O Evangelho deste domingo (Mt
14,22-33) apresenta
Jesus andando sobre as águas, os discípulos com medo e Jesus estendendo-lhes a
mão e dando-lhes força para vencer a adversidade.
O mar – O episódio situa-nos na área do lago de
Tiberíades ou de Genesaré, um lago de água doce com 21 quilômetros de
comprimento e 12 de largura, situado na Galileia, um grande reservatório de
água doce da Palestina. Para os judeus, esse lago era considerado, para todos
os efeitos, um “mar” – lugar onde habitavam os monstros, os demônios e todas as
forças que se opunham à vida e à felicidade do homem. Na perspectiva da
teologia judaica, no mar, o homem estava à mercê das forças demoníacas e só o
poder de Deus podia salvá-lo…
Fantasma – Mateus descreve que “Jesus obrigou os
discípulos a entrar na barca, e ir na frente, para o outro lado do mar,
enquanto ele despedia as multidões”. Na madrugada, Jesus foi até eles, andando
sobre o mar. Os discípulos assustaram-se, pensando que fosse um fantasma e gritaram
cheios de medo. Jesus lhes disse: “Coragem! Sou eu. Não tenham medo”.
Reflexão – Para refletir sobre esta
passagem, usaremos um texto de Orígenes, também conhecido por Orígenes de
Alexandria. Orígenes foi um presbítero e teólogo cristão que viveu entre 185 e
253 d.C., sendo considerado o maior erudito da Igreja antiga. Exerceu grande
influência na Igreja, tendo escrito mais de 600 obras. Tem textos importantes
sobre a Santíssima Trindade, a virgindade de Maria e o Batismo dos cristãos. Orígenes
professou o primado de Pedro e é o autor da afirmação da crucificação de Pedro
de cabeça para baixo. A reflexão a seguir foi escrita há mais de 1.800 anos:
“Passemos à outra margem” – Orígenes de Alexandria
“Jesus mandou os discípulos
subir para a barca a fim de precedê-Lo na outra margem, enquanto despedia as
multidões. As multidões não podiam passar para a outra margem, visto que não
eram Hebreus no sentido espiritual do termo, o qual se traduz: “os da outra
margem”. Esta é a obra dos discípulos de Jesus: partir para a outra margem,
ultrapassar o visível e o corporal – estas realidades temporárias – e ser os
primeiros a chegar ao invisível e eterno…
Os discípulos, contudo, não
puderam chegar antes de Jesus na outra margem… Talvez Ele tivesse querido
ensiná-los, por experiência, que, sem Ele, não é possível lá chegar… Que barca
é esta para a qual Jesus os manda subir? Não será a luta contra as tentações e
as circunstâncias difíceis? … Ele, o Salvador, manda, portanto, os discípulos
subir para a barca das provações a fim de chegarem à outra margem,
ultrapassando as circunstâncias difíceis através da sua vitória sobre elas…
Depois, sobe à montanha, a um
lugar apartado, para orar. Por quem reza? Provavelmente, em primeiro lugar,
pelas multidões, para que, despedidas depois de terem comido os pães
abençoados, não façam nada contrário à despedida de Jesus. Também pelos
discípulos…, para que, no meio do mar, não sofram com as altas ondas nem com o
vento contrário. Sou levado a dizer que é, graças à oração que Jesus dirige ao
Pai, que os discípulos não sofreram danos no mar.
E nós, se algum dia cairmos
sob a força das tentações, lembremo-nos de que não é possível chegarmos à outra
margem sem sofrermos a prova das ondas furiosas e do vento contrário. Além
disso, quando nos virmos rodeados de muitos e custosos afazeres, já um tanto cansados
pela travessia que se alonga, pensemos que a nossa barca se encontra em pleno
mar e que as ondas procuram fazer-nos “naufragar na nossa fé” (1 Tm 1, 19) …
Acreditemos, então, que o fim da noite está iminente: “A noite vai avançada e o
dia aproxima-se” (Rm 13, 12). O Filho de Deus virá até nós para nos acalmar o
mar, caminhando sobre as águas.
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