No Evangelho das missas deste domingo (Mc 10,46-52), Jesus
continua sua viagem para Jerusalém. Para evitar pisar nas terras da Samaria (os
samaritanos eram considerados impuros), Jesus e seus discípulos partiam da
Galiléia, atravessavam o Rio Jordão, viajavam em direção ao sul pela região da Decápole
e Peréia e, novamente, atravessavam o Rio Jordão e entravam na Judéia.
Local e época – Os fatos descritos no Evangelho deste domingo
acontecem quando o grupo liderado por Jesus entra no território da Judéia e se
aproxima da cidade de Jericó. Faltam 37 quilômetros para
chegar a Jerusalém. Estamos no mês de março do ano 30. Em menos de um mês (7 de
abril do ano 30), Jesus será preso, condenado e crucificado. A multidão encontra
um cego chamado Bartimeu, sentado na beira do caminho, pedindo esmola. Ao ouviu
dizer que era Jesus de Nazaré quem estava passando, o cego começou a gritar: “Jesus,
Filho de Davi, tenha pena de mim!”. Então Jesus parou e disse: “Chamem o cego!”
e perguntou: “O que é que você quer que eu faça? - perguntou Jesus”. “Mestre,
eu quero ver de novo!” respondeu ele. “Vá; você está curado porque teve fé!” -
afirmou Jesus.
Grito – Mas este texto está bem carregado de sentido. Enquanto
Jesus está "a caminho" com os seus discípulos, o cego está à beira do
caminho! Simboliza todos os que não conseguem caminhar no discipulado, mas estão
parados, à beira do seguimento de Jesus. Logo que Bartimeu ouve que é Jesus que
passa, ele grita fortemente! "Filho de Davi, tem piedade de mim!" É
de novo um dos temas centrais da Bíblia – o grito do pobre e sofrido! Desde o
grito do sangue de Abel, passando pelo grito do Êxodo, de Jó, dos pobres nos
Salmos, de Bartimeu, de Jesus na Cruz, dos martirizados do Apocalipse, o tema
do grito do sofrido perpassa toda a Escritura, com a garantia de que Deus ouve
esse grito. Mas a reação dos transeuntes é típica – mandam que Bartimeu se
cale! O poder dominante sempre quer abafar o grito do excluído! E isso não
mudou até o dia de hoje! Até nas igrejas existe quem não quer ouvir o grito, e
faz tudo para abafar qualquer iniciativa popular. Mas Deus ouve!
O manto – Com um fino toque de ironia, o texto mostra como, por
causa da atitude de Jesus, os mesmos que mandaram o cego calar-se agora são
obrigados a convidá-lo para falar com Jesus. Mas para isso, Bartimeu tem que
lançar fora o manto – a única coisa que ele possuía, a sua única segurança.
Como os primeiros discípulos no Lago (Mc 1,18.20), ele aprende que não é
possível seguir Jesus sem deixar algo, sem arriscar a segurança humana para
experimentar a mão de Deus.
Ver Jesus – Mas Jesus não parte imediatamente para a ação. Ele
respeita a liberdade do cego e pergunta "o que quer que faça por
você". Pois Jesus não obriga ninguém a se libertar – há quem prefira ficar
sentado à beira do caminho, na sua comodidade e não opte pela libertação. Mas
Bartimeu quer ver de novo – diferente do cego de Jo 9, ele via uma vez e tinha
perdido a visão. Aqui ele simboliza a comunidade de Marcos pelo ano 70, que
tinha perdido a clareza da fé e precisava do toque de Jesus para voltar a ver
claramente.
Seguir Jesus – Curado, Bartimeu recebe licença para ir, para seguir a
sua vida. Mas ele faz outra opção: "no mesmo instante o cego começou a ver
de novo e seguia Jesus pelo caminho". Ele usava para Jesus um titulo não
muito adequado "filho de Davi" (Jesus fez muitas restrições a este
titulo messiânico), mas ele tem a prática certa – segue Jesus pelo caminho.
Aqui Marcos faz contraste com a figura de Pedro, que tinha o título certo
"Tu és o Messias", mas a prática errada! Não quis que Jesus
caminhasse para a morte! Assim, em Marcos, o modelo de discípulo não é Pedro,
mas Bartimeu: mais importante do que os títulos e expressões teológicas, sem
negar a sua importância relativa, é a prática dos seguimentos de Jesus! Um
alerta para todos nós, para que a nossa prática seja coerente com a nossa fé, no
seguimento de Jesus, em favor do Reino de Deus.