sábado, 27 de novembro de 2021

A história do Nascimento de Jesus

  


Ao iniciarmos a preparação para o Natal (advento), inúmeras vezes ouviremos falar de Maria Santíssima, nossa Mãe e Mãe da Igreja. Como os Evangelhos Canônicos trazem poucas informações sobre Maria e José, fomos buscar mais detalhes (histórias, nomes, datas, etc.) em outras fontes, como a tradição judaica, fontes históricas e textos apócrifos (Proto-evangelho de Tiago, a História de José o Carpinteiro). A Igreja Católica aceita alguns destes fatos na sua liturgia (os nomes dos pais de Maria, a cerimônia de apresentação de Maria no Templo, Imaculada Conceição, José idoso, o bastão de José) mesmo não constando nos Evangelhos.

 O pai de Maria Joaquim era um homem muito rico que vivia atormentado por não ter filhos. Para o povo hebreu era muito importante gerar descendentes. Estava tão angustiado que se retirou para o deserto e jejuou quarenta dias e quarenta noites para que suas preces fossem atendidas.

 A mãe de Maria – Ana era uma mulher que lamentava a sua esterilidade. Apresentou-se a ela um anjo de Deus dizendo que o Senhor ouviu seus pedidos e que ela daria à luz uma criança. A concepção imaculada de Maria é aceita pela Igreja Católica como dogma de fé (instituído pelo Papa Pio IX em 1854) e comemorada como a festa da Imaculada Conceição de Maria.

 Apresentação no Templo – Ana prometeu que entregaria seu filho (ou filha) como oferenda ao Senhor, para que ele servisse seu Deus todos os dias de sua vida. Nove meses depois, Ana deu à luz uma menina, dando-lhe o nome de Maria. Era, aproximadamente, o ano 20 a.C. Quando completou três anos, Maria foi conduzida ao templo e entregue ao sacerdote. Permaneceu lá até os doze anos, se ocupando com os afazeres diários do templo.

 Aos doze anos – Quando Maria completou doze anos (aprox. 9 a.C.), os sacerdotes se reuniram e deliberaram que o Sumo Sacerdote deveria decidir o destino de Maria. Este, orando no aposento chamado ‘santo dos santos’, indicou que fossem reunidos 12 viúvos (um de cada tribo de Israel). Cada viúvo deveria vir ao templo com um bastão e aquele que recebesse um sinal singular do Senhor seria o esposo de Maria.

 Os viúvos – José, atendendo o chamado do Sumo Sacerdote, se dirigiu de Belém ao templo, entregando o seu bastão. O Sumo Sacerdote, após orar, devolveu os bastões aos viúvos. Ao entregar o bastão a José, uma pomba passou a voar sobre sua cabeça, indicando que José deveria ser o esposo de Maria.

 Contestação – José replicou que já era velho e tinha filhos (Judas, Josetos, Tiago, Simão Lígia e Lídia), enquanto que Maria era uma menina; argumentando ainda que seria objeto de zombarias por parte do povo. O sacerdote convenceu-o, dizendo que deveria aceitar o casamento como desejo divino.

 A tradição da época – Na palestina não havia diferença entre noivado e casamento. Por isso que em Mt 1,18 nós encontramos que Maria estava desposada de José. Desposada quer dizer noiva. O noivado já tinha o valor de casamento; por isto, em Mt 1,19, José é chamado de esposo. A tradição mandava que após a festa de noivado, a noiva (ou esposa) continuava na casa de seus pais, e o noivo (esposo) ia construir a casa. Pronta a casa, o noivo ia buscar a noiva, geralmente em procissão luminosa, da qual participavam também outras moças do lugar (veja a parábola das dez virgens em Mt 25, 1-13).

 José e Maria Como Maria vivia no templo (e não na casa dos seus pais), José levou-a para sua casa e saiu em viagem de trabalho com os dois filhos maiores. José era carpinteiro e trabalhava na construção de casas. Maria cuidou do pequeno Tiago (filho de José) com carinho e dedicação. Maria viveu como noiva de José perto de dois anos.

 Um certo anjo ... – Um certo dia, no início do ano 7 a.C., Maria pegou um cântaro e foi enchê-lo de água. Mas eis que ouviu uma voz que lhe dizia: "Deus te salve, cheia de graça, o Senhor está contigo ..." Bem, mas este é assunto para a próxima semana.

 GOSTOU DO ASSUNTO? – Se você quer ler mais sobre o assunto, podemos lhe oferecer os Evangelhos apócrifos citados (Protoevangelho de Tiago, a História de José) e a Cronologia da vida de Jesus. Solicite por E-mail.

 

sábado, 20 de novembro de 2021

“Tu és Rei?”

  


O Evangelho da Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo (Jo 18,33-37), Rei do Universo, apresenta-nos uma cena do processo de Jesus diante de Poncio Pilatos, o governador romano da Judéia. Estamos na manhã do dia 7 de abril do ano 30. Naquela sexta-feira, Jesus já havia sido preso, levado à casa de Anás, julgado pelo Sinédrio e agora estava diante de Pilatos. Cabe lembrar que o Sumo Sacerdote era Caifás; Anás, sogro de Caifás, apesar de ter deixado o cargo de Sumo Sacerdote, continuava a ser um personagem muito influente e foi ele, provavelmente, quem liderou o processo contra Jesus.

 Pilatos – Poncio Pilatos, o interlocutor romano de Jesus, governou a Judéia e a Samaria entre os anos 26 e 36. As informações do historiador Flávio Josefo e de Fílon o descrevem como um governante duro e violento, obstinado e áspero, culpado de ordenar execuções de opositores sem um processo legal. As queixas de crueldade apresentadas contra ele pelos samaritanos, no ano 35, levaram Vitélio, o representante romano na Síria, a tomar a decisão de enviá-lo a Roma, para se explicar diante do imperador. Pilatos foi deposto do seu cargo de governador da Judéia no ano 36.

 Rei? – O interrogatório de Jesus começa com uma pergunta direta de Pilatos: “Tu és o Rei dos judeus?”. Essa interrogação já revela qual era a acusação apresentada pelas autoridades judaicas contra Jesus: a de que Ele tinha pretensões de ser o Salvador prometido, que pretendia restaurar o reino de David e libertar Israel dos opressores. Esse tipo de acusação fazia de Jesus um agitador político, empenhado em mudar o mundo pela força, pelo poder das armas. Esta acusação tem fundamento? Jesus aceita-a?

 Messias – A resposta de Jesus coloca as coisas nos devidos lugares. Ele assume-se como o Messias que Israel esperava e confirma, claramente, a sua qualidade de rei; no entanto, descarta qualquer semelhança com os reis que Pilatos conhece. Os reis deste mundo apóiam-se na força das armas e impõem aos outros homens o seu domínio e a sua autoridade; a sua realeza baseia-se na prepotência e na ambição e gera opressão, injustiça e sofrimento… Jesus, ao contrário, é um prisioneiro indefeso, traído pelos amigos, ridicularizado pelos líderes judaicos, abandonado pelo povo; não se impõe pela força, mas veio ao encontro dos homens para servi-los; não cultiva os próprios interesses, mas obedece em tudo à vontade de Deus, seu Pai; não está interessado em afirmar o seu poder, mas em amar os homens até ao dom da própria vida… A sua realeza é de outra ordem, da ordem de Deus.

 Testemunho – A realeza de que Jesus Se considera investido por Deus consiste em “dar testemunho da verdade”. Para o autor do Quarto Evangelho, a “verdade” é a realidade de Deus. Essa “verdade” manifesta-se nos gestos de Jesus, nas suas palavras, nas suas atitudes e, de forma especial, no seu amor vivido até ao extremo, com a doação da vida.

 Verdade – A “verdade” (isto é, a realidade de Deus) é o amor incondicional e sem medida que Deus derrama sobre o homem, a fim de fazê-lo chegar à vida verdadeira e definitiva. Essa “verdade” opõe-se à “mentira”, que é o egoísmo, o pecado, a opressão, a injustiça, tudo aquilo que desfigura a vida do homem e o impede de alcançar a vida plena. A “realeza” de Jesus concretiza-se, por um lado, na luta contra o egoísmo e o pecado que escravizam o homem e que o impedem de ser livre e feliz; por outro lado, a realeza de Jesus se realiza na proposta de uma vida feita amor e entrega a Deus e aos irmãos. Esta meta não se alcança pela lógica do poder e da força, mas pelo amor, pela partilha, pelo serviço simples e humilde em favor dos irmãos. É esse “reino” que Jesus veio propor; é a esse “reino” que Ele preside.

 Renúncia – A proposta de Jesus provoca uma resposta livre do homem. Quem escuta a voz de Jesus adere ao seu projeto e se compromete a segui-lO, renuncia ao egoísmo e ao pecado e faz da sua vida um dom de amor a Deus e aos irmãos. Passa, então, a integrar a comunidade do “Reino de Deus”.

 

sábado, 13 de novembro de 2021

“O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão”

  


Estamos no penúltimo domingo do Ano Litúrgico. A Liturgia nos fala do fim do mundo e da sua história. É um convite à ESPERANÇA: O Deus Libertador vai mudar a noite do mundo numa aurora de vida sem fim. As Leituras bíblicas, numa linguagem apocalíptica, nos estimulam a descobrir, os sinais desse mundo novo, que está nascendo das cinzas do reino do mal.

 Apocalipse de Daniel – Na 1ª leitura, encontramos o Apocalipse de Daniel (Dn 12,1-3). O Povo judeu se encontrava oprimido sob a dominação dos gregos. Muitos judeus, apavorados pela perseguição, abandonavam até a fé… Deus enviou o seu anjo Miguel como defensor dos que se mantiveram fiéis no caminho de Deus. O objetivo deste livro era animar o povo a resistir diante dos opressores e lembrar que a vitória final será dos justos que perseverarem fiéis... É a primeira profissão de fé na RESSURREIÇÃO, que se encontra na Bíblia. Esse texto está em conexão com o evangelho, que nos fala da segunda vinda de Cristo e prefigura a vinda de Cristo libertador.

 Apocalipse de Marcos – No trecho do Evangelho, (Mc 13, 24-32), na época em que foi escrito por Marcos, as comunidades cristãs estavam agitadas e assustadas por causa de guerras e calamidades, como a destruição do templo, no ano 70 d.C. Para tranquilizar os cristãos, o autor também usa a linguagem apocalíptica, descrevendo a catástrofe do Sol e das estrelas e o aparecimento do Filho do Homem sobre as nuvens para julgar os bons e os maus. Esse "Discurso escatológico" de Cristo é o último antes da Paixão. Jesus anuncia a destruição de Jerusalém e o começo de uma nova era, com a sua vinda gloriosa após a ressurreição.

 Fim do mundo? – Não é uma reportagem, mas uma CATEQUESE sobre o fim dos tempos. A intenção não era assustar, mas conduzir a comunidade a discernir os fatos catastróficos e o futuro da comunidade cristã dentro da História. Não deviam dar ouvidos a pessoas que anunciavam o fim do mundo, pelo contrário, precisavam entender como o início de um mundo novo, vendo nos sofrimentos sinais de vida: como dores de parto, que prenunciavam o nascimento de uma nova vida…

 Quando vai acontecer isso? – A resposta para a ocasião em que os fatos ocorrerão é dada através da imagem da figueira: quando começa a brotar, o agricultor sabe que está chegando o verão e se alegra porque se aproxima a época da colheita. Quanto ao dia e hora, só o Pai sabe, mais ninguém... Para nós, o mais importante não é saber quando isso irá acontecer, mas sim estar vigilantes e preparados para ele.

 E as sombras que vemos no Mundo de hoje? – O desabamento de tantas certezas, que julgávamos indestrutíveis, o desaparecimento de pessoas que julgávamos insubstituíveis, o abandono de certas práticas religiosas que pareciam indispensáveis, o esquecimento de tantos valores éticos e morais que tanto apreciamos... O abandono da fé de tantas pessoas, que julgávamos fervorosas... A violência, a corrupção, a opressão andam soltas...   Como devemos ver tudo isso? Será o fim do mundo?

 Mundo novo – A Palavra de Deus reafirma que Deus não abandona a humanidade e está determinado a transformar o mundo velho do egoísmo e do pecado num mundo novo, de vida e de felicidade para todos os homens. A humanidade não caminha para a destruição, para o nada: caminha ao encontro da vida plena, ao encontro de um mundo novo. Nós cristãos devemos ver a vida presente em estado de gestação, como germe de uma vida, cuja plenitude final só alcançaremos em Deus. Esse mundo sonhado por Deus é uma realidade escatológica.

 Novo dia – Desde já um novo dia está surgindo, por isso, devemos ser para os nossos contemporâneos sinais de esperança dessa realidade: gente de fé, com uma visão otimista da vida e da história, que caminha, alegre e confiante, ao encontro desse mundo novo que Deus nos prometeu. O Senhor não nos abandona em nossa caminhada: Ele vem sempre ao nosso encontro para nos indicar o caminho. Da nossa parte, devemos estar atentos aos sinais de Deus, confiantes nas palavras de Cristo, que nos garante: "O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão".

sábado, 6 de novembro de 2021

Quem são os santos

 


Neste domingo a Igreja comemora a Solenidade de Todos os Santos. Publicamos o comentário do Pe. Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia do Vaticano, sobre a liturgia de hoje.

 Comunicação – Faz tempo que os cientistas enviam sinais ao cosmos em espera de respostas por parte de seres inteligentes em algum planeta perdido. A Igreja desde sempre mantém um diálogo com os habitantes de outro mundo: os santos. É o que proclamamos ao dizer: “Creio na comunhão dos santos”. Ainda que existissem habitantes fora do sistema solar, a comunicação com eles seria impossível, porque entre a pergunta e a resposta passariam milhões de anos. Aqui, ao contrário, a resposta é imediata, porque existe um centro de comunicação e de encontro comum que é Cristo Ressuscitado.

 Embrião – Talvez também pelo momento do ano em que cai, a Solenidade de Todos os Santos tem algo especial que explica sua popularidade e as numerosas tradições ligadas a ela em alguns setores da cristandade. O motivo está no que diz João na segunda leitura. Nesta vida, “somos filhos de Deus e ainda não se manifestou o que seremos”; somos como o embrião no seio da mãe que anseia nascer. Os santos “nasceram” (a liturgia chama “dia do nascimento”, dies natalis, no dia de sua morte); contemplá-los é contemplar nosso destino. Enquanto ao nosso redor a natureza se desnuda e caem as folhas, a festa de todos os santos nos convida a olhar para o alto; e nos recorda que não estamos destinados a ficar na terra para sempre, como as folhas.

 Santos – A passagem do Evangelho é a das bem-aventuranças. Uma bem-aventurança em particular inspirou a escolha da passagem: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados”. Os santos são aqueles que tiveram fome e sede de justiça, isto é, na linguagem bíblica, de santidade. Não se resignaram à mediocridade, não se contentaram com meias palavras.

 Unidos ou separados? – A primeira leitura da Solenidade nos ajuda a entender quem são os santos. São “os que lavaram suas vestes no sangue do Cordeiro”. A santidade se recebe de Cristo; não é uma produção própria. No Antigo Testamento, ser santos queria dizer “estar separado” de tudo o que é impuro; na acepção cristã, quer dizer o contrário, ou seja, “estar unidos”, mas a Cristo.

 Santos leigos – Os santos, isto é, os salvos, não são apenas os que o calendário ou o santoral enumeram. Existem os “santos desconhecidos”: que arriscaram suas vidas pelos irmãos, os mártires da justiça e da liberdade, ou do dever, os “santos leigos”, como alguém os chamou. Sem saber, também suas vestes foram lavadas no sangue do Cordeiro, se viveram segundo a consciência e lhes importou o bem dos irmãos.

 Louvor – Surge espontaneamente uma pergunta: o que os santos fazem no paraíso? A resposta está, também aqui, na primeira leitura: os salvos adoram, deixam suas coroas ante o trono, exclamando: “Louvor, honra, bênção, ação de graças...”. Realiza-se neles a verdadeira vocação humana, que é a de ser “louvor da glória de Deus” (Ef 1, 14). Seu coro é guiado por Maria, que no céu continua seu canto de louvor: “Minha alma proclama a grandeza do Senhor”. É neste louvor que os santos encontram sua bem-aventurança e seu gozo: “Meu espírito se alegra em Deus”. O homem é aquilo que ama e aquilo que admira. Amando e louvando a Deus, ele se une Deus, participa de sua glória e de sua própria felicidade.

 Paraíso – Um dia, um santo, São Simeão, o Novo Teólogo, teve uma experiência mística de Deus tão forte que exclamou para si: “Se o paraíso não for mais que isso, já me basta!”. Mas a voz de Cristo lhe disse: “És bem mesquinho se te contentas com isso. O gozo que experimentaste em comparação com o do paraíso é como um céu pintado no papel com relação ao verdadeiro céu”.