sábado, 3 de novembro de 2001

O CÂNON DA IGREJA CATÓLICA - Parte 6 – Os Concílios que definiram o Cânon

Coluna "Ser Católico" – Jornal da Cidade – Bauru – 03/11/2001

Nas semanas anteriores vimos que cânon bíblico é o catálogo de livros sagrados e que o cânon da Igreja Católica é formado por 72 (ou 73) livros inspirados por Deus. Estudamos que os católicos adotaram o cânon completo do Antigo Testamento (45 ou 46 livros), enquanto que os protestantes optaram pelo cânon restrito (38 ou 39 livros). Vimos que o cânon do Novo Testamento se formou espontaneamente dentro das comunidades cristãs, tendo por base as leituras dominicais.

Marcião – O primeiro cristão que tentou padronizar os textos lidos nas comunidades cristãs foi Marcião, por volta do ano 140. Marcião criou, em Roma, um grupo radical chamado de marcionitas, que desenvolveu uma teologia própria, baseada na existência de dois deuses: um deus vingador do Antigo Testamento e um deus bom do Novo Testamento. O seu grupo tinha um Cânon próprio, com apenas um Evangelho (parte de Lucas) e dez cartas de Paulo. Por suas idéias contrárias à Igreja, foi excomungado no ano 144.

Ireneu – Próximo ao final do século II, os Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João já eram proclamados canônicos pelo bispo Ireneu. O Novo Testamento, construído em torno dos "Evangelhos quadriformes", começava a tomar forma.

Diatesseron – Um homem culto, natural da Assíria, e de educação grega, chamado Taciano, por volta do ano 173, realizou a tentativa de harmonizar os 4 Evangelhos em um. Este texto (composto em Roma) chamou-se "Diatesseron", sendo usado por vários séculos como Evangelho oficial de muitas comunidades cristãs do Oriente. Veja o texto completo do "Diatesseron" (em inglês) no nosso ‘site’.

Muratori – Em 1740 foi encontrado na Biblioteca de Milão pelo bibliotecário Ludovico Muratori uma lista de textos aceitos pela Igreja no final do século II. Esta lista possui 24 livros, sendo chamada de Cânon de Muratori. São eles: os 4 Evangelhos, os Atos dos Apóstolos, 13 cartas de Paulo, a Carta de Judas, 1ª e 2ª Cartas de João e o Apocalipse. Além destes também inclui o "Apocalipse de Pedro" e a "Sabedoria de Salomão" que não foram considerados canônicos.

Outras listas – Várias outras tentativas de padronização dos textos cristãos foram empreendidas por `utoridades da Igreja. Tertuliano (ano 200) não aceitava como canônicos a Carta de Tiago, 2ª Carta de Pedro, 2ª e 3ª Cartas João, aceitando o texto de "O Pastor" de Hermas. Orígenes (ano 220) tinha a mesma opinião de Tertuliano, incluindo nos livros não canônicos a Carta de Judas, e aceitando a canonicidade do "Didaqué" e da "Epístola de Barnabé". Eusébio de Cesaréa concordava com Orígenes, mas não aceitava o Apocalipse.

Atanásio – Apenas no ano de 367 apareceu uma lista de livros idêntica ao Novo Tdsp`Lento que conhecemos hoje. Esta lista foi escrita por Atanásio, bispo de Alexandria, numa carta dirigida às comunidades na época da Páscoa.

Concílio de Hipona – A 8 de outubro de 393 o plenário do Concílio de Hipona definiu, pela primeira vez, o cânon bíblico como ele é hoje professado pela Igreja Católica. A deliberação do Concílio foi: "Além das Escrituras canônicas, nada seja lido na Igreja a título de Divinas Escrituras. Estas são as Escrituras canônicas: ..." segue a lista dos 45 livros do A.T. e os 27 dos N.T.

Confirmações – No ano 405, o Papa Inocêncio I (Papa entre 401 e 417) confirmava a lista dos 72 (73) livros. O Papa Gelasiano (Papa entre 492 e 496) também confirmava o Cânon. O Concílio de Florença (realizado entre 1438 e 1445) publicou um Decreto listando os 72 (73) livros inspirados pelo Espírito Santo. Por fim, o Concílio de Trento, em 8 de abril de 1546 reconheceu o Cânon como catálogo oficial dos livros da Bíblia da Igreja Católica.

Lutero – Os Católicos devem ter em mente, de mandir` clara, que o Cânon da Igreja foi definido, de maneira imutável, desde o ano 393 (Concílio de Hipona). Quando Lutero fixou os livros do cânon protestante (em 1517), ele retirou 7 livros (deuterocanônicos) que, há mais de mil anos eram reconhecidos e lidos na Igreja.

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