No Evangelho deste domingo (o famoso texto de Mt
25,31-46 sobre o Juízo Final), Jesus diz aos seus discípulos: “Quando o Filho
do homem vier na sua glória, todas as nações se reunirão na sua presença e Ele
separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos; e
colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. Então o Rei
dirá aos que estiverem à sua direita: ‘Vinde, bem ditos de meu Pai; recebei
como herança o reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque
tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me deste de beber; era
forasteiro, e me acolhestes; estava desnudo, e me vestistes; enfermo, e me
visitaste; no cárcere e vieste ver-me’”.
Justiça
– Nesse
texto, enfatiza-se a sorte eterna dos que optaram ou não pela vivência da
"justiça do Reino dos Céus". Mostra que a vivência dessa justiça será
o critério de Deus para o julgamento final. Ilustra-se, de uma maneira viva, o
sentido da frase do Sermão da Montanha: "Se a justiça de vocês não for
superior à dos doutores da lei e dos fariseus, não entrarão no Reino do
Céu" (Mt 5,20).
Cristo Rei – Chegamos
ao último domingo do ano litúrgico, no qual celebramos a festa de Cristo Rei. O
Evangelho faz-nos assistir ao último ato da história: o juízo universal. Quanta
diferença entre esta cena e a de Cristo ante os juízes em sua Paixão! Então,
todos estavam sentados e Ele, em pé, amarrado; agora todos estão em pé e Ele
está sentado no trono. Os homens e a história julgam Cristo; nesse dia, Cristo
julgará os homens e a história. Ante Ele decide-se quem permanece em pé e quem
cai. Esta é a fé imutável da Igreja, que em seu Credo proclama: “De novo virá
com glória para julgar vivos e mortos, e seu reino não terá fim”.
Juízo – O
Evangelho diz-nos também como acontecerá o juízo: “tive fome, e me destes de comer,
tive sede e me destes de beber...”. O que acontecerá, portanto, com quem não só
não deu de comer a quem tinha fome, mas também lhe tirou a comida; não só não
acolheu, mas provocou que o outro se convertesse em forasteiro? Isso não afeta
só a uns poucos criminosos.
Impunidade – É possível
que se forme um ambiente geral de impunidade, no qual se utilizem cargos para violar
a lei, para corromper ou deixar corromper, com a justificativa de que todos
fazem isso. Mas a lei nunca foi abolida. De repente, chega o dia, no qual se
começa uma investigação e sucede-se uma grande devastação, como a que acontece
agora no Brasil, nas investigações financeiras na Petrobrás, com a Operação
Lava Jato.
Todos fazem – Mas,
frente à lei de Deus, em certo sentido, esta é a situação na qual vivemos,
todos nós, investigados e investigadores... Viola-se tranquilamente os
mandamentos, um após o outro, inclusive o que diz “não matarás” (para não falar
do que diz “não cometerás adultério”), com o pretexto de que todo mundo faz
isso, que a cultura, o progresso e inclusive a lei humana já o permitem. Mas
Deus nunca pensou em abolir nem os mandamentos nem o Evangelho e este sentimento
geral de segurança não é mais do que um engano fatal.
Tempo – Há
alguns anos, restaurou-se a pintura Juízo Universal, de Miguelangelo. Mas há
outro juízo universal que é preciso restaurar: o que está pintado no coração dos
cristãos e que vem ficando totalmente descolorido, convertendo-se em ruínas. “O
mais além, e com ele o Juízo,
converteu-se em uma brincadeira, em algo tão incerto que é motivo de diversão
pensar que havia uma época na qual esta idéia transformava toda a existência
humana” (Soren Kierkegaard). Alguém poderia tentar consolar-se, dizendo que,
depois de tudo, o Dia do Juízo está muito longe, talvez faltem milhões de anos.
Mas Jesus, no Evangelho, responde: “Tolo! Ainda esta noite te reclamarão a alma”
(Lucas 12, 20).
Misericórdia – Na liturgia deste domingo, o tema “Juízo” se entrecruza com o de “Jesus,
Bom Pastor”. No Salmo Responsorial se diz: “O Senhor é meu Pastor, nada me
faltará: em verdes prados me faz repousar” (Salmo 22, 1-2). O sentido está
claro: agora Cristo se revela a nós como bom pastor; dia virá em que será nosso
juiz. Agora é o tempo da misericórdia, depois virá o tempo da justiça. A nós
cabe escolher, enquanto temos tempo.