No Evangelho das missas deste
domingo será lido o trecho da aparição de Jesus aos discípulos de Emaús. Vamos examinar a descrição de Lucas.
A
Aparição – Era o domingo da ressurreição. Dois discípulos
caminhavam de Jerusalém para a aldeia de Emaús, distante 12 quilômetros.
Durante as duas horas de caminhada, comentavam os fatos ocorridos naquele dia.
Jesus se aproxima, passa a caminhar com eles e, puxando a conversa, pergunta
sobre o que discutem. Eles não
reconhecem Jesus. Cléofas, admirado, lhe diz que ele deve ser a única pessoa em
Jerusalém que não sabe o que aconteceu com Jesus Nazareno. Jesus lhes descreve
toda a história da salvação, começando por Moisés, passando por toda a
Escritura. Ao chegar à casa de um deles, Jesus distribuiu o pão, sendo
reconhecido por eles. Os discípulos voltaram para Jerusalém para contar aos
apóstolos o que tinha acontecido.
Jerusalém – O relato vai da Jerusalém do
desalento e, percorrendo um caminho de diálogo, termina na Jerusalém da
alegria. O momento negativo do episódio não é a ausência de Jesus, mas a
impossibilidade de reconhecê-lo. O companheiro desconhecido de viagem havia
provocado nos dois caminhantes uma reflexão que tinha como base a experiência
da convivência com Jesus. Essa reflexão levara-os a constatar duas
contradições: Jesus fora profeta poderoso, mas isso não impedira que fosse
julgado, condenado e crucificado; além do mais, como ele demonstrara ser tão
poderoso, os dois discípulos confiaram na redenção de Israel, mas,
transcorridos três dias desde a morte do Mestre sem que nada acontecesse,
sepultaram suas esperanças.
Jesus ensina – Jesus lembra os desanimados; por sua
pouca perspicácia e pela lerdeza de seus corações, não souberam interpretar os
acontecimentos à luz dos Profetas, razão pela qual empenha-se ele próprio em
evocar as profecias e interpretá-las. Aquele que os discípulos chamavam
“profeta” agora é “o Cristo”, e quem fora condenado à morte pela cruz agora
entra em sua glória. Os discípulos, entretanto, pedem àquele que lhes parecera
ser um “forasteiro” em Jerusalém, que “fique” com eles quando chegam ao final
da jornada.
Ritual Eucarístico – O último ato dessa
longa passagem é uma acurada descrição do comportamento de Jesus: como se senta
à mesa, toma o pão, abençoa-o, parte-o e o distribui. Por fim os discípulos
reconhecem Jesus, que desaparece repentinamente. E o momento positivo daquela
experiência, cuja conclusão não é a presença visível de Jesus, mas uma ação que
tem todas as características de um ritual, é acompanhada pelo fervor do coração
e pela revelação do sentido das Escrituras, tendo um epílogo em Jerusalém, onde
vão prestar testemunho aqueles que haviam visto Jesus ressuscitado.
Jesus Presente – O episódio de
Emaús é uma grandiosa síntese de ausência e presença, morte e vida, cruz e
glória, solidão e encontro, fuga renunciadora e retorno anunciador. Emaús é
uma cena de presença de Jesus. Não tem como resultado nenhuma missão
específica, porque, logo depois, ocorre outra grande aparição a todos os
apóstolos reunidos (Lc 24,36-49). O episódio de Emaús tem implícito, porém, um
grande ensinamento: os dois discípulos simbolizam, para Lucas, toda a
comunidade cristã. Tal como os discípulos, a comunidade experimenta a ausência
de Jesus — uma ausência misteriosa, porque na realidade Jesus caminha ao lado
de seus discípulos, embora se mantenha incógnito. As Escrituras — interpretadas
pelo próprio Jesus — e a Igreja prestam testemunho de sua existência.
Escrituras e
Eucaristia – As Escrituras não são, entretanto, o elemento
conclusivo: reconfortam o coração, mas o reconhecimento só se dá quando o pão é
partido. O encontro no rito não restabelece a presença física como durante a
vida terrena de Jesus porque se resolve com uma nova ausência. É exatamente o
que acontece na Igreja, beneficiada pela Comunhão no mistério e afligida por
uma ausência que só se resolve na Eucaristia.
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