sábado, 31 de dezembro de 2011

Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho

No Evangelho deste domingo (Lc 2,16-21) Lucas descreve que os pastores, ao serem avisados pelo anjo, dirigiram-se apressadamente para Belém e encontraram Maria, José e o Menino deitado na manjedoura; e regressaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto. 

Natal – O texto do Evangelho de hoje é a continuação daquele que foi lido na noite de Natal: após o anúncio do “anjo do Senhor”, os pastores (destinatários desse anúncio) dirigiram-se a Belém e encontraram o Menino, deitado numa manjedoura de uma gruta de animais.  

Catequese – Mais uma vez, Lucas não está interessado em fazer a reportagem do nascimento de Jesus ou a crônica social das “visitas” que, então, o menino de Belém recebeu; mas está, sobretudo, interessado em apresentar uma catequese que dê a entender (aos cristãos, a quem o texto se destina) quem é esse Menino e qual a missão de que ele foi investido por Deus. Nesta catequese fica bem claro que Jesus é o Messias libertador, enviado a trazer a paz; e há também, uma reflexão sobre a resposta que Deus espera do homem. 

Ideia do autor – Como pano de fundo do texto está, portanto, a ideia de que, com a chegada de Jesus, atingimos o centro do tempo salvífico… Em Jesus, a proposta libertadora que Deus tinha para nos oferecer veio ao nosso encontro e materializou-se no meio dos homens; o fato de que essa “boa notícia” foi dada, em primeiro lugar, aos pastores (classe marginalizada, considerada impura, pecadora e muito longe de Deus e da salvação) significa que a proposta de Jesus se destina, de forma especial, aos pobres e marginalizados, àqueles que a teologia oficial excluía e condenava. Diz-lhes que Deus os ama, que conta com eles e que os convoca para fazer parte da sua família. Esta é a ideia essencial do autor. 

Personagens da cena – Definida a questão essencial, vamos voltar nossa atenção para as atitudes dos pastores e na forma como eles respondem à chegada de Jesus… 

Pastores – Depois de escutarem a “boa nova” do nascimento do libertador, se dirigem “apressadamente” ao encontro do menino. A palavra “apressadamente” sublinha a ânsia com que os pobres e os marginalizados esperam a ação libertadora de Deus em seu favor. Aqueles que vivem numa situação intolerável de sofrimento e de opressão reconhecem Jesus como o único salvador e apressam-se a ir ao seu encontro. É d’Ele e de mais ninguém que brota a libertação pela qual os oprimidos anseiam. A disponibilidade de coração para acolher a sua proposta é a primeira coisa que Deus pede. 

Glória – Reparem como os pastores reagem ao encontro com Jesus… Começam por glorificar e louvar a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido: é a alegria pela libertação que se converte em ação de graças ao Deus libertador. Depois, esse louvor torna-se testemunho: quem faz a experiência do encontro com Deus libertador tem obrigatoriamente de dar testemunho, a fim de que os outros homens possam participar da mesma experiência gratificante. 

Maria – Finalmente, atentemos na atitude de Maria: ela “conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração”. É a atitude de quem é capaz de abismar-se com as ações do Deus libertador, com o amor que Ele manifesta nos seus gestos em favor dos homens. “Observar”, “conservar” e “meditar” significa ter a sensibilidade para entender os sinais de Deus e ter a sabedoria da fé para saber lê-los à luz do plano de Deus. É precisamente isso que faziam os profetas. 

Atitudes – A atitude meditativa de Maria, que interioriza e aprofunda os acontecimentos, complementa a atitude “missionária” dos pastores, que proclamam a ação salvadora de Deus, manifestada no nascimento de Jesus. Estas duas atitudes definem duas coordenadas essenciais daquilo que deve ser a existência do crente.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Quando nasceu Jesus ?

Como fizemos na semana passada, hoje vamos apresentar mais detalhes sobre o nascimento de Jesus com informações tiradas dos Evangelhos Canônicos e de textos históricos. 

Cronologia – A cronologia do nascimento de Jesus não é encontrada, diretamente, nos Evangelhos.  No entanto, é possível a reconstrução do quadro cronológico a partir de alguns dados evangélicos, históricos e astronômicos.         

O que dizem os Evangelhos – O ano em que Jesus nasceu pode ser calculado em função de dois dados evangélicos: alguns anos antes da morte de Herodes (Mt 2,1-19) e por ocasião de um recenseamento, quando Públio Sulpício Quirino era governador da província romana da Síria (Lc 2,2). 

Um pouco de História – De acordo com o historiador judeu Flávio Josefo, Herodes governou 37 anos (desde o 714º ano do calendário romano, que conta os anos a partir da fundação de Roma – ou 40 a.C. – até a sua morte no ano 750º, ou 4 a.C.).   Herodes morreu alguns dias após um eclipse lunar e cerca de 10 dias antes da Páscoa.  A astronomia confirma um eclipse lunar visível em Jerusalém na noite de 12 de março de 4 a.C. e a Páscoa daquele ano ocorreu em 11 de abril.  Portanto, Herodes morreu no final de março do ano 4 a.C. 

Herodes – Sabe-se também, que no princípio do inverno do ano de 5 a.C. Herodes, já doente (problemas pulmonares), se transferiu para Jericó e, depois, para as termas de Calliroe, no Mar Morto.  Portanto, a visita dos magos a Jesus e a Herodes em Jerusalém se deu antes dessa data (Mt 2).  Por outro lado, Herodes, calculando a época desde o nascimento de Jesus, fez matar todos os meninos com menos de dois anos.  Isso nos leva a concluir que Jesus deveria ter nascido pelo menos dois anos antes da morte de Herodes.  

O ano do nascimento de Jesus – Essas considerações nos levam a situar o nascimento de Jesus nos anos 7 (mais provável) ou 6 antes de nossa era e, portanto, se não fosse um paradoxo, poderíamos dizer em 7 ou 6 "antes de Cristo". 

Jesus não nasceu em dezembro – Quanto ao mês do nascimento de Jesus, a única informação está em Lc 2,8: "na mesma região havia uns pastores que estavam nos campos e que durante as vigílias montavam guarda a seu rebanho".   Sabe-se que, em dezembro, quando comemoramos o Natal, a temperatura na região de Belém é abaixo de zero e, normalmente, há geadas.   Portanto, certamente não haveria gado, no mês de dezembro, nos pastos próximos a Belém.   Atualmente, naquela região, os rebanhos são levados para o campo em março e recolhidos no fim de outubro. 

A época mais provável – Portanto, o nascimento de Jesus se deu antes do inverno (do hemisfério norte), talvez no mês de setembro ou outubro do ano 7 (talvez 6) antes de nossa era. 

25 de dezembro – Nada sabemos sobre o dia do nascimento de Jesus. Os romanos comemoravam em 25 de dezembro o ‘Dia do Sol Invencível’ pois, os dias começavam a ficar mais longos.  No século IV, os cristãos adotaram esta data para proclamar o nascimento de Cristo. 

QUER SABER MAIS? – Flávio Josefo foi um escritor e historiador judeu que viveu entre 37 e 103 d.C. No primeiro século escreveu a obra “A História dos Hebreus” que, depois da Bíblia, é a maior fonte de informações sobre os impérios da Antiguidade, o povo judeu e o Império Romano. Se você quiser receber o texto completo deste livro (1.627 páginas) solicite por E-mail que lhe enviaremos o arquivo gratuitamente.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Advento: Alguém está chegando...

Como fizemos na semana passada, a respeito da história de João Batista, hoje vamos apresentar mais detalhes sobre o nascimento de Jesus com informações tiradas de outras fontes (além dos Evangelhos Canônicos), como a tradição judaica, fontes históricas e textos apócrifos (Protoevangelho de Tiago, a História de José o Carpinteiro). Lembramos que a Igreja Católica aceita alguns destes fatos na sua liturgia (os nomes dos pais de Maria, a cerimônia de apresentação de Maria no Templo, Imaculada Conceição, José idoso, o bastão de José), mesmo não constando nos Evangelhos. 

Maria – A mãe de Jesus era filha de Joaquim e Ana e foi concebida, por intervenção divina, imaculada, sem pecado original. Recebeu educação no Templo dos três aos doze anos de idade, foi oferecida em noivado a José, indo morar em sua casa. 

José – O pai adotivo de Jesus era um viúvo, carpinteiro, que vivia na cidade de Belém com seus seis filhos (quatro homens e duas mulheres). Tiago era o menor deles, ainda com pouca idade. José era um homem justo e costumava permanecer longos períodos em viagem (junto com dois de seus filhos), exercendo sua profissão (construindo casas). 

Um certo anjo... – Certo dia, Maria pegou um cântaro e foi enchê-lo de água. Era o ano 7 a.C. e Maria tinha 13 (ou 14) anos. Mas eis que ouviu uma voz que lhe dizia: "Deus te salve, cheia de graça, o Senhor está contigo, bendita és entre as mulheres." Maria se assustou, pois não sabia de onde vinha aquela voz. Um anjo se apresentou diante dela, dizendo: "Não temas, Maria, pois obtiveste graça junto a Deus. Eis que engravidarás e darás à luz um filho, e lhe darás o nome de Jesus.”. 

Visita a Isabel – Após a visita do anjo, Maria partiu em visita a sua parenta Isabel, grávida de seis meses. Permaneceu três meses com Isabel, portanto, até o nascimento de João Batista. Cabe lembrar a distância entre as cidades de Nazaré e Belém é de, aproximadamente, 140 km. Assim, Maria percorreu 280 km em sua visita a Isabel. 

Magnificat – Ao chegar à casa de Isabel, Maria ouviu um dos mais belos hinos de louvor cristão, todo baseado no cumprimento das promessas do Antigo Testamento (Lc 1,46-56). O Magnificat seria uma oração usada na liturgia palestinense. 

Ave Maria – Você sabia que a primeira parte da oração da "Ave Maria" é totalmente tirada das palavras do anjo e de Isabel? Está tudo na Bíblia. Vejamos: "Ave, cheia de graça" (anjo em Lc 1,28-30), "o Senhor está convosco" (anjo em Lc 1,28), "bendita és entre as mulheres" (Isabel em Lc 1,42), "bendito é o fruto do vosso ventre" (Isabel Lc 1,42). Portanto, ao rezarmos a oração da Ave Maria, estamos recitando versículos do Evangelho de Lucas. 

Gravidez de Maria – Quando Maria estava no sexto mês de gravidez, José voltou do seu trabalho. Ao constatar a gravidez de Maria, revoltou-se, não sabendo que atitude tomar: podia denunciá-la às autoridades (o que a levaria à morte) ou assumir a gravidez, aceitando-a em sua casa como esposa. Um anjo apareceu a José (em sonho), indicando a concepção divina de Maria e determinando que o seu filho deveria chamar-se Jesus. 

Viagem – Era verão (ou outono) do ano 7 (ou 6) a.C. no hemisfério norte, pois os pastores estavam com seus rebanhos no campo (portanto, agosto ou setembro). O imperador Augusto publicou um decreto ordenado que todos deveriam se recensear em sua cidade de nascimento. Para a viagem a Belém, José selou uma asna e acomodou Maria sobre ela. Enquanto um de seus filhos ia à frente, puxando o animal, José ia atrás, em outro animal. 

Nascimento – Quando estavam a aproximadamente três quilômetros de Belém, Maria começou a sentir as dores de parto. Havia ali perto uma gruta de pedra, com alguns animais. Bem... o resto da história todo mundo já sabe...

sábado, 10 de dezembro de 2011

São João Batista e Herodes

          Uma das histórias mais conhecidas da Bíblia é o confronto entre São João Batista (o precursor de Cristo) e Herodes Antipas, o filho de Herodes Magno (aquele que aparece no nascimento; recebe os magos e manda assassinar as crianças de Belém).  Vamos detalhar os fatos, usando os textos do Evangelho de Marcos (Mc 6, 17s) e as citações do historiador Flávio Josefo, no livro Antiguidades Judaicas (XVIII, 5, 2). 

Herodes Antipas – Foi o filho caçula de Herodes, o Grande e da samaritana Maltace, uma das dez esposas de seu pai; nasceu por volta do ano 20 a.C. Com a morte de seu pai (4 a.C.), tornou-se tetrarca da Galileia e Pereia (rei de uma das quatro partes do reino) (conforme Lc 3,1).  Frequentou as melhores escolas de seu tempo, alternando o estudo com os divertimentos e a ociosidade de Roma. Casou-se com a filha de Aretas IV, o rei do perigoso povo nabateu (da vizinha Arábia).  Tinha total confiança e simpatia do Imperador Tibério, a ponto de ser transformado em um espião, junto aos magistrados romanos no Oriente. 

O escândalo – Por volta do ano 27 d.C., em uma de suas viagens a Roma, como informante do imperador, Herodes Antipas hospedou-se na casa de seu irmão por parte de pai, Herodes Filipe (veja Mc 6,17).  Este levava uma vida discreta em Roma e havia se casado com sua sobrinha, Herodíades.  A ocasião foi favorável tanto para a ambiciosa Herodíades (que não se conformava com aquela vida obscura), como para o leviano Antipas, que se apaixonou por ela. 

A infidelidade – Os dois juraram-se fidelidade.  A pedido de Herodíades, o tetrarca prometeu repudiar a esposa assim que retornasse à Galileia; Herodíades prometeu-lhe abandonar o marido, Filipe, e acompanhá-lo para a Galileia.  A legítima esposa de Antipas, sabendo dos projetos do marido, preferiu não sofrer a humilhação do repúdio, retirando-se para a casa dos pais.  Os nabateus, vendo a filha do rei Aretas IV humilhada, invadiram as terras de Antipas, fazendo com que este perdesse toda a estima do imperador. 

A união ilegítima – Com o caminho livre, Herodíades viajou para a Galileia, levando a sua filha, a bela jovem Salomé, e passou a viver com Herodes Antipas. 

A denúncia de João Batista – Todo o povo comentava o escândalo do tetrarca, que violara as leis nacionais e religiosas ao contrair aquelas segundas núpcias, que a Lei de Moisés condenava severamente (Lev 20,21).  Todos falavam, indignados, dessa união, mas secretamente, temiam represálias.  Só o profeta do deserto, respeitado pelo povo e por Antipas (Mc 6,20), João Batista, ousou afrontar o tetrarca, denunciando a união ilegítima com Herodíades (Mc 6,18).  Temendo uma revolta popular, Antipas mandou prender João Batista na solitária e majestosa fortaleza de Maqueronte. Herodíades queria silenciar para sempre, com a morte, o austero denunciante. 

O Martírio – No dia do aniversário de Herodes, foi oferecido um banquete aos grandes da corte.  Salomé (filha de Herodíades) dançou e agradou a todos.  O rei, encantado, disse à moça: “Pede o que quiseres e eu te darei, ainda que seja a metade de meu reino”.  Em dúvida, a moça perguntou a sua mãe: “O que hei de pedir?”.  Ela respondeu: “A cabeça de João Batista”.  Salomé pediu ao rei: ”Quero que me dês num prato a cabeça de João Batista”.  Antipas, mesmo contrariado, mandou degolar João, no cárcere, e entregou a sua cabeça num prato para Salomé (veja Mc 6,21-28). 

Lenda – Uma antiga lenda conta que Herodíades ao ter nas mãos a cabeça de João, não pôde conter a satisfação e, com um alfinete de ouro, atravessou a língua que a havia censurado. 

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