No Evangelho das missas deste domingo serão lidas as
bem-aventuranças, também chamado de Sermão da Montanha (Mt 5,1-12).
Verdadeiro
Apóstolo –
O Sermão da Montanha nos apresenta um retrato das qualidades do verdadeiro
discípulo, daquele que, no seguimento de Jesus, procura viver os valores do
Reino de Deus. Basta uma leitura superficial para ver que a proposta de Jesus
está na contramão da proposta da sociedade vigente – tanto a do tempo de Jesus,
como a de hoje. O texto de Mateus deixa claro que o seguimento de Jesus exige
uma mudança radical na nossa maneira de pensar e viver.
"Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus”
– Este versículo chama a atenção pelo fato de estar com o verbo no presente: o
Reino já é dos pobres em espírito e dos perseguidos por causa da justiça. O Senhor
promete a felicidade na bem-aventurança eterna e, ao mesmo tempo, já nesta vida
(“deles é”, não diz “deles será”). As bem-aventuranças são o mais surpreendente
código de felicidade, e não se trata de uma felicidade qualquer: é uma
felicidade incomparável, interior e profunda, embora ainda não possuída de modo
perfeito e completo na vida terrena.
Os pobres em
espírito –
No Antigo Testamento, o pobre está já delineado não só como uma situação socioeconômica,
mas como um valor religioso muito elaborado: é pobre quem se apresenta diante
de Deus com uma atitude humilde, sem méritos pessoais, considerando a sua
realidade de homem pecador, necessitado do perdão divino, da misericórdia de
Deus para ser salvo. Assim, além de viver com uma sobriedade e uma austeridade
de vida reais, efetivas, é necessário que aceite e queira tais condições de
pobreza não como algo imposto pela necessidade, mas, voluntariamente, com afeto.
Pobreza – A ‘explicação’ de Mateus,
“em espírito”, sublinha a exigência dessa mesma pobreza: não é pobre em
espírito quem só é assim porque é obrigado pela sua situação econômico-social,
mas também aquele que, além disso, é pobre querendo essa pobreza de modo
voluntário. Esta atitude religiosa de pobreza está muito relacionada com a
chamada infância espiritual. O
cristão considera-se diante de Deus como um filho pequeno que não tem nada como
propriedade; tudo é de Deus, o seu Pai, e tudo que tem deve a Ele. De qualquer
modo, a pobreza em espírito – ou seja,
a pobreza cristã – exige o
desprendimento dos bens materiais e austeridade no uso deles.
Bem-aventurados os humildes, porque possuirão a terra. A tradução preferiu um
termo mais suave do que “os mansos”, que são os que sofrem serenamente e sem
ira, ódio ou abatimento, as perseguições injustas e as contrariedades. De fato
só os humildes são capazes da virtude da mansidão, pois não dão demasiada
importância a si próprios. A “terra” é a nova terra prometida, isto é, o Céu.
Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Refere-se aos aflitos, e
muito particularmente os que têm o coração cheio de mágoa por terem ofendido a
Deus e que, com vontade de reparação, choram e lamentam os seus pecados.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão
saciados. A idéia de justiça na Sagrada Escritura é uma idéia de natureza
religiosa: justo é aquele que cumpre a vontade de Deus, e justiça corresponde à
santidade, vocação a que todos são chamados.
Bem-aventurados
os puros de coração, porque verão a Deus. São, em geral, os que têm uma intenção reta,
os que são capazes de um amor puro, limpo e nobre, os que têm um olhar reto e íntegro;
está, portanto, englobada a castidade, mas não é só ela.
Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados
filhos de Deus (uma tradução mais expressiva do que pacíficos). São os que
promovem a paz entre os homens e dos homens com Deus, fundamento sério de toda
a paz no mundo.
Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem,
vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós. Jesus deixa clara a
conseqüência de assumir esse projeto de vida: a perseguição! Um sistema baseado
em valores antievangélicos não pode agüentar quem a contesta e questiona: algo
que a história dos mártires testemunha muita bem.