No Evangelho das missas deste domingo, João Batista manda os seus discípulos
irem até Jesus e perguntar-lhe: “És Tu Aquele que há de vir
ou devemos esperar outro?”. João Batista, como todo o povo judeu, aguardava a
chegada de um Messias (o Cristo, o Ungido de Deus), como estava prometido no
Antigo Testamento. Por essa razão, ele manda seus discípulos perguntarem a
Jesus se Ele realmente o Messias esperado, ou devemos esperar por outro.
Messias – Nos primeiros
séculos, uma das dificuldades do cristianismo era provar aos judeus que Jesus
era o Messias, o Cristo esperado pelos judeus. Conforme o Antigo Testamento,
este personagem deveria ter três características prometidas por Deus para o
final dos tempos: um profeta, um rei e um sacerdote. Para Jesus ser o Messias,
ele deveria ter as três qualidades.
Profeta, rei, sacerdote – A vinda de um profeta no final dos
tempos foi comunicada por Deus a Moisés no livro do Deuteronômio (18,18): “Suscitarei
um profeta como tu entre teus irmãos”. A promessa de um rei está no 2º
Livro de Samuel (7,12), onde Deus diz a Davi: “Quando tu morreres eu
mandarei um descendente teu e manterei o seu trono para sempre”.
Finalmente, a promessa de um futuro sacerdote santo foi para Eli: “Mandarei
um sacerdote fiel, que atue segundo a minha vontade” (1Sam 2, 35).
Jesus: Profeta
e Rei –
Cristo foi reconhecido como “profeta” (Mc 9,8), como “grande
profeta” (Lc 7,16) e como “o profeta” (Jo 6,14). Também
foi reconhecido como “rei” (Mt 21,9), como “o rei que vem
em nome do Senhor” (Lc 19,38), como “o rei de Israel” (Jo
12,13). O próprio Pedro reconhece Jesus
como o profeta prometido (Hb 3,22) e como rei esperado (Hb 2,36).
Por
que a pergunta de João? – João Batista e os judeus
esperavam um Messias que viesse lançar fogo à terra, castigar os maus e os
pecadores, dar início ao “juízo de Deus” (Mt 3,11-12). Ao contrário, Jesus
aproximou-Se dos pecadores, dos marginais, dos impuros, estendeu-lhes a mão,
mostrou-lhes o amor de Deus, ofereceu-lhes a salvação (Mt 8-9). João e os seus
discípulos ficaram desconcertados: Jesus será o Messias esperado, ou é preciso
esperar um outro que venha atuar de uma forma mais decidida, mais lógica e mais
justiceira?
Jesus Sacerdote –
Porém
jamais, em nenhuma ocasião, Jesus foi reconhecido como sacerdote. Isto por uma
clara razão: para ser sacerdote ele deveria pertencer a tribo de Levi, e Jesus
pertencia à tribo de Judá. Portanto, para os judeus, Jesus era um leigo.
Explicando melhor: Quando
os Hebreus chegaram à Terra Prometida, se dividiram em 12 tribos. Só poderiam
ser sacerdotes os descendentes da tribo de Levi (chamados levitas). Jesus
pertencia à tribo de Judá, portanto nunca poderia ser aceito como sacerdote.
Solução – Por volta
do ano 80 d.C. apareceu na cidade de Roma um personagem de grande cultura e
grande conhecimento da língua grega. Este autor, que para nós permanece
anônimo, escreveu a Carta aos Hebreus, esclarecendo que Jesus poderia ser
sacerdote. Nos capítulos 7 a 10 da Carta, ele desenvolve o seguinte raciocínio:
interpretando o Salmo 110 (vers. 4), em que Deus diz “tu és sacerdote para sempre, segundo a Ordem de
Melquisedec”, ele afirma que Deus
criou uma nova ordem de sacerdotes, distinta da ordem dos levitas. Jesus Cristo
desceu dos céus para ser o sumo sacerdote desta nova ordem.
Quem era? – Melquisedec é
proclamado como “rei de Salém” e “sacerdote do Deus Altíssimo” (Gn 14). Foi ao
encontro de Abrão, abençoou-o, entregando-lhe pão e vinho. Trata-se de um
personagem estranho, pois o texto não indica as suas origens nem a sua ordem
sacerdotal.
Nova ordem – Portanto Cristo é o primeiro sacerdote,
protagonista e iniciador de uma nova ordem de sacerdotes. Pela interpretação do
Salmo (110, 4) e da Carta aos Hebreus (cap.7 a 10) a Igreja Católica proclama
Jesus como “sacerdote para sempre, segundo a Ordem de Melquisedec”.
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