O Evangelho das missas deste domingo (Mt
5,17-37) é a continuação das bem-aventuranças de domingo passado (Mt 5,13-16). Com
o objetivo de doutrinar, Mateus
reúne, didaticamente, uma grande coleção de sentenças associadas a Jesus, às
quais se denomina "o Sermão da Montanha".
A
Lei – Os judeus
chamavam de “A Lei” os cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis, êxodo,
Levítico, Números e Deuteronômio. Estes cinco livros constituem a base da
doutrina judaica. Também são chamados de Torá, ou Pentateuco ou ainda de Lei de
Moisés.
Jesus
e Moisés – O discurso
de Jesus “no cimo de um monte” nos leva à montanha da Lei (Sinai), onde Deus Se
revelou e deu ao seu Povo a Lei (os Dez Mandamentos). Agora, é Jesus que, numa
montanha, oferece ao novo Povo de Deus essa nova Lei que deve guiar todos os
que estão interessados em aderir ao “Reino”. Neste discurso (o primeiro dos
cinco grandes discursos que Mateus apresenta), o evangelista agrupa um conjunto
de “ditos” de Jesus e oferece à comunidade cristã um novo código ético, a nova
Lei, que deve guiar os discípulos de Jesus na sua marcha pela história.
Cumprimento
da Lei – A Primeira
Leitura apresenta Deus propondo os Mandamentos ao Povo de Israel, num clima de
aliança e o povo acolhe unânime (Eclo 15,16-21). Para o povo de Israel, o amor
e a fidelidade à Lei constituiam toda a justiça e a santidade... É no
cumprimento dos mandamentos da Lei de Deus que está a vida e a felicidade, pois
ela é uma fonte de bênção (Dt 28,1-14) e a sua rejeição, uma fonte de maldições
(Dt 28,15ss) – apesar de muitas infidelidades... Mas, com o passar do tempo, o
povo reduziu a Lei a uma observância puramente externa, sem uma convicção
interior mais profunda...
Nova
Lei? – Para entendermos
o “pano de fundo” do Evangelho, convém que nos situemos no ambiente das
comunidades cristãs primitivas e, de forma especial, no ambiente da comunidade de
Mateus: trata-se de uma comunidade com fortes raízes judaicas, na qual predominavam
os cristãos que vinham do judaísmo… As questões que a comunidade propunha, na
década de oitenta (quando este Evangelho aparece), eram: continuamos obrigados
a cumprir a Lei de Moisés? Jesus não aboliu a Lei antiga? O que é que há de
verdadeiramente novo na mensagem de Jesus?
Dúvida
– O texto começa por
eliminar esse equívoco que perdurou por longo período e foi ocasião de disputas
não somente entre Jesus e os seus contemporâneos, mas entre judeus e cristãos.
O modo como Jesus interpretava e punha em prática a Lei de Moisés desconcertava
a tal ponto, que fazia com que seus contemporâneos e a geração posterior
pensassem que ele desprezava e revogava a Lei de Moisés.
Vida e liberdade – Jesus censura uma observância puramente
externa, sem convicção interior... "Se a vossa justiça não for maior que a
justiça dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos céus!". E
apresenta seis exemplos concretos, em forma de antíteses ("Ouvistes o que
foi dito... EU, porém, vos digo..."), proclamando com elas o sentido da
nova Lei. No Evangelho deste domingo, aparecem quatro delas: homicídio, adultério,
divórcio e perjúrio. As duas últimas são: perdão no lugar de vingança (Lei do
talião) e o Amor ao inimigo, ao invés de ódio (próximo domingo). As antíteses são
o exemplo claro de que Jesus ultrapassa a letra da Lei, supera o rigor que
sufoca e que impede de entrar na finalidade própria da Lei: preservar o dom da
vida e da liberdade. Parece que é exatamente isso que Jesus quer dizer ao
afirmar que a justiça (o modo de proceder em conformidade com a vontade de Deus)
expressa na Lei, deve superar o rigorismo dos escribas e fariseus. Não basta
uma prática apenas externa da lei, temos que obedecer, viver o espírito da Lei.
Plenitude dos tempos – Jesus não revoga a Lei de Moisés. Contudo,
ela precisa ser interpretada à luz da revelação de Jesus Cristo (Mt 5,17; 7,12;
22,40). No centro dessa “nova justiça” estão o amor, o perdão e a
reconciliação, a misericórdia, a unidade e o acolhimento, que incluem e
integram a todos na comunhão com Deus. O Sermão da Montanha, nesse trecho, nos
ensina que a vida espiritual não está num catálogo de normas perfeitas que
proíbem as más ações, mas na limpeza da fonte de todas as ações: o coração, pois
dele procedem assassínios, adultérios, prostituições, falsos testemunhos e
difamações.
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