sábado, 28 de fevereiro de 2015

Qual a distância que Jesus carregou a cruz?


Na leitura da Paixão de Cristo, todos os cristãos ficam impressionados com o sofrimento de Jesus ao carregar a cruz. Vamos detalhar o que aconteceu.

Condenação – Jesus foi condenado à morte por crucificação pelo Tribunal Romano, na Fortaleza Antônia, próxima ao Templo. Para iniciar a caminhada até o monte Gólgota (ou monte Calvário), a chamada “Via Crucis”, os três condenados (Jesus e os dois ladrões) foram preparados para carregar as cruzes.

A cruz – A Cruz é um antigo instrumento bárbaro de suplício, usado por vários povos para executar os condenados a morte. Era constituída de duas partes: uma haste vertical de aproximadamente 3,5 metros de comprimento, denominada “estipe”, que era cravada a um metro de profundidade no local da crucificação. A parte horizontal da cruz, uma haste chamada “patíbulo”, tinha cerca de 2,20 metros de comprimento e pesava aproximadamente 35 quilos. Os condenados transportavam somente o patíbulo nas costas, o que causava graves ferimentos na nuca, e as estipes ficavam fixadas no monte Calvário, aguardando a chegada dos condenados. Portanto, não são reais as representações artísticas de Jesus carregando as duas partes da cruz (estipe e patíbulo).

Crucificação – Chegando no monte Calvário, colocavam o "patíbulo" no chão e deitavam o réu sobre ele, fixando os seus pulsos. A seguir, com forquilhas de madeira, levantavam o patíbulo (com o crucificado), fixando-o no estipe. Cabe lembrar que nenhum dos quatro Evangelhos menciona que Jesus tenha sido fixado na cruz com pregos (ou cravos). O mais comum no Império Romano era amarrar os pés e as mãos do crucificado com cordas. A indicação de que Jesus teria sido pregado na cruz vem da descrição da aparição de Jesus aos apóstolos (Jo 20,25), quando se fala em sinais deixados pelos pregos.

Tipos de cruzes – Havia vários tipos de cruzes para a crucificação. A mais usada era a “cruz comissa” (crux commissa), em que o patíbulo era colocado sobre a estipe, formando um “T”. Na crucificação de Jesus foi usada a cruz imissa (crux immissa), em que uma parte da estipe fica acima do patíbulo, onde havia espaço para uma inscrição (Mt 27.37).

Via crucis A cidade de Jerusalém foi destruída durante a Guerra Judaica (66 a 73 d.C.). Na atualidade, é muito difícil estabelecer um trajeto preciso, por onde Jesus passou com a cruz, até o monte Calvário. O traçado das ruas é bastante diferente da época da ocupação Romana de Jerusalém. Se considerarmos que Jesus saiu da Fortaleza Antônia, passou pelo portão de Damasco para chegar ao Calvário, hoje, a distância seria de 595 metros. Alguns autores fixam esta distância, no tempo de Jesus, entre 500 e 600 metros.

Não é bem assim – Mas Jesus não carregou a cruz em todo o percurso. De acordo com os Evangelhos Sinóticos, Simão de Cirene foi obrigado pelos soldados romanos a carregar a cruz de Jesus Cristo até o Gólgota (Mt 27, 32; Mc 15, 22; Lc 23, 26). O Evangelho de João nega o episódio, dando ênfase à ideia de que Jesus teria carregado a cruz sozinho até o monte. De acordo com os evangelistas Marcos e Lucas, Simão era oriundo de Cirene, cidade do Norte de África (atual Líbia), distante 1.200 km de Jerusalém. Simão era pai de Alexandre e Rufo (Marcos 15, 21), sendo representado como um negro ao ser identificado com o Simão de At 13,1. Rufo teria seguido os apóstolos, sendo citado por Paulo em Rom 16,13. Alexandre teria repudiado a pregação do Evangelho (1Tim 1,19-20; 2Tim 4,14).

Quantos metros? – Como não sabemos em que ponto do trajeto houve o encontro com Simão, vamos supor que Jesus carregou a cruz até o portão de Damasco. Neste local, onde havia uma maior concentração de pessoas, Jesus caiu pela segunda vez, fazendo parar o cortejo. Neste ponto, os soldados convocaram a ajuda de Simão (Cirineu). Com esta suposição, Jesus teria carregado a cruz entre 400 e 450 metros, deixando o restante do percurso até o Calvário (150 a 200 metros) para Simão.

Quer saber mais – Se você gostou do assunto e quer saber mais, podemos lhe oferecer mapas da cidade de Jerusalém no tempo de Jesus, com os possíveis trajetos da “Via Crucis”. Solicite por E-mail.


sábado, 21 de fevereiro de 2015

O GALO QUE CANTOU APÓS AS NEGAÇÕES DE PEDRO ERA UMA AVE?


Estamos na Quaresma, e daqui a cinco semanas estaremos lendo a Paixão de Cristo. Todos devem se lembrar que, após a terceira negação de Pedro o galo cantou: ‘“Homem, não sei de que estás falando!’ E, enquanto ainda falava, o galo cantou” Lc 22,60). Como isto pode ter acontecido, se os judeus eram proibidos de criar galos nas cidades?

Pedro? – Na leitura da Paixão, uma das frases mais surpreendentes de Jesus é o anúncio das negações de Pedro: “Pedro, eu te digo que hoje, antes que o galo cante, três vezes negarás que me conheces” (Lc 22,34). Como poderia isso acontecer? Ainda mais com Pedro, o apóstolo mais próximo de Jesus e o homem que mais demonstrou a sua fé no Messias (Mt 16,16 - “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”). Mas, com certeza, as negações de Pedro aconteceram, pois são relatadas nos quatro Evangelhos: nos sinóticos em Mt 26,34, 69-75; em Mc 14,30, 66-72; e em Lc 22,34, 54-62 como também Evangelho de João (Jo 13,38; 18,15-18).

Onde foi? – Uma pergunta importante para esta história é “onde ocorreram as negações de Pedro?”. A resposta é detalhada nos Evangelhos (Mateus 26,57; Marcos 14,53; Lucas 22,54): após a Última Ceia, Jesus foi para uma propriedade chamada Getsêmani, onde foi preso e levado para a casa do Sumo Sacerdote Anás. A casa do Sumo Sacerdote estava no centro de Jerusalém, próxima à Fortaleza Antonia (onde estava Pilatos) e ao Templo. Pedro acompanhou Jesus. Enquanto Jesus era interrogado no interior da casa, Pedro ficou no pátio, junto com os soldados.

Galos em Jerusalém? – Um fato intrigante complica esta história. A Mishná (texto da tradição oral judaica, considerada a obra mais importante do judaísmo rabínico, é chamada de Torá Oral) é bem clara: os judeus não podem criar galos em Jerusalém por causa das Coisas Santas, nem os sacerdotes podem criá-los em qualquer lugar na Terra de Israel. O tratado Baba Kama (primeiro de uma série de três tratados talmúdicos, que lidam com matéria civil, tais como danos e delitos) também proíbe a criação de qualquer tipo de galináceo nas cidades.

Questão – Como poderia um galo ter cantado, se Pedro estava com Jesus na casa de Anás, no centro de Jerusalém onde, certamente, não haveria um galinheiro? Sendo assim, será que houve um “galo” que literalmente, “cantou” no contexto da negação de Pedro?

Solução – A resposta está no Evangelho de Marcos (Mc 13, 35-36): “Vigiai, portanto, porque não sabeis quando o senhor da casa voltará: à tarde, à meia-noite, ao canto do galo, ou de manhã, para que, vindo de repente, não vos encontre dormindo”. Para entender isso, é importante ter em conta que os romanos dividiam os dias em períodos de três em três horas. Lembrem que Jesus foi crucificado na sexta hora (meio dia) e morreu na nona hora (três horas da tarde).

Vigília – À noite, os períodos de três horas eram chamados de vigílias. Essas vigílias, por sua vez, demarcavam períodos de três horas, nos quais funcionava cada turno do serviço de guarda. A primeira vigília da noite começava às 18h00 e ia até às 21h00; a segunda vigília começava às 21h00 e ia até à meia-noite; a terceira vigília começava à meia-noite e ia até às 3h00 da madrugada; e a quarta vigília ia das 3h00 da madrugada até às 6h00 da manhã. Cada período era marcado pelo toque da trombeta.

Apelidos – Acontece que os judeus se expressavam de forma abreviada quando se referiam a essas vigílias da noite. Assim (como em Mc 13,35), a palavra “tarde” se referia ao fim da primeira vigília (21h00); “meia-noite” indicava o fim da segunda vigília; “Canto do galo” era o termo usado por eles para o fim da terceira vigília (3h00); e “de manhã” era o modo como se referiam ao fim da quarta vigília (6h00).

Não era uma ave – Quando Jesus diz, em Lc 22,34, “Pedro, eu te digo que hoje, antes que o galo cante, três vezes negarás que me conheces”, ele estava fazendo menção ao fim da terceira vigília. Seria o mesmo de dizer: “Pedro, eu te digo que hoje, antes das três horas da madrugada, três vezes negarás que me conheces”. Portanto, este “cantar do galo” não era uma referência ao som emitido pela ave “galo”, mas sim uma alusão ao toque da trombeta, conhecido em latim como gallicinium.


Quer ler mais – Se você gostou do assunto e quer conhecer detalhes sobre o “canto do galo”, podemos lhe enviar um estudo completo (19 páginas em português). Solicite por E-mail.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

As “novas lepras” da sociedade



Nas leituras das missas deste domingo, Jesus cura um leproso. Para refletir sobre estes textos vamos transcrever o comentário do padre Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia do Vaticano.

Terror – Nas leituras das missas deste domingo ressoa várias vezes a palavra que, só de ouvi-la pronunciar, suscitou por milênios angustia e pavor: lepra! Dois fatores alheios contribuíram a acrescentar o terror frente a esta enfermidade, até fazer dela o símbolo da máxima desventura que pode tocar uma criatura humana e isolar os pobres infelizes das formas mais desumanas. O primeiro era a convicção de que esta enfermidade era tão contagiosa que infectava qualquer um que tivesse estado em contato com o enfermo; o segundo, igualmente carente de todo fundamento, era que a lepra era um castigo pelo pecado.

Follereau – Quem contribuiu mais que ninguém para que mudasse a atitude e a legislação com respeito aos leprosos foi Raoul Follereau (escritor, jornalista e poeta francês, que dedicou toda sua vida a combater a enfermidade de Hansen). Instituiu em 1954 a Jornada Mundial da Lepra, promoveu congressos científicos e finalmente, em 1975, conseguiu que se revogasse a legislação sobre a segregação dos leprosos.

Lei judaica – Acerca do fenômeno da lepra, as leituras deste domingo nos permitem conhecer a atitude primeiro da Lei mosaica e depois do Evangelho de Cristo. Na primeira leitura, do Levítico se diz que a pessoa da que se suspeite que padece de lepra deve ser levada ao sacerdote, o qual, verificando-a, a “declarará impura”. O pobre leproso, expulso do convívio humano, deve manter afastadas as pessoas, advertindo-as de longe do perigo. A única preocupação da sociedade é proteger a si mesma.

Evangelho – Vejamos agora como se comporta Jesus no Evangelho: “Aproximou-se de um leproso suplicante: ‘Se queres podes purificar-me’. Compadecido dele, estendeu sua mão, tocou-o e lhe disse: ‘Quero; sê purificado’. E no mesmo instante desapareceu a lepra e ficou purificado”.

Jesus – não tem medo do contágio; permite ao leproso que chegue até Ele e se jogue de joelhos. Mais ainda: em uma época na qual se considerava que a mera proximidade de um leproso contagiava, Ele “estendeu sua mão e o tocou”. Não devemos pensar que tudo isto fosse espontâneo e não contava nada a Jesus. Como homem, Ele compartilhava, nisto como em tantos outros pontos, as convicções de seu tempo e da sociedade na qual vivia. Mas a compaixão pelo leproso é mais forte n’Ele que o medo da lepra.

Cura – Jesus pronunciou nesta circunstância uma frase simples e sublime: “Quero; sê purificado”. “Se queres, podes”, havia dito o leproso, manifestando assim sua fé no poder de Cristo. Jesus demonstra poder fazê-lo, fazendo-o.

Novas lepras – Esta comparação entre a Lei mosaica e o Evangelho no caso da lepra nos obriga a propor-nos a pergunta: em qual das duas atitudes me inspiro? É verdade que a lepra já não é a enfermidade que produz mais temor (ainda que existam milhões de leprosos no mundo), que é possível, se se chega a tempo, curar-se completamente dela, e na maioria dos países já foi vencida do todo; mas outras enfermidades ocuparam seu lugar. Fala-se desde há tempos de “novas lepras”. Com estes termos não se entendem tanto as enfermidades incuráveis de hoje (Aids e dependência de drogas) das quais a sociedade se defende (como com a lepra), isolando o enfermo e rejeitando-o à margem dela mesma.

Conversão – O que Raoul Follereau sugeriu fazer para com os leprosos tradicionais, e que tanto contribuiu a aliviar seu isolamento e sofrimento, dever-se-á fazer (e graças a Deus muitos o fazem) com os novos leprosos. Com frequência um gesto assim, especialmente se se realiza tendo de vencer a si mesmo, marca o início de uma verdadeira conversão para quem o faz. O caso mais célebre é o de Francisco de Assis, que remonta ao encontro com um leproso o começo de sua nova vida.


Quer ler mais – Se você quer conhecer, em detalhes, a história do encontro de São Francisco de Assis com o leproso, solicite por E-mail, que lhe enviaremos gratuitamente.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

A casa de Pedro




No Evangelho das missas deste domingo (Mc 1, 29-39) Jesus está na cidade de Cafarnaum e cura a sogra de Pedro. Lembramos que Jesus deixou a sua cidade natal, Nazaré (situada a 34 km a sudoeste), e instalou-se em Cafarnaum (Mt 4,13). Simão, o pescador, lhe emprestou a sua casa e, desde então, a vila se tornou o centro de suas atividades. Ao receber Jesus, Cafarnaum passou a ser a capital do anúncio evangélico, passando a ser conhecida como “Cidade de Jesus” (Mt 9,1). Jesus viveu ali durante o tempo de sua pregação, entre os anos 27 e 30.

Jesus – Lembramos que Jesus nasceu na cidade de Belém, na Judéia (no ano 7 a.C.), foi criado em Nazaré (por isso foi chamado de Jesus de Nazaré ou Nazareno) e, no ano 27 d.C., com 33 anos de idade, foi morar em Cafarnaum, que se tornou a sede de sua pregação. Jesus morreu crucificado na sexta-feira, 7 de abril do ano 30 (com 36 anos), e ressuscitou no domingo, 9 de abril.

Ruas – Cafarnaum situava-se na margem do lago de Genesaré (ou Mar da Galiléia). Tinha uns 300 metros de leste a oeste e uns 200 metros de norte a sul, com uma população estimada entre 800 e 900 pessoas. Tinha uma planta harmoniosa e ordenada, com ruas formando quarteirões e conjuntos de casas. No desenho acima podemos ver as ruínas da cidade de Cafarnaum, com as ruas, a casa de Pedro e a sinagoga (lembrem-se do Evangelho da semana passada, quando Jesus estava na sinagoga).

Pedro – A casa de Simão Pedro estava situada em um dos quarteirões, nas imediações do lago. Em Cafarnaum não existiam casas individuais, mas habitações de famílias ou coletivas: as habitações, construídas em pedra, agrupavam-se ao redor de um único pátio, para várias famílias. As diversas habitações não tinham porta para a rua, permanecendo sempre abertas para o pátio. Uma única porta comunicava a rua ao pátio. No pátio se amassava e assava o pão, em fornos coletivos; as mulheres moíam o trigo e os artesãos faziam seus trabalhos manuais.

A casa – O pátio da casa de Pedro tinha aproximadamente 84 m2, totalizando sete habitações. Conforme Marcos (1, 29), na casa moravam Simão (Pedro) e seu irmão André. Devemos considerar que todos tinham mulheres e filhos, além da sogra de Pedro, que podia ter marido e outros membros da família. No Evangelho deste domingo, Jesus saiu da sinagoga e, ao chegar na “casa coletiva”, lhe informaram que a sogra de Pedro estava com febre. Jesus entrou no pátio e se encaminhou para a casa onde estava a sogra de Pedro. Levantou-a pela mão, curando-a. Mais tarde, curou doentes na porta da casa.

Sinagoga – Perto da casa de Pedro havia uma sinagoga, tantas vezes visitada por Jesus. Tinha 22 m de largura por 16 m de comprimento. Sabemos, pelo Evangelho de São Lucas, que foi construída por um centurião romano, cujo criado foi curado por Jesus. O Evangelho diz que, quando o militar enviou um grupo de judeus para implorar seu milagre, estes lhe disseram: “Ele merece este favor, porque ama o nosso povo. Ele até construiu uma sinagoga para nós.” (Lc 7,5).


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