No Evangelho
deste domingo (Jo 14,15-21) será lido um trecho do longo discurso de despedida
de Jesus na última ceia, onde é retomado o tema dos mandamentos de Jesus e sua
observância.
Ambiente – Estamos na noite de 6 de abril do ano 30, quinta-feira, na véspera da
morte de Jesus na cruz, durante a “Ultima Ceia”, com todos os apóstolos. A
decisão de matar Jesus já está tomada pelas autoridades judaicas e Jesus
sabe-o. A morte na cruz é mais do que uma probabilidade: é o cenário imediato.
Discurso – Durante a Ceia, Jesus despediu-Se dos discípulos e fez-lhes as últimas recomendações. As palavras de Jesus soam a um “testamento final”: Ele sabe que vai partir para o Pai e que os discípulos vão continuar no mundo. Jesus fala-lhes, então, do caminho que percorreu (e que ainda tem de percorrer, até à consumação da sua missão e até chegar ao Pai); e convida os discípulos a seguir o mesmo caminho de entrega a Deus e de amor radical aos irmãos.
Caminho – É seguindo esse “caminho” que eles se tornarão Homens Novos e que
chegarão a ser “família de Deus”. Os discípulos, no entanto, estão inquietos e
desconcertados. Será possível percorrer esse “caminho” se Jesus não caminhar ao
lado deles? Como é que eles manterão a comunhão com Jesus e como receberão
d’Ele a força para doar, dia a dia, a própria vida?
Presente – No entanto, Jesus garante aos discípulos que não os deixará sós no mundo. Ele vai para o Pai; mas vai encontrar forma de continuar presente e de acompanhar, a par e passo, a caminhada dos seus discípulos. É preciso, no entanto, que os discípulos continuem a seguir Jesus, a manifestar a sua adesão a Ele, a amá-l’O. A consequência desse amor é o cumprir os mandamentos que Jesus deixou.
Paráclito – Como é que Jesus vai estar presente ao lado dos discípulos, dando-lhes a
coragem para percorrer “o caminho” do amor e do dom da vida? Jesus fala no
envio do “Paráclito”, que estará sempre com os discípulos. A palavra grega
“paráklêtos”, utilizada por João, pertence ao vocabulário jurídico e designa,
nesse contexto, aquele que ajuda ou defende o acusado. Pode, portanto,
traduzir-se como “advogado”, “auxiliar”, “defensor”. A partir daqui, pode
deduzir-se, também, quer o sentido de “consolador”, quer o sentido de
“intercessor”.
Espírito – No Novo Testamento, a palavra só aparece em João, onde é usada quer para
designar o Espírito (Jo 14,26; 15,26; 16,7), quer o próprio Jesus (que no céu,
cumpre uma missão de intercessão - cf. 1 Jo 2,1). O “Paráclito” que Jesus vai
enviar é o Espírito Santo. Enquanto esteve com os discípulos, Jesus ensinou-os,
protegeu-os, defendeu-os; mas, a partir de agora, será o Espírito que ensinará
e cuidará da comunidade de Jesus.
Duplo papel – O Espírito desempenhará um duplo papel: em termos internos, conservará a
memória da pessoa e dos ensinamentos de Jesus, ajudando os discípulos a
interpretar esses ensinamentos à luz dos novos desafios; por outro, dará
segurança aos discípulos, guiá-los-á e defendê-los-á quando eles tiverem de
enfrentar a oposição e a hostilidade do mundo.
Órfãos – Depois de garantir aos discípulos o envio do “Paráclito”, Jesus reafirma
aos discípulos que não os deixará “órfãos” no mundo. A palavra utilizada
(“órfãos”) é muito significativa: no Antigo Testamento, o “órfão” é o protótipo
do desvalido, do desamparado, do que está totalmente à mercê dos poderosos e
que é a vítima de todas as injustiças. Jesus é claro: os seus discípulos não
vão ficar indefesos, pois Ele vai estar ao lado deles.
Comunhão – No dia em que Jesus for para o Pai e os discípulos receberem o Espírito,
a comunidade descobrirá que faz parte da família de Deus (v. 20-21). Jesus identifica-Se
com o Pai, por ter o mesmo Espírito; os discípulos identificam-se com Jesus,
por ação do Espírito. A comunidade cristã está unida com o Pai, através de
Jesus, numa experiência de unidade e de comunhão de vida entre Deus e o homem.
Nesse dia, a comunidade será a presença de Deus no mundo: ela e cada membro
dela convertem-se em morada de Deus, o espaço onde Deus vem ao encontro dos
homens. Na comunidade dos discípulos e através dela, realiza-se a ação
salvadora de Deus no mundo.
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