sábado, 10 de novembro de 2001

O CÂNON DA IGREJA CATÓLICA - Parte 7 – A Vulgata Latina

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – Bauru – 10/11/2001

Nas semanas anteriores vimos que cânon bíblico é o catálogo de livros sagrados e que o cânon da Igreja Católica é formado por 72 (ou 73) livros inspirados por Deus. Estudamos que a Igreja confirmou em muitos Concílios o cânon completo da Bíblia, enquanto que os protestantes optaram pelo cânon restrito (65 ou 66 livros).

Concílio de Hipona – A 8 de outubro de 393 o plenário do Concílio de Hipona definiu, pela primeira vez, o cânon bíblico como ele é hoje professado pela Igreja Católica. Este cânon foi confirmado pelo Concílio de Florença (1438 a 1445) e pelo Concílio de Trento (1546).

Cópias de cópias de cópias de ... – Com a fixação do cânon oficial da Igreja um problema aconteceu: a grande quantidade de cópias realizadas nos documentos ocasionou uma infinidade de pequenos erros de transcrição. Como já estudamos, as cópias eram realizadas (pelos escribas) nas comunidades e enviadas a outros grupos cristãos. Os originais dos Evangelhos como as primeiras cópias dos manuscritos da época de perseguição dos cristãos haviam se perdido. As sucessivas cópias faziam com que os erros fossem se acumulando, distorcendo o texto.

Mais cópias de cópias de ... – Atualmente, existem 2.300 cópias dos Evangelhos em grego, dos quais apenas 40 foram copiadas antes do século IX e após o século IV. Somente para o Novo Testamento (que contém 150.000 palavras) existem cerca de 200.000 variações causadas pelas sucessivas cópias, que alteram o texto desde pequenas omissões de artigos até a inclusão (ou corte) de capítulos inteiros de livros.

A Vulgata – No ano de 384, o Papa Dâmaso, reconhecendo a diversidade dos textos oficiais da Igreja, confiou a São Jerônimo (secretário do Papa) a uniformização dos livros e a tradução para o latim. O objetivo era buscar as cópias mais antigas, comparar as diferenças, e chegar a um texto mais próximo do original para todos os livros da Bíblia (Novo e Antigo Testamentos). Este texto se chamou Vulgata (popular) Latina (escrita em latim).

São Jerônimo – Um dos grandes doutores da Igreja, nasceu em Estridon, na Dalmácia no ano 347 e faleceu em 419 ou 420. É considerado o maior tradutor da Igreja, principalmente pelo total domínio das línguas bíblicas (hebraico, aramaico, grego). Trabalhou durante 21 anos na pesquisa e tradução dos livros da Bíblia, tendo escrito também 63 volumes de comentários (em latim) sobre os textos bíblicos e mais de cem homilias.

Vulgata Latina – Com o fim do trabalho de S. Jerônimo em 404, o texto da Vulgata Latina foi proclamado como o texto oficial da Bíblia da Igreja. Todos os Concílios que confirmaram o cânon da Igreja, também confirmaram o texto em latim como a Bíblia oficial. Foi o primeiro livro impresso por Gutenberg.

Texto Oficial da Igreja – A Vulgata Latina foi o texto oficial da Igreja entre os anos de 1546 (Concílio de Trento) e 1590. Entre 1590 e 1592 o texto oficial foi a Vulgata Sixtina, promulgada pelo Para Sixtus V (idêntica a Vulgata Latina, com a adição de uma bula que excomungava que a alterasse). Entre 1592 e 1979 o texto oficial foi a Vulgata Clementina, que introduziu 4.900 correções na Vulgata Sixtina. A partir 1979 (até hoje) o texto oficial da Igreja Católica é a Neo-vulgata. Todas as leituras realizadas em cultos oficiais da Igreja Católica são tiradas da Neo-vulgata.

Curioso ? – Vamos verificar a tradução da Bíblia que você tem em sua casa? Verifique primeiro se ela é uma Bíblia Católica, achando o imprimatur (recomendação de impressão de um Bispo Católico). Depois verifique (nas primeiras páginas) os textos originais usados na tradução: se forem textos em latim (São Jerônimo) você tem uma Bíblia baseada na Vulgata; caso os originais sejam em grego ou aramaico, os tradutores se basearam em fontes mais antigas.

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