sábado, 18 de dezembro de 2021

Jesus nasceu em Belém ou Nazaré?

  


Quando nos perguntam onde Jesus nasceu, a resposta é simples: Jesus nasceu em Belém. Aprendemos desde crianças a celebrar o Natal e todos os anos nós cantamos canções em torno do presépio, louvando o Messias nascido em Belém. No entanto, se nós analisarmos cuidadosamente os Evangelhos do Novo Testamento, vamos descobrir que a resposta não é tão fácil.

 O nascimento – É verdade que os dois evangelistas, Mateus e Lucas, afirmam claramente que Jesus nasceu em Belém. Mateus diz: "Quando Jesus nasceu em Belém da Judéia, no tempo do rei Herodes" (Mt 2,1). E Lucas escreve: "Quando eles (José e Maria) estavam ali (em Belém), ela deu à luz o seu filho primogênito" (Lc 2,6). Porém, os outros dois evangelistas, Marcos e João, apresentam Jesus como se tivesse nascido em Nazaré. Na verdade, Ele sempre foi chamado de "Jesus de Nazaré"; e sabemos que, na Bíblia, quando após o nome de uma pessoa é mencionada uma cidade, é porque se trata de seu local de nascimento. Assim, fala de Paulo de Tarso (Atos 9,1), José de Arimateia (Mc 15,43), Lázaro de Betânia (Jo 11,1), Simão de Cirene (Mt 27,32), Amós de Tecoa (Am 1,1) ou Miquéias de Morasti (Mq 1, 1). Qual seria então o local de nascimento de Jesus: Belém ou Nazaré? Vamos olhar mais de perto para as provas.

 Falam os evangelistas – Marcos sugere que Jesus nasceu em Nazaré: na narrativa do batismo, diz que Ele "veio de Nazaré da Galileia" (1,9), sem mencionar qualquer cidade. Quando Jesus vai a Nazaré, afirma que "ele foi para a sua pátria" (6,1) e “patris” (grego), significa "lugar de nascimento". Isto é confirmado pelo próprio Jesus, quando, em Nazaré, diante de escandalizados ouvintes de seus ensinamentos, exclama: "Um profeta só não é valorizado na sua própria pátria" (6,4). Além disso, todos o chamam de Jesus de Nazaré: o endemoninhado de Cafarnaum (1,24), o servo do Sumo Sacerdote (14,67), o anjo do túmulo (16,6), e até mesmo Marcos (10,47). O quarto evangelista, São João, também afirma que Jesus nasceu em Nazaré. Ele começa apresentando-o como "um profeta de Nazaré" (Jo 1,45). E todos estão tão convencidos que Jesus é de Nazaré, que Natanael não quer crer nele, dizendo: “pode sair algo bom de Nazaré?” (Jo 1,46).

 Evidências – Nos Evangelhos, o texto mais claro sobre o nascimento de Jesus está em Jo 7, 40-42. Em uma discussão, alguns judeus rejeitavam Jesus como o Messias por ter nascido em Nazaré e não em Belém. “O Cristo pode vir da Galileia? Não está na Escritura que o Cristo será da descendência de Davi e virá de Belém, o povoado de Davi?”. No Novo Testamento, portanto, as duas vezes em que se afirma que Jesus nasceu em Belém são as narrativas da infância, de Mateus e Lucas. Pelo contrário, em outras 20 passagens, os Evangelhos sugerem o nascimento em Nazaré.

 Razões – Quando Mateus e Lucas escreveram para os cristãos do judaísmo, havia a necessidade de apresentar Jesus como o verdadeiro Messias esperado por Israel, o descendente de David. Então, ambos os evangelistas, para expressar essa ideia, recorreram à narrativa teológica (e não histórica) do seu nascimento em Belém (Miq 5,1). Assim, Mateus apresentou o nascimento de Jesus em Belém porque sua família estava lá (Mt 2,11) e Lucas apresentou Jesus nascido em Belém em razão de um censo (Lc 2,1). João apresenta Jesus vindo dos céus, como Filho de Deus, ou seja, a sua terra natal não tinha nenhum interesse.

 Afinal, onde nasceu? – Muito provavelmente, Jesus nasceu em Nazaré, no ano 7 (ou 6) a.C., não no dia 25 e muito menos no mês de dezembro. Saber disso significa que deveríamos abandonar as tradições de Natal ou colocar de lado as canções que falam de Belém? Não mais montar os presépios e desistir das peregrinações à cidade de Belém, para visitar a gruta do nascimento? Claro que não. Dizer que Jesus nasceu em Belém continua a ser para nós, como foi para os primeiros cristãos, uma afirmação fundamental. Equivale a dizer que Deus, apesar de ser onipotente e poderoso, escolheu uma pequena cidade, preferiu optar pelo mais fraco, pelos humildes, pelos oprimidos e pela mansidão.

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sábado, 11 de dezembro de 2021

Situação política na época do nascimento de Jesus

  


Palestina – Jesus nasceu e viveu na região da Palestina (hoje Israel).  Na época em que ele nasceu, a Palestina era dominada pelo Império Romano (desde o ano 31 a.C.), cujo imperador era Otávio Augusto.  Desde 37 a.C., a região formava um “reino cliente”, com alguma independência de Roma, sendo administrado pelo rei Herodes Magno (“O Grande”).

 Império Romano – Portanto, na época do nascimento de Jesus, mais da metade do mundo conhecido era dominada pelo Império Romano (toda a região do Mar Mediterrâneo, a Palestina, norte da África e Egito), sendo a Palestina um reino parcialmente independente, cedido pelo imperador romano a Herodes.  Nesta região viviam os judeus, um povo com língua (hebraico ou aramaico), religião e costumes próprios.

 Rei – Herodes (Magno) era um Idumeu (povo que havia invadido a Palestina e assumido a religião judaica, porém excluído pelos judeus), casado com Mariana (judia), com a qual teve dois filhos (Alexandre e Aristóbulo), além de outros filhos de casamentos anteriores. Administrativamente, Herodes era um político hábil: trouxe paz para a região, reconstruiu Jerusalém (com obras pagãs, como teatros e anfiteatros, inaceitáveis para os judeus), instituiu os jogos atléticos em homenagem ao imperador (os jovens competiam nus) e reconstruiu o templo dos judeus com o dobro do tamanho.

 Herodes – Era, porém, obcecado pelo poder. Para mantê-lo, tornou-se um tirano e criminoso: mandou matar dois cunhados, 45 aristocratas, os dois filhos que teve com Mariana (depois de deixá-los presos por um ano), mandou afogar seu cunhado no rio Jordão, mandou matar a sogra, mandou queimar vivos dois sábios; cinco dias antes de morrer (aos 70 anos) mandou matar seu filho Antipater.  Também é atribuída a Herodes a morte de sua mulher Mariana. Em 36 anos de reinado, não se passou um só dia sem execução de inocentes.  Enciumado com o nascimento de Jesus (Mt 2,1-12), mandou matar todos os meninos com menos de 2 anos, nascidos em Belém.

 Filhos – Herodes morreu entre março ou abril do ano -4 (aproximadamente dois anos após o nascimento de Jesus); seu reino foi dividido entre seus filhos: Herodes Antipas, que ficou com a Galileia e Pereia (norte); Herodes Filipe, que ficou com as cinco províncias ao leste do rio Jordão; Herodes Arquelau, ficou com a Judéia e Samaria (ao sul). Arquelau se mostrou mais tirano que o pai.  Nos primeiros dias de sua posse matou muitos judeus.  Num só dia foram mortas 3.000 pessoas.

 Arquelau – O Evangelho de Mateus deixa bem claro a situação de opressão do povo (Mt 2,16-23) por ocasião do nascimento do Messias: José, Maria e Jesus se refugiaram no Egito, com medo de Herodes e somente depois da morte dele é que retornaram para a Galileia, com medo de Arquelau (que reinava na Judéia e Samaria, apenas). Em razão de inúmeros protestos dos judeus, em 6 d.C., Arquelau foi destituído do cargo, pelo Imperador Otávio, passando a Judéia a ter administração direta de Roma, através de procuradores.  Trinta anos depois, Pôncio Pilatos se tornaria o mais famoso dos procuradores.

 Antipas – Herodes Antipas, muito ambicioso, casou-se com a filha do rei da Arábia, ao mesmo tempo em que conquistava a estima e confiança do imperador romano.  Numa viagem a Roma, hospedou-se na casa do irmão, Herodes Filipe, apaixonando-se por Herodíades, mulher do irmão.  Algum tempo depois, Herodíades foi morar na Palestina com Herodes Antipas e levou junto a sua filha Salomé.  A situação de adultério foi denunciada por João Batista, que foi decapitado por vingança de Herodíades.

 Como se vê, a plenitude dos tempos, ocasião escolhida por Deus para o nascimento de seu Filho, foi uma época sombria da história de judeus e pagãos. O que nos leva a refletir sobre uma frase de São Tomás de Aquino: “Deus não ama o homem porque o homem seja bom, mas o homem é bom porque Deus o ama”.