sábado, 28 de julho de 2001

A Igreja de Jesus Cristo - Parte 2

Coluna “Ser Católico” – Jornal da Cidade – 28/07/2001


A palavra Igreja vem do grego Ecclesia que significa união, reunião, assembléia religiosa do Povo de Deus. No início do cristianismo, nos primeiros séculos, Igreja significava reunião dos fiéis para celebrar os “mistérios”, isto é, a Santa Missa. Somente após o século IV é que a palavra passou a indicar também o edifício onde os fiéis se reúnem para celebrar o sacrifício da Missa.

Na Bíblia encontramos outros nomes da Igreja: Povo de Deus, Reino de Deus, Jerusalém Celeste, Esposa de Cristo, Corpo de Cristo, Casa de Deus, Templo de Deus, Corpo Místico de Cristo. 

A Igreja

A Igreja de Jesus Cristo é o Povo de Deus que caminha rumo ao Pai. Fazem parte deste povo todos os batizados. O batismo nos torna filhos adotivos de Deus e nos comunica a vida de Deus participada (Graça).

A Igreja de Jesus abrange três estágios:

1. A Igreja Triunfante: formada por todos os que já alcançaram a Casa do Pai e desfrutam do amor de Deus face a face.

2. A Igreja Padecente: formada por todos os que estão se purificando no Purgatório antes de entrar na glória do céu.

3. A Igreja Militante: formada por todos os batizados que ainda estão neste mundo praticando o bem e os ensinamentos do fundador, Jesus Cristo. 

A Igreja segundo o Concílio Vaticano II


“O único Mediador Cristo constituiu e incessantemente sustenta aqui na terra Sua santa Igreja, comunidade de fé, esperança e caridade, como organismo visível pelo qual difunde a verdade e a graça a todos. Mas a sociedade provida de órgãos hierárquicos e o corpo místico de Cristo, a assembléia visível e a comunidade espiritual, a Igreja terrestre e a Igreja enriquecida de bens celestes, não devem ser considerados duas coisas, mas formam uma só realidade complexa em que se funde o elemento divino e humano... Esta é a única Igreja de Cristo que no Símbolo confessamos una, santa, católica e apostólica; que nosso Salvador depois de Sua ressurreição entregou a Pedro para apascentar (Jo 21, 17) e confiou a ele e aos demais apóstolos para a propagar e reger (cf. Mt, 28, 18), levantando-a para sempre como ‘coluna e fundamento da verdade’ (1Tm 3, 15). Esta Igreja, constituída e organizada neste mundo como uma sociedade, subsiste na Igreja Católica governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele, embora fora de sua visível abertura se encontrem vários elementos de santificação e verdade”. (Lumen Gentium,  n.8) 

Conforme o Concílio, portanto, a Igreja é formada de dois elementos:

- Visível (Corpo da Igreja), composto pelas pessoas que professam a mesma fé, recebem os mesmos sacramentos, obedecem à mesma e única autoridade (o Papa) e

- Invisível (Alma da Igreja), composta por todos os que são batizados validamente, que vivem na amizade de Deus e por todos os que receberam a graça da Redenção (Deus não afasta de si as pessoas retas que vivem conforme sua consciência ou de acordo com a lei natural, mas que estão fora ou longe de qualquer contato com a doutrina da Salvação).

A Igreja, então, é divina (pela doutrina santa e infalível de Jesus Cristo e pelos sacramentos que nos comunicam a vida divina para santificar-nos) e humana (porque é composta  por todos os batizados, sujeitos às misérias, pecados, fragilidades e perigos do mundo). Por meio do elemento divino (doutrina e sacramentos), nos transformamos em filhos adotivos de Deus e irmãos em Jesus Cristo, através da graça. Formamos, pois, a Igreja, o Povo Santo de Deus.

A Igreja de Jesus é, então, a união desses dois elementos, por isso ela é santa (na doutrina e nos sacramentos) e pecadora (nos seus membros); infalível (na doutrina) e falível (nos membros); invencível e vencível; eterna e no tempo.
A Igreja é Cristo continuado na história e no tempo para salvar os homens de todas as épocas e de todas as raças.

sábado, 14 de julho de 2001

Lutero e Maria Santíssima

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 14/07/2001

Quem foi Lutero – Martinho Lutero foi o grande idealizador da reforma protestante no século XVI. Em 31/10/1517 ele tornou público o seu protesto contra a doutrina e a disciplina da Igreja Católica, afixando à porta da igreja de Wittenberg uma lista das 95 teses (em latim) em que ele discordava da Igreja. O brado de revolta de Lutero se espalhou rapidamente pela Alemanha e demais países, dando origem ao protestantismo.

Lutero e Maria – Lutero foi um homem de religiosidade profunda, dotado de firme confiança em Deus, aplicado em seu trabalho e desinteressado de si. Sua sensibilidade cristã encontrou eco nas palavras de Maria a Isabel, deixando, entre seus escritos, um belo comentário do Magnificat de Maria Santíssima (Lc 1,46-56). Transcrevemos aqui alguns trechos:

Maria é lição de como louvar a Deus – "Ela nos ensina como devemos amar e louvar a Deus, com alma despojada e de modo verdadeiramente conveniente, sem procurar nele o nosso interesse. Ora, ama e louva a Deus com o coração simples e como convém a quem o louva simplesmente porque é bom; quem não considera mais que a sua pura bondade e só nela encontra o seu prazer e a sua alegria. Eis um modo elevado, puro e nobre de louvar: é bem próprio de um espírito alto e nobre como o da Virgem. Aqueles que amam com coração impuro e corrompido, aqueles que, de maneira semelhante à dos exploradores, procuram em Deus o seu interesse, não amam e não louvam a sua pura bondade, mas pensam em si mesmos e só consideram quanto Deus é bom para eles mesmos. A religiosidade verdadeira, portanto, é louvor a Deus incondicionado e desinteressado".

A humildade da Mãe de Deus – "Maria não se orgulha da sua dignidade nem da sua indignidade, mas unicamente da consideração divina, que é tão superabundante de bondade e de graça que Deus olhou para uma serva assim tão insignificante e quis considerá-la com tanta magnificência e tanta honra... Ela não exaltou nem a virgindade nem a humildade, mas unicamente o olhar divino repleto de graça. (...) De fato não deve ser louvada a sua pequenez, mas o olhar de Deus."

O olhar de Deus – "Ao observar aquilo que se realiza nela, nós podemos contemplar o estilo habitual de Deus. Enquanto os homens são atraídos pelas coisas grandes, Deus olha para baixo, para tirar de ‘um nada, daquilo que é ínfimo, desprezado, mísero e morto, algo de precioso, digno de honra, feliz e vivo’".

Devemos invocar Maria e os santos – A Mãe de Jesus, portanto, aparece em Lutero como o puro reflexo do olhar divino. Ela não atrai a nossa atenção sobre si, mas leva-nos a olhar para Deus. "Maria não quer ser um ídolo; não é Ela que faz, é Deus que faz todas as coisas. Deve ser invocada para que Deus, por meio da vontade dela, dê e faça aquilo que pedimos; assim devem ser invocados também todos os outros santos, deixando que a obra seja inteiramente de Deus".

Fonte: textos extraídos do livro "Maria Mãe dos homens" da Edições Paulinas.

sábado, 7 de julho de 2001

Você conhece a "Didaqué" ?

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – 07/07/2001

O que é – A "Didaqué (lê-se didaquê) é um texto escrito no primeiro século, portanto contemporâneo aos Evangelhos, usado como ‘manual de religião’ ou como catecismo das primeiras comunidades cristãs. É um pequeno manual (16 capítulos), com normas práticas de conduta para os cristãos e para as comunidades cristãs. A Didaqué apresenta as primeiras instruções sobre a liturgia da Igreja.

Importância – O seu subtítulo "Instrução dos Doze Apóstolos" mostra que se trata de um documento de imenso valor histórico e religioso, pois nos permite conhecer as origens do cristianismo, e principalmente nos dá uma idéia de como eram a iniciação cristã, as celebrações a organização e a vida das primeiras comunidades. A leitura do texto nos dá uma visão viva e impressionante da convivência dos primeiros cristãos.

Autor e composição – É difícil afirmar que a Didaqué tenha sido escrita por um dos apóstolos, ou que seja de um só autor. Os estudiosos estão de acordo que ela seja um texto gerado dentro das comunidades cristãs. Sua composição ocorreu no final do século I, provavelmente na Palestina ou na Síria.

Conteúdo – Os 4 primeiros capítulos mostram a catequese fundamental para aqueles que desejam viver e se comportar de modo cristão (é comovente a descrição do verdadeiro cristão); do sétimo ao décimo capítulos é apresentado o antigo ritual litúrgico, com instruções para administração do batismo, sobre o jejum e a oração e sobre a celebração eucarística; do 11º ao 15º capítulos são disposições sobre o culto e a organização da vida comunitária; o 16º capítulo é sobre a espera da vinda de Cristo.

As comunidades – No final do primeiro século, toda a liturgia era realizada pela comunidade; não haviam sacerdotes ou ministros. Eles recebiam os "apóstolos, profetas e mestres" que visitavam as comunidades (pregação itinerante) para anunciar o Evangelho e ensinar. Devemos lembrar que as comunidades não conheciam os Evangelhos escritos; o Evangelho era uma palavra viva, anunciada pelos pregadores. Apenas uma vez são citados os servidores da comunidade (diáconos) e supervisores (bispos), escolhidos democraticamente por todos membros da comunidade. Apenas três sacramentos são descritos em detalhes:

Batismo – Era realizado apenas com adultos, após um período de catequese e alguns dias de jejum. A própria comunidade realizava o batismo por imersão, em um rio ou piscina; na impossibilidade, derramava-se 3 vezes água na cabeça do batizando. O batismo era realizado invocando-se a Santíssima Trindade, não havendo qualquer citação de ministros especiais (sacerdotes, bispos ou diáconos).

A Confissão – Ainda não era considerado sacramento. Os cristãos declaravam seus pecados em comunidade (confissão comunitária), e esta era responsável pelo perdão.


A Eucaristia – É descrita de forma bastante diferente do rito eucarístico que hoje conhecemos. Era celebrada dentro de uma refeição comum, podendo participar apenas os batizados, ou seja aqueles que se comprometeram com o projeto de Jesus. O pão e o vinho eram celebrados apenas como oferendas, não havendo qualquer referência a transubstanciação para o corpo e sangue de Cristo.

Você quer ler? – Se você deseja ler a Didaqué solicite por carta ou E-mail. Podemos lhe enviar gratuitamente o texto completo (o arquivo por E-mail ou impresso por carta), em português, com comentários e notas explicativas para cada versículo. Temos certeza que você ficará impressionado com a leitura.