sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Tu tens palavras de vida eterna


No Evangelho das missas deste domingo (Jo 6, 60-69), Jesus continua a sua missão na Galiléia: é o mês de abril do ano 29, exatamente um ano antes da sua crucificação, morte e ressurreição.

Discípulos – A cena se desenrola na cidade de Cafarnaum, onde Jesus, logo após a reunião na sinagoga, no sábado, discutiu com os judeus que contestavam as suas palavras ("Eu sou o pão que desceu do céu"). Muitos discípulos, que escutavam a discussão, murmuravam: "Esse modo de falar é duro demais. Quem pode continuar ouvindo isso?". E Jesus disse: "Isso escandaliza vocês? Imaginem então se vocês virem o Filho do Homem subir para o lugar onde estava antes! O Espírito é que dá a vida, a carne não serve para nada. As palavras que eu disse a vocês são espírito e vida. Mas entre vocês há alguns que não acreditam".

Pedro – A partir desse momento, muitos discípulos voltaram atrás e não andavam mais com Jesus. Então, Ele disse aos doze: "Vocês também querem ir embora?" Simão Pedro respondeu: "A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Agora nós acreditamos e sabemos que tu és o Santo de Deus".

Analisando o texto – O texto é a conclusão do grande discurso sobre "O Pão da Vida". Mais uma vez, a Bíblia deixa claro que, diante de Jesus e das suas palavras, o ouvinte tem que tomar uma decisão radical. E os versículos não escondem o fato de que nem todos conseguem optar por Jesus.

Discussão – As primeiras palavras, "depois de ter ouvido isso", demonstram que a divisão nasceu após algum ensinamento de Jesus, sem explicitar o motivo exato da discussão. As preocupações comunitárias dos versículos anteriores – a afirmação de Jesus, de que Ele dá o seu corpo como Pão da Vida, e o fato de o texto se dirigir aos discípulos – indicam que, provavelmente, a fonte de divisão foi o discurso eucarístico.

Divisão – De qualquer maneira, é importante notar que a divisão não se dá entre "os judeus", mas entre os próprios discípulos, muitos dos quais abandonam Jesus neste momento. Sem dúvida, essa história reflete a experiência da comunidade de João, pelo ano 90, quando estava sentindo, na pele, as dores de divisão, pois muitos dos seus membros a estavam abandonando.

Quantidade – É muito interessante a reação de Jesus diante do abandono da maioria dos seus discípulos. Ele não arreda pé, mas, com toda calma, até convida os Doze a saírem, se não podem aceitar a sua palavra. Jesus não se preocupa com números, mas, com a fidelidade ao Pai. Talvez até fique sozinho, mas não vai diluir em nada as exigências do seguimento da vontade do Pai.

Um exemplo – Esse é um exemplo importante para nós, pois muitas vezes caímos na tentação de julgar o êxito pelos números! Igrejas cheias indicam sucesso! Mas nem sempre é assim: é mais importante ser coerente com o Evangelho, custe o que custar, do que "fazer média" com a sociedade, às vezes mediante uma pregação tão insossa, que reduz a religião a mero sentimentalismo, sem conseqüências sociais.

Escrituras – Diante do desafio de Jesus, Pedro resume a visão dos que percebem no Mestre algo mais do que um mero pregador. A quem iriam? Só Jesus tem palavras de vida eterna! Declaração atual, pois é moda na nossa sociedade (até entre muitos católicos praticantes) de correr atrás de tudo que é novidades: supostas aparições, esoterismo, religiões orientais, gnosticismo e tantas outras propostas, às vezes até esdrúxulas, enquanto se ignora a Palavra de Deus nas Escrituras.


Palavras de vida eterna – O texto nos convida a examinar e verificar se estamos realmente buscando a verdade onde ela se encontra ou se a deixamos de lado, achando – como a multidão do texto – que o seguimento de Jesus "é duro demais"! No meio de tantas propostas de vida, estamos convidados a reencontrar a fonte da verdadeira felicidade e da verdadeira vida, fazendo a experiência de Pedro, que descobriu que Jesus "tem palavras de vida eterna".

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