final. Você sabe dizer em que época foi realizado esse discurso? (resposta abaixo).
Cristo Rei – Chegamos ao último domingo do ano litúrgico, no qual celebramos a festa de Cristo Rei. O Evangelho faz-nos assistir ao último ato da história: o juízo universal. Que diferença há entre esta cena e a de Cristo ante os juízes em sua Paixão! Então, todos estavam sentados e Ele, em pé, amarrado; agora todos estão em pé e Ele está sentado no trono. Os homens e a história julgam Cristo; nesse dia, Cristo julgará os homens e a história. Ante Ele decide-se quem permanece em pé e quem cai. Esta é a fé imutável da Igreja que em seu Credo proclama: “De novo virá com glória para julgar vivos e mortos, e seu reino não terá fim”.
Juízo – O Evangelho diz-nos também como acontecerá o juízo: “tive fome, e me destes de comer, tive sede e me destes de beber...”. O que acontecerá, portanto, com quem não só não deu de comer a quem tinha fome, mas também lhe tirou a comida; não só não acolheu, mas provocou que o outro se convertesse em forasteiro? Isto não afeta só a uns poucos criminosos.
Impunidade – É possível que se instaure um ambiente geral de impunidade, no qual se utilizem carreiras para violar a lei, para corromper ou deixar corromper, com a justificativa de que todos fazem isso. Mas a lei nunca foi abolida. De repente, chega um dia, no qual se começa uma investigação e sucede-se uma grande devastação, como a que aconteceu na Itália, com “Mãos Limpas” [escândalos de corrupção da administração pública italiana, nos anos noventa].
Todos fazem – Mas não é esta a situação na qual vivemos, em certo sentido, todos nós, investigados e investigadores, frente à lei de Deus? Violam-se tranquilamente os mandamentos, um após o outro, inclusive o que diz “não matarás” (para não falar do que diz “não cometerás adultério”), com o pretexto de que, de todos os modos, o fazem todos, que a cultura, o progresso e inclusive a lei humana já o permitem. Mas Deus nunca pensou em abolir nem os mandamentos nem o Evangelho e este sentido geral de segurança não é mais que um engano fatal.
Tempo – Há alguns anos, restaurou-se o afresco do juízo universal, de Miguelangelo. Mas há outro juízo universal que é preciso restaurar: não está pintado em paredes de ladrilho, mas no coração dos cristãos. Ficou totalmente descolorido e está convertendo-se em ruínas. “O mais além, e com ele o juízo, converteu-se em uma brincadeira, em algo tão incerto que se diverte pensando que havia uma época na qual esta idéia transformava toda a existência humana” (Soren Kierkegaard). Alguém poderia tentar consolar-se, dizendo que, depois de tudo, o dia do juízo está muito longe, talvez faltem milhões de anos. Mas Jesus, no Evangelho, responde: “Tolo! Ainda esta noite te reclamarão a alma” (Lucas 12, 20).
Misericórdia – O tema do juízo se entrecruza, na liturgia deste domingo, com o de Jesus bom pastor. No salmo responsorial se diz: “O Senhor é meu Pastor, nada me faltará: em verdes prados me faz repousar” (Salmo 22, 1-2). O sentido está claro: agora Cristo se revela a nós como bom pastor; dia virá em que será nosso juiz. Agora é o tempo da misericórdia, então será o tempo da justiça. A nós cabe escolher, enquanto estamos a tempo.
Este texto é de autoria do padre Raniero Cantalamessa OFM – pregador da Casa Pontifícia, Vaticano.
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