sábado, 20 de maio de 2023

A ASCENSÃO DE JESUS ACONTECEU NO DIA DA PÁSCOA OU 40 DIAS DEPOIS?

  


Neste domingo celebramos a Festa da Ascensão de Jesus. Os textos bíblicos que serão lidos nas missas apresentam uma contradição nas datas: enquanto o Evangelho de Lucas apresenta a ressurreição e a ascensão próprio dia de Páscoa, o livro Atos dos Apóstolos descreve a ascensão 40 dias após. Vejamos os textos.

 Crise – A primeira leitura (At 1,1-11), das missas deste domingo tirada do livro dos “Atos dos Apóstolos” (escrito por Lucas), dirige-se a comunidades que vivem num certo contexto de crise. O texto foi escrito na década de 80, cerca de cinquenta anos após a morte de Jesus. Passou já a fase da expectativa pela vinda iminente do Cristo glorioso para instaurar o “Reino” e há certa desilusão. As questões doutrinais trazem alguma confusão; a monotonia favorece uma vida cristã pouco comprometida; falta o entusiasmo e o empenho… O quadro geral é o de certo sentimento de frustração, porque o mundo continua igual e a esperada intervenção vitoriosa de Deus continua adiada. Quando vai concretizar-se, de forma plena e inequívoca, o projeto salvador de Deus?

40 dias – No versículo 3 (At 1,3) Lucas descreve a ascensão de Jesus, fazendo referência aos “quarenta dias” que mediaram entre a ressurreição e a ascensão, durante os quais Jesus falou aos discípulos “a respeito do Reino de Deus”. O número quarenta é, certamente, um número simbólico: é o número que define o tempo necessário para que um discípulo possa aprender e repetir as lições do mestre. Aqui define, portanto, o tempo simbólico de iniciação ao ensinamento do Ressuscitado.

 Evangelho – No Evangelho das missas deste domingo (Lc 24,46-53) o mesmo autor (Lucas) situa-nos no dia de Páscoa. No capítulo 24, ele descreve que Jesus se manifestou aos discípulos de Emaús (Lc 24,13-35) e aos onze, reunidos no cenáculo (Lc 24,36-43). No texto que nos é proposto nas missas, apresentam-se as últimas instruções de Jesus (Lc 24,44-49), depois Jesus levou os discípulos até Betânia e, erguendo as mãos, abençoou-os. Enquanto os abençoava, afastou-Se deles e foi elevado ao Céu (Lc 24,50-53).

 Contradição – Notem que, o mesmo autor (Lucas), em seus dois livros (Evangelho e Atos dos Apóstolos) descreve a ascensão de Jesus com as mesmas instruções em datas diferentes: no Evangelho a ascensão aconteceu no dia da Páscoa e “mandou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai” (Lc 24,49); no livro Atos dos Apóstolos, a ascensão aconteceu 40 dias após a Páscoa, com a instrução "permanecei na cidade, até que sejais revestidos da força do alto” (Lc 1,3-4).

 Qual o correto? – Do ponto de vista teológico, o mais correto seria ressurreição, aparições de Jesus ressuscitado aos discípulos e ascensão colocados no mesmo dia, pois a ressurreição e ascensão não se podem diferenciar; são apenas formas humanas de falar da passagem da morte à vida definitiva junto de Deus. O Catecismo da Igreja Católica (659) descreve que “durante os quarenta dias em que vai comer e beber familiarmente com os discípulos e instruí-los sobre o Reino, a sua glória fica ainda velada sob as aparências duma humanidade normal. A última aparição de Jesus termina com a entrada irreversível da sua humanidade na glória divina, simbolizada pela nuvem e pelo céu.

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