sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Jesus no Templo com os Doutores



O Evangelho das missas deste domingo (Lc 2,41-52) descreve a viagem da Sagrada Família a Jerusalém por ocasião da Páscoa.  Terminadas as festividades, Jesus permanece no Templo com os Doutores da Lei.  Vamos detalhar este episódio.

Tradição da Páscoa – Por ocasião da Páscoa, a principal festa do povo de Deus, milhares de peregrinos acorriam para a capital, Jerusalém.  No ano em que Jesus completava 12 anos, Ele, com José e Maria, foram fazer a peregrinação anual ao templo de Jerusalém.  A Sagrada Família partiu de Nazaré, onde moravam, e subiram até Jerusalém, numa viagem de 150 km, percorridos em 3 ou 4 dias. Por segurança, os romeiros viajavam em grandes caravanas, junto com os parentes.  Supõe-se que os peregrinos de Nazaré acampavam num jardim chamado Getsêmani, no pé do Monte das Oliveiras.

A época – Era o ano 6 de nossa era.  O rei Arquelau (filho de Herodes) já havia sido deposto, sendo a Judéia governada pelo procurador romano Coponius.  Nesta época, Jesus, com 12 anos, já era considerado adulto, com maturidade religiosa no judaísmo (Filho da Lei ou Bar-mizwah), membro do povo de Israel, passando a fazer leituras nas sinagogas.  Falava o aramaico (no dia-a-dia) e o hebraico (idioma culto e religioso da época).  Algumas perícopes dos Evangelhos dão a entender que Jesus soubesse a língua grega.

No fim da festa – Terminada a Páscoa, os romeiros se reuniam, formando as caravanas e voltavam para casa.  Os homens formavam um grupo separado das mulheres.  Os filhos podiam ir com o pai, ou com a mãe, ou com os parentes.  Conforme a tradição, o local de encontro das caravanas era em El-Birê, 16 km ao norte de Jerusalém, de onde as caravanas partiam cada uma para sua cidade.

Jesus fica em Jerusalém – José imaginava que Jesus estivesse com Maria e esta, por sua vez, pensava que o menino estivesse na caravana dos homens.  Perceberam que Ele não estava na caravana no fim do primeiro dia de viagem.  Já estavam a cerca de 15 km de Jerusalém.  Voltaram para lá e depois de três dias de buscas, encontraram Jesus no Templo.

Jesus no Templo – José e Maria encontraram Jesus no meio dos mestres, ouvindo-os e interrogando-os.  Os mestres da lei eram profundos conhecedores da Lei Judaica (os cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), que ensinavam nos átrios do templo, como Jesus o faria em sua vida pública.  O ensinamento dos mestres era em forma de diálogo.

Diálogo com os mestres – Pela descrição do Evangelho de Lucas, parece que estava ocorrendo uma aula, com todos os mestres e Jesus sentados em círculo, como era a tradição.  A admiração dos mestres estava em Jesus não saber os trechos da Sagrada Escritura (Antigo Testamento) de maneira decorada, como era normal, mas discutia com conhecimento.

“Meu filho, por que agiste assim conosco?” – Maria deve ter dito esta frase mais em tom de alívio do que de repreensão.  Jesus respondeu: “Não sabíeis que eu devo estar na casa do meu Pai?” A tradução ao pé da letra (do grego) desta frase de Jesus é: “ ... que eu devia estar ocupado com os negócios de meu Pai?”.  É a primeira palavra de Jesus citada nos Evangelhos; notar que, como na última frase de Jesus, ele se refere ao Pai.

Jesus crescia em idade, em sabedoria e em graça diante de Deus – Jesus se preparava para sua missão.  Vinte anos depois (ano 27 d.C.), iniciava sua vida pública, fazendo com que ele superasse os laços familiares.  Deixou sua cidade de origem (Nazaré) e elegeu a cidade de Carfanaum como centro de seu apostolado.  A casa de Pedro (em Carfanaum) se tornaria o novo ponto de referência e os 12 apóstolos a sua nova família.

sábado, 22 de dezembro de 2018

Jesus nasceu há 2025 anos



Você sabe dizer em que ano nasceu Jesus? Quantos anos Ele teria hoje? Se o nosso calendário cristão estivesse certo, em que ano estaríamos? Vamos apresentar mais detalhes sobre a cronologia do nascimento de Jesus a partir de alguns dados evangélicos, históricos e astronômicos.
          
O que dizem os Evangelhos – Os Evangelhos fornecem duas informações sobre o ano em que Jesus nasceu: alguns anos antes da morte de Herodes (Mt 2,1-19) e por ocasião de um recenseamento, quando Públio Sulpício Quirino era governador da província romana da Síria (Lc 2,2).

Um pouco de História – De acordo com o historiador judeu Flávio Josefo, Herodes governou 37 anos (desde 40 a.C. até a sua morte no ano 4 a.C.). Herodes morreu alguns dias após um eclipse lunar e cerca de 10 dias antes da Páscoa.  A astronomia confirma um eclipse lunar visível em Jerusalém na noite de 12 de março de 4 a.C. e a Páscoa daquele ano ocorreu em 11 de abril.  Portanto, Herodes morreu no final de março do ano 4 a.C. e Jesus nasceu, pelo menos, dois anos antes desta data. Quanto ao recenseamento citado em Lc 2,2, as informações são desencontradas e não conferem com os dados históricos.

Nascimento de Jesus – Essas considerações nos levam a situar o nascimento de Jesus no ano 7 (mais provável) ou 6 antes de nossa era e, portanto, se não fosse um paradoxo, poderíamos dizer em 7 ou 6 "antes de Cristo". Quanto ao mês do nascimento de Jesus, existem duas informações importantes: a existência de pastores nos campos (Lc 2,8) e a informação de que João Batista fora concebido quando Zacarias (seu pai) estava a serviço no Templo (Lc 1,5).

Pastores – Lc 2,8 nos informa que, quando Jesus nasceu, "na mesma região havia uns pastores que estavam nos campos e que durante as vigílias montavam guarda a seu rebanho". Sabe-se que, em dezembro, quando comemoramos o Natal, a temperatura na região de Belém é abaixo de zero e, normalmente, há geadas.   Portanto, certamente não haveria gado, no mês de dezembro, nos pastos próximos a Belém.   Atualmente, naquela região, os rebanhos são levados para o campo em março e recolhidos no fim de outubro. Portanto, o nascimento de Jesus se deu antes do inverno (do hemisfério norte), talvez no mês de setembro ou outubro do ano 7 (talvez 6) antes de nossa era.

Zacarias – Lc 1,5;8;23;24 nos informa que o sacerdote Zacarias (pai de João Batista), da ordem de Abias, estava a serviço no Templo quando João Batista foi concebido. A tradição judaica indica a semana e o mês (do calendário judaico) que cada ordem realiza os trabalhos no Templo (1Cr 24). Neste ano, o período de trabalho de Zacarias no templo (ordem de Abias) começaria no décimo sábado do ano judaico, ou seja, o primeiro sábado do terceiro mês (Sivan, que corresponde a maio-junho). Concluímos que João deve ter sido concebido logo após o segundo sábado do mês de Sivan.

E Jesus? – O Texto de Lucas (Lc 1, 26-27) nos informa que Maria concebeu no sexto mês da gravidez de Isabel, ou seja, e Jesus foi concebido seis meses depois de João Batista. A data do nascimento de João Batista pode ser bem estabelecida em torno de 15 de Nissan; acrescentando-se seis meses ao nascimento de João chegamos ao Nascimento de Jesus no início do mês de Tishri (setembro).

25 de dezembro? – Interessante concluir que as duas análises indicam para o nascimento nos meses de setembro ou outubro. O ano mais provável é 7 a.C. Assim, na próxima terça-feira estaremos comemorando o 2025º aniversário de Jesus.

QUER SABER MAIS? – Se você gostou do assunto e quer mais informações, podemos lhe oferecer a obra “A História dos Hebreus” do historiador Flávio Josefo (1.627 páginas), o texto do Vaticano sobre “A Cronologia da Vida de Jesus” e o texto “A data do nascimento de Jesus” com base na tradição judaica. Solicite por E-mail que lhe enviaremos os arquivos gratuitamente.

sábado, 15 de dezembro de 2018

A voz que grita no deserto



O Evangelho lido nas missas deste domingo nos apresenta João Batista pregando no deserto. Vamos conhecer um pouco mais sobre João Batista.

Filiação e nascimento – João Batista era filho de Zacarias, sacerdote do Templo de Jerusalém, e de Isabel (Elizabete), parente de Maria Santíssima. O casal não tinha filhos, pois Isabel era estéril, e eram de idade bastante avançada. Durante seu trabalho no Templo, apareceu para Zacarias o anjo Gabriel, comunicando que sua mulher daria à luz um filho. Zacarias ficou mudo até o dia da circuncisão do filho. Depois que Maria recebeu a notícia (do anjo) que ficaria grávida, foi visitar Isabel. Esta, ao ver Maria, pronuncia um dos mais belos salmos da Bíblia: o Magnificat (veja em Lc 1,39-56).

Geografia – João Batista nasceu na cidade de Ain-Karin, distante poucos quilômetros a sudoeste de Jerusalém (na Judéia). Viveu como ermitão no deserto da Judéia até os 27 anos. João chamava os homens para a penitência e batismo, anunciando que o Reino de Deus estava próximo. Ele atraía multidões. Quando Cristo veio até ele, foi reconhecido como o Messias. Recusou batizar Jesus, dizendo que ele que deveria ser batizado pelo Cristo, mas por indicação de Jesus, acabou por fazê-lo.

Confronto – Uma das histórias mais conhecidas da Bíblia é o confronto entre João Batista e Herodes Antipas, o filho de Herodes Magno (aquele que aparece no nascimento, recebe os magos, assassina as crianças de Belém). Vamos detalhar os fatos, usando os textos do Evangelho de Marcos (Mc 6, 17s) e as citações do historiador Flávio Josefo, no livro Antiguidades Judaicas (XVIII,5,2).

Herodes Antipas – Foi o filho caçula de Herodes, o Grande, e da Samaritana Maltace, uma das dez esposas de seu pai; nasceu por volta do ano 20 a.C. Com a morte de seu pai (4 a.C.) se tornou tetrarca (rei de uma das quatro partes do reino) da Galiléia e Peréia (veja Lc 3,1). Frequentou as melhores escolas de seu tempo, alternando o estudo com os divertimentos e a ociosidade de Roma. Casou-se com a filha de Aretas IV, o rei do perigoso povo Nabateus (da vizinha Arábia). Tinha total confiança e simpatia do Imperador Tibério, a ponto de ser transformado em um espião junto aos magistrados romanos no Oriente.

O escândalo – Por volta do ano 27 d.C., em uma de suas viagens a Roma como informante do imperador, Herodes Antipas hospedou-se na casa de seu irmão por parte de pai, Herodes Filipe (veja Mc 6,17). Este levava uma vida discreta em Roma e havia se casado com sua sobrinha Herodíades. A ocasião foi favorável tanto para a ambiciosa Herodíades (que não se conformava com aquela vida obscura), como para o leviano Antipas, que se apaixonou por ela.

A infidelidade – Os dois juraram-se fidelidade. A pedido de Herodíades o tetrarca prometeu repudiar a esposa assim que retornasse à Galiléia; Herodíades prometeu-lhe abandonar o marido, Filipe, e acompanhá-lo para a Galiléia. A legítima esposa de Antipas, sabendo dos projetos do marido, preferiu não sofrer a humilhação do repúdio, retirando-se para a casa dos pais. Com o caminho livre, Herodíades viajou para a Galiléia, levando a sua filha, a bela jovem Salomé, e passou a viver com Herodes Antipas.

A denúncia de João Batista – Todo o povo comentava o escândalo do tetrarca, que violara as leis nacionais e religiosas ao contrair aquelas segundas núpcias, que a Lei de Moisés condenava severamente (Lev 20,21). Todos falavam, indignados, dessa união, mas secretamente, temiam represálias. Só o profeta do deserto, respeitado pelo povo e por Antipas (Mc 6,20), João Batista, ousou afrontar o tetrarca, denunciando a união ilegítima com Herodíades (Mc 6,18). Temendo uma revolta popular, Antipas mandou prender João Batista na solitária e majestosa fortaleza de Maqueronte. Herodíades queria silenciar para sempre, com a morte, o austero denunciante.

O Martírio – No dia do aniversário de Herodes, foi oferecido um banquete aos grandes da corte. Salomé (filha de Herodíades) dançou e agradou a todos. O rei, encantado, disse à moça: "Pede o que quiseres e eu te darei, ainda que seja a metade de meu reino". Em dúvida, a moça perguntou a sua mãe: "O que hei de pedir?". Ela respondeu: "A cabeça de João Batista". Salomé pediu ao rei: "Quero que me dês num prato a cabeça de João Batista". Antipas, mesmo contrariado, mandou degolar João no cárcere e entregou a sua cabeça num prato para Salomé (veja Mc 6,21-28).

QUER LER MAIS ? Se você se interessou pelo confronto entre João Batista e Herodes nós podemos lhe oferecer um texto com a história completa (10 páginas). Solicite por E-mail.

sábado, 1 de dezembro de 2018

A história do Nascimento de Jesus


  
Ao iniciarmos a preparação para o Natal (advento), inúmeras vezes ouviremos falar de Maria Santíssima, nossa Mãe e Mãe da Igreja. Como os Evangelhos Canônicos trazem poucas informações sobre Maria e José, fomos buscar mais detalhes (histórias, nomes, datas, etc.) em outras fontes, como a tradição judaica, fontes históricas e textos apócrifos (Proto-evangelho de Tiago, a História de José o Carpinteiro). A Igreja Católica aceita alguns destes fatos na sua liturgia (os nomes dos pais de Maria, a cerimônia de apresentação de Maria no Templo, Imaculada Conceição, José idoso, o bastão de José) mesmo não constando nos Evangelhos.

O pai de Maria Joaquim era um homem muito rico que vivia atormentado por não ter filhos. Para o povo hebreu era muito importante gerar descendentes. Estava tão angustiado que se retirou para o deserto e jejuou quarenta dias e quarenta noites para que suas preces fossem atendidas.

A mãe de Maria – Ana era uma mulher que lamentava a sua esterilidade. Apresentou-se a ela um anjo de Deus dizendo que o Senhor ouviu seus pedidos e que ela daria à luz uma criança. A concepção imaculada de Maria é aceita pela Igreja Católica como dogma de fé (instituído pelo Papa Pio IX em 1854) e comemorada como a festa da Imaculada Conceição de Maria.

Apresentação no Templo – Ana prometeu que entregaria seu filho (ou filha) como oferenda ao Senhor, para que ele servisse seu Deus todos os dias de sua vida. Nove meses depois, Ana deu à luz uma menina, dando-lhe o nome de Maria. Era, aproximadamente, o ano 20 a.C. Quando completou três anos, Maria foi conduzida ao templo e entregue ao sacerdote. Permaneceu lá até os doze anos, se ocupando com os afazeres diários do templo.

Aos doze anos – Quando Maria completou doze anos (aprox. 9 a.C.), os sacerdotes se reuniram e deliberaram que o Sumo Sacerdote deveria decidir o destino de Maria. Este, orando no aposento chamado ‘santo dos santos’, indicou que fossem reunidos 12 viúvos (um de cada tribo de Israel). Cada viúvo deveria vir ao templo com um bastão e aquele que recebesse um sinal singular do Senhor seria o esposo de Maria.

Os viúvos – José, atendendo o chamado do Sumo Sacerdote, se dirigiu de Belém ao templo, entregando o seu bastão. O Sumo Sacerdote, após orar, devolveu os bastões aos viúvos. Ao entregar o bastão a José, uma pomba passou a voar sobre sua cabeça, indicando que José deveria ser o esposo de Maria.

Contestação – José replicou que já era velho e tinha filhos (Judas, Josetos, Tiago, Simão Lígia e Lídia), enquanto que Maria era uma menina; argumentando ainda que seria objeto de zombarias por parte do povo. O sacerdote convenceu-o, dizendo que deveria aceitar o casamento como desejo divino.

A tradição da época – Na palestina não havia diferença entre noivado e casamento. Por isso que em Mt 1,18 nós encontramos que Maria estava desposada de José. Desposada quer dizer noiva. O noivado já tinha o valor de casamento; por isto, em Mt 1,19, José é chamado de esposo. A tradição mandava que após a festa de noivado, a noiva (ou esposa) continuava na casa de seus pais, e o noivo (esposo) ia construir a casa. Pronta a casa, o noivo ia buscar a noiva, geralmente em procissão luminosa, da qual participavam também outras moças do lugar (veja a parábola das dez virgens em Mt 25, 1-13).

José e Maria Como Maria vivia no templo (e não na casa dos seus pais), José levou-a para sua casa e saiu em viagem de trabalho com os dois filhos maiores. José era carpinteiro e trabalhava na construção de casas. Maria cuidou do pequeno Tiago (filho de José) com carinho e dedicação. Maria viveu como noiva de José perto de dois anos.

Um certo anjo ... – Um certo dia, no início do ano 7 a.C., Maria pegou um cântaro e foi enchê-lo de água. Mas eis que ouviu uma voz que lhe dizia: "Deus te salve, cheia de graça, o Senhor está contigo ..." Bem, mas este é assunto para a próxima semana.