sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Mateus faz uma ‘acomodação’ da parábola das dez virgens


Nas missas deste domingo será lida a “Parábola das Dez Virgens” (Mt 25,1-13). Jesus está sentado no Monte das Oliveiras, rodeado pelos discípulos, proferindo o seu último discurso. Estamos na segunda ou terça-feira (3 ou 4 de abril do ano 30). Na sexta-feira seguinte Jesus será condenado e morto na cruz.

Um casamento – A parábola que hoje nos é proposta conta os rituais típicos dos casamentos judaicos. De acordo com os costumes, a cerimônia do casamento começava com a ida do noivo a casa da noiva, para levá-la para a sua nova casa.

Negociações – Normalmente, o noivo chegava atrasado, pois devia, antes, discutir com os familiares da noiva os presentes que ofereceria à família da sua amada. As negociações entre as duas partes eram demoradas e tinham uma importante função social… Os parentes da noiva deviam mostrar-se exigentes, sugerindo dessa forma que a família perdia algo de muito precioso ao entregar a menina a outra família; por outro lado, o noivo e os seus familiares ficavam contentes com as exigências, pois dessa forma mostravam aos vizinhos e conhecidos o valor e a importância dessa mulher que entrava na sua família.

Testemunhas – Os que testemunhavam o acordo, estavam prontos para ir avisar a noiva de que as negociações estavam concluídas e o noivo ia chegar… Enquanto isso, a noiva, vestida a preceito, esperava na casa do seu pai que o noivo viesse ao seu encontro. As amigas da noiva esperavam também, com as lâmpadas acesas, para acompanhar a noiva, entre danças e cânticos, à sua nova casa. Era aí que tinha lugar a festa do casamento.

O texto de Mateus – O Evangelista Mateus escreveu o seu Evangelho nos finais do século I (após o ano 85 d.C.). Os cristãos já não esperavam a vinda iminente de Jesus. Passado o entusiasmo inicial, a vida de fé dos crentes tinha arrefecido e a comunidade tinha-se instalado na rotina, no comodismo, na facilidade… Era preciso algo que revigorasse os discípulos, despertando-os de novo para o compromisso com o Evangelho.

Usou Marcos – Tomando como texto base o Capítulo 13 de Marcos (o chamado Discurso Escatológico), Mateus ampliou-o com três parábolas e uma impressionante descrição do juízo final, e montou os seus capítulos 24 e 25. Enquanto em Marcos, o “discurso escatológico” se refere, especialmente, aos sinais que precederão a destruição do Templo de Jerusalém, em Mateus o mesmo discurso aborda o tema da segunda vinda de Jesus e a atitude com que os discípulos devem preparar essa vinda.

Segunda vinda – Fundamentalmente, lembra-lhes que a segunda vinda do Senhor está no horizonte final da história humana; mas enquanto esse acontecimento não se realiza, os crentes são chamados a viver com coerência e entusiasmo a sua fé, fiéis aos ensinamentos de Jesus e comprometidos com a construção do Reino. A isto, a catequese primitiva chama “estar vigilantes, à espera do Senhor que vem”.

A origem da parábola – A “parábola das dez virgens”, tal como saiu da boca de Jesus, era uma “parábola do Reino” (v.1: “O Reino dos céus pode comparar-se…”). O Reino de Deus é, aqui, comparado com uma das celebrações mais alegres e mais festivas que os israelitas conheciam: o banquete de casamento. As dez jovens, representam a totalidade do Povo de Deus, que espera ansiosamente a chegada do messias (o noivo)… Uma parte desse Povo (as jovens previdentes) está preparada e, quando o messias finalmente aparece, pode entrar a fazer parte da comunidade do Reino; outra parte (as jovens descuidadas) não está preparada e não pode entrar na comunidade do Reino.

Acomodação – Algumas dezenas de anos depois, Mateus retomou a mesma parábola, adaptando-a às necessidades da comunidade. A parábola foi, então, convertida numa exortação a estar preparado para a vinda do Senhor: a festa (que na boca de Jesus era o Reino) passou a ser a segunda vinda; o noivo que está para chegar continua sendo Jesus; as jovens noivas (que representavam o Povo de Deus) agora são uma Igreja com dificuldades e perseguições. Uma parte dessa Igreja (as jovens previdentes) está preparada, vigilante, atenta e, quando o “noivo” chega, pode entrar no banquete da vida eterna; a outra parte (as jovens descuidadas) não está preparada, porque apostou nos valores do mundo, guiou a sua vida por eles e esqueceu os valores do Reino.

A mensagem – que Mateus pretende transmitir com esta parábola aos cristãos da sua comunidade (e, no fundo, aos cristãos de todas as comunidades cristãs de todos os tempos e lugares) é esta: nós os crentes, não podemos afrouxar a vigilância e enfraquecer o nosso compromisso com os valores do Reino. A certeza de que Ele vem outra vez, deve impulsionar-nos a um compromisso ativo com os valores do Evangelho, na fidelidade aos ensinamentos de Jesus e ao compromisso com o Reino.

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