quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

“Se vocês não se converterem ...”



No Evangelho das missas deste domingo (Lucas 13,1-9), a pregação de Jesus tem como base dois acontecimentos contemporâneos ao seu ministério: o assassinato dos galileus por Pilatos e a queda de uma torre em Jerusalém. Esta passagem é somente encontrada no Evangelho de Lucas, e ensina os discípulos que Jesus é compassivo com as falhas, fraquezas, e limitações humanas, mas que também tem exigências, para quem quer segui-lo. Ele nos convida à conversão antes que seja tarde demais!

Intimidação – A notícia da morte dos galileus provavelmente foi trazida a Jesus por fariseus que queriam intimidá-lo. Em Jerusalém, alguns galileus foram mortos por Pilatos sob suspeição de serem agitadores, e eram considerados pecadores. O próprio Jesus, galileu, também visto como agitador, corria igual perigo.

Castigo e Conversão – Jesus responde com outro fato: a torre que desabara em Jerusalém matando várias pessoas, o que era tido como castigo de Deus. Jesus descarta o sofrimento e a morte como castigo de Deus. Tanto aqueles galileus que foram mortos por Pilatos como os dezoito judeus que morreram sob a torre de Siloé, que desabou em Jerusalém, não eram mais pecadores nem mais culpados do que qualquer outro morador de Jerusalém. O que livra da morte é, realmente, a conversão daqueles que se julgavam justos e santos.

Quem pecou – Na época, sofrer desgraças como doença, pobreza ou morte prematura, era visto como castigo de Deus por ser pecador. Podemos lembrar da pergunta feita a Jesus, referente ao homem cego de nascença, no Evangelho de João: "Os discípulos perguntaram: Mestre, quem foi que pecou, para que ele nascesse cego? Foi ele ou seus pais?"(Jo 9,2).

Teologia da Retribuição – É a tal chamada "Teologia da Retribuição", onde Deus premia ou castiga segundo os méritos da pessoa, ou melhor, segundo o que o sistema vigente entende por méritos. Assim se anula a gratuidade e a bondade misericordiosa de Deus, e os excluídos da sociedade são vistos como culpados do seu próprio sofrimento. Infelizmente essa teologia, tão anti-evangélica está muito presente hoje, quando a religião, ou o pagamento do dízimo se entendem como "investimento" para receber retornos de Deus.

Benção – É claro que também essa teologia funciona em favor da elite dominante, pois a sua riqueza é explicada como proveniente da bênção de Deus. Jesus não autoriza tal interpretação, e falando também do outro acidente em Jerusalém que matou dezoito pessoas, mostra que Deus não castiga assim. Esses acontecimentos trágicos podem servir para que todos pensem na insegurança da vida, e na urgência de conversão, enquanto ainda há tempo! Todos nós precisamos estar preparados para enfrentar o julgamento de Deus, através de uma vida digna de discípulos.

Parábola – Na segunda parte, Jesus conta a parábola da figueira. Serve para ilustrar as oportunidades que Deus concede para a conversão. O Antigo Testamento tinha utilizado a figueira como símbolo de Israel (Os 9,10), inclusive como símbolo da sua falta de resposta à aliança (Jer 8,13). Deus espera, portanto, que Israel (a figueira) dê frutos, isto é, aceite converter-se à proposta de salvação que lhe é feita em Jesus; dá-lhe, até, algum tempo (e outra oportunidade), para que essa transformação ocorra. Deus revela, portanto, a sua bondade e a sua paciência; no entanto, não está disposto a esperar indefinidamente, pactuando com a recusa do seu Povo em acolher a salvação. Apesar do tom ameaçador, há no cenário de fundo desta parábola uma nota de esperança: Jesus confia em que a resposta final de Israel à sua missão seja positiva.


Reflexão – Quaresma é um tempo oportuno para uma reflexão sobre a nossa vida cristã. É claro que todos nós somos pecadores, e então em permanente necessidade de conversão. A parábola nos anima diante das nossas fraquezas, pecados e tropeços na caminhada, pois Deus é compassivo, e em Jesus sempre nos convida a voltar ao bom caminho. Do outro lado, a Quaresma também deve nos estimular para que busquemos na verdade caminhos de conversão, descobrindo onde e como somos "figueiras sem frutos", buscando o "adubo" da oração, da Palavra de Deus, dos sacramentos, da Campanha da Fraternidade, para que voltemos a produzir os frutos devidos a verdadeiros discípulos de Jesus.

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