sábado, 11 de fevereiro de 2017

Não penseis que vim revogar a Lei


O Evangelho das missas deste domingo (Mt 5,17-37) é a continuação das bem-aventuranças de domingo passado (Mt 5,13-16). Com o objetivo de doutrinar, Mateus reúne, didaticamente, uma grande coleção de sentenças associadas a Jesus, às quais se denomina "o Sermão da Montanha".

A Lei – Os judeus chamavam de “A Lei” os cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis, êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Estes cinco livros constituem a base da doutrina judaica. Também são chamados de Torá, ou Pentateuco ou ainda de Lei de Moisés.

Jesus e Moisés – O discurso de Jesus “no cimo de um monte” nos leva à montanha da Lei (Sinai), onde Deus Se revelou e deu ao seu Povo a Lei (os Dez Mandamentos). Agora, é Jesus que, numa montanha, oferece ao novo Povo de Deus essa nova Lei que deve guiar todos os que estão interessados em aderir ao “Reino”. Neste discurso (o primeiro dos cinco grandes discursos que Mateus apresenta), o evangelista agrupa um conjunto de “ditos” de Jesus e oferece à comunidade cristã um novo código ético, a nova Lei, que deve guiar os discípulos de Jesus na sua marcha pela história.

Cumprimento da Lei – A Primeira Leitura apresenta Deus propondo os Mandamentos ao Povo de Israel, num clima de aliança e o povo acolhe unânime (Eclo 15,16-21). Para o povo de Israel, o amor e a fidelidade à Lei constituiam toda a justiça e a santidade... É no cumprimento dos mandamentos da Lei de Deus que está a vida e a felicidade, pois ela é uma fonte de bênção (Dt 28,1-14) e a sua rejeição, uma fonte de maldições (Dt 28,15ss) – apesar de muitas infidelidades... Mas, com o passar do tempo, o povo reduziu a Lei a uma observância puramente externa, sem uma convicção interior mais profunda...

Nova Lei? – Para entendermos o “pano de fundo” do Evangelho, convém que nos situemos no ambiente das comunidades cristãs primitivas e, de forma especial, no ambiente da comunidade de Mateus: trata-se de uma comunidade com fortes raízes judaicas, na qual predominavam os cristãos que vinham do judaísmo… As questões que a comunidade propunha, na década de oitenta (quando este Evangelho aparece), eram: continuamos obrigados a cumprir a Lei de Moisés? Jesus não aboliu a Lei antiga? O que é que há de verdadeiramente novo na mensagem de Jesus?

Dúvida – O texto começa por eliminar esse equívoco que perdurou por longo período e foi ocasião de disputas não somente entre Jesus e os seus contemporâneos, mas entre judeus e cristãos. O modo como Jesus interpretava e punha em prática a Lei de Moisés desconcertava a tal ponto, que fazia com que seus contemporâneos e a geração posterior pensassem que ele desprezava e revogava a Lei de Moisés.
Vida e liberdade – Jesus censura uma observância puramente externa, sem convicção interior... "Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino dos céus!". E apresenta seis exemplos concretos, em forma de antíteses ("Ouvistes o que foi dito... EU, porém, vos digo..."), proclamando com elas o sentido da nova Lei. No Evangelho deste domingo, aparecem quatro delas: homicídio, adultério, divórcio e perjúrio. As duas últimas são: perdão no lugar de vingança (Lei do talião) e o Amor ao inimigo, ao invés de ódio (próximo domingo). As antíteses são o exemplo claro de que Jesus ultrapassa a letra da Lei, supera o rigor que sufoca e que impede de entrar na finalidade própria da Lei: preservar o dom da vida e da liberdade. Parece que é exatamente isso que Jesus quer dizer ao afirmar que a justiça (o modo de proceder em conformidade com a vontade de Deus) expressa na Lei, deve superar o rigorismo dos escribas e fariseus. Não basta uma prática apenas externa da lei, temos que obedecer, viver o espírito da Lei. 


Plenitude dos tempos – Jesus não revoga a Lei de Moisés. Contudo, ela precisa ser interpretada à luz da revelação de Jesus Cristo (Mt 5,17; 7,12; 22,40). No centro dessa “nova justiça” estão o amor, o perdão e a reconciliação, a misericórdia, a unidade e o acolhimento, que incluem e integram a todos na comunhão com Deus. O Sermão da Montanha, nesse trecho, nos ensina que a vida espiritual não está num catálogo de normas perfeitas que proíbem as más ações, mas na limpeza da fonte de todas as ações: o coração, pois dele procedem assassínios, adultérios, prostituições, falsos testemunhos e difamações.

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