sábado, 30 de julho de 2011

A Partilha

No Evangelho das missas deste domingo (Mt 14,13-21), Jesus se retira para o deserto e é seguido por uma “grande multidão”. Impressionado pela fome de vida de toda essa gente, Se encheu de compaixão, curou os seus doentes e distribuiu alimento para todos. 

O texto – Esta narrativa, da partilha dos pães entre Jesus, seus discípulos e a multidão é encontrada nos quatro evangelistas, contudo, Marcos e Mateus apresentam a narrativa de uma segunda partilha, fora da Galiléia. Aliás, o denominado “Milagre da Multiplicação dos Pães” é o único milagre relatado em todos os quatro Evangelhos. Isso aponta a importância dada nas primeiras comunidades a este relato, tanto que a sua memória persistiu não somente nas comunidades da tradição Sinótica (Mc, Mt, e Lc), mas também, na comunidade do quarto Evangelho. 

João Batista – O texto começa com a notícia da morte de João Batista (anunciador do Reino de justiça), que foi preso e executado por Herodes, com o apoio dos chefes religiosos das sinagogas e do Templo de Jerusalém. Eles temiam João, por seu anúncio libertador – que conclamava a prática da justiça – e pela sua grande acolhida entre as multidões. Jesus percebe que ele próprio também, é passível de sofrer o mesmo processo repressivo. Assim retira-se para um lugar isolado, com seus discípulos, indo de barco através do lago da Galiléia (chamado Mar da Galiléia).  

Compaixão – As multidões, sabendo da partida de Jesus, seguiram a pé, pela margem do lago, acompanhando-o. Quando Jesus desembarca já encontra a multidão e vendo sua carência e suas necessidades, tem compaixão dela, curando os doentes. A presença dos doentes entre as multidões exprime uma situação de exclusão social, que favorece o surgimento e a proliferação das doenças. É muito expressiva a compaixão que invade Jesus diante destas multidões. A menção das curas sugere o empenho de Jesus em promover a vida entre estas pessoas excluídas.  

Fome – Ao entardecer, os discípulos percebem que a multidão está com fome. O que fazer? Nos Sinóticos (Mt, Lc, Mc), a solução sugerida pelos discípulos é a de despedir a multidão, para que possam comprar alimento na aldeia próxima. Assim, ignoram a situação dos que não tinham possibilidade de comprar! É a solução de muita gente, hoje, diante do escândalo da pobreza no mundo: “Que se virem! Cada um para si!”. Em João, Marcos e Lucas, a proposta de comprar pão para doá-lo, também se revela uma solução inadequada.  

Solução? – E Jesus rejeita claramente essas “soluções”. Ele não aceita nem a solução de “lavar as mãos” diante da fome alheia nem a de cair num assistencialismo. Ele desafia a comunidade dos discípulos a achar uma saída, baseada numa nova proposta de vida: a partilha! “Dai-lhes vós mesmos de comer!”. 

Partilha – Os discípulos alegam, então, que têm apenas alguns pães e alguns peixes. Jesus pede que sejam trazidos e, em seguida, são abençoados e partidos por Jesus. Os discípulos os distribuem. O gesto toca os corações dos demais, que traziam reservadamente seu alimento. Eles também partilham e todos são satisfeitos. A partilha é o gesto concreto do amor. O amor é contagioso e transforma a comunidade.  

Partilha ou milagre? – A visão messiânica (Antigo Testamento) deu origem à interpretação desta passagem como um espantoso milagre, pelo qual os pães são multiplicados. Em nenhum dos quatro relatos, se usa o verbo “multiplicar”! Os verbos são bem escolhidos: “benzer, partir, dar, distribuir”. Se o objetivo de Jesus fosse o de praticar gestos espantosos, então maior efeito teria se transformasse as pedras em pães, o que ele rejeitou na tentação do deserto.  

Justiça – Na partilha, elimina-se uma sociedade escrava do mercado, pela implantação da nova sociedade livre, justa e fraterna (veja na primeira leitura). Significa desvincular os bens da posse, colocando-o ao alcance de todos. A partilha é a expressão do amor de Jesus. Nada nos separa deste amor que se manifesta, hoje, nas pessoas e comunidades que buscam a justiça e constroem a fraternidade.

sábado, 23 de julho de 2011

O tesouro escondido nas Escrituras

No Evangelho das missas deste domingo (Mt 13,44-52), terminamos a leitura do capítulo treze de Mateus, com as últimas três parábolas do Reino – o tesouro escondido, a pérola preciosa e a rede lançada ao mar. Os evangelistas usam as parábolas de Jesus, que circulavam como tradição das comunidades primitivas, adaptando-as e acrescentando explicações, para o entendimento de suas comunidades. 

Três Parábolas – As duas primeiras parábolas, a do tesouro encontrado no campo e a da perola de grande valor, revelam a supremacia absoluta do Reino dos Céus em relação a qualquer riqueza terrena. A descoberta do imenso valor do Reino, revelado por Jesus, gera tal alegria que a pessoa abre mão de tudo para aderir e participar deste Reino. A terceira parábola tem certa semelhança com a parábola do joio e do trigo. Contudo, o seu núcleo é o julgamento escatológico, no fim dos tempos, com a separação entre os maus e os justos.  

Tesouro – O contexto histórico, do tesouro achado, é do Oriente Médio Antigo – palco de tantas invasões e guerras. Era prática comum enterrar os valores diante da ameaça de uma invasão ou guerra. Contudo, muitas vezes, o dono morria na violência e o tesouro ficava escondido por muito tempo, até ser achado por acaso. Usando este exemplo, Jesus ensina algo sobre o Reino e sobre a atitude do discípulo diante dele. O Reino de Deus é um valor tão incalculável, que uma pessoa sensata dá tudo para possui-lo.  

Alegria – É importante notar: o texto enfatiza que, "cheio de alegria", ele vende todos os seus bens para poder possuir o valor maior, que é o Reino. A vivência dos valores do Reino, do seguimento de Jesus, deve ser uma alegria e não um peso. Sem dúvida é exigente, pois meias-medidas não servem (ele vende tudo o que tem), mas o resultado é uma alegria enorme. Não a alegria falsa, mas uma alegria que brota da profundeza do nosso ser, pois descobrimos a única coisa que não passa e que dá sentido a toda a nossa vida – o Reino de Deus.  

Justiça de Deus – Mais uma vez, como na parábola do campo de trigo e joio, a última parábola ensina que o Reino, que subsiste na Igreja, congrega santos e pecadores (os bons e maus peixes). A separação final deve ser deixada para a justiça de Deus, enquanto, na vivência diária, devemos mostrar paciência e tolerância, mas sem indiferença ou comodismo. 

O último versículo – "Assim, pois, todo o mestre da Lei que se torna discípulo do Reino dos Céus é como um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas". Este versículo talvez indique que o autor do Evangelho de Mateus era um escriba ou doutor da Lei, convertido ao discipulado de Jesus. Ele está bem enraizado nas "coisas antigas" – ou seja, no Antigo Testamento, mas está aberto às coisas novas, ou seja, a nova interpretação da Lei, que Jesus trouxe. Assim, nos ensina algo valioso para o mundo de hoje, tão inconstante e sem raízes de um lado e com a tentação de fechamento no fundamentalismo e intolerância, do outro. Nem tudo que é antigo é ultrapassado e nem tudo que é novidade é bom. Igualmente, nem tudo que é antigo tem que ser preservado e nem toda a novidade deve ser rejeitada. É importante ter critérios, para que não percamos os valores, nem da sabedoria antiga, nem da busca de atualização para os dias de hoje.

sábado, 16 de julho de 2011

Parábolas da esperança

O Evangelho das missas deste domingo (Mt 13,24-43) apresenta-nos mais um bloco de três imagens ou comparações (“parábolas”) que pretendem revelar aos discípulos e às multidões que rodeiam Jesus, a realidade do “Reino”. São as parábolas do grão de mostarda, do fermento e do joio e do trigo. 

Porque parábolas – Já vimos, no domingo passado, porque é que Jesus pregava por “parábolas”: porque a linguagem parabólica é uma linguagem rica, expressiva, questionante; porque a “parábola” é uma excelente arma de controvérsia, muito útil em contextos polêmicos; porque a “parábola” faz as pessoas pensar e incita-as à procura da verdade. Por tudo isso, as “parábolas” são uma linguagem privilegiada para apresentar o Reino, para incitar as pessoas a descobrirem o Reino e para levá-las a aderir ao Reino. 

Joio e trigo – A primeira parábola que nos é proposta é a parábola do trigo e do joio. Trata-se de um quadro da vida cotidiana: há um “senhor” que semeia boa semente no seu campo, um “inimigo” que semeia o joio (nome de uma erva gramínea que nasce entre o trigo e o danifica) e “servos” dedicados, preocupados com o futuro da colheita. Tudo parece normal; o anormal é a reação do “senhor” frente à “crise”: dá ordens para que deixem crescer trigo e joio lado a lado e que só na altura da ceifa seja feita a seleção do bom e do mal, do que é para queimar e do que é para guardar nos celeiros. 

Paciência – O “senhor” da parábola é esse Deus paciente, que dá ao homem todas as oportunidades, que não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva. Os “servos” com excesso de zelo são os crentes (que trabalham no campo do “senhor”) rígidos e intolerantes, incapazes de olhar o mundo e o coração dos homens com a bondade, a serenidade e a paciência de Deus. O “campo” é o mundo e a história, onde coexistem o trigo (os sinais de esperança, de vida, de amor que tornam este mundo mais belo e mais feliz) e o joio (os sinais de morte, responsáveis pelo sofrimento, pela opressão, pela escravidão). É também o coração de cada homem e de cada mulher, capaz de opções de vida e capazes de opções de morte. 

Jesus garante: os métodos de Deus não passam pelo castigo imediato, pela intolerância face às opções dos homens, pela incompreensão dos erros dos seus filhos; os métodos de Deus passam por deixar os homens crescer em liberdade, integrando a comunidade dos filhos de Deus. 

Mostarda e fermento – O Evangelho deste domingo propõe-nos ainda duas outras parábolas: a parábola do grão de mostarda e a parábola do fermento. São duas parábolas muito semelhantes, tanto no conteúdo como na forma. 

Proporções – Numa e noutra, o quadro é o mesmo: sublinha-se a desproporção entre o início e o resultado final. O grão de mostarda é uma semente muito pequena, que pode dar origem a uma árvore de razoáveis dimensões; o fermento apresenta um aspecto perfeitamente insignificante, mas tem a capacidade de fermentar uma grande quantidade de massa. Estas duas comparações servem para apresentar o dinamismo do “Reino”.  

Reino – O “Reino” anunciado por Jesus compara-se ao grão de mostarda e ao fermento: parece algo insignificante, que tem inícios muito modestos e humildes, mas contém potencialidades para encher o mundo, para transformá-lo e renovar. Trata-se de um dinamismo de vida nova, que começa como uma pequena semente lançada à terra numa província obscura e insignificante do império romano, mas que vai lançar as suas raízes, invadir história dos homens e potenciar o aparecimento de um mundo novo. 

Esperança – Com estas parábolas, Jesus responde às objeções daqueles que não acreditavam que da mensagem de um carpinteiro de Nazaré pudesse surgir uma proposta de vida, capaz de fermentar o mundo e a história. Ele garante-nos que o “Reino” é uma realidade irreversível, que veio para ficar e para transformar o mundo. Escutar estas parábolas é receber uma injeção de ânimo e de esperança, capaz de levar a um compromisso mais sério e mais exigente com o “Reino”.

sábado, 9 de julho de 2011

Ensinar em parábolas

No Evangelho das missas deste domingo (Mt 13,1-23), Jesus conta a parábola do semeador: quando semeava, algumas sementes caíram no caminho (foram comidas pelas aves), outras caíram nas pedras (se queimaram), outras entre os espinhos (foram sufocadas) e outras caíram em terra boa (e deram fruto). O que Jesus quer dizer com esta história? 

Liturgia – Neste e nos próximos dois domingos, os Evangelhos das missas serão sobre as parábolas de Jesus (capítulo 13 de Mateus). Mateus apresenta-nos sete parábolas, através das quais, Jesus revela aos discípulos a realidade do “Reino”: são as “parábolas do Reino”. Dessas, três estão também nos Evangelhos de Lucas e Marcos (sinóticos: o semeador, o grão de mostarda, o fermento); as outras quatro (o trigo e o joio, o tesouro escondido, a pérola preciosa, a rede) são exclusivas de Mateus. 

O que é uma parábola? – A “parábola” é uma imagem ou comparação, por meio da qual se ilustra uma determinada mensagem ou ensinamento. O exegeta C.H. Dodd deu a seguinte definição: "Uma metáfora tirada da vida diária ou da natureza, que chama a atenção do ouvinte pelas suas imagens vivas ou estranhas, e que deixa-o com dúvida suficiente sobre o seu sentido exato, para que seja estimulado a refletir por si mesmo." 

Linguagem – Falar em parábolas não foi invenção de Jesus. É uma linguagem habitual na literatura dos povos do Médio Oriente: o homem oriental gosta mais de falar e de ensinar através de imagens, de comparações e de alegorias, do que através dos discursos lógicos, frios e racionais, típicos da civilização ocidental. 

Vantagens – Falar em parábolas tem várias vantagens em relação a um discurso mais lógico. Em primeiro lugar, porque a comparação da linguagem parabólica é muito mais rica em comunicação do que a exposição teórica: é mais profunda, mais carregada de sentido e, por isso, mexe mais com os ouvintes. Em segundo lugar, porque é uma excelente arma de controvérsia: a linguagem figurada permite levar o ouvinte a admitir certos pontos que, de outro modo, nunca mereceriam a sua concordância. Em terceiro lugar, porque é um verdadeiro método pedagógico, que ensina a refletir, a medir os prós e os contras, a encontrar soluções para os dilemas que a vida põe: estimula a curiosidade, incita à busca, convida a descobrir a verdade. 

Esta parábola – A parábola deste Evangelho usa imagens conhecidas da Palestina rural: a semeadura. Para entender as comparações, é bom lembrar que, na Palestina Antiga, jogava-se a semente antes de arar a terra. Por isso, alguma semente caía no caminho; outra parte seria logo queimada pelo sol terrível do país; outra parte comida pelas aves, outra parte perdida, porque a terra era rala e cheia de ervas daninhas. Mas uma parte iria cair em terra fértil que dava frutos, conforme a sua possibilidade. 

Imagens – Podemos supor que o semeador era Deus, Jesus, ou um emissário deles; a semente seria a Palavra de Deus e os tipos diferentes de solo, as respostas diferentes dos ouvintes. Alguns deixam o fascínio do mal, nas suas diversas formas, roubar a semente; outros acolhem a Palavra, mas de uma maneira superficial e não demora muito para que se torne infrutífera nas suas vidas. Outros aceitam a revelação divina, mas a colocam em segundo plano, enquanto correm atrás das riquezas de um mundo consumista, relegando, assim, Deus e o seu projeto. Estes fazem com que a religião se torne algo de fachada, que em nada ajuda o Reino a crescer.  

Esperança – A finalidade da história é dar esperança. Embora haja muitos fracassos, em última instância o trabalho do semeador dá certo: sempre há pessoas que recebem com entusiasmo a Palavra e suas vidas, baseadas na fé viva, dão muitos frutos. Não é necessário que todos deem frutos iguais, mas que todos deem conforme as suas possibilidades (cem, sessenta e trinta por um). 

Refletir – No final, a parábola faz o ouvinte refletir sobre si mesmo. Transpondo-a para os dias atuais, cabe-nos perguntar: Depois de dois mil anos de semeadura cristã (e quinhentos anos das Igrejas no Brasil), será que o solo (nós cristãos) está dando os frutos de uma sociedade justa? Que tipo de solo estamos sendo? O semeador é Deus, a semente é boa; mas que tipo de solo sou eu, somos nós? "Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça!"

sábado, 2 de julho de 2011

Pedro e a cátedra do primeiro Papa

No Evangelho das missas deste domingo (Mt 16,13-19), Pedro reconhece Jesus como Messias, é proclamado como base (pedra fundamental) da Igreja e recebe as chaves do Reino dos Céus. 

Época – Mateus escreve na década de 80, quando os discípulos de Jesus oriundos do judaísmo estavam sendo expulsos das sinagogas e os cristãos começavam a estruturar-se em uma instituição religiosa própria, na qual a figura de referência era Pedro, já martirizado em Roma. Pedro era lembrado pelo seu testemunho corajoso diante da perseguição do Império Romano. 

O que é cátedra? A “cátedra” quer dizer a sede fixa do bispo, colocada na igreja matriz de uma diocese, que por este motivo é chamada “catedral”. É o símbolo da autoridade do bispo e de seu “magistério” (ensinamento evangélico transmitido à comunidade cristã) como sucessor dos apóstolos. Quando o bispo toma posse da Igreja particular que lhe foi confiada, com a mitra e o báculo, senta-se em sua cátedra. Dessa sede guiará, como mestre e pastor, o caminho dos fiéis, na fé, na esperança e na caridade! 

Qual foi a “cátedra” de São Pedro? Ele foi escolhido por Cristo como “rocha” sobre a qual edificaria a Igreja (Mt 6,18) e começou seu ministério em Jerusalém, depois da Ascensão do Senhor e de Pentecostes. A primeira “sede” da Igreja foi o Cenáculo e é provável que naquela sala (onde estava presente Maria Santíssima), se reservasse um posto especial a Simão Pedro. Depois, a sede de Pedro foi Antioquia (na Síria, hoje Turquia), cidade evangelizada por Barnabé e Paulo. Nela, “pela primeira vez os discípulos receberam o nome de ‘cristãos’” e Pedro foi o primeiro bispo. De Antioquia a Providência levou Pedro a Roma. 

Caminho – Portanto, de Jerusalém (Igreja nascente), Pedro passa pela Antioquia (primeiro centro da Igreja que agrupava pagãos e judeus), chegando a Roma, centro do Império, onde concluiu com o martírio sua carreira ao serviço do Evangelho. Por este motivo, a sede de Roma, que havia recebido a maior honra, recebeu também a tarefa confiada por Cristo a Pedro, de estar ao serviço de todas as Igrejas particulares, para a edificação e a unidade de todo o Povo de Deus. 

Roma – A sede de Roma, depois destas migrações de São Pedro, foi reconhecida como a sede do sucessor de Pedro e a “cátedra” de seu bispo representou a do apóstolo encarregado por Cristo de apascentar todo seu rebanho. Testificam isso os mais antigos Padres da Igreja, como Santo Irineu, Tertuliano e São Jerônimo. 

Santo Irineu – Irenaeus (130 a 202, bispo de Lyon), em seu livro “Contra as heresias” (ano 180), descreve a Igreja de Roma como a “maior e mais antiga, conhecida por todos, fundada e constituída em Roma pelos dois gloriosos apóstolos Pedro e Paulo”, e acrescenta: “Com esta Igreja, por sua exímia superioridade, deve estar em acordo a Igreja universal, ou seja, os fiéis que estão por toda parte”.  

Tertuliano – Tertuliano (160 a 220) foi um dos maiores escritores cristãos. No livro “Prescrições contra todas as heresias”, afirma: “Esta Igreja de Roma é bem-aventurada! Os apóstolos derramaram nela, com seu sangue, toda a doutrina”. A cátedra do bispo de Roma representa, portanto, não só seu serviço à comunidade romana, mas também sua missão de guia de todo o Povo de Deus. 

São Jerônimo – São Jerônimo (347 a 420), doutor da Igreja, fez a tradução da Bíblia para o latim. Em seu livro “As Cartas”, dá um testemunho particularmente interessante, porque menciona explicitamente a “cátedra” de Pedro, apresentando-a como porto seguro de verdade e de paz. Assim escreve: “Decidi consultar a cátedra de Pedro, onde se encontra essa fé que a boca de um apóstolo exaltou; venho agora pedir alimento para minha alma ali, onde recebi a veste de Cristo. Não sigo outro primado senão o de Cristo; por isso, ponho-me em comunhão com tua beatitude, ou seja, com a cátedra de Pedro. Sei que sobre esta pedra está edificada a Igreja”.


Vaticano – No altar principal da basílica de São Pedro encontra-se o monumento à cátedra do apóstolo Pedro (obra do artista Bernini): é um grande trono de bronze, sustentada pelas estátuas de quatro doutores da Igreja – dois do Ocidente (Santo Agostinho e Santo Ambrósio) e dois do oriente (São João Crisóstomo e Santo Atanásio).