sábado, 26 de dezembro de 2020

Festa da Sagrada Família

 


Neste domingo, a Igreja comemora a festa da Sagrada Família. No Evangelho (Lc 2, 22-40), Lucas descreve que José e Maria levaram Jesus ao Templo de Jerusalém, cumprindo a Lei de Moisés (Lv 12): "Todo primogênito do sexo masculino deve ser consagrado ao Senhor". No Templo, encontraram Simeão que, tomando o Menino, deu glórias a Deus: "Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz; porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel".

Promessas de Deus – Lucas usou como base para essa narração a história de Elcana e a sua mulher estéril, Ana, em I Sm 1-2. Deles nasce Samuel, que é apresentado ao Senhor. O ancião e sacerdote, Eli, aceita a dedicação do filho deles no Santuário de Silo e abençoa os pais do menino. Lucas expandiu essa fonte com outros temas como os da alegria, do cumprimento das promessas de Deus, do universalismo da salvação, rejeição, da fé e do papel das mulheres.

 Antigo e Novo Testamento – Também ilustra a passagem pacífica do Antigo ao Novo, no encontro entre o Antigo e o Novo Testamento. Durante o Advento, Lucas fazia um paralelo entre Isabel, Zacarias e João Batista e Maria, José e Jesus. No texto de hoje, os justos da Antiga Aliança são representados pelas figuras de Simeão e Ana, profeta e profetiza. Outros dois temas de Lucas também se destacam nesse relato – o Espírito Santo e a opção pelos pobres.

 

Pobres – Lucas dá ênfase ao fato de que os pais de Jesus foram ao Templo conforme a Lei (Lv 12,8), para oferecer o seu sacrifício (dois pombinhos). Na Lei, esse sacrifício era permitido aos pobres! Mais uma vez, continuando a lição da manjedoura e dos pastores, Lucas põe em relevo o amor especial de Deus para os pobres. Deixa bem claro que Maria, José e Jesus eram contados entre eles – como, aliás, era toda a população de Nazaré daquela época!


Homem e Mulher – Simeão e Ana representam, da mesma maneira que Zacarias e Isabel, os justos que esperavam a salvação de Deus: o grupo conhecido no Antigo Testamento como os "anawim" ou "pobres de Javé". É de se notar que, no seu canto, Simeão proclama que ele agora pode "ir em paz" – um símbolo para expressar que as esperanças dos justos da Antiga Aliança serão realizadas em Jesus. Como na visitação, Isabel (símbolo também dos justos) acolhia com alegria a chegada de Maria com Jesus; agora, Simeão e Ana recebem com a mesma alegria a novidade da Nova Aliança, concretizada em Jesus. Mais uma vez, Lucas coloca diante de Deus, juntos, homem e mulher. São iguais em dignidade e graça, recebem os mesmos dons e têm as mesmas responsabilidades.

 Sagrada Família – Jesus "crescia e se fortalecia, cheio de sabedoria e o favor de Deus estava com ele". Mas, esse crescimento foi gradual, como acontece com todos nós, e a sua família tinha um papel importantíssimo no seu crescimento. Se, como adulto, ele podia nos dar a imagem de Deus como Pai amoroso – tema tão caro a Lucas – era porque também aprendeu isso através da experiência do seu pai adotivo, José. Se Jesus crescia na espiritualidade dos anawim, era porque aprendeu isso desde o berço, junto com os seus pais. Se era fiel na busca da vontade de Deus, era porque assim se aprendia no ambiente familiar.

 Nossa Família – Num mundo como o nosso, que desvaloriza a vida familiar e a comunidade, o texto de hoje deve nos animar e desafiar (como foi com Maria e José, na claridade e na escuridão da caminhada) a criar um ambiente no qual o amor possa florescer e pelo qual os nossos jovens possam aprender – como por osmose – a importância do amor nutrido numa fé viva em Deus, na contramão da nossa sociedade consumista e materialista, que vê na família unida uma ameaça aos seus contravalores. Jesus continua sendo um "sinal da contradição", pois o seu projeto de "Justiça do Reino" contrapõe-se ao projeto de uma sociedade que exclui os mais pobres. Diante do sinal de contradição que é Jesus, todos têm que tomar uma atitude e ter a coragem de andar no meio de uma sociedade idolátrica e consumista "na contramão, com Jesus".

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Situação política na época do nascimento de Jesus


Palestina – Jesus nasceu e viveu na região da Palestina (hoje Israel).  Na época em que ele nasceu, a Palestina era dominada pelo Império Romano (desde o ano 31 a.C.), cujo imperador era Otávio Augusto.  Desde 37 a.C., a região formava um “reino cliente”, com alguma independência de Roma, sendo administrado pelo rei Herodes Magno (“O Grande”).

 Império Romano – Portanto, na época do nascimento de Jesus, mais da metade do mundo conhecido era dominada pelo Império Romano (toda a região do Mar Mediterrâneo, a Palestina, norte da África e Egito), sendo a Palestina um reino parcialmente independente, cedido pelo imperador romano a Herodes.  Nesta região viviam os judeus, um povo com língua (hebraico ou aramaico), religião e costumes próprios.

 Rei – Herodes (Magno) era um Idumeu (povo que havia invadido a Palestina e assumido a religião judaica, porém excluído pelos judeus), casado com Mariana (judia), com a qual teve dois filhos (Alexandre e Aristóbulo), além de outros filhos de casamentos anteriores. Administrativamente, Herodes era um político hábil: trouxe paz para a região, reconstruiu Jerusalém (com obras pagãs, como teatros e anfiteatros, inaceitáveis para os judeus), instituiu os jogos atléticos em homenagem ao imperador (os jovens competiam nus) e reconstruiu o templo dos judeus com o dobro do tamanho.

 Herodes – Era, porém, obcecado pelo poder. Para mantê-lo, tornou-se um tirano e criminoso: mandou matar dois cunhados, 45 aristocratas, os dois filhos que teve com Mariana (depois de deixá-los presos por um ano), mandou afogar seu cunhado no rio Jordão, mandou matar a sogra, mandou queimar vivos dois sábios; cinco dias antes de morrer (aos 70 anos) mandou matar seu filho Antipater.  Também é atribuída a Herodes a morte de sua mulher Mariana. Em 36 anos de reinado, não se passou um só dia sem execução de inocentes.  Enciumado com o nascimento de Jesus (Mt 2,1-12), mandou matar todos os meninos com menos de 2 anos, nascidos em Belém.

 Filhos – Herodes morreu entre março ou abril do ano -4 (aproximadamente dois anos após o nascimento de Jesus); seu reino foi dividido entre seus filhos: Herodes Antipas, que ficou com a Galileia e Pereia (norte); Herodes Filipe, que ficou com as cinco províncias ao leste do rio Jordão; Herodes Arquelau, ficou com a Judéia e Samaria (ao sul). Arquelau se mostrou mais tirano que o pai.  Nos primeiros dias de sua posse matou muitos judeus.  Num só dia foram mortas 3.000 pessoas.

 Arquelau – O Evangelho de Mateus deixa bem claro a situação de opressão do povo (Mt 2,16-23) por ocasião do nascimento do Messias: José, Maria e Jesus se refugiaram no Egito, com medo de Herodes e somente depois da morte dele é que retornaram para a Galileia, com medo de Arquelau (que reinava na Judéia e Samaria, apenas). Em razão de inúmeros protestos dos judeus, em 6 d.C., Arquelau foi destituído do cargo, pelo Imperador Otávio, passando a Judéia a ter administração direta de Roma, através de procuradores.  Trinta anos depois, Pôncio Pilatos se tornaria o mais famoso dos procuradores.

 Antipas – Herodes Antipas, muito ambicioso, casou-se com a filha do rei da Arábia, ao mesmo tempo em que conquistava a estima e confiança do imperador romano.  Numa viagem a Roma, hospedou-se na casa do irmão, Herodes Filipe, apaixonando-se por Herodíades, mulher do irmão.  Algum tempo depois, Herodíades foi morar na Palestina com Herodes Antipas e levou junto a sua filha Salomé.  A situação de adultério foi denunciada por João Batista, que foi decapitado por vingança de Herodíades.

 
Como se vê, a plenitude dos tempos, ocasião escolhida por Deus para o nascimento de seu Filho, foi uma época sombria da história de judeus e pagãos. O que nos leva a refletir sobre uma frase de São Tomás de Aquino: “Deus não ama o homem porque o homem seja bom, mas o homem é bom porque Deus o ama”.