O Evangelho que será lido nas missas deste domingo (Marcos 9, 38-43.45.47-48) é uma continuação da leitura feita
no domingo passado. Jesus está na cidade de Cafarnaum, junto com seus
apóstolos, recém-chegados de uma longa viagem pelas cidades de Tiro, Sidom e Cesareia
de Felipe. Estamos em agosto do ano 29.
Proibição – O apóstolo João se dirige a Jesus dizendo: "Mestre,
vimos um homem expulsar demônios em teu nome. Mas nós o proibimos, porque ele
não nos segue". Jesus disse: "Não o proíbas, pois ninguém faz
milagres em meu nome para depois falar mal de mim. Quem não é contra nós é a nosso
favor.”
Fora da Igreja – Trata-se de um tema de grande atualidade. O que pensar
dos de fora, que fazem algo bom e apresentam as manifestações do Espírito, sem
crer ainda em Cristo e sem aderir à Igreja? Também eles podem se salvar?
Salvação – A teologia sempre admitiu a possibilidade, para Deus,
de salvar algumas pessoas fora das vias comuns, que são a fé em Cristo, o
batismo e a pertença na Igreja. No entanto, esta certeza se afirmou na época
moderna, depois que os descobrimentos geográficos e as inúmeras possibilidades
de comunicação entre os povos obrigaram a perceber que havia incontáveis pessoas
que, sem culpa própria alguma, jamais tinham ouvido o anúncio do Evangelho – ou
o haviam ouvido de maneira imprópria, da boca de conquistadores ou colonizadores
sem escrúpulos, o que tornava bastante difícil aceitá-lo.
O Concílio Vaticano
II – “O Espírito Santo
oferece a todos a possibilidade de que, na forma só por Deus conhecida, se
associem a este mistério pascal de Cristo e, portanto, se salvem” (Constituição
Pastoral Gaudium et spes sobre a Igreja e o mundo atual, nº 22).
Exigências – No Evangelho lido neste domingo, Jesus parece exigir
duas coisas dessas pessoas “de fora”: que não estejam “contra” Ele, ou seja,
que não combatam positivamente a fé e seus valores, que não se ponham
voluntariamente contra Deus. Segundo: se não são capazes de servir e amar a
Deus, que sirvam e amem ao menos a sua imagem, que é o homem, especialmente o
necessitado. Diz, de fato, a continuidade desta passagem, falando ainda
daqueles de fora: “Todo aquele que vos dê de beber um copo de água pelo fato de
que sois de Cristo, asseguro-vos que não perderá sua recompensa”.
Bons cristãos – Mas, declarada a doutrina, é necessário purificar
também algo mais: a atitude interior, a nossa psicologia de crentes. Pode-se
entender, mas não compartilhar, a visível contrariedade de alguns cristãos ao
ver cair todo privilégio exclusivo, ligado à própria fé em Cristo e à pertença
à Igreja: “Então, de que serve ser bom cristão... ?”.
Todos – Deveríamos, ao contrário, alegrar-nos imensamente
frente a essas novas aberturas da teologia católica, exultar em saber que
nossos irmãos de fora também têm a possibilidade de salvar-se: o que existe que
seja mais libertador e que confirma melhor a infinita generosidade de Deus e
sua vontade de “que todos os homens se salvem” (1Tm 2,4)? Deveríamos
apropriar-nos do desejo de Moisés, recolhido na primeira leitura deste domingo:
“Quero de Deus que dê a todos o seu Espírito!”.
Coerência – Em razão dessa certeza, deveríamos deixar a cada um
tranquilo em sua convicção e nos abster de promover a fé em Cristo, uma vez que
a pessoa pode salvar-se também de outras maneiras? Certamente não. Só deveríamos
pôr mais ênfase no positivo que no negativo. O negativo é: “Creia em Jesus, porque
quem não crê Nele estará condenado eternamente”; o motivo positivo é: “Creia em
Jesus, porque é maravilhoso crer Nele, conhecê-Lo, tê-Lo ao lado como Salvador,
na vida e na morte”.