O Evangelho das missas
deste domingo descreve a Anunciação da Virgem Maria (Lc 1, 26-38). A Anunciação
é a celebração cristã do anúncio pelo Arcanjo Gabriel para a Virgem Maria, de
que ela seria a mãe de Jesus Cristo. Apesar da virgindade, Maria milagrosamente
conceberia uma criança, que seria chamada de Filho de Deus. Gabriel disse a
Maria ainda que deveria chamar a criança de Jesus ("Salvador"). A
Igreja Católica celebra este evento na festa da Anunciação, em 25 de março,
exatamente nove meses antes do Natal.
Nazaré – A
cena situa-nos numa aldeia da Galileia, chamada Nazaré. A Galileia, região a
norte da Palestina, à volta do Lago de Tiberíades, era considerada pelos judeus
uma terra longínqua e estranha, em permanente contato com as populações pagãs e
onde se praticava uma religião heterodoxa, influenciada pelos costumes e pelas
tradições pagãs. Daí a convicção dos mestres judeus de Jerusalém de que “da
Galileia não pode vir nada de bom”. Quanto a Nazaré, era uma aldeia pobre e
ignorada, nunca nomeada na história religiosa judaica e completamente à margem
dos caminhos de Deus e da salvação.
Maria – A
jovem de Nazaré que está no centro deste episódio era “uma virgem desposada por
um homem chamado José”. O casamento hebraico considerava o compromisso
matrimonial em duas etapas: havia uma primeira fase, na qual os noivos se
prometiam um ao outro (os “esponsais”); só numa segunda fase surgia o compromisso
definitivo (matrimônio propriamente dito). Durante os “esponsais”, os noivos
não viviam em comum, mas o compromisso que os dois assumiam tinha já um
carácter estável, de tal forma que, se surgia um filho, este era considerado
filho legítimo de ambos. A Lei de Moisés considerava a infidelidade da
“prometida” como uma ofensa semelhante à infidelidade da esposa (Dt 22,23-27). José
e Maria estavam na situação de prometidos (esponsais), não tendo ainda
celebrado o matrimônio.
Evangelho da Infância – O texto da Anunciação pertence ao “Evangelho da Infância”, na versão de Lucas. Os capítulos 1 e 2 dos Evangelhos de Mateus e Lucas são chamados de “Evangelhos da Infância”, pois descrevem o nascimento de Jesus. O texto da Anunciação, que será lido neste domingo, pertence ao “Evangelho da Infância” na versão de Lucas.
Midrash –
Estes textos foram escritos na forma de midrash: para se desenvolver um
conceito teológico ou uma doutrina, cria-se uma história fictícia ou uma
narração figurada (uma lenda, um mito). Portanto, a narração da Anunciação de
Lucas não pretende ser um relato jornalístico ou uma informação histórica; mas
é, sobretudo, uma catequese (texto escrito para o ensino) destinada a proclamar
certas realidades salvíficas.
Homologese – É
outra característica do texto de Lucas. A homologese faz com que a história
fictícia que está sendo contada se utilize de fatos e pessoas já conhecidas (do
Antigo Testamento) e aparições apocalípticas (anjos, aparições, sonhos). Desta
forma a narração se torna mais real.
Diálogo repetido – Desta forma, a narrativa torna-se uma construção artificial. Isto
pode ser constatado pelos elementos do diálogo entre o anjo e Maria, que são
copiados do Antigo Testamento. A saudação “alegra-te” (v. 28) foi tirada do
profeta Sofonias (3,14). A expressão “O Senhor está contigo” é do livro dos
Juízes (6,12), quando o anjo aparece a Gedeão. “Não temas” é a frase do anjo a
Daniel (Dn 10,12). O “nada é impossível a Deus” (v. 37) nós o encontramos em Gn
18,14, quando o anjo anuncia o nascimento de um filho a Abraão.
Mais repetições – A mensagem “conceberás em teu seio e darás à luz um filho, e lhe
darás o nome de Jesus...” (v. 31) é a frase do anjo a Agar, escrava de Abraão (Gn
16,11). E a continuação — “ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo. O
Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai. Ele reinará na casa de Jacó
pelos séculos e seu reino não terá fim” (v. 32-33) – é uma clara alusão à
profecia de Natã ao rei Davi, prometendo-lhe, em nome de Deus, um sucessor em
sua casa e o reinado eterno de sua linhagem (2Sm 7,12-16).
Anunciação – Lucas
recolheu frases importantes do Antigo Testamento, todas elas referentes a
intervenções de Deus na história e com elas escreveu um conto sobre a maior das
intervenções divinas na humanidade.
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