Neste domingo a Igreja comemora a Solenidade
de Todos os Santos. Publicamos o comentário do Pe. Raniero Cantalamessa, pregador
da Casa Pontifícia do Vaticano, sobre a liturgia de hoje.
Comunicação – Faz tempo que os cientistas enviam sinais ao cosmos em
espera de respostas por parte de seres inteligentes em algum planeta perdido. A
Igreja desde sempre mantém um diálogo com os habitantes de outro mundo: os
santos. É o que proclamamos ao dizer: “Creio na comunhão dos santos”. Ainda que
existissem habitantes fora do sistema solar, a comunicação com eles seria
impossível, porque entre a pergunta e a resposta passariam milhões de anos.
Aqui, ao contrário, a resposta é imediata, porque existe um centro de
comunicação e de encontro comum que é Cristo Ressuscitado.
Embrião – Talvez também pelo momento do ano em que cai, a Solenidade
de Todos os Santos tem algo especial que explica sua popularidade e as
numerosas tradições ligadas a ela em alguns setores da cristandade. O motivo
está no que diz João na segunda leitura. Nesta vida, “somos filhos de Deus e
ainda não se manifestou o que seremos”; somos como o embrião no seio da mãe que
anseia nascer. Os santos “nasceram” (a liturgia chama “dia do nascimento”, dies
natalis, no dia de sua morte); contemplá-los é contemplar nosso destino.
Enquanto ao nosso redor a natureza se desnuda e caem as folhas, a festa de
todos os santos nos convida a olhar para o alto; e nos recorda que não estamos
destinados a ficar na terra para sempre, como as folhas.
Santos – A passagem do Evangelho é a das bem-aventuranças. Uma bem-aventurança
em particular inspirou a escolha da passagem: “Bem-aventurados os que têm fome
e sede de justiça, porque serão saciados”. Os santos são aqueles que tiveram
fome e sede de justiça, isto é, na linguagem bíblica, de santidade. Não se
resignaram à mediocridade, não se contentaram com meias palavras.
Unidos ou
separados? – A primeira leitura da
Solenidade nos ajuda a entender quem são os santos. São “os que lavaram suas
vestes no sangue do Cordeiro”. A santidade se recebe de Cristo; não é uma produção
própria. No Antigo Testamento, ser santos queria dizer “estar separado” de tudo
o que é impuro; na acepção cristã, quer dizer o contrário, ou seja, “estar
unidos”, mas a Cristo.
Santos leigos – Os santos, isto é, os salvos, não são apenas os que o
calendário ou o santoral enumeram. Existem os “santos desconhecidos”: que
arriscaram suas vidas pelos irmãos, os mártires da justiça e da liberdade, ou
do dever, os “santos leigos”, como alguém os chamou. Sem saber, também suas vestes
foram lavadas no sangue do Cordeiro, se viveram segundo a consciência e lhes importou
o bem dos irmãos.
Louvor – Surge espontaneamente uma pergunta: o que os santos
fazem no paraíso? A resposta está, também aqui, na primeira leitura: os salvos
adoram, deixam suas coroas ante o trono, exclamando: “Louvor, honra, bênção,
ação de graças...”. Realiza-se neles a verdadeira vocação humana, que é a de
ser “louvor da glória de Deus” (Ef 1, 14). Seu coro é guiado por Maria, que no
céu continua seu canto de louvor: “Minha alma proclama a grandeza do Senhor”. É
neste louvor que os santos encontram sua bem-aventurança e seu gozo: “Meu espírito
se alegra em Deus”. O homem é aquilo que ama e aquilo que admira. Amando e louvando
a Deus, ele se une Deus, participa de sua glória e de sua própria felicidade.
Paraíso – Um dia, um santo, São Simeão, o Novo Teólogo, teve uma
experiência mística de Deus tão forte que exclamou para si: “Se o paraíso não
for mais que isso, já me basta!”. Mas a voz de Cristo lhe disse: “És bem
mesquinho se te contentas com isso. O gozo que experimentaste em comparação com
o do paraíso é como um céu pintado no papel com relação ao verdadeiro céu”.
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