Neste domingo
celebramos a Festa da Ascensão de Jesus. Os textos bíblicos que serão lidos nas
missas apresentam uma contradição nas datas: enquanto o Evangelho de Lucas
apresenta a ressurreição e a ascensão próprio dia de Páscoa, o livro Atos dos
Apóstolos descreve a ascensão 40 dias após. Vejamos os textos.
Crise – A primeira leitura (At 1,1-11), das missas deste domingo tirada do livro
dos “Atos dos Apóstolos” (escrito por Lucas), dirige-se a comunidades que vivem
num certo contexto de crise. O texto foi escrito na década de 80, cerca de
cinquenta anos após a morte de Jesus. Passou já a fase da expectativa pela
vinda iminente do Cristo glorioso para instaurar o “Reino” e há certa
desilusão. As questões doutrinais trazem alguma confusão; a monotonia favorece
uma vida cristã pouco comprometida; falta o entusiasmo e o empenho… O quadro
geral é o de certo sentimento de frustração, porque o mundo continua igual e a
esperada intervenção vitoriosa de Deus continua adiada. Quando vai
concretizar-se, de forma plena e inequívoca, o projeto salvador de Deus?
40 dias – No versículo 3 (At 1,3) Lucas descreve a ascensão de Jesus, fazendo
referência aos “quarenta dias” que mediaram entre a ressurreição e a ascensão,
durante os quais Jesus falou aos discípulos “a respeito do Reino de Deus”. O
número quarenta é, certamente, um número simbólico: é o número que define o
tempo necessário para que um discípulo possa aprender e repetir as lições do
mestre. Aqui define, portanto, o tempo simbólico de iniciação ao ensinamento do
Ressuscitado.
Evangelho – No Evangelho das missas deste domingo (Lc 24,46-53) o mesmo autor
(Lucas) situa-nos no dia de Páscoa. No capítulo 24, ele descreve que Jesus se
manifestou aos discípulos de Emaús (Lc 24,13-35) e aos onze, reunidos no
cenáculo (Lc 24,36-43). No texto que nos é proposto nas missas, apresentam-se
as últimas instruções de Jesus (Lc 24,44-49), depois Jesus levou os discípulos
até Betânia e, erguendo as mãos, abençoou-os. Enquanto os abençoava, afastou-Se
deles e foi elevado ao Céu (Lc 24,50-53).
Contradição – Notem que, o mesmo autor (Lucas), em seus dois livros (Evangelho e Atos
dos Apóstolos) descreve a ascensão de Jesus com as mesmas instruções em datas
diferentes: no Evangelho a ascensão aconteceu no dia da Páscoa e “mandou-lhes
que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai” (Lc 24,49);
no livro Atos dos Apóstolos, a ascensão aconteceu 40 dias após a Páscoa,
com a instrução "permanecei na cidade, até que sejais revestidos da força
do alto” (Lc 1,3-4).
Qual o correto? – Do ponto de vista teológico, o mais correto seria ressurreição,
aparições de Jesus ressuscitado aos discípulos e ascensão colocados no mesmo
dia, pois a ressurreição e ascensão não se podem diferenciar; são apenas formas
humanas de falar da passagem da morte à vida definitiva junto de Deus. O
Catecismo da Igreja Católica (659) descreve que “durante os quarenta dias em
que vai comer e beber familiarmente com os discípulos e instruí-los sobre o
Reino, a sua glória fica ainda velada sob as aparências duma humanidade normal.
A última aparição de Jesus termina com a entrada irreversível da sua humanidade
na glória divina, simbolizada pela nuvem e pelo céu.
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