No evangelho deste domingo, Marcos (1,21-28)
descreve a entrada de Jesus em uma sinagoga, em Cafarnaum, pondo-se a ensinar.
Em sua narrativa, o evangelista descreve o conflito de Jesus com o rígido
sistema religioso judaico e sua severa repreensão ao espírito impuro com o qual
se defronta. Na conclusão, fica em destaque o ensinamento novo de Jesus, que
vem subjugar os espíritos impuros.
Descoberta – A primeira parte do Evangelho escrito
por Marcos tem como objetivo fundamental levar o leitor a descobrir Jesus como
o Messias que proclama o Reino de Deus. Ao longo de um percurso, os leitores
são convidados a acompanhar a revelação de Jesus, a escutar suas palavras e a
aderir à sua proposta de salvação/libertação. Este percurso de descoberta do
Messias termina em Mc 8,29-30, com a confissão messiânica de Pedro: “Tu és o
Messias”.
Encontro libertador – O texto que nos é proposto neste
final de semana aparece, exatamente, no princípio dessa caminhada de encontro
com o Messias e com o seu anúncio de salvação. Já rodeado pelos primeiros
discípulos, Jesus começa a revelar-Se como o Messias-libertador, que está no
meio dos homens para lhes apresentar uma proposta de salvação.
Local – O Evangelho situa-nos em Cafarnaum (em
hebraico Kfar Nahum, a “aldeia de
Naum”), a cidade situada na costa noroeste do Lago Kineret (o Mar da Galileia).
De acordo com os Evangelhos Sinópticos, é aí que Jesus se vai instalar durante
o tempo do seu ministério na Galileia. Vários dos discípulos – Simão e seu
irmão André, Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João – viviam em Cafarnaum.
A cena – É um sábado. A comunidade está reunida
na sinagoga de Cafarnaum para a liturgia do dia. Jesus, recém-chegado à cidade,
entra na sinagoga – como qualquer bom judeu – para participar na liturgia
sabática. A celebração comunitária começava, normalmente, com a “profissão de
fé” (Dt 6,4-9), a que se seguiam orações, cânticos e duas leituras: a primeira,
escolhida da Torah (os cinco
primeiros livros do Antigo Testamento) e a segunda, de um dos livros dos Profetas;
depois, vinha o comentário às Leituras e as bênçãos.
Comentarista – É provável que Jesus tivesse sido
convidado, nesse dia, para comentar as leituras feitas. Fez as reflexões sobre
o texto de uma forma original, diferente dos comentários que as pessoas estavam
habituadas a ouvir dos “escribas” (os estudiosos das Escrituras). As pessoas
ficaram maravilhadas com as palavras de Jesus, “porque ensinava com autoridade
e não como os escribas”. A referência à autoridade das palavras de Jesus
pretende sugerir que Ele vem de Deus e traz uma proposta que tem a marca de
Deus.
Autoridade – A “autoridade”, que se revela nas
palavras de Jesus manifesta-se também, em ações. Na sequência das palavras
ditas por Jesus e que transmitem aos ouvintes um sinal inegável da presença de
Deus, aparece em cena “um homem com um espírito impuro”.
Impuros – Os judeus estavam convencidos que todas
as doenças eram provocadas por “espíritos maus” que se apropriavam dos homens.
As pessoas afetadas por esses males deixavam de cumprir a Lei e ficavam numa
situação de “impureza” (afastadas de Deus). Acreditava-se que esses “espíritos
maus” tinham um poder absoluto, que os homens não podiam derrotar; somente
Deus, com o seu poder e autoridade absolutos, era capaz de vencer os “espíritos
maus” e devolver a vida aos homens.
Libertação – Numa encenação com um singular poder
evocador, Marcos põe o “espírito mau” que domina “um homem” presente na
sinagoga, a interpelar violentamente Jesus. A ação da cura do homem “com um
espírito impuro” constitui “a prova” de que Jesus traz uma proposta de
libertação que vem de Deus; pela ação de Jesus, Deus vem ao encontro do homem
para salvá-lo de tudo aquilo que o impede de ter vida em plenitude.
Ensinamento novo – É um ensinamento novo, que liberta e
gera esperança e alegria entre todos. É a novidade do anúncio, com a proposta
de conversão de vida, abandonando uma religião estéril para aderir a uma
prática do amor transformante das relações humanas, no desapego, na
fraternidade, na justiça e na paz.