sábado, 18 de junho de 2011

Trindade, escola das relações humanas

Neste domingo, a Igreja comemora a Santíssima Trindade. A Trindade de Deus é modelo para toda comunidade humana, porque mostra como o amor cria a unidade na diversidade. 

Uno e trino – Na liturgia deste domingo, a segunda leitura, da segunda carta de São Paulo aos Coríntios (2Cor 13,11-13), é a que mais diretamente evoca o mistério da Santíssima Trindade: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós”. Mas, por que os cristãos creem na Trindade? Não é bastante difícil já, crer que existe Deus, para acrescentarmos também o enigma de que Ele é “uno e trino”? Há, hoje em dia, alguns que gostariam de deixar a Trindade à parte também, para poder, assim, dialogar melhor com judeus e muçulmanos, que professam a fé em um Deus rigidamente único. 

Deus é amor – Os cristãos creem que Deus é trino, porque creem que Deus é amor! É a revelação de Deus como Amor, feita por Jesus, que obrigou a admitir a Trindade. Não é uma invenção humana. Deus é amor, diz a Bíblia. Assim, está claro que, se é amor deve amar alguém. Não existe um amor ao vazio, não dirigido a alguém. Então nos perguntamos: a quem Deus ama, para ser definido como Amor? Uma primeira resposta poderia ser: ama os homens. Mas os homens existem desde há alguns milhões de anos, não mais. Antes de então, a quem amava Deus? 

Amar quem? – Não pode, de fato, ter começado a ser amor em certo ponto do tempo, porque Deus não pode mudar. Segunda resposta: antes de então, amava o cosmos, o universo. Mas o universo existe desde há alguns bilhões de anos. Antes disso, a quem amava Deus, para poder-se definir Amor? Não podemos dizer: amava a si mesmo, porque amar-se a si mesmo não é amor, mas egoísmo ou, como dizem os psicólogos, narcisismo. 

Três – Eis aqui a resposta da revelação cristã. Deus é amor em si mesmo, antes do tempo, porque desde sempre tem em si mesmo um Filho, o Verbo, a quem ama com um amor infinito, isto é, no Espírito Santo. Em todo amor há sempre três realidades ou sujeitos: um que ama, um que é amado e o amor que os une. 

Um em Três – O Deus da revelação cristã é uno e trino porque é comunhão de amor. A teologia se serviu do termo “natureza” ou “substância” para indicar em Deus a unidade e do termo “pessoa”, para indicar a distinção. Por isso, dizemos que nosso Deus é um Deus único em três pessoas. A doutrina cristã da Trindade não é uma regressão, um compromisso entre monoteísmo e politeísmo. É um passo adiante, que só Deus mesmo podia fazer que viesse à mente humana. 

Comunidade – Passemos agora a algumas considerações práticas. A Trindade é o modelo de toda comunidade humana, desde a mais simples e elementar, que é a família, à Igreja universal. Mostra como o amor cria a unidade na diversidade: unidade de intenções, de pensamento, de vontade; diversidade de sujeitos, de características e, no âmbito humano, de sexo. E vemos, precisamente, o que pode aprender uma família, do modelo trinitário. 

Regra – Se lermos com atenção o Novo Testamento, observamos uma espécie de regra. Cada uma das três pessoas divinas não fala de si, mas da outra; não atrai a atenção sobre si, mas sobre a outra. Cada vez que o Pai fala no Evangelho, o faz sempre para revelar algo do Filho. Jesus, por sua vez, não faz senão falar do Pai. O Espírito Santo, quando chega ao coração de um crente, não ensina a dizer seu nome, que em hebreu é «Rûah», mas ensina a dizer “Abbà”, que é o nome do Pai. 

Família – Tentemos pensar o que produzirá este estilo se for transferido à vida de uma família. O pai, que não se preocupa tanto em afirmar sua autoridade, como a da mãe; a mãe, que antes de ensinar a criança a dizer “mamãe” ensina-a a dizer “papai”. Se este estilo for imitado em nossas famílias e comunidades, todos seremos, verdadeiramente, convertidos em um reflexo da Trindade na Terra, lugares onde a lei que rege tudo é o amor.

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