Todas as vezes
que participamos de uma missa, ao rezar a Profissão de Fé, nós dizemos:
“Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as escrituras, e subiu aos céus, onde
está sentado à direita do Pai”. Por que a oração diz “conforme as escrituras”?
Escrituras – O texto da Profissão de Fé quer deixar claro que todos os livros do Novo
Testamento proclamam a ressurreição de Jesus. Os 4 Evangelhos detalham a
Paixão, morte e enterro de Jesus na sexta-feira (7 de abril do ano 30), o
sábado da Páscoa dos judeus e a ressurreição (túmulo vazio) no domingo (9 de
abril). O texto “conforme as escrituras” documenta que todos os livros do N.T.
confirmam um único fato.
Problema – Se nós fizermos a leitura da 1ª Carta de São Paulo aos Coríntios,
encontraremos o seguinte texto: “Cristo morreu por nossos pecados, conforme as
Escrituras; ele foi sepultado, ressuscitou no terceiro dia, conforme as
Escrituras; apareceu a Pedro e depois aos doze” (1Cor 15, 3-4). (Lembrar que
Paulo cometeu um engano, pois eram “onze”). O problema está em quais
“Escrituras” Paulo está se referindo, pois, o Novo Testamento ainda não
existia.
Novo Testamento – Nos cursos bíblicos que ministramos, deixamos claro que o primeiro
documento do Novo Testamento é a Carta de Paulo aos Tessalonicenses, escrita
entre 49 e 51 d.C. A Carta aos Coríntios é datada de 55-56 d.C. Os Evangelhos
foram escritos 20 anos depois: Marcos (67-70 d.C. em Roma), Lucas (70-80 d.C.),
Mateus (70-80 d.C.) e João (por volta do ano 100 d.C.). Se não haviam
documentos nem os Evangelhos, a quais “Escrituras” Paulo estava se referindo?
Antigo Testamento – Certamente que Paulo estava se referindo aos livros judaicos. Ele era
judeu e se orgulhava de ter sido educado pelo rabino Gamaliel (líder dentre as
autoridades do Sinédrio de meados do século I, reconhecido mestre e Doutor da
Lei). Paulo se apresentava como: “Eu sou judeu, nasci em Tarso da Cilícia, mas
criei-me nesta cidade, e instruí-me aos pés de Gamaliel conforme o rigor da Lei
de nossos pais, sendo zeloso para com Deus” (At 22,3). Portanto, Paulo
conhecia, detalhadamente os livros dos judeus.
Quais eram os livros judaicos? – Conforme Flavio
Josefo, escritor e historiador do primeiro século, antes de 70 d.C., os judeus
se utilizavam de apenas 22 livros. Eis o
texto: “Porque nós [judeus] não temos uma imensidão inumerável de livros que
discordam e se contradizem entre si (como os gregos têm), mas apenas vinte e
dois livros: ... cinco pertencem a Moisés, ... os profetas escreveram 13 livros
... os outros 4 livros contêm hinos e preceitos para a conduta humana”.
Portanto seriam: os 5 livros da Lei (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e
Deuteronômio), os 13 livros proféticos (talvez Isaías, Jeremias, Ezequiel,
Oséias, Neemias, Jó, Crônicas, Daniel, Ester, Josué, Ruth, Samuel, Reis) e, 4
livros de hinos (talvez Salmos, Provérbios, Cântico dos Cânticos e
Eclesiastes).
As “Escrituras” de Paulo – Existem duas referências nos livros
judaicos, que Paulo poderia estar se referindo na Carta aos Coríntios: o livro
do profeta Oseias: “Depois de dois dias ele nos dará vida novamente; ao
terceiro dia nos restaurará, para que vivamos em sua presença” (Os 6, 2). Também
pode estar se referindo ao livro de Jonas, quando Jonas ficou na barriga do
grande peixe por três dias e três noites antes de ser solto e, em uma espécie
de sentido simbólico, voltou dos mortos (Jonas 2). O próprio Jesus cita esta
passagem nos Evangelhos comparando sua morte e ressurreição ao “sinal de Jonas”
(Mt 12, 39–41).
QUER SABER MAIS: Se você está em quarentena, gostou do assunto e quer
saber mais, podemos lhe oferecer os textos citados: o livro “Obra completa de Flavius Josephus” que
contém o livro “Against Apion”” de Flavio Josefo (1627 pág. em Português, ver livro 1,
8); a apostila “Formação do Novo Testamento” e um “Mapa Bíblico do Século I”,
usados no Curso Bíblico da Paróquia São Judas Tadeu e São Dimas. Solicite por
E-mail.
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