sábado, 16 de dezembro de 2000

Como aconteceu o nascimento de Jesus

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 16/12/2000

Seguindo a descrição do capítulo 2 (versículos de 1 a 7) do Evangelho de Lucas, vamos detalhar os fatos que aconteceram no nascimento de Jesus.

"Ora, naquele tempo, foi publicado um edito de César Augusto, mandando recensear o mundo inteiro. Esse primeiro recenseamento teve lugar na época em que Quirino era governador da Síria."

Ao que parece, o evangelista teve a intenção de localizar o nascimento de Jesus no tempo, sem qualquer precisão cronológica. Os únicos registros históricos sobre um recenseamento na Palestina indicam o ano de 6 d.C., exatamente por ocasião da mudança do reino (de Arquelau) para a administração direta de Roma. Para este recenseamento foi convocado o funcionário romano Publius Sulpicius Quirinus, que foi governador da Síria entre 6 e 8 d.C. Portanto, existe uma lacuna de mais de 10 anos entre o nascimento de Jesus e o recenseamento. Sabemos que o nascimento de Cristo se deu quando Herodes Magno era o rei da Judéia e que este morreu dias depois de um eclipse lunar (12 de março de 4 a.C.), cerca de 10 dias antes da Páscoa (11 de abril de 4 a.C.), conforme o historiador Flavius Josephus.

"Todos iam se fazer recensear, cada qual em sua própria cidade; José também subiu da cidade de Nazaré, na Galiléia, à cidade de David, que se chama Belém, na Judéia, porque era da família e da descendência de Davi, para se fazer recensear com Maria, sua esposa, que estava grávida."

O evangelista também nos informa que o edito do imperador Otávio obrigava todos a se recensear em sua própria cidade, fazendo com que José e Maria, descendentes de Davi, viajassem de Nazaré para Belém (150 km em 4 dias de viagem). Historicamente é bastante estranho esta obrigatoriedade, pois o recenseamento era uma atualização de cadastro para pagamento de impostos para o império (taxa de pessoa física e impostos sobre propriedades). Visto que José não morava na Judéia, nem tinha propriedades ou parentes em Belém (foi obrigado a ficar numa hospedaria), não havia razão para o credenciamento. Também não têm respaldo na História os fatos de José (um cidadão de Nazaré, na Galiléia, reino governado por Antipas) ser convocado para um cadastro na Judéia (província governada diretamente por Roma) e a obrigatoriedade da presença de Maria. Existem documentos do império que mostram que um morador podia declarar os bens de seus dependentes. Quanto à citação de Lucas de que Belém é a cidade de Davi, existem algumas controvérsias: como sabemos, a cidade de Davi é Jerusalém (e não Belém); talvez Lucas tenha feito um interpretação própria de Mq 5,1, atribuindo o título a Belém.

"Ora, enquanto lá estavam, chegou o dia em que ela devia dar à luz; ela deu à luz seu filho primogênito..."

Primogênito era uma expressão jurídica e sagrada da lei judaica (veja em Ex 13,2 e Nm, 3,11). Mesmo que a família tivesse um único filho, esse receberia o ‘título jurídico’ de primogênito, que obrigava os pais a consagrá-lo a Deus.


"... envolveu-o em faixas e o deitou em uma manjedoura, porque não havia lugar para eles na sala dos hóspedes."

José e Maria estavam num abrigo para caravanas (caravançarai): se tratava de um grande abrigo para hospedagem gratuita de caravanas, normalmente formado de quatro pavilhões em volta de um pátio. Como não havia lugar na sala principal (a cidade deveria estar repleta de viajantes por causa do recenseamento), Maria deve ter levado o Menino para o pátio onde ficavam os animais. É importante lembrar que Lucas não descreve uma hospedaria, mas apenas uma sala; o termo (em grego) usado pelo evangelista é o mesmo usado para designar a sala da última ceia.

Portanto, não existe qualquer descrição de nascimento em uma gruta, com bois e carneiros ao redor. Esta tradição surgiu alguns séculos depois com Justino e Orígenes.


Você sabia que ...

... a primeira descrição do nascimento de Cristo num presépio foi de Justino (mártir, filósofo e teólogo que viveu entre os anos 100 e 165) e de Orígenes (teólogo que viveu entre 185 e 254)? Elas se encontram nos livros ‘Diálogo com Trifon’ (Justino) e ‘Contra Celsum’ (Orígenes). Se você quer mais detalhes sobre o assunto, os textos poderão ser recebidos gratuitamente pelo E-mail abaixo.

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