Nas leituras das missas deste domingo, Jesus
cura um leproso. Para refletir sobre estes textos vamos transcrever o
comentário do padre Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia do
Vaticano.
Terror – Nas leituras das missas deste domingo ressoa
várias vezes a palavra que, só de ouvi-la pronunciar, suscitou por milênios
angustia e pavor: lepra! Dois fatores alheios contribuíram a acrescentar o
terror frente a esta enfermidade, até fazer dela o símbolo da máxima desventura
que pode tocar uma criatura humana e isolar os pobres infelizes das formas mais
desumanas. O primeiro era a convicção de que esta enfermidade era tão
contagiosa que infectava qualquer um que tivesse estado em contato com o
enfermo; o segundo, igualmente carente de todo fundamento, era que a lepra era
um castigo pelo pecado.
Follereau – Quem contribuiu mais que ninguém para
que mudasse a atitude e a legislação com respeito aos leprosos foi Raoul
Follereau (escritor, jornalista e poeta francês, que dedicou toda sua vida a
combater a enfermidade de Hansen). Instituiu em 1954 a Jornada Mundial da
Lepra, promoveu congressos científicos e finalmente, em 1975, conseguiu que se revogasse
a legislação sobre a segregação dos leprosos.
Lei judaica – Acerca do fenômeno da lepra, as
leituras deste domingo nos permitem conhecer a atitude primeiro da Lei mosaica
e depois do Evangelho de Cristo. Na primeira leitura, do Levítico se diz que a
pessoa da que se suspeite que padece de lepra deve ser levada ao sacerdote, o
qual, verificando-a, a “declarará impura”. O pobre leproso, expulso do convívio
humano, deve manter afastadas as pessoas, advertindo-as de longe do perigo. A
única preocupação da sociedade é proteger a si mesma.
Evangelho – Vejamos agora como se comporta Jesus no
Evangelho: “Aproximou-se de um leproso suplicante: ‘Se queres podes
purificar-me’. Compadecido dele, estendeu sua mão, tocou-o e lhe disse: ‘Quero;
sê purificado’. E no mesmo instante desapareceu a lepra e ficou purificado”.
Jesus – não tem medo do contágio; permite ao
leproso que chegue até Ele e se jogue de joelhos. Mais ainda: em uma época na qual
se considerava que a mera proximidade de um leproso contagiava, Ele “estendeu
sua mão e o tocou”. Não devemos pensar que tudo isto fosse espontâneo e não
contava nada a Jesus. Como homem, Ele compartilhava, nisto como em tantos
outros pontos, as convicções de seu tempo e da sociedade na qual vivia. Mas a compaixão
pelo leproso é mais forte n’Ele que o medo da lepra.
Cura – Jesus pronunciou nesta circunstância
uma frase simples e sublime: “Quero; sê purificado”. “Se queres, podes”, havia
dito o leproso, manifestando assim sua fé no poder de Cristo. Jesus demonstra
poder fazê-lo, fazendo-o.
Novas lepras – Esta comparação entre a Lei mosaica e o
Evangelho no caso da lepra nos obriga a propor-nos a pergunta: em qual das duas
atitudes me inspiro? É verdade que a lepra já não é a enfermidade que produz
mais temor (ainda que existam milhões de leprosos no mundo), que é possível, se
se chega a tempo, curar-se completamente dela, e na maioria dos países já foi vencida
do todo; mas outras enfermidades ocuparam seu lugar. Fala-se desde há tempos de
“novas lepras”. Com estes termos não se entendem tanto as enfermidades
incuráveis de hoje (Aids e dependência de drogas) das quais a sociedade se
defende (como com a lepra), isolando o enfermo e rejeitando-o à margem dela
mesma.
Conversão – O que Raoul Follereau sugeriu fazer
para com os leprosos tradicionais, e que tanto contribuiu a aliviar seu
isolamento e sofrimento, dever-se-á fazer (e graças a Deus muitos o fazem) com os
novos leprosos. Com frequência um gesto assim, especialmente se se realiza
tendo de vencer a si mesmo, marca o início de uma verdadeira conversão para
quem o faz. O caso mais célebre é o de Francisco de Assis, que remonta ao
encontro com um leproso o começo de sua nova vida.
Quer ler mais – Se você quer conhecer, em detalhes, a
história do encontro de São Francisco de Assis com o leproso, solicite por
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