sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Vinde ao banquete nupcial


No Evangelho das missas deste domingo (Mt 22,1-14), o evangelista Mateus apresenta a parábola dos convidados para o banquete nupcial: um rei que preparou um banquete nupcial para o seu filho. Mandou chamar os convidados, mas eles não quiseram vir. Chamou todas as pessoas que encontrou, maus e bons, e a sala do banquete encheu-se de convidados. Ao entrar na sala, o rei viu um homem que não estava vestido com o traje nupcial e mandou retira-lo da festa. No final conclui: “Na verdade, muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos”.

Publicamos o comentário do padre Raniero Cantalamessa OFM, pregador da Casa Pontifícia, ao Evangelho do próximo domingo.

O que é importante? É instrutivo observar quais são os motivos pelos quais os convidados da parábola rejeitaram participar do banquete. O evangelista Mateus diz que eles “não fizeram caso” do convite e “se foram um para seu campo, outro para seus negócios”. O Evangelho de Lucas, sobre este ponto, é mais detalhado e apresenta assim as motivações da rejeição: “Comprei um campo e tenho de ir vê-lo... Comprei cinco juntas de bois e vou aprová-las... Casei-me, e por isso não posso ir” (Lc 14, 18-20). Que têm em comum estes personagens? Os três têm algo urgente a fazer, algo que não pode esperar, que reclama imediatamente sua presença. E que representa o banquete nupcial? Este indica os bens messiânicos, a participação na salvação trazida por Cristo, portanto a possibilidade de viver eternamente. O banquete representa, pois, o importante na vida, mais ainda, o único essencial. Está claro então em que consiste o erro cometido pelos convidados; está em deixar o importante pelo urgente, o essencial pelo contingente!

Isto é um risco tão difundido e insidioso, não só no plano religioso, mas também no puramente humano, que vale a pena refletir sobre isso um pouco. Antes de tudo no plano religioso. Deixar o importante pelo urgente significa adiar o cumprimento dos deveres religiosos porque cada vez se apresenta algo urgente que fazer. É domingo e é hora de ir à Missa, mas tem-se que fazer aquela visita, aquele trabalho no jardim, e tem-se que preparar a comida. A liturgia dominical pode esperar, a comida não; então se adia a Missa.

Disse que o perigo de omitir o importante pelo urgente está presente igualmente no âmbito humano, na vida de todos os dias, e queria aludir também a isto. Para um homem é certamente importante dedicar tempo à família, estar com os filhos, dialogar com eles se são maiores, brincar com eles se são pequenos. Mas no último momento se apresentam sempre coisas urgentes que despachar no escritório, extras para fazer no trabalho, e se prorroga para outra ocasião, acabando por regressar à casa demasiado tarde e demasiado cansado para pensar em outra coisa.

Para um homem e uma mulher é uma obrigação moral ir cada tanto visitar o ancião progenitor que vive só em casa ou em uma residência. Para alguns é importante visitar um conhecido enfermo para mostrar-lhe o próprio apoio e talvez fazer-lhe algum serviço prático. Mas é urgente, se se prorroga aparentemente o mundo não cai, ou melhor ninguém se dá conta. E assim se adia.

O mesmo se faz no cuidado da própria saúde, que também está entre as coisas importantes. O médico, ou simplesmente o físico, adverte que deve cuidar-se, tomar um período de descanso, evitar aquele tipo de estresse... Responde-se sim, sim, o farei sem falta, quando eu terminar esse trabalho, quando tiver arrumado a casa, quando tiver liquidado todas as dívidas... Até que se perceba que é tarde demais.


Eis aqui onde está a insídia: passa-se a vida perseguindo os mil pequenos afazeres que há que despachar e não se encontra tempo para as coisas que incidem de verdade nas relações humanas e que podem dar a verdadeira alegria (e descuidam-se, a verdadeira tristeza) na vida. Assim, vemos como o Evangelho, indiretamente, é também escola de vida; ensina-nos a estabelecer prioridades, a tender ao essencial. Em uma palavra: a não perder o importante pelo urgente, como sucedeu aos convidados de nossa parábola.

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