sexta-feira, 31 de março de 2017

Qual a distância que Jesus carregou a cruz?




Na leitura da Paixão de Cristo, todos os cristãos ficam impressionados com o sofrimento de Jesus ao carregar a cruz. Vamos detalhar o que aconteceu.

Condenação – Jesus foi condenado à morte por crucificação pelo Tribunal Romano, na Fortaleza Antônia, próxima ao Templo. Para iniciar a caminhada até o monte Gólgota (ou monte Calvário), a chamada “Via Crucis”, os três condenados (Jesus e os dois ladrões) foram preparados para carregar as cruzes.

A cruz – A Cruz é um antigo instrumento bárbaro de suplício, usado por vários povos para executar os condenados a morte. Era constituída de duas partes: uma haste vertical de aproximadamente 3,5 metros de comprimento, denominada “estipe”, que era cravada a um metro de profundidade no local da crucificação. A parte horizontal da cruz, uma haste chamada “patíbulo”, tinha cerca de 2,20 metros de comprimento e pesava aproximadamente 35 quilos. Os condenados transportavam somente o patíbulo nas costas, o que causava graves ferimentos na nuca, e os estipes ficavam fixadas no monte Calvário, aguardando a chegada dos condenados. Portanto, não são reais as representações artísticas de Jesus carregando as duas partes da cruz (estipe e patíbulo).

Crucificação – Chegando no monte Calvário, colocavam o "patíbulo" no chão e deitavam o réu sobre ele, fixando os seus pulsos. A seguir, com forquilhas de madeira, levantavam o patíbulo (com o crucificado), fixando-o no estipe. Cabe lembrar que nenhum dos quatro Evangelhos menciona que Jesus tenha sido fixado na cruz com pregos (ou cravos). O mais comum no Império Romano era amarrar os pés e as mãos do crucificado com cordas. A indicação de que Jesus teria sido pregado na cruz vem da descrição da aparição de Jesus aos apóstolos (Jo 20,25), quando se fala em sinais deixados pelos pregos.

Tipos de cruzes – Havia vários tipos de cruzes para a crucificação. A mais usada era a “cruz comissa” (crux commissa), em que o patíbulo era colocado sobre o estipe, formando um “T”. Na crucificação de Jesus foi usada a cruz imissa (crux immissa), em que uma parte do estipe fica acima do patíbulo, onde havia espaço para uma inscrição (Mt 27.37).

Via crucis A cidade de Jerusalém foi destruída durante a Guerra Judaica (66 a 73 d.C.). Na atualidade, é muito difícil estabelecer um trajeto preciso, por onde Jesus passou com a cruz, até o monte Calvário. O traçado das ruas é bastante diferente da época da ocupação Romana de Jerusalém. Se considerarmos que Jesus saiu da Fortaleza Antônia, passou pelo portão de Damasco para chegar ao Calvário, hoje, a distância seria de 595 metros. Alguns autores fixam esta distância, no tempo de Jesus, entre 500 e 600 metros.

Não é bem assim – Mas Jesus não carregou a cruz em todo o percurso. De acordo com os Evangelhos Sinóticos, Simão de Cirene foi obrigado pelos soldados romanos a carregar a cruz de Jesus Cristo até o Gólgota (Mt 27, 32; Mc 15, 22; Lc 23, 26). O Evangelho de João nega o episódio, dando ênfase à ideia de que Jesus teria carregado a cruz sozinho até o monte. De acordo com os evangelistas Marcos e Lucas, Simão era oriundo de Cirene, cidade do Norte de África (atual Líbia), distante 1.200 km de Jerusalém. Simão era pai de Alexandre e Rufo (Marcos 15, 21), sendo representado como um negro ao ser identificado com o Simão de At 13,1. Rufo teria seguido os apóstolos, sendo citado por Paulo em Rom 16,13. Alexandre teria repudiado a pregação do Evangelho (1Tim 1,19-20; 2Tim 4,14).

Quantos metros? – Como não sabemos em que ponto do trajeto houve o encontro com Simão, vamos supor que Jesus carregou a cruz até o portão de Damasco. Neste local, onde havia uma maior concentração de pessoas, Jesus caiu pela segunda vez, fazendo parar o cortejo. Neste ponto, os soldados convocaram a ajuda de Simão (Cirineu). Com esta suposição, Jesus teria carregado a cruz entre 400 e 450 metros, deixando o restante do percurso até o Calvário (150 a 200 metros) para Simão.


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sexta-feira, 24 de março de 2017

COMO QUE O GALO CANTOU, SE EM JERUSALÉM NÃO HAVIA GALOS?




Estamos na Quaresma, e daqui a três semanas estaremos lendo a Paixão de Cristo. Todos devem se lembrar que, após a terceira negação de Pedro o galo cantou: ‘“Homem, não sei de que estás falando!’ E, enquanto ainda falava, o galo cantou” Lc 22,60). Como isto pode ter acontecido, se os judeus eram proibidos de criar galos nas cidades?

Pedro? – Na leitura da Paixão, uma das frases mais surpreendentes de Jesus é o anúncio das negações de Pedro: “Pedro, eu te digo que hoje, antes que o galo cante, três vezes negarás que me conheces” (Lc 22,34). Como poderia isso acontecer? Ainda mais com Pedro, o apóstolo mais próximo de Jesus e o homem que mais demonstrou a sua fé no Messias (Mt 16,16 - “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”). Mas, com certeza, as negações de Pedro aconteceram, pois são relatadas nos quatro Evangelhos: nos sinóticos em Mt 26,34, 69-75; em Mc 14,30, 66-72; e em Lc 22,34, 54-62 como também Evangelho de João (Jo 13,38; 18,15-18).

Onde foi? – Uma pergunta importante para esta história é “onde ocorreram as negações de Pedro?”. A resposta é detalhada nos Evangelhos (Mateus 26,57; Marcos 14,53; Lucas 22,54): após a Última Ceia, Jesus foi para uma propriedade chamada Getsêmani, onde foi preso e levado para a casa do Sumo Sacerdote Anás. A casa do Sumo Sacerdote estava no centro de Jerusalém, próxima à Fortaleza Antonia (onde estava Pilatos) e ao Templo. Pedro acompanhou Jesus. Enquanto Jesus era interrogado no interior da casa, Pedro ficou no pátio, junto com os soldados.

Galos em Jerusalém? – Um fato intrigante complica esta história. A Mishná (texto da tradição oral judaica, considerada a obra mais importante do judaísmo rabínico, é chamada de Torá Oral) é bem clara: os judeus não podem criar galos em Jerusalém por causa das Coisas Santas, nem os sacerdotes podem criá-los em qualquer lugar na Terra de Israel. O tratado Baba Kama (primeiro de uma série de três tratados talmúdicos, que lidam com matéria civil, tais como danos e delitos) também proíbe a criação de qualquer tipo de galináceo nas cidades.

Questão – Como poderia um galo ter cantado, se Pedro estava com Jesus na casa de Anás, no centro de Jerusalém onde, certamente, não haveria um galinheiro? Sendo assim, será que houve um “galo” que literalmente, “cantou” no contexto da negação de Pedro?

Solução – A resposta está no Evangelho de Marcos (Mc 13, 35-36): “Vigiai, portanto, porque não sabeis quando o senhor da casa voltará: à tarde, à meia-noite, ao canto do galo, ou de manhã, para que, vindo de repente, não vos encontre dormindo”. Para entender isso, é importante ter em conta que os romanos dividiam os dias em períodos de três em três horas. Lembrem que Jesus foi crucificado na sexta hora (meio dia) e morreu na nona hora (três horas da tarde).

Vigília – À noite, os períodos de três horas eram chamados de vigílias. Essas vigílias, por sua vez, demarcavam períodos de três horas, nos quais funcionava cada turno do serviço de guarda. A primeira vigília da noite começava às 18h00 e ia até às 21h00; a segunda vigília começava às 21h00 e ia até à meia-noite; a terceira vigília começava à meia-noite e ia até às 3h00 da madrugada; e a quarta vigília ia das 3h00 da madrugada até às 6h00 da manhã. Cada período era marcado pelo toque da trombeta.

Apelidos – Acontece que os judeus se expressavam de forma abreviada quando se referiam a essas vigílias da noite. Assim (como em Mc 13,35), a palavra “tarde” se referia ao fim da primeira vigília (21h00); “meia-noite” indicava o fim da segunda vigília; “Canto do galo” era o termo usado por eles para o fim da terceira vigília (3h00); e “de manhã” era o modo como se referiam ao fim da quarta vigília (6h00).

Não era uma ave – Quando Jesus diz, em Lc 22,34, “Pedro, eu te digo que hoje, antes que o galo cante, três vezes negarás que me conheces”, ele estava fazendo menção ao fim da terceira vigília. Seria o mesmo de dizer: “Pedro, eu te digo que hoje, antes das três horas da madrugada, três vezes negarás que me conheces”. Portanto, este “cantar do galo” não era uma referência ao som emitido pela ave “galo”, mas sim uma alusão ao toque da trombeta, conhecido em latim como gallicinium.


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sexta-feira, 17 de março de 2017

Verônica e o véu com o rosto de Cristo


Se você costuma participar das cerimônias da Semana Santa, especialmente nas procissões da Sexta-Feira, já terá visto o momento em que uma “Verônica” desenrola um véu com o rosto de Cristo. De acordo com a Tradição, Verônica foi uma mulher piedosa de Jerusalém que, comovida com o sofrimento de Jesus ao carregar a cruz até o Calvário, deu-lhe seu véu para que ele pudesse limpar o rosto. Jesus aceitou a oferta e, após utilizá-lo, devolveu-o à piedosa mulher. E então, a imagem de seu rosto estava milagrosamente impresso nele. Este véu é conhecido como "Véu de Verônica". Desde os primórdios do cristianismo a Igreja acolheu a Tradição sobre Santa Verônica, e o enxugamento da Sagrada Face de Jesus, realizado por ela, passou a ser a Sexta Estação da Via Sacra, que é rezada pelos cristãos há séculos.

Vera+icon – O nome "Verônica" em si é uma forma latinizada de Berenice, um nome macedônio que significa "portador da vitória". A etimologia popular atribui sua origem às palavras "verdade" (em latim: vera) e "imagem" (em grego: eikon). Assim, o nome Verônica vem da combinação das palavras vera+icon (verdadeira imagem).

História – Não há referência à história de Santa Verônica e seu véu nos Evangelhos canônicos. Ao que parece, a história começou com o milagre de Jesus curando a mulher com sangramento, no qual ela é curada ao tocar a barra do manto de Jesus (Mt 9,20-22 e Lc 8,43-48). Em seguida, o livro apócrifo “Atos de Pilatos” identificou esta mulher como Berenice ou Verônica. A história foi mais elaborada depois (em outro livro apócrifo chamado “Cura de Tibério” ou “A Vingança do Salvador”), com a adição da história de Cristo dando a ela um autorretrato, num tecido com o qual ela posteriormente viajou para Roma e curou o imperador romano Tibério. Apenas no ano de 1380 surgiu a história da aparição milagrosa da imagem durante a crucificação.

Via Sacra – A oração da Via Sacra nasceu com o franciscanismo (São Francisco de Assis, 1182-1226), na Idade Média. O objetivo era reconstruir a via dolorosa de Cristo, do pretório até o Calvário. Nesta reconstrução, muitas histórias da Tradição (não existentes nos Evangelhos) foram incorporadas à Via Crucis, como as três quedas de Jesus e o encontro com Verônica. Em Jerusalém existe inclusive uma capela que recorda este acontecimento.

O véu – Existem muitas histórias sobre o véu de Verônica. O pano esteve em Constantinopla, no ano de 574, sendo enviado secretamente à Roma. Documentos atestam que o Véu estava em Roma no século XII, quando o Papa Inocêncio III (1198-1216) incentivou muito seu culto e instituiu uma procissão anual da Via Crucis. O Véu permaneceu exposto durante muitos séculos na Basílica de São Pedro e existem desenhos do altar onde ele ficava.

As cópias – Durante muitos anos, o Vaticano fez cópias do Véu da Verônica, as quais foram enviadas a igrejas ou a príncipes católicos. É por isso que em igrejas e museus de diversas cidades europeias é possível encontrar algumas reproduções tidas como autênticas do “Véu da Verônica”. Há pelo menos seis imagens, que além da semelhança entre si, alega-se ser ou o véu de Verônica original ou uma cópia primária dele.

Autêntica? – Na cidade italiana de Manoppello (190 km de Roma) existe um quadro medindo 17,5 x 24 cm, que abriga uma imagem da face de Cristo desde 1638. Alguns estudiosos acreditam que esta relíquia pode ser, sim, o véu de Santa Verônica, porque ele contém vários mistérios. O primeiro deles é que o tecido é feito de bisso marítimo, um fio finíssimo, como o de seda, gerado por um molusco abundante no mar mediterrâneo. O tecido formado pela trama deste fio é muito resistente, transparente e não pode ser pintado, isto é, nenhuma tinta adere a ele. Além disso, a Face de Cristo de Manoppello pode ser sobreposta à Face do Santo Sudário de Turim, pois tem proporções idênticas, refletem a mesma face, inclusive com os mesmos hematomas e manchas de sangue.

Santa Verônica – Na Igreja Católica, Verônica é considerada uma santa, a patrona da França e a protetora das lavadeiras. É comemorada na terça-feira antes da quarta-feira de Cinzas, o mesmo dia da comemoração da Santa Face de Cristo.


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sábado, 11 de março de 2017

São Longuinho: o soldado que perfurou Jesus com a lança


Na leitura da Paixão de Cristo, todos os cristãos devem se lembrar, ao ser retirado o corpo da cruz, um soldado perfurou Jesus com uma lança e sangue e água verteram do seu lado (Jo 19, 34). Vamos detalhar o que aconteceu.

Via Crucis – Após a condenação de Jesus à morte, por crucificação (na Fortaleza Antônia), foi designado um soldado (centurião), chamado Longinus, para comandar a caminhada dos três condenados até o local da crucificação (monte Gólgota ou Calvário).

Após a morte – Como era uma tarde de sexta-feira, véspera da Páscoa, os judeus pediram a Pilatos para que mandasse quebrar as pernas dos crucificados. Desta forma, a morte seria mais rápida e eles poderiam ser tirados da cruz antes do sábado. Os soldados quebraram as pernas dos dois ladrões, mas, chegando a Jesus, viram que estava morto. Por isso, não lhe quebraram as pernas; entretanto, para comprovar o óbito, um soldado golpeou-o o lado com uma lança, e imediatamente saiu sangue e água (Jo 19,31-34). Este soldado é identificado com Longinus.

Cura – A Tradição diz que essa água que saiu do lado de Cristo, respingou em Longinus e ele ficou curado de um problema que tinha nos olhos. Longinus também é identificado como o soldado que reconheceu Jesus como "Verdadeiramente este homem era Filho de Deus", logo após a morte do Mestre. Ele é citado pelos evangelistas São Mateus 27,54, São Lucas 23,47 e São Marcos 15,39.

Conversão – Tocado pela graça de Deus, ele se converteu, passou a acreditar em Jesus, e abandonou o exército romano. São Longuinho é uma prova do poder do amor e da misericórdia de Deus. Jesus mudou a vida de um soldado que o matava.

Perseguido – Após abandonar o exército romano por causa de sua conversão, Longinus fugiu para Cesárea e Capadócia (hoje Turquia). Mas foi descoberto pelo Governador da Capadócia e denunciado a Pôncio Pilatos. No processo, foi acusado de desertor e condenado a pena de morte. Se ele renunciasse à sua fé em Jesus Cristo seria perdoado. Mas ele se manteve firme e não renegou Jesus Cristo. Por isso, foi torturado, teve seus dentes arrancados e sua língua cortada. Depois, foi decapitado. O soldado que ajudara a crucificação e morte de Jesus, tempos depois dava sua vida por causa do mesmo Senhor.

Lendas – Conta-se que Longinus era um soldado de baixa estatura que servia na alta corte de Roma antes de ser destacado para servir na Palestina. Servindo na corte de Roma, ele vivia nas festas dos romanos. Por causa de sua baixa estatura, ele conseguia ver tudo o que se passava por baixo das mesas. Com isso ele achava vários pertences das pessoas e sempre devolvia os achados para seus donos. Daí surgiu sua fama de bom soldado e de sempre encontrar coisas perdidas.

Canonização – Longinus foi canonizado pelo Papa Silvestre II, quase mil anos depois, no ano de 999. O processo de canonização já tinha caminhado bastante conforme os trâmites exigidos pela Igreja. Porém, vários documentos que faziam parte do processo, ficaram perdidos ao longo de anos. Então, o Papa pediu a intercessão do próprio Longinus para que o ajudasse a encontrar os documentos perdidos. E aconteceu que, pouco tempo depois, os documentos foram encontrados e a canonização aconteceu conforme a lei da Igreja manda que seja.

De Longinus para São Longuinho – Por causa da fama do soldado Longinus, espalhou-se a devoção de se rezar para São Longuinho pedindo para ele ajudar a encontrar objetos perdidos. No Brasil há uma crença popular de que São Longuinho auxilia a encontrar objetos perdidos. É só repetir: “São Longuinho, São Longuinho, se eu achar (nome do objeto perdido) dou três pulinhos. Quando a pessoa encontra o objeto precisa cumprir a promessa em devoção ao santo. O importante é a fé e o belíssimo testemunho de vida de São Longuinho. Sua festa é comemorada no dia 15 de março.


Quer saber mais? – O Evangelho apócrifo de Nicodemus apresenta vários detalhes sobre a crucificação. Se você se interessa pelo assunto, solicite pelo E-mail.

sábado, 4 de março de 2017

Pilatos: obstinado, leviano, autoritário, covarde e ... santo?




Quem era? Pilatos foi governador da Judéia e Samaria do ano 26 a 36 d.C., em substituição a Arquelau (filho de Herodes, o Grande). Governava com base na cidade de Cesaréia, com 5600 soldados. Quando viajava para Jerusalém, residia na fortaleza Antonia, ao lado do Templo. Tinha aversão aos judeus e seus sacerdotes. O historiador Flavio Josefo (no livro Guerra dos Judeus) conta dois episódios entre Pilatos e os judeus: logo que chegou à Jerusalém, Pilatos distribuiu imagens (bustos) do imperador Tibério pela cidade, causando uma grande revolta; depois, Pilatos se apropriou (usando violência) dos tesouros do Templo para financiar um aqueduto (de 50 km) para trazer água para a cidade.

Julgamento de Jesus – Na leitura da Paixão de Cristo, nos Evangelhos, Pilatos recebe a comitiva dos chefes dos sacerdotes judeus (do Sinédrio), pedindo a condenação à morte de Jesus. Fica clara a postura de Pilatos em absolver o condenado (não que nutria alguma admiração por Jesus), mas via uma boa oportunidade de se opor aos sacerdotes judaicos.

Ainda o julgamento – Usou três estratégias na tentativa da absolvição: primeiro, enviou o prisioneiro a Herodes Antipas, o rei da Galiléia. Fracassou, pois Herodes mandou Jesus de volta. A segunda tentativa (já que nem ele nem Herodes não viam culpa em Jesus) foi dar como pena o açoite, para colocá-lo em liberdade. Também não deu certo, pois os judeus continuavam pedindo para crucificá-lo.  A terceira tentativa foi colocar Jesus junto com Barrabás, para o povo escolher quem teria a liberdade. Também não deu certo.

Ameaça – Com o povo gritando: "Só temos um rei, que é César", Pilatos não tinha mais saída. A sua obediência (e temor) ao Imperador Tibério bloqueavam as suas ações. Num gesto inusitado (e até teatral), mostrando que conhecia as tradições judaicas, pediu uma bacia com água e lavou as mãos, livrando-se de qualquer responsabilidade do que viria a acontecer com Jesus. Cabe lembrar que “lavar as mãos” era uma maneira judaica (não romana) de expressar a não-participação em derramamento de sangue (Deuteronômio 21,6-7).

Cristãos – O último evento registrado da carreira de Pilatos foi uma intervenção militar no Monte Garizim (ano 36), onde muitos Samaritanos foram mortos. Após este conflito, Pilatos foi chamado a Roma para explicar suas ações ao imperador (Tibério faleceu antes de ouvir Pilatos). Segundo os autores cristãos Tertuliano (autor cristão, padre apostólico, viveu entre 160 e 220 d.C) e Eusébio de Cesaréia (bispo de Cesaréia e pai da história da Igreja, viveu entre 263 e 339), o imperador Tibério, baseado no relatório de Pilatos sobre Jesus, apresentou ao Senado Romano os fatos que haviam acontecido na Palestina, que revelavam a divindade de Cristo, propondo o reconhecimento da religião cristã. O Senado rejeitou a proposta, adiando em 300 anos a proclamação, que viria com Constantino.

Santo? – Existem três hipóteses para a morte de Pilatos: foi punido e exilado pelo imperador Calígula; suicidou-se no exílio (na Gália); converteu-se, com a cumplicidade da esposa, ao cristianismo. Se essa história contada por Tertuliano e Eusébio for verdadeira, a figura do Governador da Judéia merece ser revisitada; aquela manhã de 7 de abril do ano 30 (julgamento de Jesus) realmente mudou a sua vida. Por estes fatos, as igrejas Ortodoxa e Ortodoxa Etíope promoveram a canonização de Pilatos e de sua esposa (Cláudia Prócula).

Pilatos – Há uma densa escuridão sobre o destino desse homem que veio a fazer parte inclusive do Credo. Como conclusão, podemos citar o personagem Pilatos no filme Jesus Cristo Superstar, que canta angustiado: "Sonhei que milhares de pessoas, por milhares de anos, repetirão todos os dias o meu nome. E também dirão que foi culpa minha".


Quer ler mais? – Gostou da história de Pilatos? Podemos lhe oferecer por E-mail os seguintes textos apócrifos: Cartas de Pilatos ao imperador, com as respostas; Cartas de Pilatos a Herodes, com respostas; Relatório de Pilatos ao imperador sobre a morte de Jesus; Julgamento, condenação e morte de Pilatos; Sentença de condenação de Jesus emitida por Pilatos; Evangelho de Nicodemus. Outros textos: “Encontros com Jesus” de autoria de Stefano Zurlo (4 pág); “Diante de seus juízes” de autoria de Yann Le Bohec (4 pag); “Guerra Judaica” de Flavio Josefo (1627 pag). Todos os textos em Português.