No Evangelho das missas deste domingo (Jo 6, 60-69), Jesus
continua a sua missão na Galiléia: é o mês de abril do ano 29, exatamente um
ano antes da sua crucificação, morte e ressurreição.
Discípulos – A cena se desenrola na cidade de
Cafarnaum, onde Jesus, logo após a reunião na sinagoga, no sábado, discutiu com
os judeus que contestavam as suas palavras ("Eu sou o pão que desceu do
céu"). Muitos discípulos, que escutavam a discussão, murmuravam: "Esse
modo de falar é duro demais. Quem pode continuar ouvindo isso?". E Jesus
disse: "Isso escandaliza vocês? Imaginem então se vocês virem o Filho do
Homem subir para o lugar onde estava antes! O Espírito é que dá a vida, a carne
não serve para nada. As palavras que eu disse a vocês são espírito e vida. Mas
entre vocês há alguns que não acreditam".
Pedro – A partir desse momento, muitos discípulos voltaram atrás e não andavam mais com Jesus. Então, Ele disse aos doze: "Vocês também querem ir embora?" Simão Pedro respondeu: "A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Agora nós acreditamos e sabemos que tu és o Santo de Deus".
Analisando o texto – O texto é a conclusão do grande discurso sobre "O Pão da Vida". Mais uma vez, a Bíblia deixa claro que, diante de Jesus e das suas palavras, o ouvinte tem que tomar uma decisão radical. E os versículos não escondem o fato de que nem todos conseguem optar por Jesus.
Discussão – As primeiras palavras,
"depois de ter ouvido isso", demonstram que a divisão nasceu após
algum ensinamento de Jesus, sem explicitar o motivo exato da discussão. As
preocupações comunitárias dos versículos anteriores – a afirmação de Jesus, de
que Ele dá o seu corpo como Pão da Vida, e o fato de o texto se dirigir aos
discípulos – indicam que, provavelmente, a fonte de divisão foi o discurso
eucarístico.
Divisão – De qualquer maneira, é importante
notar que a divisão não se dá entre "os judeus", mas entre os
próprios discípulos, muitos dos quais abandonam Jesus neste momento. Sem
dúvida, essa história reflete a experiência da comunidade de João, pelo ano 90,
quando estava sentindo, na pele, as dores de divisão, pois muitos dos seus
membros a estavam abandonando.
Quantidade – É muito interessante a reação de
Jesus diante do abandono da maioria dos seus discípulos. Ele não arreda pé, mas,
com toda calma, até convida os Doze a saírem, se não podem aceitar a sua
palavra. Jesus não se preocupa com números, mas, com a fidelidade ao Pai.
Talvez até fique sozinho, mas não vai diluir em nada as exigências do
seguimento da vontade do Pai.
Um exemplo – Esse é um exemplo importante para
nós, pois muitas vezes caímos na tentação de julgar o êxito pelos números!
Igrejas cheias indicam sucesso! Mas nem sempre é assim: é mais importante ser
coerente com o Evangelho, custe o que custar, do que "fazer média"
com a sociedade, às vezes mediante uma pregação tão insossa, que reduz a
religião a mero sentimentalismo, sem conseqüências sociais.
Escrituras – Diante do desafio de Jesus, Pedro
resume a visão dos que percebem no Mestre algo mais do que um mero pregador. A
quem iriam? Só Jesus tem palavras de vida eterna! Declaração atual, pois é moda
na nossa sociedade (até entre muitos católicos praticantes) de correr atrás de
tudo que é novidades: supostas aparições, esoterismo, religiões orientais,
gnosticismo e tantas outras propostas, às vezes até esdrúxulas, enquanto se
ignora a Palavra de Deus nas Escrituras.
Palavras de
vida eterna – O texto nos convida a
examinar e verificar se estamos realmente buscando a verdade onde ela se
encontra ou se a deixamos de lado, achando – como a multidão do texto – que o
seguimento de Jesus "é duro demais"! No meio de tantas propostas de
vida, estamos convidados a reencontrar a fonte da verdadeira felicidade e da
verdadeira vida, fazendo a experiência de Pedro, que descobriu que Jesus
"tem palavras de vida eterna".
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