Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – Bauru – 29/12/2001
A fuga da Sagrada Família para o Egito, perseguida pelo rei Herodes, não deve ser encarada como um fato isolado, fruto da administração repressiva do rei, mas como uma antiga relação entre o povo hebreu e o Egito. O evangelista (Mateus) resgata esta antiga história, apresentando-a num cenário religioso.
O começo –
Essa história começou quando o clã dos hebreus, constituído por Jacó (chamado Israel) e sua família imigrou para o Egito, onde foi recebido por José, seu filho, que se tornara um dos lideres daquela nação (veja em Gn 45). Os descendentes de Jacó permaneceram no Egito durante muito tempo, dando origem a um povo numeroso (Ex 1,7).
Escravos –
Os egípcios, temendo que os hebreus se tornassem poderosos, começaram a discriminá-los. Impuseram-lhes trabalhos forçados, como a construção das cidades-fortalezas de Pitom e Ramsés, na parte oriental do delta do rio Nilo. Também escravizavam os filhos de Israel com brutalidade e uma dura servidão, com a fabricação de tijolos e argamassa e trabalhos no campo (Ex 1,11). Como última perseguição, o Faraó ordenou a morte dos israelitas recém-nascidos (Ex 1,15).
Moisés –
430 anos após a chegada de José (por volta do século XIII a.C.), os israelitas, auxiliados por Deus e guiados por Moisés, empreenderam o êxodo do Egito para a terra de seus antepassados e para a liberdade, tornando-se o povo de Deus. O povo permaneceu 40 anos no deserto, alimentando-se do maná. Por volta do ano 1200 a.C. Josué entrou na Palestina, a terra prometida.
O Egito –
Depois destes fatos, os hebreus passaram a considerar o Egito como terra estranha, a pátria da escravidão, a sociedade fundada pela idolatria e sobre a exploração do homem.
Jesus, José e Maria –
Quando José e Maria ficam sabendo que o rei Herodes estava tentando matar o menino, decide ir para o Egito. O evangelista Mateus fornece uma interpretação religiosa desse acontecimento, relembrando a experiência do êxodo. Diz que, em Jesus, se cumpriram as palavras do profeta Oséias: "Do Egito chamei o meu Filho" (Os 11,1).
Jacó e Jesus –
Deus ordenara a Jacó que descesse para o Egito e depois fizera com que seus descendentes, isto é, todo o povo de Israel, se retirassem de lá. Para Mateus, Jesus revive em si próprio a mesma experiência. Jesus é o novo Jacó, viga mestra e representante do povo de Deus. Com Jesus, que entra e sai do Egito, nasce a nova Israel.
Moisés e Jesus –
Para que Israel saísse do Egito, Deus se servira de Moisés. Na fuga de Jesus para o Egito, Mateus faz evocações bíblicas ligadas a Moisés. Tal como Moisés, Jesus é o libertador perseguido por um rei e também se salva através da fuga. Tal como Moisés ainda, Jesus pôde voltar do exílio depois de uma ordem explícita do alto. Fora dito a Moisés: "Os que ameaçavam a tua vida morreram" e a José o anjo diz: "Morreram aqueles que ameaçavam a vida do menino".
Jesus, o novo Moisés –
A semelhança desses dois testemunhos é impressionante: quando escreve sobre Jesus, Mateus tem em mente a história de Moisés. Jesus veio para partilhar a escravidão de seu povo e para conduzi-lo para a redenção. É o novo Moisés, que inaugura um êxodo definitivo.
VOCÊ SABIA ...
... que a fuga e permanência de Jesus no Egito são narradas com detalhes nos evangelhos apócrifos? A narração é bastante fantasiosa (lendas, fatos sem base histórica), pois Jesus é adorado por dragões e leões; leopardos mostram o caminho para José e Maria; as palmeiras se inclinam para oferecer seus frutos a Maria, etc. No Egito, Jesus (ainda bebê) cura possessos, surdos-mudos e leprosos; faz as estátuas dos ídolos caírem e ressuscita sacerdotes pagãos.
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