A leitura do
Evangelho deste domingo nos apresenta o pedido dos apóstolos a Jesus: “Aumenta
a nossa fé!” (Lucas 17, 5-10).
Reino – Nos
ensinamentos anteriores, Jesus tinha avisado os discípulos da dificuldade de
percorrer o “caminho do Reino”: disse-lhes que entrar no “Reino” é “entrar pela
porta estreita” (Lc 13,24); convidou-os à humildade e à gratuidade (Lc 14,7-14);
avisou-os de que é preciso amar mais o “Reino” do que a própria família, os
próprios interesses ou os próprios bens (Lc 14,26-33); exigiu-lhes o perdão
como atitude permanente (Lc 17,5-6). Agora, são os discípulos que, preocupados
com a exigência do “Reino”, pedem mais “fé”.
Coragem – Cabe lembrar
que no Novo Testamento a fé não é, primordialmente, a adesão a dogmas ou a um
conjunto de verdades abstratas sobre Deus; mas é a adesão a Jesus, à sua
proposta, ao seu projeto – ou seja, ao projeto do “Reino”. No entanto, os
discípulos têm consciência de que essa adesão não é um caminho cômodo e fácil,
pois supõe um compromisso radical, a vitória sobre a própria fragilidade, a
coragem de abandonar o comodismo e o egoísmo para seguir um caminho de
exigência… Pedir a Jesus que lhes aumente a fé significa, portanto, pedir-lhe
que lhes aumente a coragem de optar pelo “Reino” e pela exigência que o “Reino”
comporta; significa pedir que lhes dê a decisão para aderirem incondicionalmente
à proposta de vida que Jesus lhes veio apresentar.
Atitudes – Lucas reúne
nos primeiros dez versículos deste capítulo diversos ensinamentos de Jesus
sobre algumas atitudes fundamentais para a vida de quem quer segui-lo pelo
caminho do discipulado. Podemos dividir o trecho de hoje em duas partes:
versículos de 5 a
7 e versículos de 8 a
10.
Fé – A primeira parte trata da questão da fé inabalável, que deve ser característica do discípulo. Inicia-se o diálogo com os apóstolos expressando diante de Jesus a sua insegurança quanto a sua fé: "Os apóstolos disseram ao Senhor: "Aumenta a nossa fé!". Tal pedido tem outros ecos nos evangelhos. Faz-nos lembrar do pai do moço epiléptico em Marcos: "Eu tenho fé, mas ajude a minha falta de fé!" (Mc 9,24). É a experiência de todo discípulo - acreditamos em Jesus, queremos seguir a sua pessoa e o seu projeto, mas a vida se encarrega de nos demonstrar como é fraca a nossa fé - quantas caídas, traições, incoerências, recaídas....! E o único recurso é pedir este dom gratuito de Deus que ninguém pode merecer, e que é a fé inabalável. Do fundo no nosso ser gritamos com os Doze:"Aumenta a nossa fé!".
Exemplo – Jesus faz uma comparação exagerada (hipérbole) para enfatizar tanto a necessidade da fé quanto a sua força, usando as imagens do grão de mostarda (semente bem pequena), e da amoreira - árvore grande que tem um sistema extenso de raízes: "Se vocês tivessem fé do tamanho de uma semente de mostarda, poderiam dizer a esta amoreira: "Arranque-se daí, e plante-se no mar". E ela obedeceria a vocês".
Comunidade – A segunda parte do trecho fala sobre a atitude correta de quem tem um ofício ou ministério dentro da comunidade cristã... Os fariseus estavam convencidos de que bastava cumprir os mandamentos da Torah para alcançar a salvação: se o homem cumprisse as regras, Deus não teria outro remédio senão salvá-lo… A salvação dependia dos méritos do homem. Deus seria, assim, apenas um contabilista, empenhado em fazer contas para ver se o homem tinha ou não direito à salvação…
Graça – Deve fica claro que Jesus ao dizer que “Somos servos inúteis: fizemos o que devíamos fazer” não está ensinando que os discípulos valem nada, nem que o seu trabalho não tenha valor. O ponto central é que o fato de terem desenvolvido bem as suas tarefas e missão não lhes dão direito de exigir a graça de Deus, por causa dos seus méritos. Tal graça é, e sempre será, um dom, gratuitamente oferecido.
A nossa parte – Hoje nós estamos na mesma situação dos apóstolos - fomos chamados à fé sem mérito algum da nossa parte. Agradecendo a Deus por este dom, assumamos a nossa parte, - a de cumprir bem a missão recebida, sem nos vangloriarmos disso, pois se nós conseguimos fazer bem as coisas, também era porque podíamos contar com a graça de Deus. Sem falsa humildade, mas também sem vaidade, devemos rezar: "Somos empregados inúteis; fizemos o que devíamos fazer".