O Evangelho deste
domingo (Lc 1,1-4; 4,14-21) relata a primeira experiência da vida pública de
Jesus. Aconteceu em maio/junho do ano 28 d.C., na cidade de Nazaré, onde Jesus
foi criado. Jesus iniciava a sua vida pública com 34 anos de idade. Em dois
anos, ele fará toda a sua pregação, sendo crucificado e morto em abril do ano
30.
Sinagoga – Era um
sábado e Jesus foi à sinagoga para participar do culto semanal. O culto de
então consistia do canto de um salmo, a recitação do Shema Israel e as Dezoito
Bênçãos, uma primeira leitura do Torá e uma segunda dos Profetas, uma homilia
sobre as leituras, a benção do presidente da assembléia e a benção sacerdotal
de Nm 6,24-27. Segundo muitas autoridades, a primeira leitura era prescrita, a
segunda à escolha do leitor. Qualquer judeu adulto (masculino) podia tomar a
palavra, mas as autoridades sinagogais habitualmente confiavam esta incumbência
aos que eram considerados versados nas escrituras. Jesus foi convidado a fazer
a segunda leitura.
Isaías – Jesus buscou a
passagem do livro de Isaías. A citação de Lucas não é exatamente como está no
Antigo Testamento, mas uma combinação de Is 61,1-2 e 58.6, omitindo 61,1c e 61,2b-3a.
Nós, cristãos, discípulos de Jesus e continuadores da sua missão no mundo
atual, temos aqui os elementos essenciais para a vivência da nossa vocação.
Olhemos esses elementos:
a) "Anunciar a Boa-Notícia aos pobres"
– O Evangelho é "Boa Notícia"- não uma
série de leis, nem uma lista de práticas rituais, mas uma experiência de Deus
que traz alegria, felicidade – para os pobres!
b) "Proclamar a libertação aos presos"
– Não somente aos presos da cadeia, mas aos que
estão sem a liberdade dos filhos de Deus – presos pelas conseqüências trágicas
do desemprego, do salário mínimo; presos pelas correntes de racismo, machismo,
clericalismo e todos os "ismos" que oprimem!
c) "Aos cegos a recuperação da vista"
– Quanta gente cega hoje! Não só por problemas de
vista, mas cegas por não verem a realidade do mundo e dos pobres; tornadas
cegas pelas falsas utopias da televisão – que cria um mundo de fantasia,
totalmente alienante –; pela manipulação de informação pelos meios de
comunicação, controlados pelas elites; pelo incentivo ao consumo, que induz a
ter sempre mais, especialmente aqueles que carecem de um senso crítico mais apurado.
d) "Libertar os oprimidos" – Essa frase evoca o eixo fundamental da Bíblia – o Êxodo, como processo
permanente de libertação. No livro do Êxodo, Deus se identificou como o Deus
que liberta os oprimidos (Ex 3,7-10). E Jesus se coloca – e coloca todos os
seus seguidores – neste mesmo compromisso. Hoje a época é diferente, mas a
opressão continua, e Deus nos convoca para que todos nos empenhemos nesta luta
permanente de concretizar a libertação dos oprimidos.
e) "Proclamar o Ano de Graça do
Senhor" – O Ano de Graça – o Ano Jubilar! Memória da
proposta de Lev. 25, o ano do perdão das dívidas, da libertação dos escravos,
da devolução das terras aos seus donos originais! Um ano de alegria e graça,
especialmente para o povo pobre e oprimido! Júbilo e alegria, não podem ser
decretados – têm que brotar de algum motivo profundo: o crescimento real da
vivência do Reino de Deus entre nós, através de mudanças reais nas estruturas e
relacionamentos, no nível pessoal, social, familiar e eclesial.
Hoje – Hoje continua o
desafio de deixar bem claro o que significa para nós, no lugar onde nos
achamos, "pregar a Boa Notícia aos pobres", "libertar os
presos", "recuperar a vista dos cegos", "libertar os
oprimidos" e "pregar o Ano da Graça do Senhor". E nós podemos
enfrentar esse desafio com coragem, pois, como Jesus, todos nós fomos
"consagrados com a unção", para esta missão e o Espírito que
sustentou Jesus na sua missão não falhará no sustento de quem realmente se
lança no seguimento de Jesus, para que o Reino de Deus se realize entre nós.