domingo, 31 de dezembro de 2000

Jesus no Templo com os Doutores

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 31/12/2000


O Evangelho das missas deste domingo (31/12) descreve a viagem da Sagrada Família a Jerusalém por ocasião da Páscoa. Terminadas as festividades, Jesus permanece no Templo com os Doutores da Lei. Vamos detalhar este episódio.

Tradição da Páscoa – Por ocasião da Páscoa, a principal festa do povo de Deus, milhares de peregrinos acorriam para a capital, Jerusalém. No ano em que Jesus completava 12 anos, Ele, com José e Maria, foram fazer a peregrinação anual ao templo de Jerusalém. A Sagrada Família partiu de Nazaré, onde moravam, e subiram até Jerusalém, numa viagem de 150 km, percorridos em 3 ou 4 dias. Por segurança, os romeiros viajavam em grandes caravanas, junto com os parentes. Supõe-se que os peregrinos de Nazaré acampavam num jardim chamado Getsêmani, no pé do Monte das Oliveiras.

A época – Era o ano 6 de nossa era. O rei Arquelau (filho de Herodes) já havia sido deposto, sendo a Judéia governada pelo procurador romano Coponius. Nesta época, Jesus, com 12 anos, já era considerado adulto, com maturidade religiosa no judaismo (Filho da Lei ou Bar-mizwah), membro do povo de Israel, passando a fazer leituras nas sinagogas. Falava o aramaico (no dia-a-dia) e o hebraico (idioma culto e religioso da época). Algumas perícopes dos Evangelhos dão a entender que Jesus soubesse a língua grega.

No fim da festa – Terminada a Páscoa, os romeiros se reuniam, formando as caravanas e voltavam para casa. Os homens formavam um grupo separado das mulheres. Os filhos podiam ir com o pai, ou com a mãe, ou com os parentes. Conforme a tradição, o local de encontro das caravanas era em El-Birê, 16 km ao norte de Jerusalém, de onde as caravanas partiam, cada uma para sua cidade.

Jesus fica em Jerusalém – José imaginava que Jesus estivesse com Maria e esta, por sua vez, pensava que o menino estivesse na caravana dos homens. Perceberam que Ele não estava na caravana no fim do primeiro dia de viagem. Já estavam a cerca de 15 km de Jerusalém. Voltaram para lá e depois de 3 dias de buscas, encontraram Jesus no Templo.

Jesus no Templo – José e Maria encontraram Jesus no meio dos mestres, ouvindo-os e interrogando-os. Os mestres da lei eram profundos conhecedores da Lei Judaica (os 5 primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), que ensinavam nos átrios do templo, como Jesus o faria em sua vida pública. O ensinamento dos mestres era em forma de diálogo.

Diálogo com os mestres – Pela descrição do Evangelho de Lucas, parece que estava ocorrendo uma aula, com todos os mestres e Jesus sentados em círculo, como era a tradição. A admiração dos mestres estava em Jesus não saber os trechos da Sagrada Escritura (Antigo Testamento) de maneira decorada, como era normal, mas discutia com conhecimento.

"Meu filho, por que agiste assim conosco?" – Maria deve ter dito esta frase mais em tom de alívio do que de repreensão. Depois de tão profunda aflição e tão grande susto, Maria, mãe amorosa que era, deve ter sentido uma grande alegria e alívio ao reencontrar Jesus.

"Não sabíeis que eu devo estar na casa do meu Pai?" – A tradução ao pé da letra (do grego) desta frase de Jesus é: " ... que eu devia estar ocupado com os negócios de meu Pai?". É a primeira palavra de Jesus citada nos Evangelhos; notar que, como na última frase de Jesus, ele se refere ao Pai.

Jesus crescia em idade, em sabedoria e em graça diante de Deus – Jesus se preparava para sua missão. Vinte anos depois (ano 27 d.C.), iniciava sua vida pública, fazendo com que ele superasse os laços familiares. Deixou sua cidade de origem (Nazaré) e elegeu a cidade de Carfanaum como centro de seu apostolado. A casa de Pedro (em Carfanaum) se tornaria o novo ponto de referência e os 12 apóstolos a sua nova família.

sábado, 23 de dezembro de 2000

Glória a Deus no mais alto dos céus e sobre a Terra paz para os seus bem-amados!

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade, 23/12/2000

A voz dos anjos em Belém ainda ecoa no ar até nossos ouvidos! É o anúncio a pleno pulmões, do mistério sublime da encarnação da segunda Pessoa da Santíssima Trindade, que insere de maneira indissolúvel no coração de Deus, por toda a eternidade, a nossa natureza humana. É o mistério que vai muito além da nossa razão e imaginação: Deus em sua segunda Pessoa, não será jamais separado da natureza humana em Jesus!

Quão grande é o amor de Deus por nós! O seu amor nos envolveu de tal modo, que inspirou a Trindade Santíssima a enviar o Filho de Deus feito homem, para que nossa breve caminhada terrestre fosse iluminada pela Luz que não se apaga e para que, o absurdo da morte se transformasse em simples passagem para a vida mais plena e eterna!

Nesta véspera de Natal, quando nos preocupamos tanto com a perfeição da decoração, com os detalhes dos presentes e a gostosura das comidas, lembremo-nos antes daquilo que é o principal e de quem é o Aniversariante...

Lembremo-nos, primeiro, de dar graças a Deus, louvando e agradecendo o seu infinito amor por nós. Lembremo-nos que Ele, desde toda a eternidade, pensou em cada um de nós em particular e nos chamou à vida...

Lembremo-nos de que o Natal é a festa que celebra o nascimento do Nosso Salvador, Jesus Cristo e que, por Ele é que nos reunimos e com Ele deve ser nossa comemoração.

Por essas razões, neste sábado propomos a cada leitor que, ao reunir seus familiares, antes da troca de presentes e da ceia natalina, faça primeiro a sua oração a Deus.

Para aqueles que tem dificuldade de fazer uma prece espontânea, propomos uma pequena celebração, para ser feita em grupo:

Animador: O Natal tem para nós, cristãos, um gosto e um sabor todo especial: lembra-nos algo maravilhoso, quando o próprio Deus se fez fisicamente presente no meio de suas criaturas. Hoje, estamos reunidos para revivermos este alegre momento. Iniciemos a nossa celebração em nome do Pai, que nos enviou seu Filho, em nome de Cristo que veio até nós e do Espírito Santo que santifica o nosso lar. Glorifiquemos a Deus.

Todos: Glória a Deus nas alturas, glória a Jesus nosso Salvador.

Animador: Jesus está entre nós! Peçamos as bênçãos de Deus sobre nossos lares, pois a maior benção que a raça humana já recebeu de Deus, veio de um lugar pobre e humilde: o presépio!

Leitor 1: O lugar em que Jesus nasceu não era o mais digno ou o mais adequado para o nascimento de um Rei, o Filho de Deus. Mas, esse local pode perfeitamente significar o Coração humano, tão cheio de impurezas, tão levado por atos irracionais, pela falta de perdão, pela ausência do Amor, pela infidelidade, pela malícia, pelo orgulho, pelo egoísmo e por tantas vaidades... Quantos corações não são indignos de Deus se instalar neles ?

Leitor 2: Por isso que, Jesus no presépio, com sua mensagem de amor a todos os homens, é um sinal de esperança! E o maravilhoso é que, em vez do local contaminá-Lo, Ele é que o santificou, fazendo deste presépio um símbolo de pureza, de simplicidade e de humildade!

Leitor 3: Esta é a razão da nossa esperança: mesmo que os nossos corações não sejam totalmente dignos de acolher Jesus, Ele não se importa, como não se importou em nascer num simples presépio. Basta que a gente O acolha, que Ele virá, se instalará e nos purificará com sua misericórdia, resgatando nossa dignidade de filhos de Deus.

Todos: Senhor, que neste Natal, cada coração manchado pelo pecado seja transformado num presépio santificado por Jesus!

Animador: No Natal, Jesus retorna criança para nos dizer que Deus não está longe. O anjos ainda cantam: Paz aos homens que Ele ama.

Todos: Lhe pedimos, Senhor, que seja arrancado o ódio de todos os corações e que seja injetado neles, o amor. Que nenhuma nação se lembre mais do que é a guerra.

Leitor 1: É Natal! O Verbo fez-se homem e acendeu o amor na Terra. Gostaríamos que esse dia jamais findasse!

Todos: Senhor, ensina-nos a perpetuar a Sua presença entre os homens. Que o Seu Amor aceso na Terra arda em nossos corações e nos amemos, como é da Sua Vontade.

Leitor 2: Ajuda-nos, Pai, pois se nos amarmos, então estarás entre nós e todo dia poderá ser Natal.

Todos: Senhor, neste Natal nós Lhe confiamos, sobretudo, os que não possuem uma crença e Lhe pedimos que um raio da Sua Luz penetre em seus corações, para que eles possam experimentar ao menos por algum momento, quão grande é a alegria de quem O conhece e O ama.

Animador: Que por nós renasçam as esperanças, se fortaleçam as relações humanas fraternas e se renovem as pessoas e a sociedade, amém!
Todos: Pai Nosso...

Você sabia que ...

... a primeira descrição do nascimento de Cristo num presépio foi de Justino (mártir, filósofo e teólogo que viveu entre os anos 100 e 165) e de Orígenes (teólogo que viveu entre 185 e 254)? Elas se encontram nos livros ‘Diálogo com Trifon’ (Justino) e ‘Contra Celsum’ (Orígenes). Se você quer mais detalhes sobre o assunto, os textos poderão ser recebidos gratuitamente pelo E-mail abaixo.

sábado, 16 de dezembro de 2000

Como aconteceu o nascimento de Jesus

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 16/12/2000

Seguindo a descrição do capítulo 2 (versículos de 1 a 7) do Evangelho de Lucas, vamos detalhar os fatos que aconteceram no nascimento de Jesus.

"Ora, naquele tempo, foi publicado um edito de César Augusto, mandando recensear o mundo inteiro. Esse primeiro recenseamento teve lugar na época em que Quirino era governador da Síria."

Ao que parece, o evangelista teve a intenção de localizar o nascimento de Jesus no tempo, sem qualquer precisão cronológica. Os únicos registros históricos sobre um recenseamento na Palestina indicam o ano de 6 d.C., exatamente por ocasião da mudança do reino (de Arquelau) para a administração direta de Roma. Para este recenseamento foi convocado o funcionário romano Publius Sulpicius Quirinus, que foi governador da Síria entre 6 e 8 d.C. Portanto, existe uma lacuna de mais de 10 anos entre o nascimento de Jesus e o recenseamento. Sabemos que o nascimento de Cristo se deu quando Herodes Magno era o rei da Judéia e que este morreu dias depois de um eclipse lunar (12 de março de 4 a.C.), cerca de 10 dias antes da Páscoa (11 de abril de 4 a.C.), conforme o historiador Flavius Josephus.

"Todos iam se fazer recensear, cada qual em sua própria cidade; José também subiu da cidade de Nazaré, na Galiléia, à cidade de David, que se chama Belém, na Judéia, porque era da família e da descendência de Davi, para se fazer recensear com Maria, sua esposa, que estava grávida."

O evangelista também nos informa que o edito do imperador Otávio obrigava todos a se recensear em sua própria cidade, fazendo com que José e Maria, descendentes de Davi, viajassem de Nazaré para Belém (150 km em 4 dias de viagem). Historicamente é bastante estranho esta obrigatoriedade, pois o recenseamento era uma atualização de cadastro para pagamento de impostos para o império (taxa de pessoa física e impostos sobre propriedades). Visto que José não morava na Judéia, nem tinha propriedades ou parentes em Belém (foi obrigado a ficar numa hospedaria), não havia razão para o credenciamento. Também não têm respaldo na História os fatos de José (um cidadão de Nazaré, na Galiléia, reino governado por Antipas) ser convocado para um cadastro na Judéia (província governada diretamente por Roma) e a obrigatoriedade da presença de Maria. Existem documentos do império que mostram que um morador podia declarar os bens de seus dependentes. Quanto à citação de Lucas de que Belém é a cidade de Davi, existem algumas controvérsias: como sabemos, a cidade de Davi é Jerusalém (e não Belém); talvez Lucas tenha feito um interpretação própria de Mq 5,1, atribuindo o título a Belém.

"Ora, enquanto lá estavam, chegou o dia em que ela devia dar à luz; ela deu à luz seu filho primogênito..."

Primogênito era uma expressão jurídica e sagrada da lei judaica (veja em Ex 13,2 e Nm, 3,11). Mesmo que a família tivesse um único filho, esse receberia o ‘título jurídico’ de primogênito, que obrigava os pais a consagrá-lo a Deus.


"... envolveu-o em faixas e o deitou em uma manjedoura, porque não havia lugar para eles na sala dos hóspedes."

José e Maria estavam num abrigo para caravanas (caravançarai): se tratava de um grande abrigo para hospedagem gratuita de caravanas, normalmente formado de quatro pavilhões em volta de um pátio. Como não havia lugar na sala principal (a cidade deveria estar repleta de viajantes por causa do recenseamento), Maria deve ter levado o Menino para o pátio onde ficavam os animais. É importante lembrar que Lucas não descreve uma hospedaria, mas apenas uma sala; o termo (em grego) usado pelo evangelista é o mesmo usado para designar a sala da última ceia.

Portanto, não existe qualquer descrição de nascimento em uma gruta, com bois e carneiros ao redor. Esta tradição surgiu alguns séculos depois com Justino e Orígenes.


Você sabia que ...

... a primeira descrição do nascimento de Cristo num presépio foi de Justino (mártir, filósofo e teólogo que viveu entre os anos 100 e 165) e de Orígenes (teólogo que viveu entre 185 e 254)? Elas se encontram nos livros ‘Diálogo com Trifon’ (Justino) e ‘Contra Celsum’ (Orígenes). Se você quer mais detalhes sobre o assunto, os textos poderão ser recebidos gratuitamente pelo E-mail abaixo.

sábado, 9 de dezembro de 2000

Situação política na época do nascimento de Jesus

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 09/12/2000


Como vimos na semana passada, São Paulo, na carta aos Gálatas (4,4), refere-se à plenitude dos tempos para descrever a época em que Cristo veio. Vamos hoje enfocar aspectos históricos sobre a época descrita, conhecendo um pouco mais sobre a situação política em que vivia o povo judeu.

Jesus nasceu e viveu na região da Palestina (hoje Israel). Na época em que ele nasceu, a Palestina era dominada pelo Império Romano (desde o ano 31 a.C.), cujo imperador era Otávio Augusto. Desde 37 a.C. a região formava um "reino cliente", com alguma independência de Roma, sendo administrado pelo rei Herodes Magno ("O Grande"). Portanto, na época do nascimento de Jesus, mais da metade do mundo conhecido era dominada pelo Império Romano (toda a região do Mar Mediterrâneo, a Palestina, norte da África e Egito), sendo a Palestina um reino parcialmente independente, cedido pelo imperador romano a Herodes. Nesta região viviam os judeus, um povo com língua (hebraico ou aramaico), religião e costumes próprios.

Herodes (Magno) era um Idumeu (povo que havia invadido a Palestina e assumido a religião judaica, porém excluído pelos judeus), casado com Mariana (judia), com a qual teve 2 filhos (Alexandre e Aristóbulo), além de outros filhos de casamentos anteriores.

Administrativamente Herodes era um político hábil: trouxe paz para a região, reconstruiu Jerusalém (com obras pagãs como teatros e anfiteatros, inaceitáveis para os judeus), instituiu os jogos atléticos em homenagem ao imperador (os jovens competiam nus) e reconstruiu o templo dos judeus com o dobro do tamanho.

Era, porém, obcecado pelo poder. Para mantê-lo, tornou-se um tirano e criminoso: mandou matar dois cunhados, 45 aristocratas, os dois filhos que teve com Mariana (depois de deixá-los presos por um ano), mandou afogar seu cunhado no rio Jordão, mandou matar a sogra, mandou queimar vivo dois sábios; cinco dias antes de morrer (aos 70 anos) mandou matar seu filho Antipater. Também é atribuído a Herodes a morte de sua mulher Mariana.

Em 36 anos de reinado, não se passou um só dia sem execução de inocentes. Enciumado com o nascimento de Jesus (Mt 2,1-12), mandou matar todos os meninos com menos de 2 anos nascidos em Belém.

Herodes morreu entre março ou abril do ano -4 (aproximadamente dois anos após o nascimento de Jesus), sendo seu reino dividido entre seus filhos: Herodes Antipas, que ficou com a Galiléia e Peréia (norte); Herodes Filipe, que ficou com as 5 províncias ao leste do rio Jordão; Herodes Arquelau, ficou com a Judéia e Samaria (ao sul). Arquelau se mostrou mais tirano que o pai. Nos primeiros dias de sua posse matou muitos judeus. Num só dia foram mortas 3.000 pessoas.

O Evangelho de Mateus deixa bem claro a situação de opressão do povo (Mt 2,16-23) por ocasião do nascimento do Messias: José, Maria e Jesus se refugiaram no Egito com medo de Herodes e, depois da morte deste, retornaram para a Galiléia, com medo de Arquelau (que reinava na Judéia e Samaria, apenas).

Em razão de inúmeros protestos dos judeus, em 6 d.C. Arquelau foi destituído do cargo pelo Imperador Otávio, passando a Judéia a ter administração direta de Roma, através de procuradores. Trinta anos depois, Poncius Pilatus se tornaria o mais famoso dos procuradores.

Herodes Antipas, muito ambicioso, casou-se com a filha do rei da Arábia, ao mesmo tempo que conquistava a estima e confiança do imperador romano. Numa viagem a Roma, hospedou-se na casa do irmão, Herodes Filipe, apaixonando-se por Herodíades, mulher do irmão. Algum tempo depois, Herodíades foi morar na Palestina com Herodes Antipas e levou junto a sua filha Salomé. A situação de adultério foi denunciada por João Batista, que foi decapitado por vingança de Herodíades.

Como se vê, a plenitude dos tempos, ocasião escolhida por Deus para o nascimento de seu Filho, foi uma época sombria da história de judeus e pagãos. O que nos leva a refletir sobre uma frase de São Tomás de Aquino: "Deus não ama o homem porque o homem seja bom, mas o homem é bom porque Deus o ama".

Você sabia que ...

... hoje a população de Belém é de 19 mil habitantes, mas na época do nascimento de Cristo era estimada em 3 mil pessoas. Considerando-se uma taxa de natalidade de 40 nascimentos por ano (metade de meninos) e um terço de mortalidade infantil, podemos calcular que Herodes tenha assassinado por volta de 80 crianças com até 2 anos de idade.

sábado, 2 de dezembro de 2000

"Na plenitude dos tempos Deus enviou seu Filho à Terra" (Gl 4,4)

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 02/12/2000


Dentro do Ano Litúrgico, estamos no tempo do Advento (vinda, chegada), que é o período de quatro semanas que antecedem o Natal, em que a Igreja Católica faz a preparação espiritual para a celebração do nascimento de Cristo. Esta coluna também dedicará as próximas semanas para a festa do Natal.

"Na plenitude dos tempos Deus enviou seu Filho à Terra" (Gl 4,4)

O Advento chegou! Começamos a partir de agora, com maior intensidade, a nos prepararmos para o nascimento de Jesus, o Filho de Deus, Aquele que na plenitude dos tempos nos foi enviado pelo Pai para a nossa salvação.

"Plenitude dos tempos" é uma expressão que surgiu a partir do uso do relógio de água ou de areia: um cilindro cheio de água ou de areia deixava pingar regularmente, por um pequeno orifício, o seu conteúdo dentro de outro cilindro vazio. Quando este ficava cheio, dizia-se que o tempo estava preenchido ou que havia chegado a plenitude do tempo. São Paulo lança mão da mesma expressão para designar o tempo preparado pela Providência Divina para a vinda do Salvador do mundo.

A expressão, contudo, não quer significar que havia chegado o tempo em que a humanidade estava a tal ponto aperfeiçoada e em ótimas condições éticas para receber o Messias. Muito pelo contrário.

As cartas Paulinas e o próprio Evangelho, em diversas passagens, demonstram como era triste o cenário pelo qual passava a humanidade: o mundo greco-romano estava voltado à idolatria, entregue a todo tipo de perversão moral (Veja Rm 1, 23-27); o povo judeu, por outro lado, não era idólatra, mas se engrandecia frente aos pagãos, julgando-se "condutor de cegos", quando ele mesmo estava sujeito a graves faltas (cf. Rom 2, 17-24). Além disso, dividia-se em vários partidos: fariseus, saduceus, herodianos, zelotes, sicários... Enfim, a humanidade encontrava-se em baixo nível moral e filosófico, presa a erros doutrinários, ecleticismo, ceticismo e vícios morais.

E foi exatamente tal época que o Senhor Deus quis escolher para enviar seu Filho ao mundo: não para ser o "verniz" de uma humanidade bem estruturada e auto-satisfeita, mas para preencher o vazio dos homens, cansados de procurar uma resposta para os seus anseios. Jesus Cristo veio para responder aos anseios mais profundos do ser humano, desejoso de Verdade, Amor, Felicidade, Vida.

Dezembro nos faz reviver a celebração do Natal e esse tempo de espera deve nos impulsionar a procurar o significado mais profundo de todo aquele aparato visível que cerca a celebração do nascimento do Menino Jesus: os presentes, a árvore, o presépio...

Celebrar o Natal é muito mais do que folclore: é um evento fundamental da história da humanidade, no qual celebramos o Amor que primeiro nos amou (1Jo 4, 19) e que nos criou para fazer-nos companheiros da Sua vida bem-aventurada. No Natal celebramos o mesmo Amor que, recriando-nos pelo mistério da Encarnação, santificou a nossa existência cotidiana fazendo da morte a passagem para a VIDA.

Talvez seja muito difícil ou quase impossível para nós, hoje, avaliarmos todo o alcance da mensagem trazida por Jesus. Talvez até, depois de vinte séculos, ela possa ter ficado empalidecida...

Contudo, o tempo do Advento é o momento oportuno para tomar nova consciência do seu imenso valor, que ultrapassa qualquer expectativa humana, por mais ousada que seja.

Advento é tempo de preparação para renascer espiritualmente no Natal, recomeçando com mais maturidade a nossa vida na fé e aproveitando mais uma preciosa oportunidade oferecida pela graça de Deus.

Advento é tempo de refletir que somos caminheiros, chamados por Alguém (que não falha) para a Vida e a Vida plena.

Seja Maria Santíssima nosso modelo de esperança, de serviço, de entrega total a Deus: "Faça-se em mim, segundo a Vossa Vontade".

Sejamos como uma semente que vai desabrochando aos poucos, até atingir a sua grande estatura. Aproveitemos o tempo de preparação, pois o Senhor vem!