Construção – Noé recebeu ordens de Deus para construir uma nave de 150 metros de comprimento, 25 de largura e 15 de altura, com três pisos de cinco metros cada. Estas medidas mostram-se exorbitantes, pois são as medidas de um transatlântico moderno, nunca conseguido pela engenharia naval até o século XIX. O relato está localizado na pré-história, quando ainda não se conhecia o uso dos metais. Como se podia fazer um navio tão grande sem instrumentos metálicos? Seria preciso, além do mais, da ajuda de centenas de pessoas. Como foi construído só com a ajuda de Noé, de seus quatro filhos e de suas esposas?
Animais – O mais pitoresco e difícil de admitir é o que se refere aos animais que Noé e os seus deviam introduzir na arca. Como poderiam reunir um casal de cada espécie existente para salvá-las da extinção? Foram capazes de percorrer os cinco continentes do planeta para trazê-los, alguns de uma distância de 20 mil quilômetros? Acrescente-se a isso outra dificuldade: existem sobre a terra 1.700 espécies de mamíferos, 10.087 espécies de aves, 20.987 de répteis e aproximadamente 1.200.000 espécies de insetos.
Mais animais – Os zoólogos julgam que em nosso planeta pode haver entre 5 a 10 milhões de espécies animais ainda sem identificação (ocultas nos gelos polares, nas selvas tropicais ou nas areias do deserto). Carregar a arca com esta bagagem teria sido um trabalho impossível para oito pessoas. Também seria impossível repovoar o planeta só com um par de cada espécie. Por exemplo, os ursos pandas são considerados em extinção porque somente uns mil sobrevivem, número demasiado pequeno para recuperar outra vez a espécie em estado selvagem.
Perguntas sem respostas – Conforme relata a Bíblia, choveu durante 40 dias e 40 noites, sem parar (Gn 7,17) e a água cobriu toda a terra, sete metros acima dos montes mais altos da Terra (Gn 7,19-20). Impossível, pois, se todas as nuvens da atmosfera terrestre se precipitassem de uma só vez, o globo permaneceria encoberto apenas por menos de cinco centímetros de água. E as plantas, como se salvaram das águas? E os peixes, que também foram postos a salvo na arca? Como não morreram ao se misturarem as águas doces com as salgadas?
O dilúvio nunca existiu – Este considerável número de objeções já nos dá a resposta ao problema. Nunca existiu nenhum dilúvio universal. E tampouco a Bíblia pretende ensinar isto como um fato histórico. Não se pode negar a existência de algum dilúvio ou de uma grande inundação antiga, mas nunca poderia ser universal a ponto de destruir todo tipo de vida, como descreve a Bíblia. Não estamos, portanto, diante de fatos reais, históricos, mas diante de uma narração didática, uma catequese.
O que ensina o Dilúvio – O autor, portanto, não quis expor um fato histórico e sim um relato didático, para ensinar uma mensagem religiosa. O autor encontrou na tradição a lembrança desta história e apropriou-se dela para transmitir um ensinamento religioso. Que mensagem nos deixa o episódio do Dilúvio universal? Em primeiro lugar, mostra como ele acontece por culpa dos pecados dos homens. Eles se acumulam em toda a Terra, a tal ponto que a corrompem, a pervertem e provocam uma catástrofe. E assim se volta ao caos anterior à Criação. Toda a ordem que Deus havia estabelecido ao criar o mundo pode ser destruída e voltar à estaca zero, por causa da irresponsabilidade dos homens.
O patriarca – Entre todas as pessoas más, há uma que é justa: Noé. Deus coloca-o à prova: ordena-lhe que construa uma grande embarcação, em pleno deserto, sobre terra firme e sem dizer-lhe para que, apenas porque ele o ordena. Imaginemos o pobre Noé, exposto à zombaria de seus contemporâneos, dizendo: “Deus o ordenou. Eu obedeço”. Mostra-nos a fé e a submissão deste homem incrível, obediente em tudo. A mensagem é, pois, claríssima, mesmo quando contada com a linguagem do Antigo Testamento. Deus dá uma ordem. Se o homem desobedece, se autodestrói. Se obedece, como faz Noé, se salva.
A voz de Deus – No mais, é Deus que indica as medidas da arca, o material que se deve empregar e até o modo de construí-la. Ou seja, aquele que constrói sua vida com as medidas de Deus sempre sobreviverá a qualquer tempestade. Aquele que deixa de ouvir sua voz irá se afogar. Estar atento a isso é muito mais importante do que saber se houve ou não houve a chuva de quarenta dias e em que lugar encalhou a arca. É a leitura que deveríamos fazer de Gn 6-9. Desta forma, haveria menos gente interessada em provar a existência da arca e mais gente procurando mergulhar na Palavra de Deus, buscando viver sua mensagem.
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