sábado, 25 de junho de 2022

MOISÉS TINHA CHIFRES?

 

 

Muitas pessoas que visitam a Basílica de São Pedro, no Vaticano, ficam impressionadas com a escultura de Moisés, de Michelangelo, uma obra de grande maestria e rara perfeição. Vamos detalhar a história desta obra-prima do Renascimento.

 

A tumba de Júlio II – Em março de 1505, Michelangelo estava em Florença e foi convocado a encontrar-se em Roma com o Papa Júlio II.  O pontífice desejava construir uma tumba que fosse digna de um chefe do cristianismo, para ser colocada na Basílica de São Pedro. Em razão de muitos problemas, os trabalhos só se iniciaram em 1545, quando Michelangelo tinha setenta anos. A tumba incluía a presença da escultura de Moisés no centro do complexo e também as estátuas de Raquel e Lia.

 

Moisés – Moisés foi o homem encarregado por Deus para libertar o povo de Israel da escravidão do Egito e conduzi-lo à Terra Prometida. O episódio imortalizado pela estátua de Michelangelo corresponde a um momento muito específico da história do Êxodo: Moisés desce do Monte Sinai com as tábuas de pedra contendo os Dez Mandamentos e encontra o seu povo, em idolatria, ao redor do bezerro de ouro. Com raiva, jogou as tábuas da lei ao chão (Ex, 32,19).

 

Drama – A estátua do Moisés de Michelangelo representa, com rara perfeição, o momento dramático em que o profeta foi invadido por uma terrível cólera e parece que está prestes a se levantar e destruir tudo. As tábuas ainda estão inteiras debaixo do braço, mas já numa situação muito instável, caso o “gigante” se levante.

 

Chifres – O elemento que mais chama a atenção na escultura são os dois chifres na cabeça de Moisés. A explicação está relacionada a uma interpretação literal da versão do episódio, narrado na Vulgata (tradução latina da Bíblia das versões grega e hebraica feita pelo padre São Jerônimo).

 

Keren ou Karan? – Em Hebreu não se escrevem as vogais. A palavra “KNR”, pode ser interpretada como “keren” – radiante, luminoso, com raios de luz – ou como “karan” – chifres. Quando o tradutor se deparou com ela em Êxodo 34, 29-30 (“E os filhos de Israel viram então os raios de luz que emanavam da face de Moisés”, tradução encontrada na maioria das Bíblias), optou por traduzir o texto assim: “E os filhos de Israel viram então os chifres que emanavam da face de Moisés”. Michelangelo, usando o texto da Vulgata de São Jerônimo, colocou os chifres na estátua de Moisés.

 

QUER SABER MAIS? – Se você gostou do assunto e quer conhecer os detalhes sobre o Moisés de Michelangelo (texto em português com 18 pág. e muitas fotos), solicite por E-mail que lhe enviaremos um texto sobre o assunto.

sábado, 18 de junho de 2022

“Quem sou eu para vós?”

 


 O Evangelho das missas deste domingo acontece na fase final da etapa da Galiléia, em julho do ano 29 (lembrar que Jesus foi crucificado no dia 7 de abril do ano 30). Jesus orava sozinho, quando perguntou aos discípulos: “Quem dizem as multidões que Eu sou?” Eles responderam: “Uns, João Batista; outros, que és Elias; e outros, que és um dos antigos profetas que ressuscitou”. Disse-lhes Jesus: “E vós, quem dizeis que Eu sou?” Pedro tomou a palavra e respondeu: “És o Messias de Deus”.

 

Oração – A cena de hoje começa com a indicação da oração de Jesus. É um dado típico de Lucas que põe sempre Jesus rezando antes de um momento fundamental. A oração é o lugar do reencontro de Jesus com o Pai. Depois de rezar, Jesus tem sempre uma mensagem importante – uma mensagem que vem do Pai – para comunicar aos discípulos. A questão importante que, nesse episódio, Jesus quer comunicar, tem a ver com a questão: “quem é Jesus?”

 

Messias – A época de Jesus foi uma época de crise profunda para o Povo de Deus; foi, portanto, uma época em que o sofrimento gerou uma enorme expectativa messiânica. Asfixiado pela dor que a opressão trazia, o Povo de Deus sonhava com a chegada desse libertador anunciado pelos profetas. Esperavam um grande chefe militar que, com a força das armas, iria restaurar o império de David e obrigar os romanos opressores a respeitar aquela nação. Na época apareceram várias figuras que se assumiram como “enviados de Deus”, criaram à sua volta um clima de ebulição, arrastaram atrás de si grupos de discípulos exaltados e acabaram, invariavelmente, chacinados pelas tropas romanas. Jesus é também um destes demagogos, em quem o Povo vê cristalizada a sua ânsia de libertação?

 

Messias? – Aparentemente, Jesus não é considerado pelas multidões “o messias”: preferencialmente, o Povo identifica-o com Elias, o profeta que as lendas judaicas consideravam estar junto de Deus e que voltaria a anunciar o grande momento da libertação do Povo de Deus. Talvez a postura de Jesus e a sua mensagem não correspondessem àquilo que se esperava de um rei forte e vencedor.

 

Discípulos – Os discípulos (companheiros de “caminho” de Jesus) deviam ter uma perspectiva mais elaborada e amadurecida. De fato, é isso que acontece; por isso, Pedro não tem dúvidas em afirmar: “Tu és o messias de Deus”. Pedro representa aqui a comunidade dos discípulos – essa comunidade que acompanhou Jesus, testemunhou os seus gestos e descobriu a sua ligação com Deus. Dizer que Jesus é o “messias” significa reconhecê-lo como o “enviado” de Deus que havia de traduzir em realidade essas esperanças de libertação que enchiam o coração de todos.

 

Libertador – Jesus não discorda da afirmação de Pedro. Ele sabe, no entanto, que os discípulos sonhavam com um “messias” político, poderoso e vitorioso e apressa-se a desfazer possíveis equívocos e a esclarecer as coisas: Ele é o enviado de Deus para libertar os homens; no entanto, não vai realizar essa libertação pelo poder das armas, mas pelo amor e pelo dom da vida. No seu horizonte próximo não está um trono, mas a cruz: é aí, na entrega da vida por amor, que Ele realizará as antigas promessas de salvação feitas por Deus ao seu Povo.

 

UM POUCO DE HISTÓRIA – No dia 17 de junho de 1963 a Suprema Corte dos EUA, depois de grandes debates, decide, por 8 votos a 1, que os estados não podem exigir a recitação do Pai Nosso ou de versículos da Bíblia em escolas públicas.

 

sábado, 11 de junho de 2022

SANTÍSSIMA TRINDADE

  


A Solenidade que celebramos neste domingo não é um convite para decifrar o mistério que se esconde por detrás de "um Deus em três pessoas", mas um convite a contemplar o Deus que é Amor, que é Família, que é Comunidade e que criou os homens para que comungassem nesse mistério de amor.

 Convite – No Evangelho, Jesus dá a entender que ser seu discípulo é aceitar o convite para se vincular com a Comunidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Os discípulos de Jesus recebem a missão de testemunhar a sua proposta de vida no meio do mundo e são enviados a apresentar a todas as pessoas, sem exceção, o convite de Deus para integrar a comunidade trinitária. No dia em que fomos batizados, comprometemo-nos com Jesus e vinculamo-nos com a comunidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

 Sermão – Apresentamos a seguir o prefácio do sermão de Santo Antonio de Lisboa (1195-1231), franciscano, Doutor da Igreja, sobre a Santíssima Trindade: “Um só Deus, um só Senhor, na trindade das pessoas e na unidade da natureza”.

 “O Pai, o Filho e o Espírito Santo são de uma só substância e de uma inseparável igualdade. A unidade está na essência, a pluralidade nas pessoas. O Senhor indica abertamente a unidade da essência divina e a trindade das pessoas quando diz: “Batizai em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Não diz “nos nomes”, mas “em nome”, mostrando assim a unidade da essência. Em seguida, porém, emprega três nomes, para mostrar que há três pessoas.

 Nesta trindade se encontra a origem suprema de todas as coisas, a beleza perfeita, a alegria bem-aventurada. A origem suprema, afirma Santo Agostinho no seu livro sobre a verdadeira religião, é Deus Pai, de quem provêm todas as coisas, de quem procedem o Filho e o Espírito anto. A beleza perfeita é o Filho, a verdade do Pai, que em nada se distingue dele, que veneramos com o Pai e no Pai, que é o modelo de todas as coisas, porque tudo foi feito por Ele e tudo se refere a Ele. A alegria bem-aventurada, a soberana bondade, é o Espírito Sant o, que é o dom do Pai e do Filho; e devemos crer e manter que este dom é exatamente como o Pai e o Filho.

 Ao contemplar a criação, concluímos pela Trindade de uma só substância. Apreendemos um só Deus: Pai, de quem somos; Filho, por quem somos; Espírito Santo, em quem somos. Príncipe, a quem recorremos; modelo, que seguimos; graça, que nos reconcilia.”

sexta-feira, 3 de junho de 2022

O INÍCIO DA IGREJA

  


Este domingo é uma grande festa missionária. Marca a transformação da Igreja de uma seita judaica a uma comunidade universal, missionária, mas não proselitista, comprometida com a construção do Reino de Deus "até os confins da terra". A liturgia deste final de semana nos apresenta a descida do Espírito Santo sobre a comunidade dos discípulos, em duas tradições: a de Lucas (Atos 2,1-11) e de João (João 20, 19-23).


Atos – O livro “Atos dos Apóstolos” descreve o dia de Pentecostes, quando os discípulos estavam reunidos. De repente, veio do céu um barulho como se fosse uma forte ventania, que encheu a casa onde eles se encontravam. Então apareceram línguas como de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios de Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava.

Evangelho – O Evangelho de João descreve o anoitecer, o primeiro da semana, quando estavam reunidos com as portas fechadas, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: "A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio. Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos".


Diferença – Uma leitura fundamentalista da bíblia leva a gente a um beco sem saída, pois em João, a Ressurreição, a Ascensão e a descida do Espírito se deram no mesmo dia (Páscoa), enquanto Lucas separa os três eventos, num período de cinqüenta dias. Assim devemos ler os textos dentro dos interesses teológicos dos diversos autores: os 40 dias de Lucas, por exemplo, entre a Ressurreição e a Ascensão, correspondem aos 40 dias da preparação de Jesus no deserto, para a sua missão. Pois como Jesus ficou "repleto do Espírito Santo" e se lançou na sua missão "com a força do Espírito", a comunidade cristã se preparou durante o mesmo período, e na festa judaica de Pentecostes também experimentou que "todos ficaram repletos do Espírito Santo".

 Shalom – O "Shalom" é a paz que vem da presença de Deus, da justiça do Reino. Como disse o Papa Paulo VI "A justiça é o novo nome da paz!". Jesus não promete a paz do comodismo, mas, pelo contrário, envia os seus discípulos na missão árdua em favor do Reino e promete o shalom, pois ele nunca abandonará a quem procura viver na fidelidade o projeto de Deus. Jesus soprou sobre os discípulos, como Deus fez sobre Adão (é o mesmo termo) quando infundiu nele o espírito de vida; Jesus os recria com o Espírito Santo.

 Reino – Que a celebração nos anime para que busquemos a criação de um mundo onde o Shalom realmente possa reinar; não a paz falsa da opressão e injustiça, mas, do Reino de Deus, fruto de justiça, solidariedade e fraternidade. Jesus nos deu o Espírito Santo – agora depende de nós usarmos essa força que temos, na construção do mundo que Deus quer.