/10/2000


Jesus teria sido realmente uma figura histórica? Ele realmente existiu, ou seria apenas um mito criado pelos cristãos? Existiu o Jesus histórico, ou apenas o Cristo (Messias) da Igreja e dos Evangelhos? Existiriam documentos, fora da Igreja, que comprovariam, historicamente, a presença do homem Jesus na terra?

A resposta é: não existem dúvidas. Documentos históricos comprovam a existência física do homem Jesus, que viveu na região da Palestina, tendo morrido crucificado. É necessário, porém, que nos atentemos para um importante dado: Jesus viveu numa insignificante região agropecuária do mediterrâneo, numa faixa de terra de 240 km de norte a sul e 100 km de leste a oeste, entre o Mar Mediterrâneo e o Rio Jordão.

A Palestina, como era chamada, era colonizada pelo Império Romano desde 63 a.C. como um "Reino Cliente", com um rei próprio, e toda uma autonomia administrativa, portanto, independente do domínio de Roma. Era habitada pelos judeus, um povo extremamente religioso, com língua própria (o hebraico ou o aramaico), que não aceitava o domínio do Império, deflagrando inúmeras revoltas. Neste quadro, nós não podemos esperar que a documentação histórica sobre o Império Romano seja farta em documentos sobre a Palestina, ou sobre um revolucionário político ou agitador popular (é assim que os romanos viam Jesus) que viveu por lá entre os anos 28 e 30 d.C., sendo crucificado pelo procurador romano Pontius Pilatus.

Outro fator decisivo era o tipo de sociedade existente no século I: a população urbana era menor que 10% do total, e menos de 0,2% formava a classe dominante (elite, letrados, intelectuais), responsável pelos registros históricos da época. Também não podemos esperar que a elite dominante do primeiro século tenha deixado muitos documentos sobre Jesus.

Vamos citar alguns documentos históricos que comprovam a existência de Jesus:

- O primeiro documento é do maior historiador do primeiro século, o judeu Flávio Josefo (historiador judeu, que viveu entre 37 e 105 d.C., tendo escrito vários livros), no livro Antigüidades Judaicas, escrito em 93 ou 94 d.C., quando descreve a morte por apedrejamento de Tiago, irmão (primo) de Cristo e chefe da comunidade cristã de Jerusalém:

"... Anás (Ananus) vendo que teria uma boa oportunidade de exercer sua autoridade, convocou uma assembléia (sanhedrim) de juizes, e trouxe diante deles o irmão de Jesus, que foi chamado Cristo, cujo nome era Tiago, e outras pessoas (companheiros dele) e apresentou contra eles a acusação de serem transgressores da lei e os condenou para serem apedrejados." ( XX, 9,1).

O mesmo autor, em outro trecho do mesmo livro conhecido como Testimonium Flavianum, faz uma descrição detalhada de Cristo. Eis o texto:

"Naquela época viveu Jesus, um homem sábio, se realmente as pessoas devem chamá-lo de homem. Pois ele executou trabalhos surpreendentes, e era um mestre que as pessoas recebiam com prazer. Ele conquistou muitos judeus e muitos gregos. Ele era o Messias. E quando Pilatos o condenou à cruz, depois de ouvir as acusações feitas contra ele por homens da mais alta posição entre nós, os seus companheiros não perderam as idéias dele. Porque ele apareceu vivo diante deles no terceiro dia, como os profetas de Deus tinham previsto, além de outras coisas maravilhosas a seu respeito. E o grupo de cristãos, que recebeu este nome por sua causa, não desapareceu até hoje" (XVIII, 3, 3).

Portanto, o maior historiador do Século I cita Jesus, reconhecendo-o não apenas como um homem comum, mas como um mestre entre os judeus, o Messias.

(Continuamos no próximo artigo, com outras citações).

sábado, 14 de outubro de 2000

O CAMELO E O BURACO DA AGULHA

Coluna Ser Católico" – Jornal da Cidade – 14/10/2000


Todos nós conhecemos o episódio em que o jovem rico perguntou a Cristo o que deveria fazer para conseguir a vida eterna. Jesus lhe indicou os Dez Mandamentos da Lei de Deus. Tendo o jovem respondido que já os observava desde a juventude, o Senhor aconselhou-lhe que vendesse as suas posses, distribuísse aos pobres e o seguisse. Ao ouvir estas palavras, o jovem afastou-se entristecido, pois era proprietário de grandes posses. Esta atitude do jovem ocasionou as seguintes observações de Cristo:

"Em verdade vos digo que dificilmente um rico entrará no reino dos céus. Digo-vos ainda: é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus" (Mt 19,24).

Sem qualquer dúvida, a desproporção, o contraste quase absurdo, causa estranheza aos dizeres de Jesus. Os pesquisadores apresentam três explicações possíveis para a esquisita comparação:

1 – JESUS TERIA USADO UM DITO POPULAR

A primeira explicação sugere que Jesus realmente tenha dito tal frase, se utilizando de uma expressão (ditado) popular. Parece que Ele quis mostrar a dificuldade da salvação, recorrendo a uma comparação absurda. Cale lembrar que esta frase usada por Jesus em Mt 19,24 nunca foi encontrada em qualquer outro texto judaico, embora outras estranhas comparações tenham aparecido:

- "Ninguém imagina, nem mesmo em sonho, uma palmeira de ouro, ou um elefante que passe pelo buraco de uma agulha" (Talmud (352).

- "Pode um etíope mudar a própria pele? Ou um leopardo apagar as malhas do pêlo de que se reveste?" (Jr 13,23).

Se Cristo vivesse nos dia atuais e se utilizasse de um ditado dos nossos dias, talvez dissesse: "Nem que chova canivete, um rico entrará no reino dos céus".

2 – CAMELO OU CORDA

Na segunda explicação supõe-se que houve um erro na transcrição dos textos dos Evangelhos. Antes da invenção da imprensa, os textos eram copiados manualmente por copistas e sujeitos a inúmeros erros. Dentre estas falhas, o escriba deve ter escrito camelo (Kámelos, em grego) no lugar de corda (Kámilos, em grego). Kámilos era uma corda de grande diâmetro, usada para prender os barcos no porto. Esta cópia do Evangelho (com a palavra trocada) foi usada como original por outros copistas, chegando até nossos dias.

Esta explicação foi apresentada por S. Cirilo de Alexandria (444) e aceita por outros textos do século V como o Tractatus de Divitiis, atribuído ao bispo Fastídio (410-450).

Portanto, se aceitarmos esta justificativa, as verdadeiras palavras de Jesus foram (Mt 19,24): "É mais fácil uma corda passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus".

3 – A PORTA DE JERUSALÉM

A terceira explicação se refere a uma descoberta recente: alguns textos da época de Jesus, reportam a existência de uma pequena passagem (ou buraco) nos muros da cidade de Jerusalém, chamado de "Buraco da Agulha". Devemos lembrar que Jerusalém era cercada por altos muros e grandes portões que eram fechados durante a noite. O Buraco da Agulha era uma passagem (talvez usada para entrar ou sair ilegalmente da cidade) onde os animais de carga só podiam passar se fossem despojados da bagagem e dobrassem os joelhos; os homens só transitavam por aí se se curvassem.

Fica a dúvida: teria Jesus se referido a esta passagem em seu discurso aos discípulos?

sábado, 7 de outubro de 2000

A IGREJA CATÓLICA E O ABORTO

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 07/10/2000

ASSUNTO EM MODA

Na última semana várias reportagens em jornais trouxeram à evidência o assunto "aborto". O Jornal da Cidade de 28/09 (página 30) mostrava que manifestantes em toda a América Latina estavam comemorando o dia de luta contra a ‘descriminalização do aborto’. O mesmo jornal do dia 29 noticiava a autorização para a comercialização nos Estados Unidos da pílula abortiva RU-486, já comercializada na França.

Na América Latina ainda há resistência a qualquer abertura em relação ao aborto: trata-se de um procedimento ilegal e criminoso em todos os países americanos, além de ser rejeitado oficialmente por conselhos médicos.

Existe também o movimento "Católicas pelo Direito de Decidir" (CDD), que vem aparecendo no cenário nacional. Trata-se de um movimento de mulheres (fundado em 1970 nos USA) que prega o aborto e a liberdade sexual, atacando duramente a Igreja Católica.

A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

O abortamento é sempre o extermínio de uma vida inocente, que existe desde o momento em que se dá a fecundação do óvulo pelo espermatozóide. Só se pode admitir o homicídio em caso de legítima defesa ou quando alguém é injustamente agredido e não tem outro meio de escapar da morte iminente se não exterminar o agressor. Ora, o feto não é um injusto agressor; por isso conserva o seu direito à vida, mesmo que esta incomode a gestante; o fato de resultar de estupro não legitima a violência do abortamento.

O artigo 128 do Código Penal assim se exprime:

Não se pune o aborto praticado por médico:

I – se não há outro meio de salvar a vida da gestante
II – se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. 

A redação é clara. Não está escrito "não constitui crime", mas tão somente "não se pune". O médico que pratica aborto nesses dois casos, comete crime, embora esteja isento de punição (para detalhes, solicite no E-mail abaixo).
Estudos profundos sobre a natureza jurídica do aborto têm sido publicados em revistas especializadas. Destaca-se o pronunciamento da União dos Juristas Católicos do Rio de Janeiro sobre a inconstitucionalidade de uma lei que permitisse o aborto e o texto do Deputado Severino Cavalcanti (Pernambuco) sobre a violação do direito à vida. Estes textos completos podem ser solicitados pelo E-mail abaixo.

A POSIÇÃO DA IGREJA CATÓLICA

A Igreja Católica sempre foi contrária ao aborto. Assim, por exemplo, reza a Didaqué (primeiro catecismo cristão), datado do ano 90-100: "Não matarás, não cometerás adultério ... Não matarás crianças por aborto nem criança já nascida" (2,2). No século III, a Epístola de Diogneto observava: "Os cristãos casam-se como todos os homens; como todos procriam, mas não rejeitam os filhos" (v. 6). A Epístola de Barnabé (século II) e depois Tertuliano (220), S. Gregório de Nissa (após 394), S. Basílio Magno (379) fizeram eco aos escritores precedentes. (solicite cópia pelo E-mail).

Todos os Concílios da Igreja rejeitaram o aborto. Desde o Concílio de Ancira (Ancara) em 314, que decretou: "As mulheres que fornicam e depois matam os seus filhos ou que procedem de tal modo que eliminem o fruto de seu útero, segundo uma lei antiga são afastadas da Igreja até o fim de sua vida".

O Código de Direito Canônico prevê excomunhão para o delito de aborto: "Quem provoca o aborto, seguindo-se o efeito, incorre em excomunhão latae sententiae".

O Catecismo da Igreja Católica (compêndio de toda doutrina católica) dedica um item da Parte III (A Vida em Cristo) para considerações sobre o aborto, destacando: "A vida humana deve ser respeitada e protegida de maneira absoluta a partir do momento da concepção. Desde o primeiro momento de sua existência, o ser humano deve ver reconhecidos os seus direitos de pessoa, entre os quais o direito inviolável de todo ser inocente à vida".

sábado, 30 de setembro de 2000

O QUE VOCÊ DEVE SABER PARA LER A BÍBLIA COM PROVEITO (Final)

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 30/09/2000


A vivência comunitária da fé na ressurreição

Este terceiro ponto, muitas vezes esquecido, é muito importante. É como a caixa de ressonância de um violão. Sem ela, as cordas das palavras bíblicas não produzem a música de Deus no coração do leitor. Como criar esta caixa de ressonância da interpretação da Bíblia?

1. Jesus soube criar um ambiente de amizade e de abertura, onde foi possível ele ler a Bíblia junto com os dois discípulos de Emaús. Este é o primeiro passo: criar um ambiente de amizade e de abertura entre as pessoas, não para esconder os problemas da vida atrás de um sorriso, mas para poder discuti-los e enfrentá-los, mesmo que for preciso ir a Jerusalém, de noite, na escuridão.

2. A Bíblia surgiu da caminhada de um povo oprimido que, apoiado na promessa de Deus, buscava a sua libertação. A sua interpretação deve ser feita a partir do povo crente e oprimido que hoje busca a sua libertação. A interpretação da Bíblia não pode ser neutra, nem pode ser feita separada da vida e da história do nosso povo. Ela deve ser o fermento de Deus neste processo de "conversão" e de mudança da morte para a vida, do medo para a coragem, do desespero para a esperança, da opressão para a liberdade, que hoje marca a vida das nossas comunidades.

3. A Bíblia nasceu dentro de uma comunidade de fé. É só com o olhar de fé desta mesma comunidade que pode ser captada e entendida plenamente a sua mensagem. Este olhar não se compra com dinheiro nem com estudo. Adquire-se vivendo na comunidade, participando da sua caminhada e das suas lutas. Mesmo quando leio a Bíblia sozinho, devo lembrar sempre que estou lendo o livro da comunidade. Ninguém tem o direito de explicar a Bíblia do jeito que convém a ele, contrário aos interesses da comunidade. Pois a Bíblia não é propriedade privada de ninguém. Ela foi entregue aos cuidados do povo de Deus, para que este realize a sua missão libertadora, e revele aos olhos de todos a presença de Javé, o Deus vivo e verdadeiro. Com outras palavras, a Bíblia deve ser interpretada de acordo com o sentido que lhe dá a comunidade, a Igreja. O modo de pensar das comunidades do Brasil e da América Latina foi resumido em Medellin e em Puebla. O modo de pensar das comunidades do mundo inteiro é definido pelos Concílios Ecumênicos e pela palavra autorizada dos papas.

4. A Bíblia é, antes de tudo, palavra de Deus para nós. Por isso, a sua interpretação e leitura devem ser feitas com a convicção de fé de que Deus nos fala por meio da Bíblia. E ele fala não para que nós nos fechemos no estudo e na leitura da Bíblia, mas para que, pela leitura e pelo estudo da Bíblia, possamos descobrir a palavra viva de Deus dentro da história da nossa comunidade e do nosso povo.

5. A interpretação da Bíblia não depende só da inteligência e do estudo, mas também do coração e da ação do Espírito Santo. O Espírito de Jesus deve ter a oportunidade de nos falar quando lemos a Bíblia. Por isso, além do estudo e da troca de idéias, a leitura da Bíblia deve ter os seus momentos de silêncio e de oração, de canto e de celebração, de troca de experiências e de vivências. (Editora Vozes. Bíblia Sagrada - Editora Vozes (24) 237-5112 - www.vozes.com.br)

quarta-feira, 27 de setembro de 2000

O QUE VOCÊ DEVE SABER PARA LER A BÍBLIA COM PROVEITO (VIII)

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 27/09/2000

A reflexão sobre a realidade

Interpretar a Bíblia, sem olhar a realidade da vida, é o mesmo que manter o sal fora da comida, a semente fora da terra, a luz debaixo da mesa; é como galho sem tronco, olhos sem cabeça, rio sem leito.

Pois a Bíblia não é o primeiro livro que Deus escreveu para nós, nem o mais importante. O primeiro livro é a natureza, criada pela palavra de Deus; são os fatos, os acontecimentos, a história, tudo que existe e acontece na vida do povo; é a realidade que nos envolve. Deus quer comunicar-se conosco através da vida que vivemos. Por meio dela, ele nos transmite a sua mensagem de amor e de justiça.

Mas nós homens, por causa dos nossos pecados, organizamos o mundo de tal maneira e criamos uma sociedade tão torta, que já não é mais possível perceber claramente a voz de Deus nesta vida que vivemos. Xor isso, Deus escreveu um segundo livro que é a Bíblia. O segundo livro não veio substituir o primeiro. A Bíblia não veio ocupar o lugar da vida. A Bíblia foi escrita para nos ajudar a entender melhor o sentido da vida e perceber a presença da palavra de Deus dentro da nossa realidade.

Santo Agostinho resumiu tudo isso da seguinte maneira: a Bíblia, o segundo livro de Deus, foi escrita para nos ajudar a decifrar o mundo, para nos devolver o olhar da fé e da contemplação e para transformar toda a realidade numa grande revelação de Deus.

Por isso, quem lê e estuda a Bíblia, mas não olha a realidade do povo oprimido nmm luta pela justiça e pela fraternidade, é infiel à palavra de Deus e não imita Jesus Cristo. Ele é semelhante aos fariseus que conheciam a Bíblia de cor, mas não a praticavam.

O estudo da própria Bíblia

O estudo da Bíblia deve ser feito com muita seriedade e disciplina. Considere a leitura que você faz da Bíblia como uma conversa sua com Deus. Ora, quando a gente conversa com alouém, deve tomar as palavras do outro do jeito que elas são ditas por ele. Eu não posso colocar as minhas idéias dentro das palavras do outro. Isto seria uma falta de honestidade. Não posso tirar do texto nenhum sentido, a não ser aquele que está dentro do texto. Convém ser severo e exigente consigo mesmo neste ponto. Nunca manipular o texto em favor das suas próprias idéias!

Mas um texto pode ser lido com duas mentalidades: com a mentalidade avarenta de um pão-duro ou com a mentalidade generosa de um mão-aberta. A gente deve ser generoso e(nunca avarento na interpretação da Bíblia. Isto quer dizer: ler não só nas linhas, mas também nas entrelinhas. Em todos os textos sempre há duas coisas: as coisas ditas abertamente nas linhas, e as coisas ditas veladamente nas entrelinhas. As duas vêm do autor do texto, e as duas são igualmente importantes.

Como descobrir o que o autor diz nas entrelinhas? Usando a inteligência, o coração e a imaginação, perguntando sempre:

  1. Quem é que está falando no texto e a quem?
  2. O que ele está querendo dizer e por quê?
  3. Em que situação ele está falando ou escrevendo e qual o jeito que ele usa para dar o seu recado?
  4. Qual o ambiente que ele cria por meio das suas palavras e qual o interesse que ele defende?

Estas e outras perguntas ajudam a gente i puxar a cortina e a perceber o que existe nas entrelinhas do texto bíblico.

Além disso, as introduções de cada livro, as notas ao pé das páginas, as referências para outros textos bíblicos, os mapas geográficos e o vocabulário que você encontra no fim desta Bíblia, foram feitos para ajudá-lo na descoberta do sentido certo e exato do texto. E aqui convém lembrar o seguinte: nadar se aprende nadando. O conhecimento da Bíblia se adquire através de uma prática constante de leitura, se possívml diária. (Editora Vozes. Bíblia Sagrada - Editora Vozes (24) 237-5112 - www.vozes.com.br)

sábado, 23 de setembro de 2000

O QUE VOCÊ DEVE SABER PARA LER A BÍBLIA COM PROVEITO (VII)

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 23/09/2000

Como ler com proveito a Bíblia

A experiência da ressurreição, vivida em comunidade, foi o grande estalo que iluminou os olhos e revelou aos cristãos o sentido da Bíblia e da vida. A história dos discípulos de Emaús mostra isso bem claramente, pois Jesus aparece aí como o intérprete da Bíblia e da vida.

Quando, no dia de Páscoa, os dois discípulos andavam pela estrada, Jesus caminhava com eles, mas eles não o reconheceram (cf. Lc 24,15-16). Faltava a luz nos olhos. Faltava a experiência da ressurreição. Quando, finalmente, o reconheceram na partilha do pão, Jesus desapareceu (cf. Lc 24,30-31). Pois nesta hora, Jesus entrou para dentro deles, e eles mesmos ressuscitaram. Venceram o desânimo e voltaram para Jerusalém, onde estavam os poderes que, matando Jesus, tinham matado neles a esperança. Mas eles já não os temiam. Neles estava a força maior, a força da vida que vence a morte.

A Bíblia teve um papel muito importante nesta transformação que se operou nos dois discípulos. Jesus usou a Bíblia não tanto para enriquecer os dois com idéias bonitas, mas muito mais para suscitar neles aquela mudança do medo para a coragem, do desespero para a esperança, da separação para o reencontro, da fuga para o enfrentamento, da morte para a vida. Vale a pena a gente ver mais de perto o jeito como Jesus usou a Bíblia. Ele serve de modelo para nós.

O primeiro círculo bíblico

A conversa de Jesus com os discípulos de Emaús foi o primeiro Círculo Bíblico. Nele aparecem três pontos que devem estar sempre presentes na leitura e na interpretação que fazemos da Bíblia.

1. Reflexão sobre a realidade: Jesus soube criar um ambiente de conversa e, com muito jeito, forçou os dois a falar sobre os problemas da vida que eles estavam sentindo. Na conversa apareceu toda a realidade: a tristeza, o desânimo, a frustração dos dois, a sua falsa esperança de um messias glorioso, a decisão do governo e dos sacerdotes de condenar Jesus, a cruz e a morte, a conversa das mulheres que provocou espanto, a incapacidade dos dois em crer nos pequenos sinais de esperança (cf. Lc 24,13-24).

2. Estudo da própria Bíblia: Jesus usou a Bíblia não tanto para interpretar e ensinar a Bíblia, mas muito mais para com ela interpretar os fatos da vida e animar os dois rapazes. Refletiu com eles, fez ver que estavam errados na sua maneira de explicar os fatos e mostrou, com a luz da Bíblia, que os fatos não estavam escapando da mão de Deus. Isto exigia dele um conhecimento profundo da Bíblia. Jesus conhecia a Bíblia. Junto com os dois, ele soube encontrar aqueles textos de Moisés e dos profetas que pudessem trazer alguma luz para a situação de tristeza e mudar as idéias erradas que eles tinham na cabeça. Jesus não teve medo de criticar interpretações erradas da Bíblia. Pois o texto bíblico tem um sentido certo que deve ser respeitado, para evitar que se manipule o texto em favor das próprias idéias, como os judeus faziam (cf. Lc 24,25-27).

3. Vivência comunitária da fé na Ressurreição: Jesus andou com eles, conversou, criou um ambiente de abertura e teve a paciência de escutá-los. Falando da vida e da Bíblia, agradou tanto, que o coração dos dois se esquentou, e eles chegaram a convidá-lo para o jantar. Ficou com eles, sentou à mesa, rezou com eles e fez a partilha do pão, como se tornou costume entre os cristãos que tinham tudo em comum. Jesus não só falou, mas colocou gestos bem concretos de amizade. Ora, tudo isso é o ambiente da comunidade, onde se procura viver como irmão. É aí que se faz a experiência da ressurreição, do Cristo vivo no meio de nós; a experiência de Javé, Deus libertador (cf. Lc 24, 28-32).

Quando estes três elementos estão presentes na interpretação da Bíblia, aí a Bíblia atinge o seu objetivo e acontece o milagre da mudança: os discípulos descobrem a força da palavra de Deus presente nos fatos, começam a praticá-la e tudo se transforma; os olhos se abrem, as pessoas mudam; a cruz, vista como sinal de morte e de desespero, torna-se sinal de vida e de esperança; o medo desaparece, a coragem reaparece; as pessoas se unem, se reencontram e começam a partilhar entre si a sua experiência de ressurreição; os poderes que oprimem e matam já não causam desânimo; os dois discípulos começam a reler a sua própria caminhada e descobrem que tudo começou quando Jesus falava com eles sobre a vida e sobre a Bíblia; a fé se afirma, a esperança se renova e o amor abre novos caminhos (cf. Lc 24,33-35). (Editora Vozes. Bíblia Sagrada - Editora Vozes (24) 237-5112 - www.vozes.com.br)

quarta-feira, 20 de setembro de 2000

O QUE VOCÊ DEVE SABER PARA LER A BÍBLIA COM PROVEITO (VI)

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 20/09/2000

A esperança dos profetas

Caindo e levantando, o povo foi andando, procurando ser o povo de Deus e buscando atingir para si e para os outros os bens da promessa divina. Muitas vezes, porém, esquecia o chamado de Deus e se acomodava. Em vez de servir a Deus, queria que Deus servisse ao projeto que eles mesmos tinham inventado. Invertiam a situação. Era nestas horas que surgiam os profetas para denunciar o erro e para anunciar de novo a vontade de Deus ao povo.

A Bíblia conserva as palavras de quatro profetas chamados Maiores: Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel, e de doze Menores. Muitos outros profetas são mencionados na Bíblia. O maior deles foi Elias. Os profetas, cujos nomes, gestos e palavras foram conservados, são como flores. Elas supõem um chão, uma semente e uma planta. O chão, a semente e a planta destes profetas são as comunidades que lhes transmitiram a fé; são os inúmeros profetas locais, cujos nomes foram esquecidos. É como hoje. Os grandes profetas são conhecidos no país inteiro, mas eles só puderam surgir graças ao povo anônimo e fiel das suas comunidades.

Diante das falhas constantes do povo, desviado por seus falsos líderes, os profetas começaram a alimentar no povo uma nova esperança. Diziam: no futuro, o projeto de Deus será realizado através de um enviado especial, um novo líder, fiel e verdadeiro, chamado Messias.

Foi esta esperança maior, alimentada pelos profetas, que sustentou o resto fiel do povo e o ajudou a superar as duras crises da sua caminhada. O resto fiel eram sobretudo os pobres que punham sua esperança unicamente em Deus (cf. Sf 3,12). Como a mãe enfrenta as dores do parto, porque tem amor à vida nova que ela carrega dentro de si, assim os pobres enfrentavam as dores da caminhada, porque tinham amor à promessa divina que eles carregavam dentro de si. Eles acreditavam na vida nova que dela haveria de surgir para todos os homens. Esta vida nova chegou, finalmente, em Jesus, o Messias.

A esperança dos pobres se realiza em Jesus e nas comunidades.

Para realizar a missão do Messias, Deus não mandou qualquer um. Mandou o seu próprio Filho! Jesus, o Filho de Deus, realizou a promessa do Pai, trouxe a libertação para o povo e anunciou a Boa-Nova do Reino aos pobres.

A pregação de Jesus não agradou a todos. Os doutores da Lei, os fariseus, os saduceus e os sacerdotes imaginavam a vinda do Reino como uma simples inversão da situação, sem mudança real no relacionamento entre os homens e entre os povos. Eles, os judeus, dominados pelos romanos, ficariam por cima e seriam os senhores do mundo e os que estavam por cima ficariam por baixo.

Mas não era assim que Jesus entendia o Reino do Pai. Ele queria uma mudança radical. Para ele, o povo de Deus tinha de ser um povo irmão e servidor, e não um povo dominador a ser servido pelos outros povos (cf. Mt 20,28).

Jesus iniciou esta mudança: colocou-se do lado dos pobres, marginalizados pelo sistema dos líderes judeus, denunciou este sistema como contrário à vontade do Pai e convocava a todos para mudar de vida. Mas os grandes não quiseram. O que era Boa Notícia para os pobres era má notícia para os grandes, pois Jesus exigia deles que abandonassem os seus privilégios injustos e as suas idéias de grandeza e de poder. Eles preferiram as suas próprias idéias, rejeitaram o apelo de Jesus e o mataram na cruz com o apoio dos romanos.

Foi aí que o Pai mostrou de que lado ele estava. Usando o seu poder que protege a vida, ressuscitou Jesus. Animados por este mesmo poder de Deus que vence a morte, os seguidores de Jesus, os primeiros cristãos, organizaram a sua vida em pequenas comunidades, viviam em comunhão fraterna, tinham tudo em comum e já não havia mais necessitados entre eles (cf. At 2,42-44).

Assim, a vida nova, prometida no Antigo Testamento e trazida por Jesus, apareceu aos olhos de todos na vida dos primeiros cristãos. Eles se tornaram "a carta de Cristo, reconhecida e lida por todos os homens"(cf. 2Cor 3,2-3). Neles apareceu o Novo Testamento! É na vida comunitária dos primeiros cristãos, sustentada pela fé em Jesus, vivo no meio deles, que apareceu uma amostra clara do projeto que o Pai tinha em mente quando chamou Abraão e quando decidiu libertar o seu povo do Egito.

Jesus trouxe a chave para o povo poder entender o sentido verdadeiro da longa caminhada do Antigo Testamento. Os primeiros cristãos, usando esta chave, conseguiram abrir a porta da Bíblia e souberam entender e realizar a vontade do Pai. O Antigo Testamento é o botão, o Novo Testamento é a flor que nasceu do botão. Um se explica pelo outro. Um sem o outro não se entende. Como eles, assim também nós devemos reler a nossa história à luz de Cristo, com a ajuda da Bíblia, e tentar descobrir dentro dela o apelo de Deus, desde o seu começo.

sábado, 16 de setembro de 2000

O QUE VOCÊ DEVE SABER PARA LER A BÍBLIA COM PROVEITO (V)

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 16/09/2000


O adubo que fez crescer a semente da Bíblia

Não é qualquer chão que serve para que uma árvore possa crescer. O canteiro, onde a semente da Bíblia criou raízes e de onde lançou os seus 73 galhos em todos os setores da vida, foi a celebração do povo oprimido, ansioso de se libertar.

A maior parte da Bíblia começou a ser decorada para poder ser usada nas celebrações, e foi escrita ou colecionada por sacerdotes e levitas, os responsáveis pela celebração do povo. Além disso, as romarias e as peregrinações, os santuários com as suas procissões, as festas e as grandes celebrações da aliança, o templo e as casas de oração (sinagogas), os sacrifícios e os ritos, os salmos e os cânticos, a catequese em família e o culto semanal, a oração e a vivência da fé, tudo isso marca a Bíblia, do começo ao fim!

O coração da Bíblia é o culto do povo! Mas não qualquer culto. É o culto ligado à vida do povo, onde este se reunia para ouvir a palavra de Deus e cantar as suas maravilhas; onde ele tomava consciência da opressão em que vivia ou que ele mesmo impunha aos irmãos; onde ele fazia penitência, mudava de mentalidade e renovava o seu compromisso de viver como um povo irmão; onde reabastecia a sua fé e alimentava a sua esperança; onde celebrava as suas vitórias e agradecia a Deus pelo dom da vida.

É também no culto que deve estar o coração da interpretação da Bíblia. Sem este ambiente de fé e de oração e sem esta consciência bem viva da opressão que existe no mundo, não é possível agarrar a raiz de onde brotou a Bíblia, nem é possível descobrir a sua mensagem central.

A mensagem central da Bíblia

Qual é, em poucas palavras, a mensagem central da Bíblia? A resposta não é fácil, pois depende da vivência. Se você gosta de uma pessoa e alguém lhe pergunta: "Qual é, em poucas palavras, a mensagem desta pessoa para você?", aí não é fácil responder. O resumo da pessoa amada é o seu nome! Basta você ouvir, lembrar ou pronunciar o nome, e este lhe traz à memória tudo o que a pessoa amada significa para você. Não é assim? Pois bem, o resumo da Bíblia, a sua mensagem central, é o Nome de Deus!

O Nome de Deus é Javé, cujo sentido ele mesmo revelou e explicou ao povo (cf. Ex 3,14). Javé significa Emanuel, isto é, Deus conosco, Deus presente no meio do seu povo para libertá-lo. Deus quer ser Javé para nós, quer ser presença libertadora no meio de nós! E ele deu provas bem concretas de que esta é a sua vontade. A primeira prova foi a libertação do Egito. A última prova está sendo, até hoje, a ressurreição de Jesus, chamado Emanuel (cf. Mt 1,23). Pela ressurreição de Jesus, Deus venceu as forças da morte e abriu para nós o caminho da vida.

Por tudo isso é difícil resumir em poucas palavras aquilo que o Nome de Deus evocava na mente, no coração e na memória do povo por ele libertado. Só mesmo o povo que vive e celebra a presença libertadora de Deus no seu meio, pode avaliá-lo.

Na nossa Bíblia, o Nome Javé foi traduzido por Senhor. É a palavra que mais ocorre na Bíblia. Milhares de vezes! Pois o próprio Deus falou: "Este é o meu Nome para sempre! Sob este Nome quero ser invocado, de geração em geração!"(Ex 3,15). Faz um bem tão grande você ouvir, lembrar ou pronunciar o nome da pessoa amada. Aquilo ajuda tanto na vida! Dá força e coragem, consola e orienta, corrige e confirma. Um Nome assim não pode ser usado em vão! Seria uma blasfêmia usar o Nome de Deus para justificar a opressão do povo, pois Javé significa Deus libertador!

O Nome Javé é o centro de tudo. Tantas vezes Deus o afirma: "Eu quero ser Javé para vocês, e vocês devem ser o meu povo! "Ser o povo de Javé significa: ser um povo onde não há opressão como no Egito; onde o irmão não explora o irmão; onde reinam a justiça, o direito, a verdade e a lei dos dez mandamentos; onde o amor a Deus é igual ao amor ao próximo. Esta é a mensagem central da Bíblia; é o apelo que o Nome de Deus faz a todos aqueles que querem pertencer ao seu povo. (Editora Vozes. Bíblia Sagrada - Editora Vozes (24) 237-5112 - www.vozes.com.br)

quarta-feira, 13 de setembro de 2000

O QUE VOCÊ DEVE SABER PARA LER A BÍBLIA COM PROVEITO (IV)

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 13/09/2000


O assunto da Bíblia

O assunto da Bíblia não é só doutrina sobre Deus. Lá dentro tem de tudo: doutrina, histórias, provérbios, profecias, cânticos, salmos, lamentações, cartas, sermões, meditações, filosofia, romances, cantos de amor, biografias, genealogias, poesias, parábolas, comparações, tratados, contratos, leis para a organização do povo, leis para o bom funcionamento da liturgia; coisas alegres e coisas tristes; fatos verdadeiros e fatos simbólicos; coisas do passado, coisas do presente e coisas do futuro. Enfim, tudo que dá para rir e para chorar. Tem trechos da Bíblia que querem comunicar alegria, esperança, coragem e amor; outros trechos querem denunciar erros, pecados, opressão e injustiças. Tem páginas lá dentro que foram escritas pelo gosto de contar uma bela história para descansar a mente do leitor e provocar nele um sorriso de esperança.

A Bíblia parece um álbum de fotografias. Muitas famílias possuem um álbum assim ou, ao menos, têm uma caixa onde guardam as suas fotografias, todas misturadas, sem ordem. De vez em quando, os filhos despejam tudo na mesa para olhar e comentar as fotografias. Os pais têm que contar a história de cada uma delas. A Bíblia é o álbum de fotografias da família de Deus. Nas suas reuniões e celebrações, o povo olhava as suas "fotografias", e os pais contavam as histórias. Era o jeito de integrar os filhos no povo de Deus e de transmitir-lhes a consciência da sua missão e da sua responsabilidade.

A Bíblia não fala só de Deus que vai em busca do seu povo, mas também do povo que vai em busca do seu Deus e que procura organizar-se de acordo com a vontade divina. Ela conta as virtudes e os pecados, os acertos e os enganos, os pontos altos e os pontos baixos. Nada esconde, tudo revela. Conta os fatos do jeito que foram lembrados pelo povo. Histórias de gente pecadora que procura ser santa. Histórias de gente opressora que procura converter-se e ser irmão. Histórias de gente oprimida que procura libertar-se.

A Bíblia é tão variada como é variada a vida do povo. A palavra BÍBLIA vem do grego e quer dizer LIVROS. A Sagrada Escritura tem 73 livros. É quase uma biblioteca. Poucas bibliotecas paroquiais têm a variedade dos 73 livros da Bíblia!

 A semente da Bíblia

Longo e demorado foi o mutirão do povo, do qual surgiu a Bíblia. Surgiu como surgem as árvores. Elas nascem de uma semente bem pequena, escondida no chão, e crescem até esparramar os seus galhos que oferecem sombra, alimento e proteção. A Bíblia nasceu de um chamado de Deus, escondido na vida do povo, e cresceu até esparramar os seus 73 galhos pelo mundo inteiro.

O chamado de Deus que deu início ao mutirão do povo é a palavra de Deus, por ele dirigida a todos os homens, também a nós hoje. Este apelo de Deus, escondido no chão da vida, foi descoberto primeiro por Abraão, depois por Moisés e pelo povo oprimido no Egito. Eles deram a sua resposta e fizeram nascer o começo do povo de Deus. Uma vez nascido o povo, trataram de não deixar morrer a semente. Os coordenadores convocavam a comunidade, os pais reuniam os filhos para transmitir a seguinte mensagem: "Nós éramos escravos no Egito. Gritamos ao Deus dos nossos pais, e ele ouviu o nosso clamor. Chamou Moisés e, com a ajuda de Deus e de Moisés, conseguimos a nossa libertação. Deus fez uma aliança conosco: Ele quer ser o nosso Deus, e nós temos que ser o seu povo, observando a sua Lei, vivendo como irmãos!"

Esta mensagem é o veiozinho verde que brotou da semente. É o núcleo da fé do povo de Deus. Uma história de libertação, da qual nasceu um compromisso mútuo! Semente bem pequenina! Cabia em umas poucas frases! Mas esta história foi contada e cantada, em prosa e verso, de mil maneiras, pelo povo libertado. Foi daí que nasceram os 73 livros da Bíblia, que hoje se esparramam pelo mundo inteiro, oferecendo sombra, alimento e proteção a quem o deseja. Nasceram, para que também nós possamos descobrir hoje o mesmo apelo de Deus em nossa vida e para que iniciemos a mesma caminhada de libertação. (Editora Vozes. Bíblia Sagrada - Editora Vozes (24) 237-5112 - www.vozes.com.br)

sábado, 9 de setembro de 2000

O QUE VOCÊ DEVE SABER PARA LER A BÍBLIA COM PROVEITO (III)

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 09/09/2000

Quem escreveu?

Não foi uma única pessoa que escreveu a Bíblia. Muita gente deu a sua contribuição: homens e mulheres, jovens e velhos, pais e mães de família, agricultores e operários de várias profissões; gente instruída que sabia ler e escrever e gente simples que só sabia contar histórias; gente viajada e gente que nunca saiu de casa; sacerdotes e profetas, reis e pastores, pobres e ricos, gente de todas as classes, mas todos convertidos e unidos na mesma preocupação de construir um povo irmão, onde reinassem a fé e a justiça, o amor e a fraternidade, a verdade e a fidelidade, e onde não houvesse opressor nem oprimido.

Todos deram a sua colaboração, cada um do seu jeito. Todos foram professores e alunos, uns dos outros. Mas aqui e acolá, a gente ainda percebe como alguns, às vezes, puxavam a brasa um pouquinho para o seu lado.

Quando foi escrita?

A Bíblia não foi escrita de uma só vez. Levou muito tempo, mais de mil anos. Começou em torno do ano 1250 antes de Cristo, e o ponto final só foi colocado cem anos depois do nascimento de Jesus. Aliás, é muito difícil saber quando foi que começaram a escrever a Bíblia, pois, antes de ser escrita, a Bíblia foi narrada e contada nas rodas de conversa e nas celebrações do povo. E antes de ser narrada e contada, ela foi vivida por muitas gerações num esforço teimoso e fiel de colocar Deus na vida e de organizar a vida de acordo com a justiça.

No começo, o povo não fazia muita distinção entre contar e escrever. O importante era expressar e transmitir aos outros a nova consciência comunitária, nascida neles a partir do contato com Deus. Faziam isto contando aos filhos os fatos mais importantes do seu passado. Como nós hoje decoramos a letra dos cânticos, assim eles decoravam e transmitiam as histórias, as leis, as profecias, os salmos, os provérbios e tantas outras coisas que, depois, foram escritas na Bíblia. A Bíblia saiu da memória do povo. Nasceu da preocupação de não esquecer o passado.


Onde foi escrita?

A Bíblia não foi escrita no mesmo lugar, mas em muitos lugares e países diferentes. A maior parte do Antigo Testamento e do Novo Testamento foi escrita na Palestina, a terra onde o povo vivia, por onde Jesus andou e onde nasceu a Igreja. Algumas partes do Antigo Testamento foram escritas na Babilônia, onde o povo viveu no cativeiro no século VI antes de Cristo. Outras partes foram escritas no Egito, para onde muita gente emigrou depois do cativeiro. O Novo Testamento tem partes que foram escritas na Síria, na Ásia Menor, na Grécia e na Itália, onde havia muitas comunidades, fundadas ou visitadas pelo apóstolo São Paulo.

Ora, os costumes, a cultura, a religião, a situação econômica, social e política de todos estes povos deixaram marcas na Bíblia e tiveram a sua influência na maneira de a Bíblia nos apresentar a mensagem de Deus aos homens.


Em que língua foi escrita?

A Bíblia não foi escrita numa única língua, mas em três línguas diferentes. A maior parte do Antigo Testamento foi escrita em hebraico. Era a língua que se falava na Palestina antes do cativeiro. Depois do cativeiro, o povo de lá começou a falar o aramaico. Mas a Bíblia continuou a ser escrita, copiada e lida em hebraico. Para que o povo pudesse ter acesso à Bíblia, foram criadas escolinhas em toda parte. Jesus deve ter freqüentado a escolinha de Nazaré para aprender o hebraico. Só uma parte bem pequena do Antigo Testamento foi escrita em aramaico . Um único livro do Antigo Testamento, o livro da Sabedoria, e todo o Novo Testamento foram escritos em grego. O grego era a nova língua do comércio que invadiu o mundo daquele tempo, depois das conquistas de Alexandre Magno, no século IV antes de Cristo.

Assim, no tempo de Jesus, o povo da Palestina falava o aramaico em casa, usava o hebraico na leitura da Bíblia, e o grego no comércio e na política. Quando os apóstolos saíram da Palestina para pregar o Evangelho aos outros povos, eles adotaram uma tradução grega do Antigo Testamento, feita no Egito no século III antes de Cristo para os judeus imigrantes que já não entendiam o hebraico nem o aramaico. Esta tradução grega é chamada Septuaginta ou Setenta. Na época em que ela foi feita, a lista (cânon) dos livros sagrados ainda não estava concluída. E assim aconteceu que a lista dos livros desta tradução grega ficou mais comprida do que a lista dos livros da Bíblia hebraica.

É desta diferença entre a Bíblia hebraica da Palestina e a Bíblia grega do Egito que veio a diferença entre a Bíblia dos protestantes e a Bíblia dos católicos. Os protestantes preferiram a lista mais curta e mais antiga da Bíblia hebraica, e os católicos, seguindo o exemplo dos apóstolos, ficaram com a lista mais comprida da tradução grega dos Setenta. Há sete livros a mais na Bíblia dos católicos: Tobias, Judite, Baruc, Eclesiástico, Sabedoria, os dois livros dos Macabeus, além de algumas partes de Daniel e Ester. São chamados "deuterocanônicos", isto é, são da segunda (dêutero) lista (cânon). (Editora Vozes. Bíblia Sagrada - Editora Vozes (24) 237-5112 - www.vozes.com.br)

quarta-feira, 6 de setembro de 2000

O QUE VOCÊ DEVE SABER PARA LER A BÍBLIA COM PROVEITO (II)

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 06/09/2000

Livro da caminhada do povo

A Bíblia não caiu pronta do céu. Ela surgiu da terra, da vida do povo de Deus. Surgiu como fruto da inspiração divina e do esforço humano. Quem escreveu foram homens e mulheres como nós. Eles é que pegaram caneta e papel e escreveram o que estava no seu coração. A maior parte deles não tinha consciência de estar falando ou escrevendo sob a inspiração de Deus. Estavam só querendo prestar um serviço aos irmãos em nome de Deus. Eles eram pessoas que faziam parte de uma comunidade, de um povo em formação, onde a fé em Deus e a prática da justiça eram ou deviam ser o eixo da vida. Preocupados em animar esta fé e em promover esta justiça, eles falavam e argumentavam para instruir os irmãos, para criticar abusos, para denunciar desvios, para lembrar a caminhada já feita e apontar novos rumos. Alguns deles chegaram a escrever, eles mesmos, as suas palavras ao povo. Outros nem sabiam escrever. Só sabiam falar e animar a fé pelo seu testemunho. As palavras destes últimos foram transmitidas oralmente, de boca em boca, durante muitos anos. Só bem mais tarde, outras pessoas decidiram fixá-las por escrito.

As palavras faladas ou escritas de todos estes homens e mulheres contribuíram para formar e organizar o povo de Deus. Por isso, o povo delas se lembrou e por elas se interessou. Não permitiu que caíssem no esquecimento. Fez questão de distingui-las das palavras e gestos de tantos outros que em nada contribuíram para a formação do povo, nem para a animação da fé e nem para a prática da justiça. Foi um longo processo. Muita gente colaborou. O povo todo se interessou.

Ora, a Bíblia foi surgindo do esforço comunitário de toda esta gente. Surgiu aos poucos, misturada com a história do próprio povo de Deus. Resumindo, a gente pode dizer: a Bíblia nasceu da vontade do povo de ser fiel a Deus e a si mesmo, e da preocupação de transmitir aos outros e a nós esta mesma vontade de ser fiel. Eles diziam: as coisas do passado aconteceram "para servir de exemplo, e foram escritas para advertir-nos, para quem chegou a plenitude dos tempos"(1Cor 10,11). A Bíblia surgiu sem rótulo. Só mais tarde, o próprio povo descobriu aí dentro a expressão da vontade de Deus e a presença da sua palavra santa.

Livro inspirado por Deus

Como é que um livro que surge da vida e da caminhada do povo pode ser, ao mesmo tempo, a palavra de Deus? Um agricultor resumiu a resposta nesta frase: "Deus fala misturado nas coisas: os olhos percebem as coisas, mas a fé enxerga Deus que nos fala!" A ação do Espírito de Deus pode ser comparada com a chuva: cai do alto, penetra no chão, e acorda a semente que produz a planta (cf. Is 55,10-11). A planta é fruto, ao mesmo tempo, da ação gratuita de Deus e do esforço suado das pessoas. É a palavra do Deus do povo e do povo de Deus.

A ação do Espírito de Deus pode ser comparada com o sol: seus raios invisíveis esquentam a terra e fazem crescer as plantas de baixo para cima. Pode ser comparada ainda com o vento que não se vê. A Bíblia é fruto do vento invisível de Deus, que moveu os homens a agir, a falar ou a escrever. Até hoje, o Espírito de Deus nos atinge quando lemos a Bíblia. Ele nos ajuda a ouvir e a praticar a palavra de Deus. Sem ele, não é possível descobrir o sentido que a Bíblia tem para nós (cf. Jo 16,12-13; 14,26). O Espírito Santo não se compra nem se vende (cf. At 8,20), nem é fruto só de estudo. É um dom de Deus que deve ser pedido na oração (cf. Lc 11,13).


A lista dos livros inspirados

Em vista da fidelidade a Deus e a si mesmo, o povo foi fazendo uma seleção daqueles escritos que eram considerados de grande importância para a sua caminhada. Assim surgiu uma lista de livros, reconhecidos por todos como sendo a expressão da sua fé, das suas convicções, da sua história, das suas leis, do seu culto, da sua missão. Lidos e relidos nas reuniões e nas celebrações do povo, os livros desta lista foram adquirindo, aos poucos, uma grande autoridade. Eram o patrimônio sagrado do povo, porque lhe revelavam a vontade de Deus. Daí vem a expressão Escritura Sagrada.

Nós dizemos lista. Eles usavam uma palavra grega e diziam cânon, o que quer dizer lista ou norma. Os livros canônicos (cânon) eram a norma da fé e da vida do povo. Ora, esta lista de livros sagrados recebeu mais tarde o nome de Bíblia.

A Bíblia é o resultado final de uma longa caminhada, fruto da ação de Deus, que quer o bem dos homens, e do esforço dos homens que querem conhecer e praticar a vontade de Deus. Ou seja, a Bíblia é o fruto de um mutirão prolongado do povo que procurava descobrir, praticar, escrever e transmitir aos outros e a nós a palavra de Deus presente na vida. Vamos ver alguns aspectos deste mutirão do povo que deu origem à Bíblia. (Editora Vozes. Bíblia Sagrada - Editora Vozes (24) 237-5112 - www.vozes.com.br)

sábado, 2 de setembro de 2000

SETEMBRO, MÊS DA BÍBLIA

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 02/09/2000


Em setembro celebramos especialmente a Bíblia, Palavra de Deus e, sobre ela, falaremos durante este mês, no qual, excepcionalmente, esta coluna sairá também às quartas-feiras, para melhor podermos abordar este assunto que interessa e apaixona os homens de todos os tempos. Os textos que serão publicados durante este mês foram gentilmente cedidos pela Editora Vozes (Bíblia Sagrada - Editora Vozes (24) 237-5112 - www.vozes.com.br).



O que você deve saber para ler a Bíblia com proveito

 Livro da humanidade

Abrindo a Bíblia, você está abrindo um dos livros mais lidos de toda a história da humanidade. Antes de você, milhões de pessoas procuraram dentro dela um sentido para a sua vida e o encontraram. Se não o tivessem encontrado, não nos teriam transmitido este livro tão antigo, e já não teríamos mais nenhum interesse pela Bíblia. Mas o contrário está acontecendo. Só neste nosso século, mais de um bilhão e quinhentos milhões de exemplares da Bíblia já foram impressos e divulgados no mundo inteiro, traduzidos para mais de mil línguas diferentes.

Ora, um livro procurado e lido por tanta gente deve possuir um segredo muito importante para a vida. Pois, em geral, nós homens e mulheres não somos tão bobos assim para continuar procurando num lugar onde nada se encontra! Qual é este segredo? Como fazer para descobri-lo? A Bíblia é como coco de casca dura. Esconde e protege uma água que mata a sede do romeiro cansado. Romeiros e peregrinos somos todos! Cansados também! Vamos procurar o facão que nos quebre a casca deste coco!

Palavra de Deus

Em todas as épocas da história, sobretudo em épocas de crise como a nossa, voltamos a alimentar-nos da Bíblia, pois acreditamos que este livro tem a ver com Deus. A fé nos diz que a Bíblia é a palavra de Deus para nós. "Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus"(Mt 4,4).

Uma palavra tem a força e o valor daquele que a pronuncia. A palavra humana pode errar e enganar, pois o homem é fraco e não oferece segurança total. Mas a palavra de Deus não erra nem engana. Ela é prego seguro e firme que sustenta a vida de quem nela se agarra e por ela se orienta. Por isso, "toda escritura divinamente inspirada é útil para ensinar, para repreender, para corrigir, para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e capacitado para toda boa obra"(2Tm 3,16). Assim, "pela paciência e consolação das Escrituras, permaneçamos firmes na esperança"(Rm 15,4). Esperamos que, um dia, a verdade e a justiça voltem a ser a marca de toda a palavra que sai da boca dos homens!

Perguntas que surgem para quem vai ler a Bíblia

A Bíblia é a palavra de Deus. Mas em canto nenhum da Bíblia, Deus colocou a sua assinatura. Nunca ninguém viu o Espírito Santo em ação para mover alguém a escrever. Então, como foi que o povo descobriu que Deus é o autor da Bíblia? Como entender esta convicção tão profunda da nossa fé de que, quando leio a Bíblia, estou lendo ou ouvindo a palavra de Deus para nós? O que significa dizer que a Bíblia é a palavra inspirada de Deus? Foi Deus mesmo que pegou caneta e papel para escrever? Como foi que surgiu a Bíblia? Qual a sua mensagem? Como a gente deve ler este livro sagrado? Quais as regras da sua interpretação? A palavra de Deus encontra-se tão-somente na Bíblia? São muitas perguntas. Vamos tentar esclarecê-las, parte por parte.