sábado, 26 de junho de 2021

Há 388 Galileo Galilei era condenado pela Igreja


 Na época de Galileo Galilei (Físico, Astrônomo) a Bíblia era interpretada literalmente, ou seja, entendia-se que as coisas haviam acontecido tal como era dito no texto bíblico. Por isso, quando Galileo lançou conceitos astronômicos que contrariavam os ensinamentos da Igreja, o Santo Ofício exigiu uma retratação ou faria valer a condenação à morte pela fogueira.

 Condenação – Na tarde do dia 22 de junho de 1633 entrava na sala de julgamentos do Convento de Santa Maria da Minerva, em Roma, um venerável ancião, de rosto grave, com barba e cabelos brancos. Estava quase cego e caminhava devagar. Estava acompanhado pelos empregados do Santo Ofício e acabava de entrar na sede da Inquisição Romana. Estava ali, perante os cardeais do Santo Tribunal para ouvir a sentença que o condenava à prisão domiciliar.

 

Culpa? – Qual era o pecado cometido por aquele dedicado ancião? Haver escrito dois livros considerados perigosos. Um, chamado “O mensageiro das estrelas” (em 1611), e outro, “Diálogo sobre os maiores sistemas do mundo” (em 1632), nos quais explicava que a Terra não era o centro do universo e que o Sol não girava em torno da Terra (como se acreditava até então), mas sim era a Terra que girava em torno do Sol, e que este estava parado no centro do universo.

 

Castigo – Quando o cardeal terminou a leitura do castigo imposto pelo Santo Ofício, obrigaram-no a ler em voz alta: “Eu, Galileo Galilei, filho de Vicente Galilei, Fiorentino, 70 anos de idade, ... diante os Sagrados Evangelhos que toco com minha mãos, juro que sempre cri, creio agora e crerei no futuro o que ensina a Santa Igreja Católica Apostólica Romana, ... por ter me convertido em altamente suspeito de heresia por ensinar a doutrina de que o Sol está imóvel no centro do mundo e que não é a Terra que está fixa no centro, ... com o coração sincero e autêntica fé abjuro, maldigo e renuncio a todos os erros e heresias mencionados e a qualquer outro erro contrário a Santa Igreja e juro não ensina-los oralmente nem por escrito”.

 

Lenda – Conta uma lenda que quando Galileo se retirava cansado e vencido daquela majestosa cerimônia, logo após ter jurado solenemente que a Terra não se movia, ao chegar na porta da sala, deu meia volta, olhou os assistentes e murmurou: “Mas, sem dúvida, se move”. Seja ou não verdade, o certo é que a frase atribuída ao cientista italiano se converteu no símbolo da resistência interior, na figura daqueles que, sob pressão, são obrigados a negar suas crenças, mas interiormente não podem renegar suas convicções.


Argumentos – Que argumentos usaram os cardeais do Santo Ofício para condenar Galileo? Os cardeais diziam que os ensinamentos de Galileo sobre o heliocentrismo (assim se chama a teoria de que o Sol está fixo no centro do universo e que a Terra gira) contradizem a Bíblia, mais diretamente o Livro de Josué 10, 1-15, onde é descrita a famosa batalha de Guibeon. Nesta batalha, Josué notou que, com o fim da luz do sol, os inimigos sobreviventes poderiam esconder-se facilmente nas grutas e escapar. O que fazer? Josué, com os braços estendidos, orou a Yahvé para que o sol se detivesse no céu e a lua não aparecesse no horizonte.

 

Santo Ofício – Para refutar os ensinamentos de Galileo, o Santo Ofício usou o argumento da Batalha de Guibeon: “Se o sol parou em Guibeon é porque se move”. Como pode Galileo afirmar que o Sol está parado? Quem tem razão: a Palavra de Deus ou Galileo? Com as coisas colocadas dessa maneira, não havia nenhuma possibilidade de escapar de uma condenação sem a retratação...

 

Interpretação – Mas o que realmente aconteceu na Batalha de Guibeon? Bem ... Este é um assunto para a próxima semana.

segunda-feira, 21 de junho de 2021

Quem é este homem?

 


No Evangelho deste domingo (Mc 4,35-41), Marcos conta que Jesus e os discípulos estavam numa barca no Mar da Galiléia, quando começou a soprar um vento muito forte e as ondas se lançavam dentro da barca. Jesus estava na parte de trás, dormindo sobre um travesseiro. Os discípulos o acordaram e disseram: "Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?" Ele se levantou e ordenou ao vento e ao mar: "Silêncio! Cala-te!" O vento cessou e houve uma grande calmaria. Então Jesus perguntou aos discípulos: "Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?" Eles sentiram um grande medo e diziam uns aos outros: "Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?

 Marcos – Voltando às celebrações dominicais do tempo comum, também retomamos a caminhada pelo evangelho de Marcos. O trecho deste final de semana está situado na primeira parte do seu evangelho e procura demonstrar que as autoridades religiosas da época, os próprios parentes de Jesus e os seus discípulos não o compreenderam, apesar de verem as suas obras e milagres (1,19-8,26). Toda esta primeira parte prepara para a pergunta fundamental do evangelho: "E vocês, quem dizem que eu sou?" Por isso, quando Jesus silencia a tempestade, leva os discípulos a se perguntarem: "Quem é este homem?".

 Dúvidas – O evento no mar de Galiléia retrata, simbolicamente, a situação da comunidade de Marcos, pelo ano 70, quando o evangelho foi escrito. A comunidade vacilava na sua fé, assolada por dúvidas e perseguições. Diante do cansaço da caminhada, muitos se refugiaram na busca de uma religião de milagres, sem o esforço de seguir Jesus até a Cruz.

 Milagres – Por isso Marcos insiste que os milagres não são suficientes para conhecer Jesus, pois as autoridades, as familiares e os discípulos os tinham e não chegaram a entender nem a pessoa nem a proposta de Jesus.

 Comunidade – O barco no lago, assolado pelos ventos e ondas, representa a comunidade dos discípulos, prestes a afundar-se por causa das dificuldades da caminhada. Jesus dorme no barco e parece não se preocupar com o perigo. Assim, para a comunidade de Marcos, parecia que Jesus não estava ligado aos seus sofrimentos e, como consequência, vacilavam na sua fé.

 Medo – Mas Jesus acalmou o mar e ainda questionou a pouca fé dos Doze: "por que vocês são tão medrosos? Vocês ainda não têm fé?" (v. 40). Assim Marcos quis mostrar aos leitores do seu tempo que Jesus estava com eles nas dificuldades e que a sua falta de fé estava causando grande parte das dificuldades que estavam enfrentando.

 Igreja – Hoje, em muitos lugares, a Igreja se parece com a igreja de Marcos ou ainda com o barco no mar. Diante das desistências, da secularização, da diminuição da influência da Igreja, para muitos ela esta se afundando. Em lugar de assumir o doloroso seguimento de Cristo até a Cruz, muitos se refugiam numa religiosidade de milagres, fugindo da penosa tarefa de construir o Reino de Deus entre nós.

 Fé – Marcos vem corrigir essa ideologia triunfalista e nos convida a aprofundar a nossa fé, a clarear – para nós mesmos e para o mundo – "quem é este homem"; e, a segui-Lo no dia a dia. Jesus não está alheio às nossas dificuldades! Pelo contrário, Ele está no meio de nós. Só que não nos livra da tarefa de nos engajarmos na luta pelo Reino, mesmo que as ondas e os ventos estejam contrários.

 Ter fé Nele não é somente acreditar que Ele exista e seja Filho de Deus, mas tomar a nossa cruz e segui-Lo, na certeza que Ele não nos abandonará! Ressoa para nós hoje a pergunta de dois mil anos atrás: "Porque são tão medrosos? Ainda não têm fé?".

segunda-feira, 7 de junho de 2021

O pecado contra o Espírito Santo

 


No Evangelho das missas deste domingo (Mc 3, 20-35), Jesus está em sua casa com os discípulos e uma multidão que queria ouvir sua pregação. Então disse: “Tudo será perdoado aos filhos dos homens: os pecados e blasfêmias que tiverem proferido; mas quem blasfemar contra o Espírito Santo nunca terá perdão: será réu de pecado eterno”.

João Paulo II – Para refletir sobre este ensinamento, vamos transcrever o item 46 da Encíclica “Dominum et vivificantem”, escrita por João Paulo II.

Blasfêmia – Por que é que a “blasfêmia” contra o Espírito Santo é imperdoável? Em que sentido se deve entender esta “blasfêmia”? São Tomás de Aquino responde que se trata de um pecado “imperdoável por sua própria natureza, porque exclui aqueles elementos graças aos quais é concedida a remissão dos pecados”.

Vinda do Espírito – Segundo tal exegese, a “blasfêmia” não consiste propriamente em ofender o Espírito Santo com palavras; consiste, antes, na recusa em aceitar a salvação que Deus oferece ao homem mediante o mesmo Espírito Santo, que age em virtude do sacrifício da Cruz. Se o homem rejeita o deixar-se “convencer quanto ao pecado”, que provém do Espírito Santo e tem carácter salvífico, ele rejeita contemporaneamente a “vinda” do Consolador: aquela “vinda” que se efetuou no mistério da Páscoa, em união com o poder redentor do Sangue de Cristo: o Sangue que “purifica a consciência das obras mortas”.

Recusa – Sabemos que o fruto desta purificação é a remissão dos pecados. Por conseguinte, quem rejeita o Espírito e o Sangue permanece nas “obras mortas”, no pecado. E a “blasfêmia contra o Espírito Santo” consiste exatamente na recusa radical de aceitar esta remissão, de que Ele é o dispensador íntimo e que pressupõe a conversão verdadeira, por Ele operada na consciência.

Recusa radical – Se Jesus diz que o pecado contra o Espírito Santo não pode ser perdoado nem nesta vida nem na futura, é porque esta “não-remissão” está ligada, como à sua causa, à “não-penitência”, isto é, à recusa radical a converter-se. Isto equivale a uma recusa radical de ir até às fontes da Redenção; estas, porém, permanecem “sempre” abertas na economia da salvação, na qual se realiza a missão do Espírito Santo. Este tem o poder infinito de haurir destas fontes: “receberá do que é meu”, disse Jesus. Deste modo, Ele completa nas almas humanas a obra da Redenção, operada por Cristo, distribuindo os seus frutos.

Recusa a redenção – Ora a blasfêmia contra o Espírito Santo é o pecado cometido pelo homem, que reivindica o seu pretenso “direito” de perseverar no mal — em qualquer pecado — e recusa por isso mesmo a Redenção. O homem fica fechado no pecado, tornando impossível da sua parte a própria conversão e também, consequentemente, a remissão dos pecados, que considera não essencial ou não importante para a sua vida. É uma situação de ruína espiritual, porque a blasfêmia contra o Espírito Santo não permite ao homem sair da prisão em que ele próprio se fechou e abrir-se às fontes divinas da purificação das consciências e da remissão dos pecados.