sábado, 25 de novembro de 2000

Como era o rosto de Cristo ?

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 25/11/2000


Vimos nas semanas anteriores que Jesus Cristo viveu na Palestina entre os anos – 6 (ou –7 antes de nossa era) e abril do ano 30. Não apenas existem registros bíblicos, mas também históricos sobre sua vida na terra. Uma questão, porém, pode residir na cabeça dos cristãos: qual teria sido a aparência de Jesus?

A imagem mais comum de Jesus, é aquela representada nas obras de arte, ou seja, um homem moreno, alto, magro, de longos cabelos castanhos, olhos claros, barba (às vezes longa, etc.). O Santo Sudário confirma as mesmas características. Os Evangelhos não fazem qualquer referência ao biótipo de Jesus e, historicamente, também não existem documentos que descrevam a figura de Jesus.

Vamos citar um texto datado do século V, conhecido como Carta a Lêntulo, em que o autor quer passar por testemunha ocular, descrevendo assim a figura humana de Jesus:



"Apareceu nestes tempos, e ainda existe, um homem (se é lícito considerá-lo homem) de grande virtude, chamado Jesus Cristo. É tido pelos povos como profeta da verdade; os seus discípulos chamam-no Filho de Deus; ressuscita mortos e cura todas as doenças. É homem de estatura elevada, moderado e respeitável. Tem semblante venerável, cabelos cor de avelã não plenamente madura, quase lisos até os ouvidos, crespos dos ouvidos para baixo, um tanto brilhantes, caindo sobre os ombros. A cabeleira se reparte ao meio de sua cabeça, como é de costume entre os Nazarenos. A sua testa é lisa e muito serena, as faces sem ruga. Nenhuma falha traz no nariz e na boca. Tem barba densa, da cor dos cabelos, não longa, levemente bifurcada na altura do queixo. Seu olhar é simples e maduro; os olhos são claros e esverdeados. Quando repreende, é terrível; quando admoesta, é manso e amável; é alegre, ao mesmo tempo sério. Chorou algumas vezes, mas nunca riu. Tem estatura bem erecta, as mãos e os braços bem configurados. É ponderado ao falar, sóbrio, modesto, de tal modo que o Profeta bem pôde dizer: ‘É o mais belo dos filhos dos homens’".



Existe também um trecho do livro "A História Eclesiástica" (escrito por Eusébius, que viveu entre 260 e 340, foi bispo de Cesaréia) que descreve o discípulo Tiago, irmão (primo) de Jesus. Cabe lembrar que Inácio (bispo da Antioquia na Síria) diz que "Tiago é muito parecido com Jesus, como se fosse um irmão gêmeo". Vamos portanto, ver a descrição que Eusébius faz de Tiago, para podermos ter uma visão difusa da aparência de Jesus:



"... ele não bebia vinho nem qualquer comida animal; nunca se barbeou, nem se ungiu com óleo nem tomava banho. Só lhe foi permitido entrar no Lugar Santo do Templo, porque seu vestuário não era de lã, mas de linho [isto é, batas sacerdotais]. Ele entrava no Santuário só, e sempre se encontrava de joelhos pedindo perdão pelas pessoas, a ponto que seus joelhos ficaram calejados como os de camelos. Por causa de seu comportamento correto, ele foi chamado de ‘Integro’ ..." (A História da Eclesiástica, livro II, XVIII, 4).

sábado, 18 de novembro de 2000

A Unidade dos Cristãos

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 18/11/2000


A leitura da carta de Pantanaeus (150 d.C.), conhecida como "Epístola para Diognetus", publicada no artigo anterior (14/11; se você não leu, solicite pelo E-mail), nos trouxe uma bela descrição sobre como vivam os primeiros cristãos. Trouxe-nos, também, uma grande reflexão ao confrontar aquela realidade vivida com tanto amor e partilha, com a que vivemos hoje, especialmente no que se refere à Igreja fundada por Cristo Jesus.

Infelizmente, hoje ela encontra-se dividida, partida em tantos pedaços...

Será essa a vontade do seu Divino Fundador?

São Paulo, dirigindo-se aos cristãos de Éfeso, assim escreveu: Mantenham entre vocês laços de paz, para conservar a unidade do Espírito. Há um só corpo e um só Espírito, assim como a vocação de vocês os chamou a uma só esperança: há um só Senhor, uma só fé, um só batismo. Há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, que age por meio de todos e está presente em todos. (Ef. 4, 3-6)

Foi por isso que o Concílio Vaticano II preocupou-se do começo ao fim, com a unidade das Igrejas. Nele, a renovação interna da Igreja foi um esforço para, no dizer do Papa João XXIII, "limpar a casa", a fim de que os irmãos separados, quando quisessem voltar para a Igreja, encontrassem a "casa limpa" e não os mesmos defeitos que um dia motivaram a sua saída.

Isso não quer dizer que uma parte quer convencer a outra, mas trata-se, fundamentalmente, de todos se deixarem converter pelo Espírito de Deus: "Se dizemos que não temos pecado, enganamos a nós mesmos, e a Verdade não está em nós" (1Jo, 1, 8). Por isso diz o Concílio: "Pedimos humildemente perdão a Deus e aos irmãos separados, assim como nós perdoamos aos que nos têm ofendido"(UR7)

È de se lamentar que, em nome de Deus, os homens estejam divididos e até se agredindo, pois isso dificulta a salvação daqueles que se dizem estar com Deus. Na verdade, isso é um verdadeiro escândalo para todos os que estão fora de qualquer igreja.

E Cristo não quer essa divisão, apesar de tê-la previsto: "Pai Santo, guarda-os em teu nome, o nome que tu me deste, para que eles sejam um, assim como nós somos um. ... Eu não te peço só por estes, mas também por aqueles que vão acreditar em mim por causa da palavra deles, para que todos seja um, como tu, Pai, estás em mim e eu em ti. E para que também eles estejam em nós, a fim de que o mundo acredite que tu e enviaste. Eu mesmo dei a eles a glória que tu me deste, para que eles sejam um, como nós somos um. Eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade e para que o mundo reconheça que tu me enviaste e que os amaste, como amaste a mim". (Jo 17, 11.20-23)

Esta oração de Jesus, saída do seu coração, com certeza será atendida pelo Pai um dia. Quando será, nós não o sabemos, mas será ouvida. Porque a Igreja de Jesus não pode ficar despedaçada, dividida até o fim dos tempos: foi por ela que Ele derramou seu Sangue e não é essa a Sua vontade.

O que parece impossível aos homens não é impossível a Deus, e a nós, cristãos, cabe:

a) orar, para que a unidade se restabeleça: a oração sincera será capaz de mostrar a cada um dos cristãos a vergonha que é o escândalo da divisão e, com certeza, mostrará que deve haver renúncia nos pontos de vista errados, para abrir-nos aos impulsos da Graça.

b) praticar a caridade, pois "Se vocês tiverem amor uns para com os outros, todos reconhecerão que vocês são meus discípulos" (Jo 13, 35).

c) dialogar no plano da fé. Na oração e na caridade, guiados pelo Espírito Santo, conseguiremos chegar à reconciliação e à unidade.

E então "haverá um só rebanho e um só Pastor" (Jo 10,16).

Possamos, pois, estar preparados, para que o Senhor, quando vier, nos encontre com a luz da fé acesa e unidos no seu amor.

"Eis que venho em breve, e a minha recompensa está comigo, para dar a cada um conforme as suas obras. Eu sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o último, o começo e o fim. Felizes aqueles que lavam as suas vestes para terem direito à árvore da vida e poderem entrar na cidade pelas portas" (Ap 22, 12-14)

Você sabia que ...

... a grande divisão dos cristãos (cisma) ocorreu em 1517, com a publicação das 95 teses de Martinho Lutero, dando início ao protestantismo? O texto de Lutero pregava que a salvação seria conquistada apenas com fé (sem obras e sem a mediação da Igreja), atacava a autoridade do Papa, rejeitava o celibato sacerdotal e recomendava o estudo individual da Bíblia (interpretação livre). Se você quer receber as 95 teses de Lutero com comentários sobre o cisma, peça pelo E-mail abaixo.

sábado, 11 de novembro de 2000

Como viviam os cristãos

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 11/11/2000

No século II o cristianismo se expandia por todo mundo. Os cristão eram considerados pessoas diferentes, pois viviam em comunidade, desprezavam os bens e não tinham pátria. Assim, todos tinham grande curiosidade em saber como eles viviam.

Em uma carta datada do ano de 150 d.C. conhecida como "Epístola para Diognetus", provavelmente escrita por Pantanaeus (mestre de Clemente de Alexandria), o autor faz uma impressionante descrição do estilo de vida dos cristãos. O final da carta deve ter se perdido, pois a cópia que chegou até nossos dias termina abruptamente. Note que o autor louva a beleza da vida cristã, inserida neste mundo e compartilhando o que a sociedade tem de honesto, não perdendo de vista os valores definitivos. Será que os cristãos de hoje (após 850 anos) continuamos a viver no mesmo estilo das primeiras comunidades cristãs? Vejamos a carta:



"Meu caro Diognetus, desde que o conheço você se mostra ansioso para entender a religião dos cristãos. Eles confiam em Deus e o adoram, têm um desprezo pelos bens e menosprezam a morte, não acreditam nos deuses gregos nem na superstição dos judeus, e dão grande importância ao afeto entre eles.

Os cristãos não diferem dos demais homens pela terra, pela língua, ou pelos costumes. Não habitam cidades próprias, não se distinguem por idiomas estranhos, não levam vida extraordinária. Além disso, sua doutrina, não a encontraram em pensamento ou cogitação de homens desorientados. Também não patrocinam, como fazem alguns, dogmas humanos. Mas, habitando, conforme a sorte de cada um, cidades gregas e bárbaras, é acompanhando os usos locais em matéria de roupa, alimentação e costumes, que manifestam a admirável natureza de sua vida, a qual todos reputam extraordinária.

Habitam suas pátrias, mas como estrangeiros. Participam de tudo como cidadãos, mas tudo suportam corno estrangeiros. Qualquer terra estranha é pátria para eles; qualquer pátria, terra estranha. Casam-se e procriam, mas nunca lançam fora o que geraram. Têm a mesa em comum, não o leito. Existindo na carne, não vivem segundo a carne. Na terra vivem, participando da cidadania do céu. Obedecem às leis, mas as ultrapassam em sua vida. Amam a todos, sendo por todos perseguidos. Desconhecidos, são assim mesmo condenados. Mas quando entregues à morte, são vivificados. Na pobreza, enriquecem a muitos; desprovidos de tudo, sobram-lhes os bens. São desprezados, mas no meio das desonras sentem-se glorificados. Difamados, mas justos; ultrajados, mas benditos. Injuriados, prestam honra. Fazendo o bem, são punidos como malfeitores; castigados, rejubilam-se como revivificados. Os judeus hostilizam-nos como alienígenas, os gregos os perseguem, mas nenhum de seus inimigos pode dizer a causa de seu ódio.

Para resumir numa palavra, o que é a alma no corpo, são os cristãos no mundo: como por todos os membros do corpo está difundida a alma, assim os cristãos por todas as cidades do universo. Habita a alma no corpo, mas não procede do corpo; assim os cristãos habitam no mundo, mas não são do mundo. A alma invisível é enclausurada num corpo visível; os cristãos, conhecidos enquanto estão no mundo, têm uma religião que permanece invisível. A carne odeia a alma sem ter recebido injúria, mas apenas porque não a deixa gozar os prazeres; aos cristãos odeia o mundo sem ter sido injuriado por eles e só porque renunciam aos prazeres. A alma ama o corpo e os membros que a odeiam; também os cristãos amam os que os odeiam.

A alma está encerrada no corpo, mas é ela que o sustenta. Os cristãos, por sua vez, estão encerrados no mundo como num cárcere; mas são eles que o sustentam. A alma habita um tabernáculo mortal. Os cristãos peregrinam através de bens corruptíveis, na expectativa da celeste incorruptibilidade.

Maltratada quanto a alimentos e bebidas, a alma se aperfeiçoa; também os cristãos, afligidos por castigo, cada dia mais aumentam em número. Deus colocou-os num posto tal que não lhes é lícito desertar.

Não foi, como já disse, invenção terrestre o que se lhes transmitiu; nem julgam ter sob sua vigilante guarda uma concepção mortal. Não lhes foi confiada a dispensação de mistérios humanos.

Mas foi o próprio Deus invisível, verdadeiramente Senhor e Criador de tudo, que do alto dos céus colocou entre os homens a Verdade, o Logos santo e incompreensível, e o inseriu firmemente nos seus corações".

sábado, 4 de novembro de 2000

São Judas Tadeu

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 04/11/2000

Atendendo a alguns pedidos de leitores desta coluna, apresentaremos os dados bibliográficos de São Judas Tadeu, santo da Igreja Católica comemorado no dia 28 de outubro. As informações foram colhidas junto ao Santuário de São Judas Tadeu em São Paulo.

São Judas Tadeu era natural de Caná da Galiléia, na Palestina. Sua família era constituída do pai, Alfeu (ou Cléofas) e a mãe, Maria Cléofas, parentes de Jesus. O pai, Alfeu, era irmão de São José e a mãe, Maria Cléofas, prima irmã de Maria Santíssima, portanto, Judas Tadeu era primo-irmão de Jesus. O irmão de Judas Tadeu, Tiago, chamado o Menor, também foi discípulo de Jesus.

A Bíblia trata pouco de Judas Tadeu, mas aponta o importante: ele foi escolhido por Jesus, para apóstolo (Mt 10,4). É citado explicitamente nas Escrituras pelo evangelista João (Jo 14,22), na última ceia, quando perguntou a Jesus: "Mestre, por que razão hás de manifestar-te só a nós e não ao mundo?" Jesus lhe respondeu afirmando que teriam manifestação dele todo aquele que guardasse sua palavra e permanecesse fiel a seu amor.

Após ter recebido o dom do Espírito Santo, Judas Tadeu iniciou sua pregação na Galiléia, passando pela Samaria, Iduméria e outras populações judaicas. Pelo ano 50, tomou parte no primeiro Concílio, o de Jerusalém. Em seguida, foi evangelizar a Mesopotâmia, Síria, Armênia e Pérsia. Neste país recebeu a companhia de outro apóstolo, Simão.

A pregação e o testemunho de Judas Tadeu impressionaram os pagãos que se convertiam. Isto provocou a inveja e fúria contra o apóstolo, que foi trucidado, com pauladas, lanças e machados, pelo ano 70. Dessa maneira, tornou-se mártir, ou seja, mostrou que sua adesão a Jesus era tal, que testemunhou a fé com a doação da própria vida. Os seus restos mortais, após terem sido guardados no Oriente Médio e na França, foram definitivamente transferidos para Roma, na Basílica de São Pedro.

A brevíssima Carta de São Judas, que está na Bíblia, é uma severa advertência contra os falsos mestres e um convite a manter a pureza da fé. Nos versículos 22-23 propõe pontos fundamentais de um programa de vida cristã: fé, oração, auxílio mútuo, confiança na misericórdia de Jesus Cristo.


Você sabia que ...

... os exegetas (estudiosos da Bíblia) modernos fazem distinção entre os três Judas citados no texto acima? Os biblistas consideram que o Judas Tadeu (apóstolo), o Judas (primo de Jesus e irmão de Tiago) e o Judas (autor da Epístola) são três pessoas diferentes. Não confundir nenhum deles com o Judas Iscariotes (apóstolo), que traiu Jesus. Se você quer saber mais sobre os Judas do Novo Testamento, solicite pelo E-mail abaixo.

... no Santuários de São Judas Tadeu, no bairro de Jabaquara, em São Paulo, existe um pedaço de osso do santo, usado para dar a bênção nos dias 28 de cada mês? A relíquia chegou ao Brasil em 1945 ou 1946 por meio de um padre capelão militar que, durante a guerra, serviu a um convento de religiosas, na Itália. Finda a guerra, o padre recebeu de presente das religiosas, a relíquia de São Judas, que foi, posteriormente, doada ao Santuário São Judas Tadeu. Com a relíquia, existe um documento garantindo sua autenticidade.

... A imagem de São Judas possui um livro numa das mãos e uma machadinha na outra, porque representam respectivamente a Palavra que ele pregou e a arma com a qual foi morto?