Nas missas
deste domingo será lida a “Parábola das Dez Virgens” (Mt 25,1-13). Jesus está
sentado no Monte das Oliveiras, rodeado pelos discípulos, proferindo o seu
último discurso. Estamos na segunda ou terça-feira (3 ou 4 de abril do ano 30).
Na sexta-feira seguinte Jesus será condenado e morto na cruz.
Um casamento – A parábola que
hoje nos é proposta conta os rituais típicos dos casamentos judaicos. De acordo
com os costumes, a cerimônia do casamento começava com a ida do noivo a casa da
noiva, para levá-la para a sua nova casa.
Negociações – Normalmente,
o noivo chegava atrasado, pois devia, antes, discutir com os familiares da
noiva os presentes que ofereceria à família da sua amada. As negociações entre
as duas partes eram demoradas e tinham uma importante função social… Os
parentes da noiva deviam mostrar-se exigentes, sugerindo dessa forma que a
família perdia algo de muito precioso ao entregar a menina a outra família; por
outro lado, o noivo e os seus familiares ficavam contentes com as exigências,
pois dessa forma mostravam aos vizinhos e conhecidos o valor e a importância
dessa mulher que entrava na sua família.
Testemunhas – Os que
testemunhavam o acordo, estavam prontos para ir avisar a noiva de que as
negociações estavam concluídas e o noivo ia chegar… Enquanto isso, a noiva,
vestida a preceito, esperava na casa do seu pai que o noivo viesse ao seu
encontro. As amigas da noiva esperavam também, com as lâmpadas acesas, para
acompanhar a noiva, entre danças e cânticos, à sua nova casa. Era aí que tinha
lugar a festa do casamento.
O texto de Mateus – O Evangelista
Mateus escreveu o seu Evangelho nos finais do século I (após o ano 85 d.C.). Os
cristãos já não esperavam a vinda iminente de Jesus. Passado o entusiasmo
inicial, a vida de fé dos crentes tinha arrefecido e a comunidade tinha-se
instalado na rotina, no comodismo, na facilidade… Era preciso algo que revigorasse
os discípulos, despertando-os de novo para o compromisso com o Evangelho.
Usou Marcos – Tomando como
texto base o Capítulo 13 de Marcos (o chamado Discurso Escatológico), Mateus ampliou-o
com três parábolas e uma impressionante descrição do juízo final, e montou os
seus capítulos 24 e 25. Enquanto em Marcos, o “discurso escatológico” se
refere, especialmente, aos sinais que precederão a destruição do Templo de
Jerusalém, em Mateus o mesmo discurso aborda o tema da segunda vinda de Jesus e
a atitude com que os discípulos devem preparar essa vinda.
Segunda vinda – Fundamentalmente,
lembra-lhes que a segunda vinda do Senhor está no horizonte final da história
humana; mas enquanto esse acontecimento não se realiza, os crentes são chamados
a viver com coerência e entusiasmo a sua fé, fiéis aos ensinamentos de Jesus e
comprometidos com a construção do Reino. A isto, a catequese primitiva chama
“estar vigilantes, à espera do Senhor que vem”.
A origem da parábola – A “parábola
das dez virgens”, tal como saiu da boca de Jesus, era uma “parábola do Reino”
(v.1: “O Reino dos céus pode comparar-se…”). O Reino de Deus é, aqui, comparado
com uma das celebrações mais alegres e mais festivas que os israelitas
conheciam: o banquete de casamento. As dez jovens, representam a totalidade do
Povo de Deus, que espera ansiosamente a chegada do messias (o noivo)… Uma parte
desse Povo (as jovens previdentes) está preparada e, quando o messias
finalmente aparece, pode entrar a fazer parte da comunidade do Reino; outra
parte (as jovens descuidadas) não está preparada e não pode entrar na
comunidade do Reino.
Acomodação – Algumas
dezenas de anos depois, Mateus retomou a mesma parábola, adaptando-a às
necessidades da comunidade. A parábola foi, então, convertida numa exortação a
estar preparado para a vinda do Senhor: a festa (que na boca de Jesus era o
Reino) passou a ser a segunda vinda; o noivo que está para chegar continua
sendo Jesus; as jovens noivas (que representavam o Povo de Deus) agora são uma Igreja
com dificuldades e perseguições. Uma parte dessa Igreja (as jovens previdentes)
está preparada, vigilante, atenta e, quando o “noivo” chega, pode entrar no
banquete da vida eterna; a outra parte (as jovens descuidadas) não está
preparada, porque apostou nos valores do mundo, guiou a sua vida por eles e
esqueceu os valores do Reino.
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