sábado, 7 de dezembro de 2002

Ainda os números da Bíblia

Devido ao interesse dos leitores pelo assunto, vamos continuar decifrando os números da Bíblia.


Qualidades, não quantidades – os exegetas (estudiosos da Bíblia) reconhecem haver na Sa­grada Escritura, números com a intenção de destacar ou realçar determinado evento.  Estes números têm, geralmente, grandes valores e são arredondados.  Certamente eles não representam, matematicamente, a realidade. Um exemplo encontra-se na história de Davi (1Sm 21,12): para louvar a bravura deste guerreiro, cantavam os coros populares: Saul matou os seus mil; Davi, porém, os seus dez mil”. O sentido do verso é claro: “por muito aguerrido que tenha sido Saul, Davi ainda o é mais”.


Imprecisão – Muitas indicações numéricas da Bíblia são imprecisas do ponto de vista matemático. Um exemplo marcante ocorre em 1Rs 7,23 e 2Cr 4, 2, quando os autores apresentam as dimensões da grande piscina de Salomão: era circular e tinha um perímetro de trinta côvados por dez de diâmetro. Qualquer estudante de 2º grau sabe que a proporção entre a circunferência e o diâmetro seria igual a 3,1416, ou seja o valor de π (pi) e não o valor de três. Outros exemplos seriam: o total de três mil provérbios que Salomão proferiu em sua vida (1Rs 4,12); os setenta milhares de vítimas da peste desencadeada sobre o reino de Davi (2Sm 24,15). Não deve ser atribuído literal a estes números.


Erros de transcrição – Nós sabemos que existe alguma facilidade em se errar ao transcrever um número.  É bastante comum errarmos ao transcrevermos números de RG ou CIC.  Na Bíblia também os maiores erros ocorrem nos números. Eis alguns textos em que as mãos dos copistas introduziram variantes errôneas: em Gn 2, 2 a tradução latina da Vulgata apresenta: “Deus terminou no sétimo dia a obra que fizera, e repousou no sétimo dia". Ao contrário, as traduções gregas apresentam: “... terminou no sexto dia... e repousou no sétimo...”. Dentre estas duas variantes, não se hesita em julgar que a segunda é a original, embora só esteja conservada em traduções.

Mais erros – Segundo o texto hebraico (1Rs 5,6 e 2Cr 9,25), Salomão possuía quarenta mil manjedouras para os seus cavalos. A tradução grega (2Cr 9,25) fala apenas de quatro mil manjedouras (mais real).  Em 2Cr 36,9 (texto hebraico) lê-se que Jeconias tinha oito anos quando começou a reinar, ao passo que as traduções gregas e Síria lhe atribuem dezoito anos no inicio do seu reinado.


Erros de tradução – Em 1Cr 21,5 lê-se que sob o rei Davi “todo (o povo de) Israel contava 1.100.000 guerreiros, e Judá 470.000 guerreiros”. Ora o autor de 2Sm 24, 9, em texto paralelo, menciona “800.000 guerreiros em Israel, e 500.000 em Judá...”.  Supondo um total de quatro ou cinco milhões de cidadãos em Israel nos tempos de Davi, as quantidades são inacreditáveis. A explicação pode estar num erro de tradução da palavra hebraica ‘Eleph’, que pode significa milheiro ou, em linguagem militar, designa­ria um batalhão. Pode-se concluir que sob o rei Davi havia 1.100 ou 1.300 batalhões em Israel.

Outras discordâncias – Existem ainda outros pontos de discórdia entre os textos bíblicos.  Em Marcos 10, 46-52, o Senhor curou um cego; em Mateus 20, 30 o texto fala de dois cegos. Marcos 5, 2 e Lucas 8, 27 mencionam um homem possesso, que Jesus libertou do demônio, ao passo que Mateus 8, 28 refere dois homens endemoniados.

O Número da Besta é 666 – Entre os números que aparecem na Bíblia, o número da besta (666), que aparece no livro do Apocalipse 13, 18, é o que causa maior polêmica.  Bem ...  mas isso é assunto para a próxima semana.

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