No Evangelho das missas deste domingo (Lucas
13,1-9), a pregação de Jesus tem como base dois acontecimentos contemporâneos
ao seu ministério: o assassinato dos galileus por Pilatos e a queda de uma
torre em Jerusalém. Esta passagem é somente encontrada no Evangelho de Lucas, e
ensina os discípulos que Jesus é compassivo com as falhas, fraquezas, e
limitações humanas, mas que também tem exigências, para quem quer segui-lo. Ele
nos convida à conversão antes que seja tarde demais!
Intimidação – A notícia da morte dos galileus provavelmente
foi trazida a Jesus por fariseus que queriam intimidá-lo. Em Jerusalém, alguns
galileus foram mortos por Pilatos sob suspeição de serem agitadores, e eram
considerados pecadores. O próprio Jesus, galileu, também visto como agitador,
corria igual perigo.
Castigo e Conversão – Jesus responde com outro fato: a torre
que desabara em Jerusalém matando várias pessoas, o que era tido como castigo
de Deus. Jesus descarta o sofrimento e a morte como castigo de Deus. Tanto
aqueles galileus que foram mortos por Pilatos como os dezoito judeus que
morreram sob a torre de Siloé, que desabou em Jerusalém, não eram mais
pecadores nem mais culpados do que qualquer outro morador de Jerusalém. O que
livra da morte é, realmente, a conversão daqueles que se julgavam justos e
santos.
Quem pecou – Na época, sofrer desgraças como doença,
pobreza ou morte prematura, era visto como castigo de Deus por ser pecador.
Podemos lembrar da pergunta feita a Jesus, referente ao homem cego de nascença,
no Evangelho de João: "Os discípulos perguntaram: Mestre, quem foi que
pecou, para que ele nascesse cego? Foi ele ou seus pais?"(Jo 9,2).
Teologia da Retribuição – É a tal chamada "Teologia da
Retribuição", onde Deus premia ou castiga segundo os méritos da pessoa, ou
melhor, segundo o que o sistema vigente entende por méritos. Assim se anula a
gratuidade e a bondade misericordiosa de Deus, e os excluídos da sociedade são
vistos como culpados do seu próprio sofrimento. Infelizmente essa teologia, tão
anti-evangélica está muito presente hoje, quando a religião, ou o pagamento do
dízimo se entendem como "investimento" para receber retornos de Deus.
Benção – É claro que também essa teologia
funciona em favor da elite dominante, pois a sua riqueza é explicada como
proveniente da bênção de Deus. Jesus não autoriza tal interpretação, e falando
também do outro acidente em Jerusalém que matou dezoito pessoas, mostra que
Deus não castiga assim. Esses acontecimentos trágicos podem servir para que
todos pensem na insegurança da vida, e na urgência de conversão, enquanto ainda
há tempo! Todos nós precisamos estar preparados para enfrentar o julgamento de
Deus, através de uma vida digna de discípulos.
Parábola – Na segunda parte, Jesus conta a parábola
da figueira. Serve para ilustrar as oportunidades que Deus concede para a
conversão. O Antigo Testamento tinha utilizado a figueira como símbolo de
Israel (Os 9,10), inclusive como símbolo da sua falta de resposta à aliança (Jer
8,13). Deus espera, portanto, que Israel (a figueira) dê frutos, isto é, aceite
converter-se à proposta de salvação que lhe é feita em Jesus; dá-lhe, até,
algum tempo (e outra oportunidade), para que essa transformação ocorra. Deus
revela, portanto, a sua bondade e a sua paciência; no entanto, não está
disposto a esperar indefinidamente, pactuando com a recusa do seu Povo em
acolher a salvação. Apesar do tom ameaçador, há no cenário de fundo desta
parábola uma nota de esperança: Jesus confia em que a resposta final de Israel
à sua missão seja positiva.
Reflexão – Quaresma é um tempo oportuno para uma
reflexão sobre a nossa vida cristã. É claro que todos nós somos pecadores, e
então em permanente necessidade de conversão. A parábola nos anima diante das
nossas fraquezas, pecados e tropeços na caminhada, pois Deus é compassivo, e em
Jesus sempre nos convida a voltar ao bom caminho. Do outro lado, a Quaresma
também deve nos estimular para que busquemos na verdade caminhos de conversão,
descobrindo onde e como somos "figueiras sem frutos", buscando o
"adubo" da oração, da Palavra de Deus, dos sacramentos, da Campanha
da Fraternidade, para que voltemos a produzir os frutos devidos a verdadeiros
discípulos de Jesus.